Área de proteção ambiental de Maricá

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APA de Maricá na Região dos Lagos. Comunidade pesqueira de Zacarias. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Área de proteção ambiental de Maricá é uma APA criada em 1984, cujo território abrange parte da Restinga de Maricá, Ponta do Fundão e toda a Ilha Cardosa, no município fluminense de Maricá[1].

Características[editar | editar código-fonte]

A APA de Maricá se localiza na costa do município e é dominada pelo Bioma Mata Atlântica, predominantemente coberto pelo ecossistema de restinga, cuja vegetação inclui espécies como clusia, sumaré, salsão-da-praia, cajueiro e pitangueira. Já o ecossistema Floresta Atlântica está presente na Ilha Cardosa, na Ponta do Fundão e no Morro do Mololô há tabuleiros costeiros terminando em falésias esculpidas pelas águas do mar e das lagoas.

O local abriga também sítios históricos e arqueológicos[2].

A fauna local inclui muitas espécies ameaçadas de extinção como lagartos ( Liolaemus lutzae por exempo) , borboletas e anfíbios. Entre elas estão as 19 espécies endêmicas, que só ocorrem ali como como o peixe-das-nuvens (Leptolebias citrinipinnis), o ratinho-de-espinho e vários tipos de insetos e plantas.

A Comunidade Tradicional Pesqueira Artesanal de Zacarias está presente ali desde o final do século XVIII de acordo com o registro do Mosteiro de São Bento. A "Pesca de Galho" na lagoa é a sua marca cultural mais relevante, como foi registrado e analisado por Marco Antonio Mello na sua tese de Doutorado em Antropologia e no livro Gente Das Areias : História, Meio Ambiente E Sociedade No Litoral Brasileiro. Maricá, Rj 1975 A 1995. [3]

Trata-se da restinga com o maior número de trabalhos científicos do país. Assim, os Conselhos Universitários da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e da Universidade Federal Fluminense - UFF e do Conselho Departamental da FFP/UERJ aprovaram moções oficiais em defesa da comunidade pesqueira de Zacarias, do ambiente e das áreas de pesquisa de quarenta anos.

Moção da UFRJ: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO UNIVERSITÁRIO - MOÇÃO EM DEFESA DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA RESTINGA DE MARICÁ E DA COMUNIDADE PESQUEIRA DE ZACARIAS "A Universidade Federal do Rio de Janeiro, através do seu Conselho Universitário, em sua sessão de 14 de agosto de 2014, vem manifestar que a Área de Proteção Ambiental de Maricá é um valioso patrimônio científico, cultural e ambiental da sociedade brasileira e por isto todo o seu espaço, inclusive a Comunidade Pesqueira de Zacarias e seu respectivo território, o ecossistema e as áreas de interesse para a pesquisa acadêmica devem ser totalmente preservados obedecendo aos dispositivos Constitucionais e demais bases legais. Qualquer intervenção de uso urbano será de imenso prejuízo para toda a comunidade científica, bem como um crime contra o povoado tradicional ali presente e ao ambiente. A APA deve ser de domínio público e recategorizada em Unidades de Conservação que protejam com responsabilidade os patrimônios ali presentes e proporcione garantias de proteção integral do ecossistema, das espécies raras e endêmicas, das investigações acadêmicas em curso e das práticas tradicionais pesqueiras". Carlos Antonio Levi da Conceição Reitor 14/08/2014 [1].... [2]

Conflitos[editar | editar código-fonte]

Apesar da proteção legal, a APA enfrenta sérias ameaças à preservação da comunidade pesqueira tradicional de Zacarias e do ambiente . Em junho de 2007 o governo do estado do RJ decretou o Plano de Manejo/zoneamento da APA de Maricá (Decreto Estadual 41048/07) [3] , aprovando o uso urbano em metade da restinga (excluindo o trecho da praia, que já uma área não edificante) e em maio de 2010 a Câmara de Vereadores aprovou o Plano Setorial da Restinga de Maricá [4][ligação inativa] com o mesmo texto do Decreto já citado, reforçando o mesmo tipo de liberação [4]. Em 2011, o grupo empresarial IDB Brasil apresentou um projeto de construir dezenas de prédios residenciais, casas, campos de golfe e hotéis no local que ocuparia metade da área da restinga. A Licença Prévia ambiental, do que chamam de resort, foi expedida em 2015 pelo INEA. O projeto enfrenta resistência de ambientalistas, da comunidade científica e da comunidade pesqueira de Zacarias, que temem o impacto sobre o Território da Comunidade pesqueira: as residências, as áreas de lazer e atividades comunitárias , as localidades de coleta de camboím, artefatos de artesanato, pescaria, medicamentos e frutas e, ainda, a destruição da ligação de Zacarias com o mar, os seculares caminhos de pescaria[5][6].

Referências

  1. Decreto de criação da APA de Maricá Nº 7.230. Ministério do Meio Ambiente
  2. LOUREIRO, David da Silva. Avaliação do conflito sócio-ambiental na APA da Restinga de Maricá-RJ Arquivado em 12 de novembro de 2014, no Wayback Machine.. Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. Porto Alegre, 2010
  3. MELLO, Marco Antonio; VOGEL, Arno (2004). Gente das Areias. História, Meio Ambiente e Sociedade no Litoral Brasileiro. Maricá - RJ 1975 - 1995. [S.l.: s.n.] 
  4. Risco para a APA de Maricá. Salada Verde, 30 de junho de 2010
  5. Complexo turístico em Maricá coloca em risco meio ambiente, dizem especialistas. Agência Brasil, 17 de outubro de 2014
  6. Justiça determina suspensão de licenciamento na restinga de Maricá. MaricáInfo, 2 de abril de 2014