Língua panará: diferenças entre revisões
m A página que tento criar é constantemente bloqueada! Etiquetas: Substituição Reversão manual |
Etiqueta: Inserção do elemento "nowiki", possivelmente errônea |
||
Linha 1: | Linha 1: | ||
{{Reciclagem|data=abril de 2021}} |
|||
{{ER|G2|2=[[Usuário(a):Otávio Astor Vaz Costa|Otávio Astor Vaz Costa]] ([[Usuário(a) Discussão:Otávio Astor Vaz Costa|discussão]]) 05h32min de 26 de abril de 2021 (UTC)}} |
|||
{{Info/Língua|nome=Panará|oficial=|sil=<!-- Mapa -->!-- Códigos de línguas -->|escrita=<!-- Estatuto oficial -->|nomenativo=|fam3=[[Subfamília Jê Setentrional]]|fam2=[[Família Jê]]|fam1=[[Tronco Macro-Jê]]|posição=|falantes=380|região=|estados=[[Mato Grosso e sul do Pará]]|corfamília=Panará|outrosnomes=|pronúncia=|iso1=--|iso2=--|iso3=kre|mapa=[[File:Mapa terra indígena panará.png|thumb|Mapa Terra Indígena Panará, ISA|250px]]}} |
|||
O '''Panará''' (kre = código [[ISO 639|ISO 639-3]] correspondente)<ref name=":0">{{Citar web |url=https://www.ethnologue.com/language/kre |titulo=Panará |acessodata=2021-04-25 |website=Ethnologue |lingua=en}}</ref>, também denominado '''Krenhakarore''', '''Krenakore''', '''Krenakarore''' e '''Kreen-akarore'''<ref name=":2">{{Citar web |url=https://glottolog.org/resource/languoid/id/pana1307 |titulo=Glottolog 4.3 - Panará |acessodata=2021-04-25 |website=glottolog.org}}</ref><ref name=":1">Moseley, Christopher (ed.). 2010. Atlas of the World’s Languages in Danger, 3rd edn. Paris, UNESCO Publishing. Online version: '''http://www.unesco.org/culture/en/endangeredlanguages/atlas'''</ref>, é uma [[Línguas indígenas do Brasil|língua indígena do Brasil]] atualmente falada nos estados do [[Mato Grosso]] e sul do [[Pará]], mais precisamente na [[Terra Indígena Panará]] (Guarantã do Norte em MT e Altamira PA), que se encontra nos entornos do Rio Peixoto de Azevedo e nascente do Rio Iriri<ref name=":4">{{citar web |ultimo=Rocha |primeiro=Ana Flávia |url=https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/publications/T3L00016.pdf |titulo=A defesa dos direitos socioambientais no Judicário |data=março de 2003 |acessodata=25 de abril de 2021 |publicado=Instituto Socioambiental}}</ref><ref name=":5">{{Citar web |url=https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Panar%C3%A1#Cultura_material |titulo=Panará - Povos Indígenas no Brasil |acessodata=2021-04-26 |website=pib.socioambiental.org}}</ref>. |
|||
Atualmente, a língua possui 380 falantes de uma população étnica de 540<ref name=":0" />. Segundo esses números, o Panará se encontra em situação vulnerável, ou seja, a maioria das crianças fala a língua, porém isso pode estar restrito a determinados ambientes<ref name=":1" />. De acordo com outra escala, a Escala de Ameaça Aglomerada (Agglomerated Endangerment Scale - AES), ela está na categoria de mutação (shifting), que é quando a geração em [[Fertilidade|idade fértil]] possui conhecimento suficiente na língua para usar entre si, mas não transmite às suas crianças<ref name=":5" /><ref>{{citar periódico |titulo=Simultaneous Visualization of Language Endangerment and Language Description |acessodata=20 de abril de 2020 |jornal=Language Documentation & Conservation |publicado=University of Hawaii's Press |ultimo=Hammarström et al |primeiro=Harald |pagina=https://scholarspace.manoa.hawaii.edu/bitstream/10125/24792/1/hammarstrom_et_al.pdf}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://glottolog.org/langdoc/status |titulo=Glottolog 4.3 - GlottoScope |acessodata=2021-04-25 |website=glottolog.org}}</ref>. É devido a isso que oficinas e estudos vêm sendo feitos com professores locais para padronizar a gramática da língua e impedi-la de cair em desuso. |
