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Gambiarra evolutiva: diferenças entre revisões

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Pênis farpado dos morcegos e Mariposas sem boca.
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==== Morcegos possuem espinhos no pênis ====
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Pelo menos 12 espécies de [[Morcego|morcegos]] têm genitais espinhosos. Esses "espinhos" variam em tamanho, podendo atingir até 1cm no pênis dos morcegos da espécie ''[[Lasiurus cinereus]]''<ref name=":12">{{Citar web|titulo=Why some male bats have spines on their penises|url=http://www.bbc.com/earth/story/20150912-why-some-male-bats-have-spines-on-their-penises|obra=www.bbc.com|acessodata=2019-03-07|lingua=en|primeiro=Lesley Evans|ultimo=Ogden}}</ref>. Com base no que se sabe sobre outras espécies com pênis farpado, é possível formular diversas explicações. Para esses morcegos, há a possibilidade de que eles tenham evoluído o pênis farpado para danificar os órgãos genitais da fêmea, impedindo que ela acasale com outros machos<ref name=":12" />. Outra hipótese sugere que tais espinhos sejam ferramentas para remoção de espermatozoides de outros machos, já que essas espécies podem armazenar os espermatozoides<ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2012|titulo=Evidence of Late-Summer Mating Readiness and Early Sexual Maturation in Migratory Tree-Roosting Bats Found Dead at Wind Turbines|url=https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0047586|jornal=PLOS ONE|lingua=en|volume=7|numero=10|paginas=e47586|doi=10.1371/journal.pone.0047586|issn=1932-6203|acessodata=}}</ref>. Outra explicação pouco aceita é a de que os espinhos penianos possibilitem morcegos machos e fêmeas permaneçam acoplados - semelhante ao velcro - para poderem se acasalar no ar<ref name=":12" />.
Pelo menos 12 espécies de [[Morcego|morcegos]] têm genitais espinhosos. Esses "espinhos" variam em tamanho, podendo atingir até 1cm no pênis dos morcegos da espécie ''[[Lasiurus cinereus]]''<ref name=":12">{{Citar web|titulo=Why some male bats have spines on their penises|url=http://www.bbc.com/earth/story/20150912-why-some-male-bats-have-spines-on-their-penises|obra=www.bbc.com|acessodata=2019-03-07|lingua=en|primeiro=Lesley Evans|ultimo=Ogden}}</ref>. Com base no que se sabe sobre outras espécies com pênis farpado, é possível formular diversas explicações. Para esses morcegos, há a possibilidade de que eles tenham evoluído o pênis farpado para danificar os órgãos genitais da fêmea, impedindo que ela acasale com outros machos<ref name=":12" />. Outra hipótese sugere que tais espinhos sejam ferramentas para remoção de espermatozoides de outros machos, já que essas espécies podem armazenar os espermatozoides<ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2012|titulo=Evidence of Late-Summer Mating Readiness and Early Sexual Maturation in Migratory Tree-Roosting Bats Found Dead at Wind Turbines|url=https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0047586|jornal=PLOS ONE|lingua=en|volume=7|numero=10|paginas=e47586|doi=10.1371/journal.pone.0047586|issn=1932-6203|acessodata=}}</ref>. Outra explicação pouco aceita é a de que os espinhos penianos possibilitem morcegos machos e fêmeas permaneçam acoplados - semelhante ao velcro - para poderem se acasalar no ar<ref name=":12" />.

==== Palmas ''Opuntia littoralis'' perfuram seus próprios cladódios ====
As palmas ''[[Opuntia littoralis]]'' geralmente crescem em aglomerados densos que se espalham por vários metros de largura e até um metro e meio de altura. Os galhos são constituídos por cladódios planos ovais com até 22 centímetros de comprimento<ref name=":14">DALE, Nancy. '''''Flowering Plants of the Santa Monica Mountains'''''. 2nd Ed. California Native Plant Society. California. 2000. p.88.</ref>. Cada cladódio está coberto de aglomerados de espinhos amarelados de 2 a 4 centímetros de comprimento<ref name=":14" />. Conforme a planta cresce, os galhos engrossam e os espinhos vão penetrando nos galhos vizinhos, perfurando a planta, o que enfraquece o tronco do cacto<ref>{{Citar periódico|ultimo=Wright|primeiro=Cynthia R.|ultimo2=Setzer|primeiro2=William N.|data=2014-02-01|titulo=Chemical composition of volatiles from Opuntia littoralisOpuntia ficus-indica, and Opuntia prolifera growing on Catalina Island, California|url=https://doi.org/10.1080/14786419.2013.867345|jornal=Natural Product Research|volume=28|numero=3|paginas=208–211|doi=10.1080/14786419.2013.867345|issn=1478-6419|pmid=24354326}}</ref>.


