Gambiarra evolutiva: diferenças entre revisões

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=== O ferrão das abelhas ficam presos à vítima ===
=== O ferrão das abelhas ficam presos à vítima ===
O sistema de defesa das [[abelhas]] com ferrão ativo, torna sua defesa um ato suicida<ref name=":5">DAWKINS, R. O gene egoista. São Paulo: EDUSP. (1979).</ref>. Quando a abelha ferroa, o ferrão se desloca do abdômen, e, na maioria das vezes parte dos órgãos internos da abelha ficam na vítima e a abelha morre em seguida<ref name=":5" />. Isto acontece devido as estriações do ferrão que acabam fixando o ferrão no tecido picado<ref>WALKER, T. et al. Imaging diagnosis: acute lung injury following massive bee envenomation in a dog. Veterinary Radiology & Ultrasound, v.46, n.4, p.300-303, (2005).</ref>. A resposta evolutiva é que aparelho inoculador de veneno (ferrão) das abelhas e de outros indivíduos dessa [[ordem]] zoológica, foi derivado de um ovopositor modificado, o qual possui glândulas veneníferas anexas<ref>FIGHERA R. A.; SOUZA, T. M.; BARROS, C. S. L.; Acidente provocado por picada de abelhas como causa de morte de cães. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.2, p.590-593. ISSN 0103-8478 (2007).</ref>.
O sistema de defesa das [[abelhas]] com ferrão ativo, torna sua defesa um ato suicida<ref name=":5">DAWKINS, R. O gene egoista. São Paulo: EDUSP. (1979).</ref>. Quando a abelha ferroa, o ferrão se desloca do abdômen, e, na maioria das vezes parte dos órgãos internos da abelha ficam na vítima e a abelha morre em seguida<ref name=":5" />. Isto acontece devido as estriações do ferrão que acabam fixando o ferrão no tecido picado<ref>WALKER, T. et al. Imaging diagnosis: acute lung injury following massive bee envenomation in a dog. Veterinary Radiology & Ultrasound, v.46, n.4, p.300-303, (2005).</ref>. A resposta evolutiva é que aparelho inoculador de veneno (ferrão) das abelhas e de outros indivíduos dessa [[ordem]] zoológica, foi derivado de um ovopositor modificado, o qual possui glândulas veneníferas anexas<ref>FIGHERA R. A.; SOUZA, T. M.; BARROS, C. S. L.; Acidente provocado por picada de abelhas como causa de morte de cães. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.2, p.590-593. ISSN 0103-8478 (2007).</ref>.

=== Coelhos necessitam comer suas fezes ===
Os coelhos têm de comer algumas das suas próprias fezes, a fim de digerir completamente as suas refeições<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=09B4ge387uQC&pg=PA25&lpg=PA25&dq=Rabbits+have+to+eat+some+of+their+own+feces+in+order+to+fully+digest+their+meals&source=bl&ots=63Sz5YEXWa&sig=lRgw8mLeCdG2cKvJdGtsQRD_lt4&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwimrOiJxL3TAhWFG5AKHW0aAiEQ6AEIYzAI#v=onepage&q=Rabbits%20have%20to%20eat%20some%20of%20their%20own%20feces%20in%20order%20to%20fully%20digest%20their%20meals&f=false|título=Modular Science: Separate award. Year 10|ultimo=Hirst|primeiro=Keith|data=2002-01-01|editora=Heinemann|lingua=en|isbn=9780435572044}}</ref>.


== Referências bibliográficas ==
== Referências bibliográficas ==

Revisão das 13h08min de 25 de abril de 2017

[[Categoria:Evolução]]

Gambiarra evolutiva (Kluge ou também bagagem evolutiva) tem sido um termo utilizado nos campos da ciência evolucionista para descrever estruturas, órgãos e comportamentos imperfeitos, desajeitados, inelegantes, ineficientes, difíceis de entender ou prejudiciais que são resultantes do processo evolutivo [1][2][3][4]. O termo  tem aparecido na literatura[1] e se tornado familiar entre os biólogos, aparecendo até como título do livro Kluge do psicólogo Gary Marcus, da Universidade de Nova York, que usa desta analogia para descrever a mente humana[3].

Aparições na literatura:

  • O termo Gambiarra evolutiva aparece na obra "O vazio da Máquina" , livro de André Cancian, que investiga alguns dos tópicos mais incômodos trazidos à luz pelo vazio da existência. O nada, o absurdo, a solidão, o sofrimento, o suicídio, a hipocrisia são alguns dos assuntos principais abordados ao longo da obra. Em um trecho de sua obra, ele usa o termo Gambiarra como analogia para retratar sobre a desajeitada formação humana[4]:

" [...] Mas o fato é que somos uma gambiarra evolutiva, e mesmo que essa ideia seja incômoda, ela nos permite compreender em função de que está programada essa realidade virtual chamada consciência – e as emoções que a norteiam - , e assim finalmente entendamos um pouco melhor por que somos tão contraditórios e tão complicadamente incoerentes"[4].