|||
[[Ficheiro:Criança_e_Homem_Panará.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Criança e homem Panará]] |
|||
O nome ‘Panará’, auto-denominação da própria comunidade, significa ‘gente’ nessa língua - algo provavelmente derivado das palavras 'panariá' (indígena) e 'puará' (homem)<ref name=":4" /><ref name=":6">{{citar livro|título=Cayapó e Panará : Luta e sobrevivência de um povo jê no Brasil central|ultimo=GIRALDIN|primeiro=Odair|editora=Editora da Unicamp|ano=1997|local=Campinas|páginas=184}}</ref>. Suas outras nomenclaturas comuns derivam de atribuições dos [[Kayapó]] ao povo [[Panarás|Panará]], que significam “cabeça cortada redonda”<ref name=":6" />. Isso se relaciona ao modelo tradicional de corte de cabelo deles, o qual é um elemento fenotípico de extremo valor na cultura dos Panará. Seu corte se associa a um determinado status social. |
|||
== Classificação == |
|||
A língua pertence ao tronco linguístico [[Macro-jê|Macro-Jê]], um dos principais troncos das línguas indígenas brasileiras. Pertence ainda à família Jê e subfamília Jê Setentrional<ref name=":2" /> junto com línguas como [[Apinajés|Apinayé]], [[Kayapó]], [[Suyá]] e as línguas [[Timbiras|Timbira]]<ref name=":5" /><ref>{{citar periódico |titulo=Proto-Macro-Jê: um estudo reconstrutivo |data=2020 |acessodata=22 de abril de 2021 |jornal=Biblioteca Digital Curt Nimuendajú |publicado=UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA |
|||
INSTITUTO DE LETRAS |
|||
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS |
|||
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA |ultimo=Nikulin |primeiro=Andrey |pagina=http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/tese%3Anikulin-2020/Nikulin_2020_Proto-Macro-Je.pdf}}</ref><ref name=":7">DOURADO, Luciana Gonçalves. Aspectos morfossintaticos da Lingua Panara (Je). 2001. 240p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em: <<>http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269111</>>. Acesso em: 25 de abril de 2021.</ref>. |
|||
[[File:Árvore linguística do Panará.png|thumb|Diagrama representativo da classificação da língua Panará|300x300px]] |
|||
Há muitos indícios de que a língua surgiu como uma variante do Kayapó do Sul, observados majoritariamente na [[ortografia]] e [[Fonética, Fonologia e Ortografia|fonética]] semelhantes<ref name=":6" />. |
|||
{| class="wikitable" |
|||
|+Vocabulário Kayapó em contraste com Panará, utilizando, respectivamente, vocabulário sobre partes do corpo coletado por Alexandre Sousa Barbosa (1911) e Rodrigues e Dourado (1993)<ref name=":6" /> |
|||
!Português |
|||
!Kayapó |
|||
!Panará |
|||
|- |
|||
|boca |
|||
|çakuá |
|||
|sakwa |
|||
|- |
|||
|braço |
|||
|ipá |
|||
|hì’pá |
|||
|- |
|||
|cabelo |
|||
|kin |
|||
|hì’kì |
|||
|- |
|||
|canela |
|||
|ité |
|||
|itá |
|||
|- |
|||
|caolho |
|||
|intónó |
|||
|intono |
|||
|- |
|||
|cotovelo |
|||
|pakuçú |
|||
|pakusú |
|||
|- |
|||
|dente |
|||
|suá |
|||
|sua |
|||
|- |
|||
|língua |
|||
|çuntót |
|||
