Bandeira

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Bandeiras nacionais, em frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU).

A bandeira é definida classicamente como sendo o símbolo visual representativo de um estado soberano, país, estado, município, intendência, província, bairro, organização, sociedade, comunidade, clã, coroa ou reino, ou seja, toda e qualquer entidade constituída, quer seja uma nação e seu povo, ou mesmo uma família tradicional, desde que reconhecida por outras entidades ou tradição.[1]

Por dispostos legais de cada país, deve ser sempre hasteada em um mastro, com altura e dimensões estabelecidas em leis, estatutos sociais, convenções ou simplesmente num projeto pré-definido.[2][3] Representando também a soberania nacional ou mesmo o ato de divulgar algo em prol de um todo. Apesar de não aparecer sob conceitos de alguns. Não, não é só um pedaço de pano simples, em seu conteúdo é representada toda a história de um povo, suas convicções, lutas e esperanças. Usada tanto em períodos de paz como de guerra, é um dos símbolos universais mais abrangentes.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Penó de la Conquesta, a bandeira conservada mais antiga da Europa, hasteada em Valência em 1280, quando da sua conquista por Jaime I de Aragão

A origem das bandeiras remonta à Idade Média, quando os exércitos aliados, para não se confundirem uns com os outros, usavam um pedaço de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do batalhão ou companhia envolvida. Assim evitavam o temido fogo amigo. As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de comando usados desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. A substituição dos signos figurados de material rígido por tecidos pintados em cores vivas foi feita pelos romanos, com seu vexilium (estandarte), uma tendência que se acentuou durante a Idade Média.[4]

A mais antiga regulamentação do uso das bandeiras de que se dispõe está incluída nas Siete Partidas do rei Afonso X, o sábio (1252-1284), especificando as diferenças entre o estandarte privativo de um príncipe, os pendões, os hierárquicos dos comandantes militares, as flâmulas de cada regimento, etc. Com as modificações trazidas pelo tempo, esse ainda é basicamente o procedimento usado até hoje: em todos os países o uso das bandeiras obedece à regulamentação rigorosa quanto à forma, cores e maneira de hastear.[5]

No caso das bandeiras nacionais, a simbologia pode ou não observar as convenções heráldicas: a da França,[6] por exemplo, limita-se exibir as cores nacionais, mas a do Reino Unido tem um significado heráldico na medida em que se combina a cruz vermelha de São Jorge, padroeiro da Inglaterra, com a branca de Santo André, da Escócia, e a vermelha de São Patrício, da Irlanda.[7] O estudo da vexilologia — isto é, da história e do simbolismo das bandeiras — é uma disciplina auxiliar das ciências sociais, justamente por revelar elementos muito significativos sobre a formação de cada caráter nacional.[8]

Vários países sugerem em suas bandeiras, a importância da agricultura para a subsistência do povo, ou a industrialização como uma esperança para o futuro (Angola, Moçambique); outros sugerem a linhagem de uma dinastia reinante (Espanha, Liechtenstein), aspectos característicos da flora ou da fauna (Canadá, Líbano, Dominica), alusão ao processo de formação do país (as bandeiras do Reino Unido, do Estado Livre de Orange e do Transvaal, que aparecem na antiga bandeira da África do Sul), ou seus elementos típicos (o templo de Angkor na do Camboja, o chapéu típico na do Lesoto) ou então a sua história, como no caso de Portugal.[9][10][7]

Além das cores tradicionais — o branco e o amarelo sugerindo o ouro e a prata dos brasões de armas, o azul geralmente relacionado com a aristocracia e o vermelho com movimentos revolucionários, etc. —, outras cores passaram a ser usadas mais recentemente: o marrom, por exemplo, adotado em algumas bandeiras africanas como uma alusão à raça negra.[9][10][7]

Em alguns casos, pode haver pequenas diferenças entre a bandeira civil, usada nas circunstâncias comuns, e a bandeira do Estado, usada em certas cerimônias oficiais ou como insígnia do chefe de Estado (a bandeira do rei na Arábia Saudita, por exemplo, é a bandeira civil, tendo, no canto inferior direito, em amarelo, o desenho de uma tamareira, símbolo de paciência e determinação, encimando dois alfanjes cruzados; a Bulgária, há diversas variações de bandeira como insígnia, etc.).[9][10][7]

Bandeiras inspiradoras[editar | editar código-fonte]

A mais antiga bandeira nacional em uso é a da Dinamarca, usada desde o século XIII. Esta também é conhecida como Dannebrog.
Bandeira dos Países Baixos.

