Cansanção de leite: diferenças entre revisões

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''Jatropha urens'' ou '''cansanção de leite''' ou cansanção é uma planta da família [[Euphorbiaceae]] conhecida por suas propriedades urticantes e medicinais.
'''Cansanção de leite''' (''Jatropha urens'') ou simplesmente '''cansanção''', é uma planta americana [[Pelo urticante|urticante]], perene e tropical da família [[Euphorbiaceae]], sendo uma das 4 espécies urticantes encontradas na [[Caatinga]], no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste brasileiro]].


== Descrição ==
Segundo Miller e Grady<ref>MILLER, KIM I.; WEBSTER,GRADY L. Systematic position of Cnidoscolus and Jatropha. Brittonia, Volume 14, Number 2, 174-180, Spring, 2008 [http://www.springerlink.com/content/h69886t3h74n6404/ Abstract on-line] Fev. 2011</ref> as espécies Cnidoscolus e Jatropha (Euphorbiaceae) geralmente têm sido estreitamente associado da literatura da sistemática desde Linnaeus (1753) que incluíu representantes de ambos no seu abrangente gênero Jatropha. Adanson (1763) e Mueller (1866), seguiram a concepção Lineana, enquanto Grisebach (1864) Pax e Hoffmann (1831) e McVaugh (1944, 1945) têm defendido o Cnidoscolus como um gênero distinto.
Esta espécie tem um caule ereto e é [[herbácea]] quando jovem, ficando amadeirada ao longo dos anos e de 50 a 150 centímetros de altura. As folhas são lobadas e grandes, enquanto as flores brancas ocorrem em [[cymes]], produzindo uma cápsula espinhosa de 3 sementes com sementes ricas em gorduras e [[Proteína|proteínas]], semelhantes às de ''[[Mamona|Ricinus communis]]''. Suas sementes carunculadas são geralmente dispersas por formigas. Toda a planta é coberta de [[Pelo urticante|pelos pungentes]].


As flores masculinas e femininas parecem superficialmente semelhantes, mas diferem estruturalmente. O principal polinizador durante a estação seca é a borboleta ''[[Eurema daira]]'' (que não discrimina as flores masculinas das femininas). As flores femininas, que representam apenas cerca de 6% do total, quase não produzem [[néctar]] e parecem imitar os machos, a fim de receber atenção do inseto coletor de pólen e néctar. As flores masculinas geralmente funcionam por apenas 1 dia, enquanto as flores femininas podem permanecer funcionais por até 7 dias, se não polinizadas. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Bawa|primeiro=K. S.|ultimo2=Webb|primeiro2=C. J.|ultimo3=Tuttle|primeiro3=A. F.|data=1982-12-01|titulo=The adaptive significance of monoecism in Cnidoscolus urens (L.) Arthur (Euphorbiaceae)|url=https://academic.oup.com/botlinnean/article/85/4/213/2665945|jornal=Botanical Journal of the Linnean Society|lingua=en|volume=85|numero=4|paginas=213–223|doi=10.1111/j.1095-8339.1982.tb00371.x|issn=0024-4074}}</ref>
Joly,<ref>JOLY, AYLTHON B. Botânica, introdução à taxonomia vegetal. SP, Cia Editora Nacional, 1977</ref> descrevendo as Euphorbiaceaes destaca a presença do látex que nessa família pode ser incolor ou leitoso, com inclusões características de grãos de amido em forma de fêmur em seus tubos lactífeos e descreve o cansanção das catingas do nordeste como do gênero Cnidosculus.


Os pelos pungentes (ou [[Tricoma|tricomas]] picantes) consistem em um pedestal multicelular e uma única célula alongada e oca com uma ponta levemente inchada. Ao ser tocada, a ponta inchada e quebradiça se rompe em um ângulo oblíquo (lembrando uma [[Agulha hipodérmica|agulha de injeção]]), a extremidade afiada penetra prontamente na pele e o conteúdo da célula é injetado como se fosse uma seringa hipodérmica. Este veneno leva a uma grande irritação da pele, uma condição que pode durar vários dias. Se parte da planta é ingerida, causa inchaço dos lábios, rubor facial, vômitos e até inconsciência. Seu látex é altamente corrosivo e pode produzir feridas graves. <ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Toxic_Plants_of_North_America.html?id=4Uh1FW6c6n0C&redir_esc=y|título=Toxic Plants of North America|ultimo=Burrows|primeiro=George E.|ultimo2=Tyrl|primeiro2=Ronald J.|data=2012-10-15|editora=John Wiley & Sons|lingua=en}}</ref>
Sátiro e Roque<ref>SÁTIRO, LARISSA NASCIMENTO; ROQUE, NÁDIA. A família Euphorbiaceae nas caatingas arenosas do médio rio São Francisco, BA, Acta bot. bras. 22(1): 99-118. 2008