|sutóti |
|||
|- |
|||
|mão |
|||
|cykiá |
|||
|sikya |
|||
|- |
|||
|nariz |
|||
|çâkré |
|||
|sakre |
|||
|- |
|||
|nuca |
|||
|impút |
|||
|imputi |
|||
|- |
|||
|olhos |
|||
|intó |
|||
|into |
|||
|} |
|||
== Fonética, Fonologia e Tranformações Fonéticas == |
|||
=== Inventário fonético === |
|||
O Panará possui um extenso inventário fonético no qual predominam [[Vogal|vogais]] em relação às [[Consoante|consoantes]]<ref name=":7" /><ref name=":3">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/37928882/Word_initial_i_epenthesis_in_Pan%C3%A3ra |titulo=Word-initial [i] epenthesis in Panãra |acessodata=2021-04-25 |ultimo=Lapierre |primeiro=Myriam |lingua=en}}</ref><ref name=":8">{{citar web |ultimo=Bardagil-Mas |primeiro=Bernat |url=http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/tese%3Abardagil-mas-2018/Bardagil-Mas_2018_Case_and_agreement_in_Panara.pdf |titulo=Case and agreement in Panará |data=20 de setembro de 2018 |acessodata=18 de abril de 2021 |publicado=University of Groningen}}</ref>. |
|||
==== Consoantes ==== |
|||
As consoantes do Panará são muito semelhantes às do português, com exceção dos [[Fonema|fonemas]] padronizados [[Nasal palatal|/ɲ/]] e [[Nasal velar|/ŋ]]/ e dos fonemas de mais de um [[ponto de articulação]]. É importante notar também que, no Panará, quando consoantes nasais precedem uma vogal oral, ou uma consoante aproximante, elas são pós-oralizadas e desvozeadas. Além disso, a fricativa glotal [</>[[Fricativa glotal surda|h]]] não é considerada mais fonêmica, sendo distribuída na ortografia de acordo com a [[prosódia|prosódia.]] |
|||
{| class="wikitable" style="text-align: center;" |
|||
|+Consoantes com um ponto de articulação (em IPA) |
|||
! |
|||
![[Consoante bilabial|Bilabial]] |
|||
![[Consoante labiovelar|Labiovelar]] |
|||
![[Consoante alveolar|Alveolar]] |
|||
![[Consoante palatal|Palatal]] |
|||
![[Consoante velar|Velar]] |
|||
|- |
|||
![[Consoante oclusiva|Oclusiva]] |
|||
|[[Oclusiva bilabial surda|p]] |
|||
| |
|||
|[[Oclusiva alveolar surda|t]] |
|||
| |
|||
|[[Oclusiva velar surda|k]] |
|||
|- |
|||
![[Consoante nasal|Nasal]] |
|||
|[[Nasal bilabial|m]] |
|||
| |
|||
|[[Nasal alveolar|n]] |
|||
|[[Nasal palatal|ɲ]] |
|||
|[[Nasal velar|ŋ]] |
|||
|- |
|||
![[Consoante vibrante|Vibrante]] |
|||
| |
|||
| |
|||
|[[Vibrante múltipla alveolar|r]] |
|||
| |
|||
| |
|||
|- |
|||
![[Consoante fricativa|Fricativa]] |
|||
| |
|||
| |
|||
|[[Fricativa alveolar surda|s]] |
|||
| |
|||
| |
|||
|- |
|||
![[Consoante aproximante|Aproximante]] |
|||
| |
|||
|[[Aproximante labiovelar|w]] |
|||
| |
|||
|[[Aproximante palatal|j]] |
|||
| |
|||
|}<!-- Símbolos à direita da célula são vozeados, os à esquerda não são. --> |
|||
{| class="wikitable" style="text-align: center;" |
|||
|+Consoantes com mais de um ponto de articulação |
|||
! |
|||
![[Consoante bilabial|Bilabial]] |
|||
![[Consoante alveolar|Alveolar]] |
|||
![[Consoante velar|Velar]] |
|||
|- |
|||
![[Consoante oclusiva|Geminada oclusiva]] |
|||
|p͡p |
|||
|t͡t |
|||
|k͡k |
|||
|- |
|||
![[Consoante nasal|Geminada nasal]] |
|||
|m͡m |
|||
|n͡n |
|||
| |
|||
|- |
|||
![[Consoante fricativa|Geminada fricativa]] |
|||
| |
|||
|s͡s |
|||
| |
|||
|} |
|||
==== Vogais ==== |
|||
