Anna Politkovskaia

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Anna Politkovskaia
Anna Politkovskaia
Politkovskaia em 2005
Nome completo Anna Stepanovna Politkovskaia
Nascimento 30 de agosto de 1958
Nova Iorque, Estados Unidos
Nacionalidade soviéticarussa
norte-americana (obtida na década de 1990)
Morte 7 de outubro de 2006 (48 anos)
Moscovo, Rússia
Ocupação jornalista
Educação Universidade Estatal de Moscovo
Cônjuge Alexander Politkovsky
Filho(s) dois
Atividade 1980-2005
Trabalhos notáveis Cobertura da Guerra da Chechênia, críticas ao governo de Vladimir Putin.

Anna Stepanovna Politkovskaia, em russo: Анна Степановна Политковская, (Nova Iorque, 30 de agosto de 1958Moscovo, 7 de outubro de 2006) foi uma jornalista e humanitária russa. Tornou-se conhecida pela cobertura da Segunda Guerra da Chechênia (1999-2005), em que denunciou o governo de Vladmir Putin por corrupção e violações de direitos humanos, especialmente as más ações das autoridades russas no conflito.[1][2]

Biografia e carreira[editar | editar código-fonte]

Filha de diplomatas de origem ucraniana que estavam em missão na ONU, ela nasceu na cidade de Nova Iorque,[3] mas posteriormente foi para a Rússia, onde realizou seus estudos. Em 1980, formou-se em Jornalismo pela Universidade Estatal de Moscovo e iniciou sua carreira no jornal diário de alcance nacional Izvestiya.[1]

Em 1999, tornou-se jornalista do Novaya Gazeta,[4] bissemanário independente russo, e logo depois começou a relatar a guerra na Chechênia, ficando mundialmente famosa. Politkovskaia cobriu a falta de sentimentalismo, os excessos de ambos os lados beligerantes e costumava ser a única porta-voz das vítimas das guerras chechenas. Ela revelou a história sobre o mistério em torno de uma vala comum descoberta perto de uma base militar russa; os corpos eram possivelmente vítimas civis,[5] e posteriormente minas terrestres foram plantadas para impedir de recuperá-los.[6]

A partir dos anos 2000, Anna recebeu inúmeros prêmios internacionais pelo seu trabalho jornalístico e humanitário.[7] Entretanto, devido ao seu jornalismo investigativo, foi atacada por pessoas que a viam como inimiga: em fevereiro de 2001, foi detida no sul da Chechênia pelo exército russo sob acusação de espionar em favor do líder beligerante checheno Shamil Basayev. Durante três dias, foi mantida em cárcere sem comida e sem água.[8] Oito meses depois, refugiou-se em Viena, depois de receber várias ameaças de um policial russo que ela havia denunciado por abusos cometidos.[9] Em outubro de 2002, mediou a crise do teatro Dubrovka. Em setembro de 2004, tentou mediar o caso da escola de Beslan, mas foi envenenada enquanto voava de Moscovo para Rostov-on-Don, necessitando ser hospitalizada;[10] nesse mesmo ano publicou - no exterior, mas não na Rússia - seu terceiro livro Putin's Russia: Life in a Failing Democracy.[11]

Ela acreditava que era necessário envolver-se no conflito, fazer algo para solucioná-lo e que, por esse motivo, o jornalista sempre tem uma história para contar, como demonstra em sua célebre fala: "Você ainda acha que o mundo é grande? Que se há conflito em algum lugar, isso não terá impacto em outro, e que você pode ficar de fora, sentado em sua varanda admirando suas petúnias ridículas?"[12] Em 7 de outubro de 2006, mesmo dia em que Putin completava 54 anos, Anna Politkovskaya, com 48 anos e mãe de dois filhos, foi assassinada no elevador de seu prédio, no centro de Moscovo.[13] Em junho de 2014, cinco homens foram condenados à prisão pelo assassinato, mas ainda não está claro quem ordenou ou pagou pelo assassinato contratado.[14][15]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Reportagens sobre a Chechênia[editar | editar código-fonte]

Vídeos externos
Entrevista com Politkovskaya sobre sua experiência na cobertura da guerra na Chechênia, Radio Free Europe, 20 de novembro de 2001, C-SPAN.