Várias bandeiras serviram de inspiração para as bandeiras de outros países ou entidades subnacionais. Os exemplos mais conhecidos são:

Bandeira da Turquia.
Bandeira da União Soviética

Tipos e usos[editar | editar código-fonte]

As formas mais comuns de bandeiras são a retangular, a quadrada, a triangular e a farpada.[41]

As bandeiras podem representar pessoas específicas ou grupos de pessoas. No primeiro caso, normalmente trata-se de titular de um cargo estatal ou de cargo em organização privada, adaptando diferentes denominações, conforme o caso. E na representação de coletividades, há uma variedade maior. Nessas condições, as representações podem ser de:[41]

  • Sinal Privativo — as bandeiras deste tipo mais conhecidas são utilizadas por proprietários de embarcações de recreio;
  • Distintivo Pessoal ou de Comando — este tipo de bandeira é utilizado para representar quem desempenha um determinado cargo. Neste grupo estão incluídas as Bandeiras das autoridades militares e administrativas, bem como alguns cargos em instituições privadas, normalmente relacionadas com o mar.
  • Bandeira nacional — representa uma Nação, serve de símbolo nacional que representa a soberania deste. Constituída de tecido leve com as cores e símbolos oficiais do país e sinalizadoras na marinha mercante e de guerra ou a força naval de um país.
  • Bandeira subnacional — inclui todas as Bandeiras representativas de territórios internos de uma Nação, tais como regiões ou municipalidades;[27]
  • Bandeira de organização internacional — bandeira de organizações tais como as Nações Unidas, a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte;[42]
  • Bandeira de entidades públicas ou privadas — inclui as Bandeiras representativas de organizações públicas ou privadas, tais como empresas, clubes ou universidades.

Há ainda bandeiras com outras de motivações e usos. Como exemplo, há uma série de bandeirolas que servem como sinais de comunicação entre uma embarcação e outra. Também há um uso grande na aviação, principalmente em porta-aviões como sinalizadoras de decolagem e estolagem ou mesmo acidentes na pista do convés ou deck superior onde pousam os aviões. Em terra firme, pode servir como sinais de perigos em uma praia, por exemplo, se fincada uma bandeira vermelha indica interdição da área. Há amplo uso nos esportes também, sendo que nas competições de automobilismo Fórmula 1, usam-se bandeiras sinalizadoras, que indicam uma série de eventos ao esporte, por exemplo a bandeira preta que desclassifica o corredor. Seu uso também é muito conhecido no futebol, utilizada pelos bandeirinhas ou árbitros auxiliares ao sinalizarem uma falta ou impedimento técnico. Por fim, pode ser usada também em propagandas diversas, por exemplo, por empresas.[43][44]

Protocolo e apresentação[editar | editar código-fonte]

Bandeira portuguesa a flutuar, vista por reverso
Bandeiras do lado de fora do Central Plaza a meio-mastro, em luto às vítimas do terremoto de Sichuan. A bandeira da Arábia Saudita, por motivos religiosos, não pode ficar a meio-mastro.

As bandeiras têm geralmente duas faces, sendo uma delas o anverso e a outra o reverso. Normalmente são representadas pelo anverso, ou seja, apresentando a tralha do lado esquerdo. As bandeiras com eixo de simetria vertical apresentam igual aspeto, quer mostrem o anverso, quer o reverso. As restantes apresentam-se invertidas quando observadas pelo reverso.[2][45][46][47][48]

Há normas de honra à bandeira dependendo do país e da bandeira, variando a etiqueta com a qual se deve tratá-la obriga a vários procedimentos. Por exemplo, o protocolo pode definir certos rituais e procedimento a serem levados a cabo para a destruição de uma bandeira velha. O cerimonial e a atitude perante a bandeira poderão ser mais ou menos rigorosos conforme o país.[2][45][46][47][48]

Em caso de luto, há modificação na apresentação de bandeiras. Trata-se de um dos mais conhecidos sinais de luto oficial numa organização, municipalidade, região ou país: o hasteamento da sua bandeira a meia-haste. Quando isto não é possível, coloca-se um laço ou uma fita negra sobre o seu pano.[2][45][46][47][48]

Hastes[editar | editar código-fonte]

O mastro, antes de bandeira ser alçada.

As hastes das bandeiras (chamados mastros, postes ou paus de bandeira, quando fixos) podem ser simples suportes feitos de madeira, metal ou mesmo plástico. Se forem mais altos que o alcance normal de uma pessoa, para içar a bandeira é, normalmente usada um corda ("adriça") que dá a volta numa poleia no topo do mastro, sendo os seus extremos atados na base. A bandeira é fixa a um dos extremos da adriça, sendo içada, puxando-se o outro extremo. A adriça, então é esticada e atada à base do mastro. Os mastros da bandeira são muitas vezes rematados por placas redondas, esferas, pontas de lança ou por elementos simbólicos (esferas armilares em Portugal, por exemplo).[2][45][46][47][48]

Os mastros de bandeiras muito altos, ou que suportem bandeiras de grandes dimensões, podem ter que ser estruturas complexas e de grande resistência.[2][45][46][47][48]

O mais alto mastro de bandeira do mundo situa-se no Cairo, no Egito, mais precisamente na Nova Capital Administrativa. Este mastro tem 201 952 metros de altura e suporta uma bandeira que pesa 1 040 toneladas.[49]