Nessa língua, as vogais podem ser divididas entre orais e nasais, curtas e longas. A nasalidade, de modo igual ao da língua portuguesa, é indicada pelo [[sinal diacrítico]] da [[Til|tilde]] (ou til). Já a distinção entre curtas e longas ocorre pelo suprassegmento longo [<nowiki/>[[Dois pontos triangulares|ː]]], indicado por dois pontos triangulares. |
|||
As vogais /oː, ɔː, õː, eː, ẽː/ são foneticamente compreendidas com [[ditongação]], respectivamente como [ow, ɔw, õw̃, ej, ẽj̃ ]. Exemplo: /poː/ [pow] (chegar) |
|||
Ademais, na língua ocorre também a redução de vogais abertas: a vogal /a/ pode ser reduzida a [ɐ] ou [ə] em [[Sílaba|sílabas]] [[Sílaba átona|átonas]]. |
|||
{| class="wikitable" style="text-align: center" |
|||
|+Vogais (curtas e longas) do Panará |
|||
! colspan="2" rowspan="2" | |
|||
! colspan="3" |oral |
|||
! colspan="3" |nasal |
|||
|- |
|||
![[Vogal anterior|Anterior]] |
|||
![[Vogal central|Central]] |
|||
![[Vogal posterior|Posterior]] |
|||
![[Vogal anterior|Anterior]] |
|||
![[Vogal central|Central]] |
|||
![[Vogal posterior|Posterior]] |
|||
|- |
|||
! rowspan="2" |[[Vogal fechada|Fechada]] |
|||
![[Vogal arredondada|arredondada]] |
|||
| |
|||
| |
|||
|[[Vogal posterior fechada arredondada|u]] , uː |
|||
| |
|||
| |
|||
|ũ , ũː |
|||
|- |
|||
![[Vogal não-arredondada|não-arredondada]] |
|||
|[[Vogal anterior fechada não arredondada|i]] , iː |
|||
| |
|||
|[[Vogal posterior fechada não arredondada|ɯ]] , ɯː |
|||
|ĩ , ĩː |
|||
| |
|||
|ɯ̃ , ɯ̃ː |
|||
|- |
|||
! rowspan="2" |[[Vogal semifechada|Semifechada]] |
|||
!arredondada |
|||
| |
|||
| |
|||
|[[Vogal posterior semifechada arredondada|o]] , oː |
|||
| |
|||
| |
|||
|õ , õː |
|||
|- |
|||
!não-arredondada |
|||
|[[Vogal anterior semifechada não arredondada|e]] , eː |
|||
| |
|||
| |
|||
|ẽ , ẽː |
|||
| |
|||
| |
|||
|- |
|||
![[Vogal central média|Média]] |
|||
!- |
|||
| |
|||
|[[Vogal central média|ə]] , əː |
|||
| |
|||
| |
|||
|ə̃ , ə̃ː |
|||
| |
|||
|- |
|||
! rowspan="2" |[[Vogal semiaberta|Semiaberta]] |
|||
!arredondada |
|||
| |
|||
| |
|||
|[[Vogal posterior semiaberta arredondada|ɔ]] , ɔː |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
|- |
|||
!não-arredondada |
|||
|[[Vogal anterior semiaberta não arredondada|ɛ]] , ɛː |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
|- |
|||
![[Vogal aberta|Aberta]] |
|||
!não-arredondada |
|||
|[[Vogal anterior aberta não arredondada|a]] , aː |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
| |
|||
|} |
|||
=== Epêntese === |
|||
A epêntese está presente em muitas palavras que iniciam ou terminam com [i] no Panará. O [i] final epentético só ocorre em palavras com codas oclusivas → /tɛp/ → [ˈtɛːpi] ‘peixe’. Já o [i] inicial epentético pode ser obrigatório, opcional ou antigramatical em dependência da raiz da palavra. A tabela a seguir indica o uso deste, em que [T] se refere a uma consoante oclusiva, [CC] se refere a uma consoante geminada e [NT] a uma consoante nasal em caso de pós-oralização, como [m͡p, n͡t, n͡s, ŋ͡k]<ref name=":3" />: |
|||
{| class="wikitable" style="text-align: center;" |
|||
|+Tabela de epêntese de Lapierre |
|||
![i] inicial em |
|||
!Raíz com inicial [T] |
|||
!Raíz com inicial [CC] |
|||
!Raíz com inicial [NT] |
|||
|- |
|||
!monossílaba |
|||
|opcional |
|||
|obrigatório |
|||
|obrigatório |
|||
|- |
|||
!polissílaba |
|||
|antigramatical |
|||
|opcional |
|||
|opcional |
|||
|} |
|||
{| class="wikitable" |
|||