Em 1997, após o reconhecimento da Chechênia como uma república independente, devido a pressão pública sobre o então presidente russo Boris Yeltsin, alimentada pelas novas liberdades de imprensa disponíveis para meios de comunicação como o Obshchaya Gazeta, as tropas russas retiraram-se do território checheno e assinou-se o acordo de paz. No ano seguinte, como representante desse jornal, Anna visitou a Chechênia pela primeira vez.[16]

Ela ganhou vários prêmios por seu Jornalismo investigativo e usou cada uma das ocasiões em que recebeu prêmios internacionais para exigir maior preocupação e responsabilidade dos governos ocidentais que, após os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos, saudaram a contribuição de Putin para a "Guerra ao Terror".[17] Ela conversou com oficiais, militares e policiais e também visitou freqüentemente hospitais e campos de refugiados na Chechênia e na vizinha Inguchétia para entrevistar os feridos pelos novos combates.[1]

Em vários artigos críticos da guerra na Chechênia e do regime pró-russo, Politkovskaya descreveu supostos abusos cometidos por forças militares russas, rebeldes chechenos e o governo apoiado pela Rússia liderado por Akhmad Kadyrov e seu filho Ramzan Kadyrov.[18] Ela também registrou abusos dos Direitos Humanos e falhas de políticas em outras partes do norte do Cáucaso. Em um exemplo característico em 1999, ela não apenas escreveu sobre a situação de uma casa de idosos de etnia mista sob bombardeio em Grozny,[19] mas ajudou a garantir a evacuação segura de seus habitantes idosos com a ajuda de seu jornal e apoio do público. Seus artigos, muitos dos quais formam a base de A Dirty War (2001) e A Small Corner of Hell (2003), retratam um conflito que brutalizou tanto combatentes chechenos quanto soldados conscritos no exército federal russo e criou uma situação cruel para os civis entre eles.[20]

Politkovskaya relatou que a ordem supostamente restaurada sob os Kadyrov tornou-se um regime de tortura, seqüestro e assassinato endêmicos pelas novas autoridades chechenas ou pelas várias forças federais baseadas na Chechênia.[21] Uma de suas últimas investigações foi sobre o suposto envenenamento em massa de estudantes chechenos por uma substância química forte e desconhecida que os incapacitou por muitos meses.[22]

Anna esteve intimamente envolvida nas tentativas de negociar a libertação de reféns na crise dos reféns no teatro de Moscovo em 2002, também na crise dos reféns nas escolas de Beslan, no norte do Cáucaso no início de setembro de 2004, ela tentou voar para atuar como mediadora e negociar com aqueles que haviam tomado mais de mil reféns, mas foi retirada do avião em Rostov-on-Don, gravemente doente, sem consciência, após tomar um chá. Teria sido uma tentativa de envenenamento, com alguns acusando a antiga instalação secreta de veneno da polícia soviética.[23][24]

Críticas ao governo russo[editar | editar código-fonte]

No livro Putin's Russia: Life in a Failing Democracy, ela acusou o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) de sufocar todas as liberdades civis para estabelecer uma ditadura no estilo soviético.[25]

Após o 11 de setembro, a Rússia reformulou o conflito checheno como parte da "guerra ao terrorismo", devido à especulação dos laços chechenos com a Al Qaeda e aos bombardeios de um shopping center e de vários prédios de apartamentos na Rússia. Ela tentou demonstrar os efeitos da guerra nas pessoas comuns que torna-se análoga ao que se passa no Afeganistão.[26]

Em maio de 2007, a Random House publicou postumamente um diário russo de Politkovskaya, contendo trechos de seu caderno e outros escritos. Com o subtítulo O relato final de uma jornalista sobre a vida, a corrupção e a morte na Rússia de Putin, o livro dá conta do período de dezembro de 2003 a agosto de 2005, incluindo o que ela descreveu como "a morte da democracia parlamentar russa", a crise dos reféns na escola de Beslan e o "inverno e verão do descontentamento" de janeiro a agosto de 2005.[27]

Assassinato[editar | editar código-fonte]

Túmulo de Anna Politkovskaya no cemitério Troyekurovskoye.

Anna Politkovskaia foi assassinada com cinco tiros de pistola em 7 de outubro de 2006, em Moscovo. O seu corpo foi descoberto por uma vizinha no elevador do prédio no qual habitava.[28] Ela levou dois tiros no peito, um no ombro e outro na cabeça à queima-roupa.[29] O assassinato, que aconteceu no 54º aniversário de Vladimir Putin e dois dias após as comemorações do 30º aniversário de Ramzan Kadyrov, levantou suspeitas de que alguém lhes tinham dado um presente não solicitado. Houve uma reação internacional generalizada ao assassinato.[30][31]