=== Causam a morte dos próprios indivíduos ===
=== Causam a morte dos próprios indivíduos ===

Revisão das 16h51min de 7 de março de 2019

Gambiarra evolutiva[1] (Evolutionary kluge[2] ou simplesmente Kluge[3]) tem sido um termo utilizado nos campos da ciência evolucionista para descrever estruturas, comportamentos e órgãos imperfeitos, desajeitados, inelegantes, ineficientes, difíceis de entender ou prejudiciais que são resultantes do processo evolutivo [4][5][3][1]. O termo  tem aparecido na literatura[4][2] e se tornado familiar entre muitos dos cientistas, aparecendo até como título no livro Kluge do psicólogo Gary Marcus, da Universidade de Nova York, que usa desta analogia para descrever a mente humana[3]. Richard Brodie define kluge em seu livro "Virus of the Mind: The New Science of the Meme" como um jargão para o uso de uma peça não particularmente adequada para seu propósito, ele aborda que a evolução favorece e até mesmo valoriza a formação de gambiarras ou kluges[2].

Aparições na literatura

O Vazio da Máquina: Niilismo e outros abismos (2007)

O termo Gambiarra evolutiva aparece na obra O vazio da Máquina, livro de André Cancian, que investiga alguns dos tópicos mais incômodos trazidos à luz pelo vazio da existência. O nada, o absurdo, a solidão, o sofrimento, o suicídio, a hipocrisia são alguns dos assuntos principais abordados ao longo da obra. Em um trecho de sua obra, ele usa o termo Gambiarra como analogia para poder retratar sobre a desajeitada formação da consciência humana[1]:

[...] Mas o fato é que somos uma gambiarra evolutiva, e mesmo que essa ideia seja incômoda, ela nos permite compreender em função de que está programada essa realidade virtual chamada consciência – e as emoções que a norteiam - , e assim finalmente entendamos um pouco melhor por que somos tão contraditórios e tão complicadamente incoerentes[1].

The Accidental Mind: How Brain Evolution Has Given Us Love, Memory, Dreams, and God (2007)

Gambiarra evolutiva aparece também no livro The Accidental Mind do neurocientista David Linden, onde o mesmo discute como os defensores do design inteligente interpretaram mal a anatomia do cérebro. Linden contesta a suposição generalizada de que o cérebro é um modelo de design - e em seu lugar nos dá uma explicação convincente de como a evolução acidental do cérebro resultou em nada menos do que a humanidade na espécie Homo sapiens. A obra mostra como o cérebro não é uma máquina de resolução de problemas otimizada e de propósito geral, mas sim uma aglomeração estranha de soluções ad hoc que foram empilhadas por milhões de anos de história evolutiva[5]. Em um trecho Linden aborda:

As coisas que possuímos mais alto em nossa experiência humana (amor, memória, sonhos e uma predisposição para o pensamento religioso) resultam de uma aglomeração particular de soluções ad hoc que foram acumuladas através de milhões de anos de história da evolução.  Não é que tenhamos pensamentos e sentimentos fundamentalmente humanos, apesar do design gambiarra do cérebro moldado pelas reviravoltas da história evolutiva. Pelo contrário, nós os temos precisamente por causa dessa história[5]

Kluge: The Haphazard Construction of the Human Mind (2008)