  • Gambiarra Evolutiva aparece também no livro "The Accidental Mind: How Brain Evolution Has Given Us Love, Memory, Dreams, and God" do neurocientista David Linden, onde o mesmo discute como os defensores do design inteligente interpretaram mal a anatomia do cérebro. Linden contesta a suposição generalizada de que o cérebro é um modelo de design - e em seu lugar nos dá uma explicação convincente de como a evolução acidental do cérebro resultou em nada menos do que a humanidade na espécie Homo sapiens. A obra mostra como o cérebro não é uma máquina de resolução de problemas otimizada e de propósito geral, mas sim uma aglomeração estranha de soluções ad hoc que foram empilhadas por milhões de anos de história evolutiva[2]. Em um trecho Linden aborda:

"Os aspectos transcendentes de nossa experiência humana, as coisas que tocam nosso núcleo emocional e cognitivo, não nos foram dados por um Grande Engenheiro. Estas não são as últimas características de design de um cérebro impecavelmente trabalhada.  Em vez disso, a cada passo, o design do cérebro tem sido um obstáculo, uma solução alternativa, um desordem, um pastiche. As coisas que possuímos mais alto em nossa experiência humana (amor, memória, sonhos e uma predisposição para o pensamento religioso) resultam de uma aglomeração particular de soluções ad hoc que foram acumuladas através de milhões de anos de história da evolução.  Não é que tenhamos pensamentos e sentimentos fundamentalmente humanos, apesar do design kludgy do cérebro moldado pelas reviravoltas da história evolutiva. Pelo contrário, nós os temos precisamente por causa dessa história[2]". 

  • O livro do psicólogo de pesquisa Gary Marcus, "Kluge: The Haphazard Construction of the Human Mind"[3], compara os kluges evolucionários com os de engenharia, como limpadores de pára - brisas com vácuo - quando você acelerou ou dirigiu para cima, "seus limpadores abrandaram, completamente". O livro é dedicado a mostrar como as faculdades mentais humanas mais caras -consciência e raciocínio lógico- foram construídas pela evolução aproveitando estruturas cerebrais primitivas, e que na falta de algo melhor serve ao humano, mas o preço pago pela gambiarra cerebral é que ela frequentemente entra em "curto-circuito"[1].

Exemplos de Gambiarras evolutivas

Caracóis defecam sobre a própria cabeça

Uma característica particular dos caracóis é que durante sua formação, a concha calcária sofre uma distorção helicoidal, girando para abrigar seu corpo e permitir que a cabeça possa ser puxada para dentro do manto de proteção[5], evidentemente para se proteger de predadores. Acontece que, conforme gira durante sua fase larval, seu trato digestivo juntamente com o resto do visceral também são submetidos a torção, torção em torno de 180 graus, de modo que o ânus do animal finda localizado acima da própria cabeça[6][5].

A bolsa do coala abre-se para baixo

A coala é marsupial arborícola noturno, com até 85 cm de comprimento, que passa seus dias agarrado a troncos de árvores e que possui o marsúpio que se abre para baixo, em vez de para cima, como a dos cangurus. A razão isso é um legado da história. Os coalas descendem de um ancestral parecido com o vombate[7]. Segundo Williams (2006), os coalas evoluíram de marsupiais escavadores como o vombate, que escavavam ninhos subterrâneos, a bolsa de seus ancestrais abrem-se para trás como resultado de proteção dos filhotes durante a escavação[8]. A medida que os atuais coalas evoluíram, essa característica manteve-se como estrutura vestigial.

O ferrão das abelhas ficam presos à vítima

O sistema de defesa das abelhas com ferrão ativo, torna sua defesa um ato suicida[9]. Quando a abelha ferroa, o ferrão se desloca do abdômen, e, na maioria das vezes parte dos órgãos internos da abelha ficam na vítima e a abelha morre em seguida[9]. Isto acontece devido as estriações do ferrão que acabam fixando o ferrão no tecido picado[10]. A resposta evolutiva é que aparelho inoculador de veneno (ferrão) das abelhas e de outros indivíduos dessa ordem zoológica, foi derivado de um ovopositor modificado, o qual possui glândulas veneníferas anexas[11].

Coelhos necessitam comer suas fezes

Os coelhos têm de comer algumas das suas próprias fezes, a fim de digerir completamente as suas refeições[12].

Referências bibliográficas

  1. a b c «Folha de S.Paulo - Falha de conexão - 07/12/2008». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 25 de abril de 2017 
  2. a b c Linden, David J. (2007). The Accidental Mind: How Brain Evolution Has Given Us Love, Memory, Dreams, and God. Belknap Press. pp. 245–246. ISBN 0-674-02478-8.
  3. a b c Marcus, Gary (2008). Kluge: The Haphazard Construction of the Human Mind. Houghton Mifflin Co. pp. 4–5. ISBN 0-618-87964-1.
  4. a b c Cancian, André (1 de janeiro de 2007). O Vazio da Máquina: Niilismo e outros abismos (em inglês). [S.l.]: André Cancian. ISBN 9788590555827 
  5. a b CHAPMAN, Jenny. Biodiversity: the Abundance of Life. Cambrige. Cambridge University Press 1997. ISBN: 0521577942. (1997).
  6. BARNES, Robert D. Zoologia de Invertebrados. Philadelphia, PA: Holt-Saunders International. pp. 348-364. ISBN 0-03-056747-5. (1982).
  7. DAWKINS, R. The greatest show on Earth: The evidence for Evolution. New York, NY: Free press, 2009.
  8. WILLIAMS, Robyn. Unintelligent design: why God isn’t as smart as she thinks she is. National Library of Australia. Ed. Allen & Unwin, ISBN 978 1 74114 923 4. (2006).
  9. a b DAWKINS, R. O gene egoista. São Paulo: EDUSP. (1979).
  10. WALKER, T. et al. Imaging diagnosis: acute lung injury following massive bee envenomation in a dog. Veterinary Radiology & Ultrasound, v.46, n.4, p.300-303, (2005).
  11. FIGHERA R. A.; SOUZA, T. M.; BARROS, C. S. L.; Acidente provocado por picada de abelhas como causa de morte de cães. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.2, p.590-593. ISSN 0103-8478 (2007).
  12. Hirst, Keith (1 de janeiro de 2002). Modular Science: Separate award. Year 10 (em inglês). [S.l.]: Heinemann. ISBN 9780435572044