Ciclones extratropicais no sul do Brasil em 2023

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Ciclones extratropicais no sul do Brasil em 2023[nota 1] foram uma série de ciclones extratropicais que ocorreram entre os meses junho, julho e setembro nos estados da região sul do Brasil.

Ciclones extratropicais são fenômenos comuns no sudeste da América do Sul, principalmente a leste da Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul. Três destes sistemas afetaram o Sul do Brasil em 2023, incluindo o ciclone que em junho atingiu os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina causando mais de 30 mortes,[2][3] outro que em julho deixou 3 mortos e milhares de residências sem energia elétrica nos mesmos estados.[4] e outro em setembro que foi uma das causas dos desastres naturais no sul do Brasil em setembro de 2023.

Ciclones[editar | editar código-fonte]

Junho[editar | editar código-fonte]

O ciclone na tarde de 16 de junho de 2023, já com o centro organizado, sobre o Oceano Atlântico

O ciclone extratropical no sul do Brasil em junho de 2023 atingiu os estados do Rio Grande do Sul (RS) e de Santa Catarina (SC). A maior intensidade foi observada entre a noite de 15 e a manhã de 16 de junho de 2023, principalmente na região nordeste do RS e sudeste de SC. O ciclone extratropical causou o "maior desastre natural relacionado últimas quatro décadas no estado" do RS.[5][6][7] O sistema começou a se formar no dia 13 de junho a partir de uma área de baixa pressão perto de São Paulo, que, conforme se deslocou para o sul, começou a ser organizar num ciclone, cujo centro, entre 15 e 16 de junho, se aproximou muito da costa entre a divisa do RS e SC.[8][9][10]

Na manhã de 15 de junho o INMET emitiu um alerta laranja, de "perigo", para chuvas intensas que poderiam chegar a 100 mm em 24h e ventos de até 100 km/h para áreas do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC).[11] À tarde, esse alerta foi elevado para vermelho, de "grande perigo", sendo que o acumulado de chuva poderia "superar os 100 mm em 24h, com ventos de mais de 100 km/h".[12] O portal especializado Metsul chamava a situação de "perigosa". "Este ciclone será o mais forte a atuar junto ao Rio Grande do Sul e o Sul Catarinense desde a passagem em maio do ano passado da tempestade subtropical Yakecan", avisava a Metsul também.[9] Em 15 de junho o ciclone propriamente dito começou a se formar, causando chuvas intensas e ventania em toda região nordeste do Rio Grande do Sul e em algumas cidades mais a sudeste de Santa Catarina. Segundo o INMET, até o início da manhã do dia 16 havia chovido 206,2 mm em Teutônia, no RS, e ventos de 112 km/h em Bom Jardim da Serra (SC) e de 102 em Tramandaí (RS) haviam sido registrados.[13]

No dia 17, uma comitiva formada pelo governador Eduardo Leite, pelo ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, vistoriou as áreas mais atingidas.[14] Dezesseis (16) pessoas morreram no RS, no chamado "maior desastre natural relacionado a chuvas intensas das últimas quatro décadas no Estado". 54 municípios tiveram danos ou pessoas atingidas, incluindo 15 mil pessoas desabrigadas e desalojadas. Cerca de 3 mil produtores rurais também tiveram perdas, numa região que é grande produtora de hortigranjeiros.[15][7][5] O total de perdas financeiras, segundo o governo estadual, girava em torno de R$ 91 milhões.[7] Em Santa Catarina um barco com 8 pescadores virou no mar no dia 16 devido à agitação marítima provocada pelo ciclone. Seis pessoas foram resgatadas e duas morreram.[16] No estado, a cidade de Praia Grande decretou Situação de Emergência ainda na sexta-feira, 16. Outros 20 municípios também foram atingidos.[17][18]

Julho[editar | editar código-fonte]

Ciclone extratropical na costa do Brasil em 13 de julho de 2023

O ciclone extratropical no sul do Brasil em julho de 2023 atingiu os estados do Rio Grande do Sul (RS) e de Santa Catarina (SC). A região mais atingida por essa série de tempestades desde a última quarta-feira (12) foi o litoral do Rio Grande do Sul, onde ocorreram ventos de até 140 quilômetros por hora e granizo.[19]