|+Exemplos para cada instância gramatical: |
|||
|Monossílaba [T] |
|||
|/tu/ → [tu ~ iˈtu] ‘barriga’ |
|||
|- |
|||
|Monossílaba [CC] |
|||
|/kkjɯt/ → [ikˈkjɯːti] ‘anta’ |
|||
|- |
|||
|Polissílaba [CC] |
|||
|/ppẽkə/ → [pẽˈkə ~ ippẽˈkə] ‘roupas’ |
|||
|- |
|||
|Monossílaba [NT] |
|||
|/ŋo/ → [iŋˈko] ‘água’ |
|||
|- |
|||
|Polissílaba [NT] |
|||
|/nɔpə̃ː/ → [tɔˈpə̃ː ~ intɔˈpə̃ː] ‘pequeno buraco’ |
|||
|}<!-- Nos casos opcionais, estão indicadas ambas as formas. --> |
|||
== Escrita == |
|||
A [[ortografia]] para o Panará tem sido desenvolvida nos últimos 20 anos pela própria comunidade - em especial pelos Panará formados como professores que trabalham nas escolas locais - com o auxílio de workshops de alfabetização propostos tanto por [[Organização não governamental|organizações não-governamentais]] quanto pelo governo brasileiro<ref name=":7" />. Eles utilizam o [[alfabeto latino]], porém as letras '''b''', '''c''', '''d''', '''f''', '''g''', '''l''', '''q''', '''v''', '''x''' e '''z''' não são empregadas. A letra ''y'' é considerada uma vogal, e possui pronúncia diferente da consoante ''y'' no português. |
|||
Uma outra distinção significativa entre a língua portuguesa e o Panará é que os fonemas nasais no último são grafados com o sinal diacrítico tilde, e não possuem a alternativa de serem seguidos por consoantes nasais. Exemplo: [ĩ] que é grafado como ‘ĩ’ no Panará, mas é representada por ‘im’ ou ‘in’ no português. |
|||
O tamanho das vogais é fonêmico, assim como sua nasalização, e é representado pelo [[dígrafo]] da vogal. Quanto às consoantes, a pós-oralização nasal é representada por um dígrafo, nasais codais são representadas por n, e geminadas - antes representadas por uma pausa glotal - são agora representadas por um dígrafo. Por último, nas combinações fonéticas [m͡p, n͡t, n͡s, ŋ͡k], as consoantes nasais são representadas pela letra ''n''<ref name=":8" />. |
|||
{{Referências}} |
|||
[[Categoria:Línguas indígenas]] |
Revisão das 11h46min de 26 de abril de 2021
Panará | ||
---|---|---|
Falado(a) em: | Mato Grosso e sul do Pará | |
Total de falantes: | 380 | |
Família: | Tronco Macro-Jê Família Jê Subfamília Jê Setentrional Panará | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
| |
ISO 639-2: | -- | |
ISO 639-3: | kre
| |
O Panará (kre = código ISO 639-3 correspondente)[1], também denominado Krenhakarore, Krenakore, Krenakarore e Kreen-akarore[2][3], é uma língua indígena do Brasil atualmente falada nos estados do Mato Grosso e sul do Pará, mais precisamente na Terra Indígena Panará (Guarantã do Norte em MT e Altamira PA), que se encontra nos entornos do Rio Peixoto de Azevedo e nascente do Rio Iriri[4][5].
Atualmente, a língua possui 380 falantes de uma população étnica de 540[1]. Segundo esses números, o Panará se encontra em situação vulnerável, ou seja, a maioria das crianças fala a língua, porém isso pode estar restrito a determinados ambientes[3]. De acordo com outra escala, a Escala de Ameaça Aglomerada (Agglomerated Endangerment Scale - AES), ela está na categoria de mutação (shifting), que é quando a geração em idade fértil possui conhecimento suficiente na língua para usar entre si, mas não transmite às suas crianças[5][6][7]. É devido a isso que oficinas e estudos vêm sendo feitos com professores locais para padronizar a gramática da língua e impedi-la de cair em desuso.