O livro do psicólogo de pesquisa Gary Marcus, Kluge [3], compara os kluges evolucionários com os de engenharia, como limpadores de para-brisas com vácuo - quando você acelerou ou dirigiu para cima, "seus limpadores abrandaram, completamente". O livro é dedicado a mostrar como as faculdades mentais humanas mais caras -consciência e raciocínio lógico- foram construídas pela evolução aproveitando estruturas cerebrais primitivas, e que na falta de algo melhor serve ao humano, mas o preço pago pela gambiarra cerebral é que ela frequentemente entra em "curto-circuito"[4]. Em um trecho da obra Marcus dá um outro exemplo de gambiarra evolutiva que também ocorre no humano:

Outro exemplo bem conhecido de uma gambiarra evolutiva vem a partir de um detalhe bastante íntimo da anatomia masculina. A tubulação que funciona desde o testículo até a uretra (o canal deferente) é muito mais necessário: ele corre de volta para a frente, dá voltas ao redor, e faz um grau de 180 graus olta para o pênis. Um designer parsimonioso interessado em conservar materiais (ou na eficiência de entrega) teria o testículo diretamente para o pênis com apenas um curto comprimento de tubulação; só porque a biologia baseia-se no que veio antes, é um sistema criado tão aleatoriamente[3].

Virus of the Mind: The New Science of the Meme (2009)

Richard Brodie levanta em seu livro Virus of the Mind, a definição de gambiarra evolutiva como um jargão para o uso de uma peça inadequada particularmente para seu propósito, ele aborda que a evolução favorece e valoriza a formação dos mesmos, e justifica o termo apresentando o olho humano como exemplo de uma gambiarra evolutiva formada por um conjunto de outras gambiarras:

Exemplo clássico de uma gambiarra evolutiva é o olho humano. Os nervos que conectam as células sensíveis à luz ao cérebro realmente saem pela frente da retina, em vez da parte de trás - a "fiação" se projeta no campo de visão do olho. É difícil imaginar um engenheiro, muito menos Deus, projetando algo dessa maneira. Mas a evolução tomou que teve que trabalhar e com gambiarra por gambiarra, construiu um olho[2].

Inside Jokes: Using Humor to Reverse-Engineer the Mind (2011)

Matthew Hurley, Daniel Dennett e Reginald Adams oferecem uma perspectiva evolutiva e cognitiva no livro. A obra propõe que o humor evoluiu a partir de um problema computacional que surgiu quando os antepassados humanos há muito tempo estavam decorados com pensamento aberto. Eles salientam que a seleção natural não pode simplesmente ordenar o cérebro a encontrar e corrigir todos os problemas e a inteligência rápida nos seres humanos é o resultado de uma série de gambiarras evolutivas empilhadas uma sobre a outra - onde um dos quais é o traço de humor[6].

Exemplos de Gambiarras evolutivas

Órgãos situados no lugar errado

Caracóis defecam sobre a própria cabeça

Uma característica particular dos caracóis é que durante sua formação, a concha calcária sofre uma distorção helicoidal, girando para abrigar seu corpo e permitir que a cabeça possa ser puxada para dentro do manto de proteção[7], evidentemente para se proteger de predadores. Acontece que, conforme gira durante sua fase larval, seu trato digestivo juntamente com o resto do visceral também são submetidos a torção, torção em torno de 180 graus, de modo que o ânus do animal finda localizado acima da própria cabeça[8][7].

A bolsa do coala abre-se para baixo

A coala é marsupial arborícola noturno, com até 85 cm de comprimento, que passa seus dias agarrado a troncos de árvores e que possui o marsúpio que se abre para baixo, em vez de para cima, como a dos cangurus. A razão isso é um legado da história. Os coalas descendem de um ancestral parecido com o vombate[9]. Segundo Williams (2006), os coalas evoluíram de marsupiais escavadores como o vombate, que escavavam ninhos subterrâneos, a bolsa de seus ancestrais abrem-se para trás como resultado de proteção dos filhotes durante a escavação[10]. A medida que os atuais coalas evoluíram, essa característica manteve-se como estrutura vestigial.