No município de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, um idoso perdeu a vida quando sua residência foi atingida por uma árvore. Na cidade costeira de Itanhaém, no litoral do estado de São Paulo, uma idosa foi eletrocutada por fios derrubados devido à queda de galhos. Em São José dos Campos, no interior de São Paulo, outra mulher perdeu a vida após ser atingida por um tronco de árvore.[19]

Mais de um milhão de pessoas na região Sul do país ficaram sem energia elétrica devido aos fortes ventos, que também causaram a suspensão dos voos no Aeroporto Internacional de Florianópolis por quase 24 horas, afetando também as operações nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, na Grande São Paulo. Os portos nas regiões Sul e Sudeste também tiveram seu funcionamento prejudicado. Na Serra do Mar, no estado do Paraná, turistas ficaram presos por 10 horas em um trem devido às condições climáticas adversas.[19]

Setembro[editar | editar código-fonte]

Ciclone extratropical na costa do Brasil em 4 de setembro de 2023

O ciclone extratropical no sul do Brasil em setembro de 2023 foi um ciclone extratropical que ocorreu entre os dias 4 e 5 de setembro de 2023 na costa leste do estado brasileiro do Rio Grande do Sul no Brasil. A tempestade trouxe chuvas e ventos fortes que resultaram em 47 mortes, 924 feridos e causaram danos de 1,3 bilhão de reais. As enchentes também afetaram vários municípios do Rio Grande do sul, incluindo Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Ibiraiaras, Lajeado do Bugre, Nova Bassano, Santo Expedito do Sul, e São Jorge. As enchentes levaram também a declarar o estado de emergência no estado pelo governador Eduardo Leite.[20]

A formação de uma frente fria e de uma corrente de jato em baixos níveis junto ao ciclone agravou a situação meteorológica e provocou uma enorme quantidade de chuva, fortes rajadas de vento e queda de granizo no estado e em partes de Santa Catarina.[21][22][23][24][20] O desfecho mais impactante das severas condições meteorológicas combinadas foram as enchentes no Vale do Taquari, que deixaram cerca de 359 mil atingidos, 5 mil desabrigados e mais de 21 mil desalojados, além de 47 mortes e 10 desaparecidos,[25][26][27][28][29] o que tornou este o maior desastre natural no Rio Grande do Sul em mais de seis décadas e o segundo maior em número de mortes, atrás somente das enchentes de 1959.[30][31] Em Santa Catarina houve uma morte e registros de feridos.[32]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. Ao contrário dos ciclones tropicais e subtropicais do Atlântico Sul, os ciclones extratropicais não são nomeados no Brasil.[1]