O mastro de bandeira sem suporte mais alto do mundo está em Aqaba, na Jordânia, medindo 132 metros de altura.[50] O segundo mastro desse tipo mais alto também se situa na Jordânia, em Ragahdan, medindo 126 metros, hasteando uma bandeira de 40 metros por 60 metros, sendo iluminado à noite e visível a 25 quilômetros de distância.[51]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Garschagen 2002a, p. 116.
  2. a b c d e f BRASIL. Presidência da República do Brasil, ed. «Lei º 5.700, de 1 de setembro de 1971.». Consultado em 2 de março de 2021. Cópia arquivada em 9 de março de 2021 
  3. a b Arruda 1988, pp. 1110–1124.
  4. Duarte 2001, pp. 8–9.
  5. Real Academia de la Historia (1807). Las Siete Partidas del Rey Don Alfonso El Sabio (PDF). Madrid: Imprenta Real. pp. 237–240. Arquivado do original (PDF) em 3 de abril de 2010 
  6. Duarte 2001, p. 55.
  7. a b c d e f g Duarte 2001, p. 57.
  8. Cantele 1989, p. 13.
  9. a b c Duarte 2001, pp. 38-43.
  10. a b c d Duarte 2001, pp. 58–68.
  11. Duarte 2001, p. 49–50.
  12. Duarte 2001, p. 34.
  13. DK Books 2008, p. 225.
  14. DK Books 2008, p. 121.
  15. DK Books 2008, p. 168.
  16. DK Books 2008, p. 124.
  17. DK Books 2008, p. 164.
  18. DK Books 2008, p. 73.
  19. DK Books 2008, p. 125.
  20. DK Books 2008, p. 29.
  21. DK Books 2008, p. 51.
  22. DK Books 2008, p. 163.
  23. DK Books 2008, p. 82.
  24. DK Books 2008, p. 54.
  25. DK Books 2008, p. 82.
  26. Duarte 2001, p. 22.
  27. a b Duarte 2001, pp. 20–27.
  28. DK Books 2008, p. 64.
  29. DK Books 2008, p. 75.
  30. DK Books 2008, p. 79.
  31. DK Books 2008, p. 76.
  32. DK Books 2008, p. 91.
  33. DK Books 2008, p. 174.
  34. DK Books 2008, p. 57.
  35. DK Books 2008, p. 58.
  36. Duarte 2001, p. 36.
  37. Duarte 2001, p. 44.
  38. Jaume Olle. «República de la Gran Colombia». Consultado em 19 de setembro de 2009 
  39. a b Duarte 2001, p. 37.
  40. DK Books 2008, pp. 54–55.
  41. a b Garschagen 2002b, p. 328.
  42. Arruda 1988, p. 1122.
  43. Duarte 2001, pp. 86–95.
  44. Arruda 1988, p. 1125.
  45. a b c d e PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS, Decreto-Lei n.º 150/87 de 30 de março - Regras para o uso da Bandeira Nacional, Diário da República nº 74, 1987
  46. a b c d e CONSELHO DA REVOLUÇÃO, "Decreto-lei n.º 331/80, de 28 de agosto - Regulamento de Continências e Honras Militares", Diário da República, 1980
  47. a b c d e MINISTÉRIO DA MARINHA, "Decreto n.º 23001 - Aprova e manda pôr definitivamente em execução a Ordenança do Serviço Naval", Diário do Governo, 1933
  48. a b c d e SOBRAL, José, "Regras para o uso da Bandeira Nacional", Audaces, 2008
  49. «Tallest flagpole». Guinness World Records (em inglês). Consultado em 31 de dezembro de 2021 
  50. a b «Aqaba Flagpole info on the website of Trident Support Corporation». Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2011 
  51. «Jordan flagpole hits new heights». BBC News. 10 de junho de 2003. Consultado em 27 de abril de 2010. Arquivado do original em 24 de abril de 2023 
  52. Potts, Rolf (3 de fevereiro de 1999). «Korea's No-Man's-Land». Salon. Consultado em 25 de setembro de 2021. Arquivado do original em 4 de outubro de 2023 
  53. Bernardes, Sérgio (18 de maio de 2018). «Sérgio Bernardes e o Monumento ao Pavilhão Nacional, Brasília, 1972». vitruvius. Maio de 2018.». vitruvius. Consultado em 3 de novembro de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Arruda, Ana (1988). «Bandeira». Enciclopédia Delta Universal. 2. Rio de Janeiro: Delta 
  • Cantele, Bruna Renata (1989). História dinâmica do Brasil: 5.ª série. São Paulo: IBEP 
  • DK Books (2008). Complete Flags of the World: The Ultimate Pocket Guide (PDF). London: Dorling Kindersley Limited 
  • Duarte, Marcelo (2001). Almanaque das Bandeiras. São Paulo: Moderna. ISBN 8516027759 
  • Garschagen, Donaldson M. (2002a). «Bandeira». Nova Enciclopédia Barsa: Micropédia. 1. São Paulo: Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda 
  • Garschagen, Donaldson M. (2002b). «Bandeira». Nova Enciclopédia Barsa: Macropédia. 2. São Paulo: Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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