Nervo laríngeo da girafa gasta 4,5 metros

O nervo laríngeo da girafa é um nervo craniano que parte diretamente do seu cérebro, onde um de seus ramos parte de cada lado do pescoço e se dirige à laringe. Uma parte chega à laringe diretamente, mas outra parte chega a ela por um caminho bem longo, ele se dirige para “baixo”, para dentro do tórax, caminha até o coração, dá a volta em uma de suas artérias e volta para cima, até atingir a laringe. O nervo laríngeo é um exemplo bizarro, pois como a aorta da girafa se encontra no tórax, e o tórax encontra-se muito distante do crânio, o nervo laríngeo “caminha” 4,5 metros em uma girafa adulta, quatro metros e meio, para chegar a uma posição a centímetros da origem do nervo[9].

Causam prejuízos aos próprios indivíduos

Gatos possuem espinhos no pênis

Gatos têm um pênis cercado de dezenas de espinhos rígidos (as espículas) que de acordo com um estudo publicado na revista The Anatomical Record, estão associados com o estímulo da ovulação: Provocam sangramento por ocasião do coito, isto estimula o aumento da secreção do hormônio LH que leva a ovulação na gata. Essas espículas além provocarem esse sangramento, provocam dor por machucarem intensamente as paredes da vagina da fêmea que necessita desse estímulo dessa para poder ovular. A perda de espinhos também leva à estimulação reduzida do pênis do gato durante a intromissão promovendo a diminuição da excitação sexual. Assim, para que haja sucesso na reprodução, são necessários os espinhos tanto para o macho quanto para a fêmea[11].

Morcegos possuem espinhos no pênis

Pelo menos 12 espécies de morcegos têm genitais espinhosos. Esses "espinhos" variam em tamanho, podendo atingir até 1cm no pênis dos morcegos da espécie Lasiurus cinereus[12]. Com base no que se sabe sobre outras espécies com pênis farpado, é possível formular diversas explicações. Para esses morcegos, há a possibilidade de que eles tenham evoluído o pênis farpado para danificar os órgãos genitais da fêmea, impedindo que ela acasale com outros machos[12]. Outra hipótese sugere que tais espinhos sejam ferramentas para remoção de espermatozoides de outros machos, já que essas espécies podem armazenar os espermatozoides[13]. Outra explicação pouco aceita é a de que os espinhos penianos possibilitem morcegos machos e fêmeas permaneçam acoplados - semelhante ao velcro - para poderem se acasalar no ar[12].

Palmas Opuntia littoralis perfuram seus próprios cladódios

As palmas Opuntia littoralis geralmente crescem em aglomerados densos que se espalham por vários metros de largura e até um metro e meio de altura. Os galhos são constituídos por cladódios planos ovais com até 22 centímetros de comprimento[14]. Cada cladódio está coberto de aglomerados de espinhos amarelados de 2 a 4 centímetros de comprimento[14]. Conforme a planta cresce, os galhos engrossam e os espinhos vão penetrando nos galhos vizinhos, perfurando a planta, o que enfraquece o tronco do cacto[15].

Causam a morte dos próprios indivíduos

O ferrão das abelhas fica preso à vítima

O sistema de defesa das abelhas com ferrão ativo, torna sua defesa um ato suicida[16]. Quando a abelha ferroa, o ferrão se desloca do abdômen, e, na maioria das vezes parte dos órgãos internos da abelha ficam na vítima e a abelha morre em seguida[16]. Isto acontece devido as estriações do ferrão que acabam fixando o ferrão no tecido picado[17]. A resposta evolutiva é que aparelho inoculador de veneno (ferrão) das abelhas e de outros indivíduos dessa ordem zoológica, foi derivado de um ovopositor modificado, o qual possui glândulas veneníferas anexas[18].

Tartarugas não conseguem se desvirar

O casco dos testudines (tartaruga, cágado e jabuti) possui um formato geométrico que complica a vida destes animais, muita das vezes, se virados de costas para baixo, não conseguem se desvirar sozinhos[19] e que acarreta sofrimento, pois devido ao seu grande peso corporal e ausência de esqueleto interno, as vísceras, órgãos e músculos se descolam para baixo comprimindo o pulmão do animal causando asfixia, que muitas vezes leva esses indivíduos à óbito[19], chegando a esse resultado lamentável lentamente, depois de cerca de 20 dias virado.