Em 30 de agosto de 2011, o ex-coronel russo Dmítri Pavliutchenkov foi preso sob a acusação de ser o mandante e arquiteto do crime: teria recebido o equivalente a 81 mil euros ou 350 mil reais pela sua atuação no assassinato.[32] A investigação definiu que os executores do assassinato foram os quatro irmãos Makhmudov. Três deles – Djabrail, Ibraguím e Tamerlan – foram julgados no tribunal em fevereiro de 2009, mas a condenação foi anulada; Rustam fugiu, mas foi preso na Chechênia este ano. O ex-coronel deu aos irmãos as armas e a informação sobre o cotidiano de Anna.[29] Dmítri Pavliutchenkov entrou num acordo judicial para testemunhar contra outros cinco suspeitos dentre eles os irmãos Makhmudov e em 14 de dezembro de 2012, foi condenado a 11 anos em um presídio de segurança máxima e o pagamento de uma quantia equivalente a 53 mil euros aos filhos de Anna, após ter confessado a participação no crime.[33]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Anna Politkovskaya | Russian journalist». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 8 de novembro de 2019 
  2. «Russos homenageiam Anna Politkovskaya um ano após sua morte». Folha de S.Paulo 
  3. Madeira, Nara (7 de outubro de 2016). «Jornalista Anna Politkovskaya foi assassinada há dez anos». euronews. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  4. «BBCBrasil.com | Notícias | Jornal russo publica último artigo de jornalista assassinada». www.bbc.com. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  5. «Mass Grave Uncovered in Chechnya : The Other Russia». Consultado em 11 de novembro de 2019 
  6. «Anna Politkovskaya Biography - life, family, childhood, children, parents, name, story, death, history, school». www.notablebiographies.com. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  7. «G1 > Mundo - NOTÍCIAS - Jornalista que criticava Putin é assassinada em Moscou». g1.globo.com. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  8. «Folha Online - Mundo - Jornalista denuncia violações dos direitos humanos na Tchetchênia - 23/02/2001». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  9. «Journalist flees to Vienna after receiving threats». Committee to Protect Journalists (em inglês). 15 de outubro de 2001. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  10. «Envenenamentos de opositores de Putin são marcados por mistério». Folha de S.Paulo. 27 de setembro de 2018. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  11. Macqueen, Angus (18 de dezembro de 2004). «Review: Putin's Russia by Anna Politkovskaya and Darkness at Dawn by David Satter». the Guardian (em inglês). Consultado em 31 de agosto de 2021 
  12. «What would Anna Politkovskaya tell us today?». The Independent (em inglês). 7 de outubro de 2016. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  13. «G1 > Mundo - NOTÍCIAS - Jornalista que criticava Putin é assassinada em Moscou». g1.globo.com. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  14. Paulo, iG São (9 de junho de 2014). «Assassinos de jornalista são sentenciados à prisão perpétua na Rússia - Mundo - iG». Último Segundo. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  15. «Anna Politkovskaya trial: the unanswered questions». the Guardian (em inglês). 19 de fevereiro de 2009. Consultado em 11 de novembro de 2019 
  16. «Obituary: Anna Politkovskaya». the Guardian (em inglês). 9 de outubro de 2006. Consultado em 31 de agosto de 2021 
  17. «Other events». web.archive.org. 5 de outubro de 2008. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  18. Parfitt, Tom (9 de outubro de 2006). «Anna Politkovskaya: The only good journalist ...». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  19. «Guerra e normalização - Le Monde Diplomatique». diplomatique.org.br. Consultado em 11 de novembro de 2019 
  20. «A Brave Voice Silenced». RadioFreeEurope/RadioLiberty (em inglês). Consultado em 11 de novembro de 2019 
  21. «Lettre Ulysses Award | Anna Politkovskaya». web.archive.org. 2 de setembro de 2006. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  22. Politkovskaya, Anna (1 de março de 2006). «Anna Politkovskaya reports on suspected mass poisoning of schoolchildren in Chechnya». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  23. Politkovskaya, Anna (30 de outubro de 2002). «Anna Politkovskaya tells of her part in the Moscow theatre siege». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  24. Politkovskaya, Anna (15 de outubro de 2006). «Her Own Death, Foretold» (em inglês). ISSN 0190-8286 
  25. «12 years on, Politkovskaya murder still unsolved». France 24 (em inglês). 7 de outubro de 2018. Consultado em 11 de novembro de 2019 
  26. «Cronologia do conflito na Chechênia». O Globo. 29 de março de 2010. Consultado em 11 de novembro de 2019 
  27. Politkovskaya, Anna (2007). A DIRTY WAR: A Russian Reporter In Chechnya. [S.l.]: Harvill Press. pp. 187–98 
  28. AFP. «Jornalista russa Anna Politkovskaia encontrada assassinada em Moscovo». PÚBLICO. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  29. a b CNN, Matthew Chance. «Getting away with murder in Russia». CNN. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  30. «anna-politkovskaya-murder-accused-acquitted-investigation-must-continue». Human Rights Documents online. Consultado em 8 de novembro de 2019 
  31. «Chechen war reporter found dead» (em inglês). 7 de outubro de 2006 
  32. Avenue, Committee to Protect Journalists 330 7th; York, 11th Floor New; Ny 10001. «Former police colonel indicted in Politkovskaya murder». cpj.org (em inglês). Consultado em 8 de novembro de 2019 
  33. Walker, Shaun (5 de outubro de 2016). «The murder that killed free media in Russia». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
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