Audiência de acusação

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Arraignment no Julgamento dos Ministérios, 20 de dezembro de 1947

A audiência de acusação (em inglês: arraignment) é uma leitura formal de um documento de acusação criminal na presença do réu, para informá-lo do indiciamento contra ele. Em resposta a essa audiencia, em algumas jurisdições, espera-se que o acusado faça uma declaração; em outras jurisdições, nenhuma declaração é necessária. Declarações aceitáveis variam entre jurisdições, mas geralmente incluem "culpado", "inocente", e as alegações preliminares, ou pleas in bar, apresentando razões pelas quais um julgamento não pode prosseguir. Declarações de nolo contendere ('sem contestação') e a Alford plea são permitidas em algumas circunstâncias.

Por país[editar | editar código-fonte]

Austrália[editar | editar código-fonte]

No sistema legal australiano, a audiência de acusação é o primeiro de 11 estágios em um julgamento criminal, e envolve o escrivão do tribunal lendo a acusação formal. O juiz testemunhará durante o processo de acusação.

Canadá[editar | editar código-fonte]

Na Colúmbia Britânica, o arraignment ocorre em uma das primeiras aparições em tribunal pelo réu ou seu advogado. O réu é questionado se se declara culpado ou inocente de cada acusação.[1]

França[editar | editar código-fonte]

Na França, a regra geral é que ninguém pode permanecer em custódia policial por mais de 24 horas a partir do momento da prisão. No entanto, a custódia policial pode durar mais 24 horas em circunstâncias específicas, especialmente se o delito for punível com pelo menos um ano de prisão, ou se a investigação exigir tempo extra, podendo durar até 96 horas em casos específicos envolvendo terrorismo, narcotráfico ou crime organizado. A polícia precisa ter o consentimento do procurador, o procureur. Na grande maioria dos casos, o procurador consentirá.[2]

Alemanha[editar | editar código-fonte]

Na Alemanha, se alguém for preso e detido pela polícia, deve ser levado perante um juiz o mais rápido possível e, no máximo, no dia seguinte à prisão.[3]

Nova Zelândia[editar | editar código-fonte]

Na lei neozelandesa, na primeira aparição do acusado, as acusações são lidas e é solicitada uma declaração. As declarações disponíveis são: culpado, inocente e sem declaração. A resposta de "sem declaração" permite que o réu obtenha aconselhamento jurídico sobre a declaração, que deve ser feita na segunda aparição.[4]

África do Sul[editar | editar código-fonte]

Na África do Sul, o arraignment é definido como a convocação do acusado para comparecer, a informação ao acusado do crime que lhe é imputado, a exigência de o acusado declarar-se culpado ou inocente, e o registro da declaração.

Reino Unido[editar | editar código-fonte]

Na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, a audiência de acusação é o primeiro de 11 estágios em um julgamento criminal, e envolve o escrivão do tribunal lendo a acusação.

Na Inglaterra e em Gales, a polícia não pode deter legalmente ninguém por mais de 24 horas sem acusação, a menos que um oficial com a patente de superintendente (ou superior) autorize a detenção por mais 12 horas (ou seja, um total de 36 horas), ou um juiz (que será um magistrado) autorize a detenção pela polícia antes da acusação por até um máximo de 96 horas; para crimes relacionadas ao terrorismo, uma pessoa pode ser detida pela polícia por até 28 dias antes da acusação. Se não forem liberados após a acusação, devem ser levados perante um tribunal o mais rapidamente possível.[5]

Na Escócia, a polícia não pode deter ninguém por mais de 12 horas sem acusação, a menos que um oficial com a patente de superintendente (ou superior) autorize a detenção por mais 12 horas (ou seja, até 24 horas no total); para ofensas relacionadas a terrorismo, uma pessoa pode ser detida pela polícia por até 14 dias antes da acusação. Se não forem liberados após a acusação, devem ser levados perante um tribunal o mais rapidamente possível.[6]

Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

A Sexta Emenda à Constituição dos Estados Unidos concede aos réus criminais o direito de serem notificados das acusações contra eles. De acordo com as Regras Federais de Processo Criminal dos Estados Unidos, o arraignment consistirá na leitura pública da acusação (e entrega de uma cópia) ao réu e no pedido para que ele declare.[7]

Nos tribunais federais dos Estados Unidos, o arraignment ocorre em duas etapas. A primeira é chamada "audiência inicial de acusação" e deve ocorrer dentro de 48 horas da prisão de um indivíduo, dentro de 72 horas se o indivíduo foi preso no fim de semana e não pôde comparecer perante um juiz até segunda-feira.[8] Durante esta fase, o réu é informado das acusações legais pendentes e é informado de seu direito de reter assistência jurídica. O juiz que preside também decide em que quantia, se houver, estabelecer uma fiança. Durante a segunda fase, o arraignment pós-acusação, o réu tem permissão para fazer uma declaração.