Dentes do Babirusa perfuram próprio crânio

Os dentes caninos da mandíbula do babirusa macho crescem por sobre a face, e os caninos superiores emergem na vertical dos alvéolos do maxilar e penetram pela pele do nariz, então saem em curva para cima e na frente da face[20] [21]. Os dentes caninos crescem curvados e em direção à cabeça, onde acabam, muitas vezes, perfurando o crânio do animal e atingindo o cérebro[22][23]. A função atual destes dentes é desconhecida. Eles são bastante frágeis, facilmente se quebram e são raramente usados em combate[24]. Estudos subsequentes do comportamento, da fragilidade estrutural do dente canino superior e a relativa superficialidade destes, mostraram que os dentes caninos do macho adulto nunca foram usados diretamente em lutas[21].

Galhada do alce irlandês acarretou sua extinção

A galhada de muitos animais possui entre uma de suas funções fundamentais, um "símbolo visual de posição de domínio". Com 41 kg de chifre que possuía 3,65 metros de ponta a ponta, o Megaloceros (Alce irlandês) rearranjou seus chifres de forma que pudessem ser exibidas por completo quando o animal olhasse pra frente, pois manobrar os chifres como os animais modernos fazem não seria viável. Contudo, embora estivesse bem adaptado às campinas abertas e relvadas, com poucos bosques da época, aparentemente o Megaloceros não se adaptou de forma suficientemente rápida à tundra subártica ou ao denso florestamento ocorrido depois do último recuo da camada de gelo, sendo incapaz de fugir dos predadores pela densa floresta, provavelmente o animal foi vítima do seu sucesso evolutivo anterior[25].

Seres vivos sem partes ou órgãos

Mariposas A. luna não possuem boca para se alimentar

As mariposas-da-lua adultas (Actias luna) não possuem boca e vivem apenas cerca de sete dias[26]. Essas mariposas não se alimentam em sua fase adulta, porém, uma única fêmea pode produzir várias centenas de ovos durante os sete dias antes de morrer de fome[27][28]. Para resistir tal tempo se alimentação, as mariposas usam das reservas que acumularam enquanto eram lagartas[26]. Muitas não conseguem se reproduzir antes de morrerem de fome.

Relações familiares macabras

Ovelhas e cabras rejeitam seus filhotes

O parto prolongado pode levar o animal à exaustão e ter efeitos adversos sobre, raramente a mãe bandona a sua cria, porém em casos de parto múltiplo ou primíparas a atenção é dispensada em uma única cria e, passado o período crítico de reconhecimento, a cabra rejeita os outros filhotes[29]. No caso da ovelha, se ela permitir que o cordeiro consuma o colostro revela que ela o reconheceu e o aceitou como seu, rejeitando qualquer outro filhote que tente mamar[30]. Dados de mamíferos sugerem que, quando o recurso alimentar é severamente restrito, tornando fêmeas lactantes incapazes de manter seu peso vivo, as mães são mais propensas a rejeitar e abandonar seus filhotes[31].

Micromalthus debilis: o besouro que devora a mãe viva

Alguns insetos desenvolveram métodos macabros de propagar a espécie, assim como o que acontece em besouros Micromalthus debilis. As fêmeas desta espécie, que são parternogênicas, geram suas larvas fêmeas descendentes de forma normal. Porém, o Micromalthus debilis o desenvolveu um sistema praticamente idêntico aos cecidomiídeos, com uma variação macabra. As fêmeas paternogênicas produzem um único descendente macho, e essa larva se prende à cutícula da mãe durante cerca de quatro ou cinco dias, em seguida insere a cabeça pela abertura genital dela e a devora[25].

O percevejo de instinto estuprador e homossexual

O Xylocaris maculipennis ou Cimex lectularius, desenvolveu um hábito reprodutivo curioso conhecido como “estupro perfurante homossexual”. Aparentemente, em algumas variedades deste inseto o macho fecha a fêmea com um tipo de "rolha" após fertilizá-la para evitar que os outros machos a fertilizem também. Então, certos percevejos adaptaram-se a esse problema perfurando a fêmea durante a relação de modo a evitar o caminho normal e contornar a rolha. Outros, desenvolveram algo ainda mais drástico: O macho perfura e insemina os outros machos à força de modo que, os seus genes sejam "carregados" para as fêmeas quando o macho estuprado acasalar com elas[32].