Referências

  1. «Entenda o desastre pelo ciclone em perguntas e respostas». MetSul Meteorologia. 19 de junho de 2023. Consultado em 27 de junho de 2023 
  2. «Ciclone do RS é o maior desastre natural relacionado a chuvas nos últimos 40 anos, diz governo». G1. 20 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  3. «Cálculo inicial do governo do Estado para apoio da União à reconstrução após o ciclone é de R$ 91,6 milhões». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 21 de junho de 2023. Consultado em 27 de junho de 2023 
  4. Deutsche Welle, ed. (14 de julho de 2023). «Ciclone mata três no RS e em SP e deixa milhares sem energia». Consultado em 7 de setembro de 2023 
  5. a b «Número de mortes provocadas por chuva na semana passada é o maior em ocorrências do tipo no RS em 40 anos». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 20 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  6. «Ciclone do RS é o maior desastre natural relacionado a chuvas nos últimos 40 anos, diz governo». G1. 20 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  7. a b c «Cálculo inicial do governo do Estado para apoio da União à reconstrução após o ciclone é de R$ 91,6 milhões». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 21 de junho de 2023. Consultado em 27 de junho de 2023 
  8. «Ciclone extratropical eleva risco de chuva volumosa de SP ao RS». MetSul Meteorologia. 13 de junho de 2023. Consultado em 27 de junho de 2023 
  9. a b «**ALERTA** Perigosa situação de chuva e vento por ciclone na costa». MetSul Meteorologia. 15 de junho de 2023. Consultado em 19 de junho de 2023 
  10. «A sexta-feira será marcada pela atuação do ciclone próximo à Região Sul: INMET alerta para rajadas de até 100 km/h». Tempo.com | Meteored. 15 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  11. «twitter.com/inmet_/status/1669335319777366016/photo/1». Twitter. Consultado em 19 de junho de 2023 
  12. «twitter.com/inmet_/status/1669339400306819073/photo/1». Twitter. Consultado em 19 de junho de 2023 
  13. «twitter.com/inmet_/status/1669672536894758916». Twitter. Consultado em 19 de junho de 2023 
  14. «Governador e comitiva federal vistoriam áreas atingidas pelo ciclone extratropical no Estado». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 17 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  15. «Secretaria de Desenvolvimento Rural divulga efeitos do ciclone extratropical nas atividades agrícolas». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 22 de junho de 2023. Consultado em 27 de junho de 2023 
  16. «Pescador resgatado de barco que virou na costa de SC diz que tripulantes não concordaram com viagem». G1. 20 de junho de 2023. Consultado em 21 de junho de 2023 
  17. SDC, ASCOM | (20 de junho de 2023). «Defesa Civil de SC vai a Praia Grande, município mais atingido pelo ciclone». ACN - Agência Catarinense de Notícias. Consultado em 21 de junho de 2023 
  18. SDC, ASCOM | (16 de junho de 2023). «Ciclone extratropical causa ocorrências em 21 municípios de Santa Catarina e chuva acima do esperado para todo o mês de junho». ACN - Agência Catarinense de Notícias. Consultado em 21 de junho de 2023 
  19. a b c Deutsche Welle, ed. (18 de junho de 2023). «Sobe para 13 número de mortos após passagem de ciclone no RS». Consultado em 7 de setembro de 2023 
  20. a b CNN Brasil, ed. (6 de setembro de 2023). «Entenda o que causou o maior desastre natural do RS nos últimos 40 anos». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  21. André Malinoski (11 de setembro de 2023). Zero Hora, ed. «Combinação de diferentes fatores causou cheia no Vale do Taquari, dizem especialistas». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  22. «Sem ciclone: entenda o que trará muita chuva e temporais nesta segunda». MetSul Meteorologia. 3 de setembro de 2023. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  23. Climatempo (9 de maio de 2023). «Não tem e não vai ter ciclone no Sudeste do Brasil». www.climatempo.com.br. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  24. Estado de Minas, ed. (15 de setembro de 2023). «Enchente foi causada por ciclone, não por barragens no Vale do Taquari (RS)». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  25. G1, ed. (3 de outubro de 2023). «Passagem de ciclone que provocou enchentes e deixou 50 mortos e 8 desaparecidos no RS completa um mês». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  26. Luciano Nagel (4 de setembro de 2023). Estadão, ed. «Passagem de ciclone provoca enchentes no RS: 'Estamos todos ilhados'». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  27. «18h40: Com mais uma morte, Defesa Civil divulga novo balanço sobre chuvas e enchentes no RS». Portal do Estado do Rio Grande do Sul. 19 de setembro de 2023. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  28. Giulia Granchi e Julia Braun (4 de setembro de 2023). BBC Brasil, ed. «Ciclone extratropical: entenda fenômeno que causou mortes e alerta vermelho no RS». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  29. Caue Fonseca (4 de setembro de 2023). Folha de S.Paulo, ed. «Ciclone causa chuva forte e quatro mortes no RS». Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  30. Povo, Correio do (20 de junho de 2023). «Ciclone não é a maior tragédia climática do RS; em 1959, chuvas deixaram mais de 90 mortos». Correio do Povo. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  31. «Estael Sias: chuva extrema marca o começo dos efeitos do El Niño». MetSul Meteorologia. 5 de setembro de 2023. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  32. «Número de mortes causadas por passagem de ciclone no Sul sobe para 40». CNN Brasil. 7 de setembro de 2023. Consultado em 7 de setembro de 2023