Em Nova Iorque, uma pessoa presa sem mandado e mantida sob custódia deve ser levada perante um tribunal criminal local para arraignment "sem demora desnecessária".[9] Um atraso de mais de 24 horas é presumivelmente considerado desnecessário.[10]

No estado da Califórnia, os arraignments devem ser conduzidos sem demora desnecessária e, em qualquer caso, dentro de 48 horas da prisão, excluindo fins de semana e feriados.[11][12]

Forma do interrogatório[editar | editar código-fonte]

A redação do interrogatório varia de jurisdição para jurisdição.[13] No entanto, geralmente ela se conforma com os seguintes princípios:

  • A pessoa acusada (réu) é abordada pelo nome;
  • O indiciamento contra a pessoa acusada é lida, incluindo a suposta data, hora e local da infração (e às vezes os nomes das testemunhas do estado e a faixa de punição para a(s) acusação(ões));
  • A pessoa acusada é perguntada formalmente como ela se declara.

Interrogatório por vídeo[editar | editar código-fonte]

O interrogatório por vídeo é a realização do processo de interrogatório usando algum tipo de tecnologia de videoconferência. O uso do sistema de interrogatório por vídeo permite que o tribunal conduza o processo de interrogatório necessário sem a necessidade de transportar o réu para o tribunal, utilizando uma ligação de vídeo entre o local onde o réu está detido e o tribunal.

O uso do processo de interrogatório por vídeo aborda os problemas associados ao transporte de réus. O transporte de réus requer tempo, coloca demandas adicionais nas organizações de segurança pública para garantir a segurança do público, do pessoal do tribunal e para a segurança da população detida. Ele também aborda os custos crescentes do transporte.

Declarações de culpa e inocência[editar | editar código-fonte]

Se o réu se declara culpado, geralmente segue uma audiência preliminar. O tribunal não é obrigado a aceitar uma declaração de culpa. Durante a audiência, o juiz avalia a infração, os fatores atenuantes e o caráter do réu, e proferi a sentença.

Se o réu se declara inocente, uma data é marcada para uma audiência preliminar ou um julgamento.

Antes, um réu que se recusava a declarar-se culpado (ou "ficava em silêncio") estava sujeito a peine forte et dure (Termo do dialeto jurídico francês para "punição forte e dura"). Hoje, em jurisdições de common law (direito comum), o tribunal entra com uma declaração de inocência para um réu que se recusa a fazer uma declaração.[14] A justificativa para isso é o direito ao silêncio do réu.

Liberdade antes do julgamento[editar | editar código-fonte]

Esta é também a etapa em que argumentos a favor ou contra a liberdade antes do julgamento e fiança podem ser apresentados, dependendo do crime alegado e da jurisdição.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «"Court Appearances Before the Trial - Province of British Columbia".». www2.gov.bc.ca. Consultado em 2 de outubro de 2023 
  2. «"CRIMINAL PROCEEDINGS AND DEFENCE RIGHTS IN FRANCE"» (PDF). Fair Trials International. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022 
  3. «"CRIMINAL PROCEEDINGS AND DEFENCE RIGHTS IN GERMANY"» (PDF). Fair Trials International. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022 
  4. "Facing criminal charges from How to Law".
  5. «"Criminal Proceedings and Defence Rights in England and Wales"» (PDF). Fair Trials International. Cópia arquivada (PDF) em 9 de outubro de 2022 
  6. «"Criminal Proceedings and Defence Rights in Scotland"» (PDF). Fair Trials International 
  7. Rule 10Cornell Law School
  8. Samaha, Joel (2012). Criminal Procedure 8ª ed. [S.l.]: Thomson Wadsworth. ISBN 978-0-495-91335-1 
  9. NYS Criminal Procedure Law § 140.20(1).
  10. People ex rel. Maxian on Behalf of Roundtree v. Brown, 77 N.Y.2d 422, 570 N.E.2d 223 (1991).
  11. County of Riverside v. McLaughlin, 500 U.S. 44 (1991)
  12. «"Los Angeles Criminal Court Arraignment | Spolin Law P.C."». spolinlaw.com. 16 de agosto de 2016. Consultado em 3 de dezembro de 2016 
  13. Em algumas jurisdições, a redação do interrogatório é estabelecida por estatuto ou direção prática do tribunal.
  14. Em Queensland, Austrália, esse assunto é coberto por estatuto. Consulte o artigo 601 do Código Penal de Queensland.