Cuco: o pássaro que mata os irmãos adotivos

O cuco é capaz de parasitismo social. Isso quer dizer que as fêmeas depositam seus ovos nos ninhos de outras aves, onde serão criados por pais de outras espécies. Criar um filhote de cuco no seu próprio ninho representa um grande prejuízo aos cucos pais, uma vez que o filhote de cuco ao nascer, ele instintivamente mata seus irmãos de criação lançando todos os ovos antes que eles possam eclodir o ovo (ovos do pássaro hospedeiro requerem 15 dias de incubação e o do cuco apenas 12 dias) e competir por alimento[9][33][34].

Problemas com a alimentação

Coelhos necessitam comer suas fezes

Os coelhos têm de comer algumas das suas próprias fezes, a fim de digerir completamente as suas refeições[35]. Acontece que os coelhos tiveram que se adaptar para digerir a celulose. Eles têm um apêndice alargado e ceco que contêm bactérias de digestão de celulose. Contudo, açúcares e outros nutrientes não são absorvidos completamente no intestino e vão para as fezes produzidas. Parte das fezes que os coelhos produzem são ingeridas para passar através de seu sistema digestivo duas vezes e com isso absorver todo o nutriente necessário[35]. As fezes que os coelhos produzem durante o dia são secas, duras e não são consumidas.

Sistema de defesa da cigarra é saciar o predador

Para propagar a espécie, os seres vivos desenvolvem diferentes estratégias de defesa como espinhos, cascas, ferrões e etc. Porém, alguns seres vivos desenvolveram um sistema de defesa que consiste em "saciar o predador". Nesse sistema, os seres ficam inteiramente visíveis para o predador, e, em tão grande número de indivíduos que os predadores não conseguem consumir a todos. Por fim, os poucos que sobrevivem se reproduzem propagando a espécie[25]. A hipótese da saciedade do predador tem sido aplicada às diferentes espécies (SHIBATA et al., 2002)[36]. Esses padrões de defesa têm sido observados em plantas como algumas espécies bambu e em animais como as cigarras[25].

Ver também

Referências

  1. a b c d Cancian, André (1 de janeiro de 2007). O Vazio da Máquina: Niilismo e outros abismos (em inglês). [S.l.]: André Cancian. ISBN 9788590555827 
  2. a b c d Brodie, Richard (15 de maio de 2009). Virus of the Mind: The New Science of the Meme (em inglês). [S.l.]: Hay House, Inc. ISBN 9781401926007 
  3. a b c d e Marcus, Gary (2008). Kluge: The Haphazard Construction of the Human Mind. Houghton Mifflin Co. pp. 4–5. ISBN 0-618-87964-1.
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  5. a b c Linden, David J. (2007). The Accidental Mind: How Brain Evolution Has Given Us Love, Memory, Dreams, and God. Belknap Press. pp. 245–246. ISBN 0-674-02478-8.
  6. Hurley, Matthew M.; Dennett, Daniel C.; Adams, Reginald B. (4 de março de 2011). Inside Jokes: Using Humor to Reverse-Engineer the Mind (em inglês). [S.l.]: MIT Press. ISBN 9780262294812 
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  10. WILLIAMS, Robyn. Unintelligent design: why God isn’t as smart as she thinks she is. National Library of Australia. Ed. Allen & Unwin, ISBN 978 1 74114 923 4. (2006).
  11. ARONSON, L. R. and COOPER, M. L. Penile spines of the domestic cat: Their endocrine-behavior relations. The Anatomical Record, 1967.
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  29. Ribeiro, Silvio Doria de Almeida (1 de janeiro de 1997). Caprinocultura. [S.l.]: NBL Editora. ISBN 9788521309727 
  30. Rech et al. Temperamento e comportamento materno ovino. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.35, n.3, p.327-340, jul./set. 2011.
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