Brasil.[http:// www.scielo.br/pdf/abb/v22n1/a13v22n1.pdf PDF] Fev. 2011</ref> descrevem a ''Cnidoscolus urens'' (L.) Arthur, Torreya 21: 11. 1921. a descreve como um subarbustos 0,5 chegando 2,5 m alt. (arbusto); Folhas membranáceas; lâmina foliar 3-5-lobada, ovada, ápice agudo, margem serreada, sem apículos glandulares nas terminações das nervuras, base cordada, pubescentes; Flores estaminadas sésseis, cálice tubular-hipocrateriforme, lobos elíptcos a oblongos, glabros, não urticantes.
Um estudo revelou que as larvas de ''[[Erinnyis ello]]'', uma mariposa da família [[Sphingidae]] , cortam esses pelos urticantes do pecíolo da folha e depois contraem os vasos que fornecem [[látex]] à folha, para poder comer com segurança a folha. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Dillon|primeiro=Patricia M.|ultimo2=Lowrie|primeiro2=Stuart|ultimo3=McKey|primeiro3=Doyle|data=1983|titulo=Disarming the "Evil Woman": Petiole Constriction by a Sphingid Larva Circumvents Mechanical Defenses of Its Host Plant, Cnidoscolus urens (Euphorbiaceae)|url=http://www.jstor.org/stable/2387953|jornal=Biotropica|volume=15|numero=2|paginas=112–116|doi=10.2307/2387953|issn=0006-3606}}</ref>

== Taxonomia ==
Segundo Miller e Grady<ref>MILLER, KIM I.; WEBSTER,GRADY L. Systematic position of Cnidoscolus and Jatropha. Brittonia, Volume 14, Number 2, 174-180, Spring, 2008 [http://www.springerlink.com/content/h69886t3h74n6404/ Abstract on-line] Fev. 2011</ref> as espécies ''[[Cnidoscolus]]'' e ''[[Jatropha]]'' geralmente têm sido estreitamente associado da literatura da sistemática desde [[Lineu|Linnaeus]] (1753) que incluiu representantes de ambos no seu abrangente gênero ''Jatropha''. Adanson (1763) e Mueller (1866), seguiram essa concepção Lineana, enquanto Grisebach (1864) Pax e Hoffmann (1831) e McVaugh (1944, 1945) têm defendido o ''Cnidoscolus'' como um gênero distinto.

Joly,<ref>JOLY, AYLTHON B. Botânica, introdução à taxonomia vegetal. SP, Cia Editora Nacional, 1977</ref> destaca que a presença do látex na família [[Euphorbiaceae|Euphorbiaceaes]] pode ser de aspecto incolor ou leitoso, com inclusões características de grãos de amido em forma de fêmur em seus tubos lactífeos e descreve o cansanção das catingas do nordeste como do gênero ''[[Cnidoscolus|Cnidosculus]]''.


==Uso medicinal==
==Uso medicinal==
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O conhecimento do valor medicinal vem da [[Medicina indígena|medicina tradicional]] dos índios do nordeste do Brasil.
O conhecimento do valor medicinal vem da [[Medicina indígena|medicina tradicional]] dos índios do nordeste do Brasil.


Entre os [[Pancararus]] ela é utilizada para retirar ou afastar o mau. Sua raiz é utilizada em beberagens para gripe e suas folha como anti-toxicante.<ref>ÍNDIOS ON LINE. Sementes Pankararu [http://www.indiosonline.org.br/novo/sementes_pankararu/ Indios-online, 2007] Fev. 2011</ref> Entre os [[Quiriris]] o leite de cansanção é também aplicado sobre a cárie (com algodão na cavidade do dente) <ref>BANDEIRA, MARIA DE LOURDES. Os Kariris de Mirandela: Um Grupo Indígena Integrado. Estudos Baianos 6. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1972</ref>
Entre os [[Pancararus]] ela é utilizada para retirar ou afastar o mau. Sua raiz é utilizada em beberagens para gripe e suas folha como anti-toxicante.<ref>ÍNDIOS ON LINE. Sementes Pankararu [http://www.indiosonline.org.br/novo/sementes_pankararu/ Indios-online, 2007] Fev. 2011</ref> Entre os [[Quiriris]] o leite de cansanção é também aplicado sobre a cárie (com algodão na cavidade do dente).<ref>BANDEIRA, MARIA DE LOURDES. Os Kariris de Mirandela: Um Grupo Indígena Integrado. Estudos Baianos 6. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1972</ref> O conhecido pesquisador das plantas nacionais Alfons Balbach<ref>BALBACH, ALFONS. A flora nacional da medicina doméstica. SP. 1983</ref> refere-se à sua utilização na cura da [[catarata]] e considera sua raiz como tônica e diurética.

O conhecido pesquisador das plantas nacionais Alfons Balbach<ref>BALBACH, ALFONS. A flora nacional da medicina doméstica. SP. 1983</ref> refere-se à sua utilização na cura da catarata e considera sua raiz como tônica e diurética


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[[Categoria:Euphorbiaceae]]

Edição atual tal como às 23h11min de 27 de abril de 2020

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCansanção de leite

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malpighiales
Família: Euphorbiaceae
Género: Jatropha
Espécie: J. urens
Nome binomial
Jatropha urens

Cansanção de leite (Jatropha urens) ou simplesmente cansanção, é uma planta americana urticante, perene e tropical da família Euphorbiaceae, sendo uma das 4 espécies urticantes encontradas na Caatinga, no Nordeste brasileiro.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Esta espécie tem um caule ereto e é herbácea quando jovem, ficando amadeirada ao longo dos anos e de 50 a 150 centímetros de altura. As folhas são lobadas e grandes, enquanto as flores brancas ocorrem em cymes, produzindo uma cápsula espinhosa de 3 sementes com sementes ricas em gorduras e proteínas, semelhantes às de Ricinus communis. Suas sementes carunculadas são geralmente dispersas por formigas. Toda a planta é coberta de pelos pungentes.

As flores masculinas e femininas parecem superficialmente semelhantes, mas diferem estruturalmente. O principal polinizador durante a estação seca é a borboleta Eurema daira (que não discrimina as flores masculinas das femininas). As flores femininas, que representam apenas cerca de 6% do total, quase não produzem néctar e parecem imitar os machos, a fim de receber atenção do inseto coletor de pólen e néctar. As flores masculinas geralmente funcionam por apenas 1 dia, enquanto as flores femininas podem permanecer funcionais por até 7 dias, se não polinizadas. [1]

Os pelos pungentes (ou tricomas picantes) consistem em um pedestal multicelular e uma única célula alongada e oca com uma ponta levemente inchada. Ao ser tocada, a ponta inchada e quebradiça se rompe em um ângulo oblíquo (lembrando uma agulha de injeção), a extremidade afiada penetra prontamente na pele e o conteúdo da célula é injetado como se fosse uma seringa hipodérmica. Este veneno leva a uma grande irritação da pele, uma condição que pode durar vários dias. Se parte da planta é ingerida, causa inchaço dos lábios, rubor facial, vômitos e até inconsciência. Seu látex é altamente corrosivo e pode produzir feridas graves. [2]

Um estudo revelou que as larvas de Erinnyis ello, uma mariposa da família Sphingidae , cortam esses pelos urticantes do pecíolo da folha e depois contraem os vasos que fornecem látex à folha, para poder comer com segurança a folha. [3]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Segundo Miller e Grady[4] as espécies Cnidoscolus e Jatropha geralmente têm sido estreitamente associado da literatura da sistemática desde Linnaeus (1753) que incluiu representantes de ambos no seu abrangente gênero Jatropha. Adanson (1763) e Mueller (1866), seguiram essa concepção Lineana, enquanto Grisebach (1864) Pax e Hoffmann (1831) e McVaugh (1944, 1945) têm defendido o Cnidoscolus como um gênero distinto.

Joly,[5] destaca que a presença do látex na família Euphorbiaceaes pode ser de aspecto incolor ou leitoso, com inclusões características de grãos de amido em forma de fêmur em seus tubos lactífeos e descreve o cansanção das catingas do nordeste como do gênero Cnidosculus.

Uso medicinal[editar | editar código-fonte]

O conhecimento do valor medicinal vem da medicina tradicional dos índios do nordeste do Brasil.

Entre os Pancararus ela é utilizada para retirar ou afastar o mau. Sua raiz é utilizada em beberagens para gripe e suas folha como anti-toxicante.[6] Entre os Quiriris o leite de cansanção é também aplicado sobre a cárie (com algodão na cavidade do dente).[7] O conhecido pesquisador das plantas nacionais Alfons Balbach[8] refere-se à sua utilização na cura da catarata e considera sua raiz como tônica e diurética.

Referências

  1. Bawa, K. S.; Webb, C. J.; Tuttle, A. F. (1 de dezembro de 1982). «The adaptive significance of monoecism in Cnidoscolus urens (L.) Arthur (Euphorbiaceae)». Botanical Journal of the Linnean Society (em inglês). 85 (4): 213–223. ISSN 0024-4074. doi:10.1111/j.1095-8339.1982.tb00371.x 
  2. Burrows, George E.; Tyrl, Ronald J. (15 de outubro de 2012). Toxic Plants of North America (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons 
  3. Dillon, Patricia M.; Lowrie, Stuart; McKey, Doyle (1983). «Disarming the "Evil Woman": Petiole Constriction by a Sphingid Larva Circumvents Mechanical Defenses of Its Host Plant, Cnidoscolus urens (Euphorbiaceae)». Biotropica. 15 (2): 112–116. ISSN 0006-3606. doi:10.2307/2387953 
  4. MILLER, KIM I.; WEBSTER,GRADY L. Systematic position of Cnidoscolus and Jatropha. Brittonia, Volume 14, Number 2, 174-180, Spring, 2008 Abstract on-line Fev. 2011
  5. JOLY, AYLTHON B. Botânica, introdução à taxonomia vegetal. SP, Cia Editora Nacional, 1977
  6. ÍNDIOS ON LINE. Sementes Pankararu Indios-online, 2007 Fev. 2011
  7. BANDEIRA, MARIA DE LOURDES. Os Kariris de Mirandela: Um Grupo Indígena Integrado. Estudos Baianos 6. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1972
  8. BALBACH, ALFONS. A flora nacional da medicina doméstica. SP. 1983

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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