O nome ‘Panará’, auto-denominação da própria comunidade, significa ‘gente’ nessa língua - algo provavelmente derivado das palavras 'panariá' (indígena) e 'puará' (homem)[4][8]. Suas outras nomenclaturas comuns derivam de atribuições dos Kayapó ao povo Panará, que significam “cabeça cortada redonda”[8]. Isso se relaciona ao modelo tradicional de corte de cabelo deles, o qual é um elemento fenotípico de extremo valor na cultura dos Panará. Seu corte se associa a um determinado status social.
Classificação
A língua pertence ao tronco linguístico Macro-Jê, um dos principais troncos das línguas indígenas brasileiras. Pertence ainda à família Jê e subfamília Jê Setentrional[2] junto com línguas como Apinayé, Kayapó, Suyá e as línguas Timbira[5][9][10].
Há muitos indícios de que a língua surgiu como uma variante do Kayapó do Sul, observados majoritariamente na ortografia e fonética semelhantes[8].
Português | Kayapó | Panará |
---|---|---|
boca | çakuá | sakwa |
braço | ipá | hì’pá |
cabelo | kin | hì’kì |
canela | ité | itá |
caolho | intónó | intono |
cotovelo | pakuçú | pakusú |
dente | suá | sua |
língua | çuntót | sutóti |
mão | cykiá | sikya |
nariz | çâkré | sakre |
nuca | impút | imputi |
olhos | intó | into |
Fonética, Fonologia e Tranformações Fonéticas
Inventário fonético
O Panará possui um extenso inventário fonético no qual predominam vogais em relação às consoantes[10][11][12].
Consoantes
As consoantes do Panará são muito semelhantes às do português, com exceção dos fonemas padronizados /ɲ/ e /ŋ/ e dos fonemas de mais de um ponto de articulação. É importante notar também que, no Panará, quando consoantes nasais precedem uma vogal oral, ou uma consoante aproximante, elas são pós-oralizadas e desvozeadas. Além disso, a fricativa glotal [</>h] não é considerada mais fonêmica, sendo distribuída na ortografia de acordo com a prosódia.
Bilabial | Labiovelar | Alveolar | Palatal | Velar | |
---|---|---|---|---|---|
Oclusiva | p | t | k | ||
Nasal | m | n | ɲ | ŋ | |
Vibrante | r | ||||
Fricativa | s | ||||
Aproximante | w | j |
Bilabial | Alveolar | Velar | |
---|---|---|---|
Geminada oclusiva | p͡p | t͡t | k͡k |
Geminada nasal | m͡m | n͡n | |
Geminada fricativa | s͡s |
Vogais
Nessa língua, as vogais podem ser divididas entre orais e nasais, curtas e longas. A nasalidade, de modo igual ao da língua portuguesa, é indicada pelo sinal diacrítico da tilde (ou til). Já a distinção entre curtas e longas ocorre pelo suprassegmento longo [ː], indicado por dois pontos triangulares.
As vogais /oː, ɔː, õː, eː, ẽː/ são foneticamente compreendidas com ditongação, respectivamente como [ow, ɔw, õw̃, ej, ẽj̃ ]. Exemplo: /poː/ [pow] (chegar)
Ademais, na língua ocorre também a redução de vogais abertas: a vogal /a/ pode ser reduzida a [ɐ] ou [ə] em sílabas átonas.
oral | nasal | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Anterior | Central | Posterior | Anterior | Central | Posterior | ||
Fechada | arredondada | u , uː | ũ , ũː | ||||
não-arredondada | i , iː | ɯ , ɯː | ĩ , ĩː | ɯ̃ , ɯ̃ː | |||
Semifechada | arredondada | o , oː | õ , õː | ||||
não-arredondada | e , eː | ẽ , ẽː | |||||
Média | - | ə , əː | ə̃ , ə̃ː | ||||
Semiaberta | arredondada | ɔ , ɔː | |||||
não-arredondada | ɛ , ɛː | ||||||
Aberta | não-arredondada | a , aː |
Epêntese
A epêntese está presente em muitas palavras que iniciam ou terminam com [i] no Panará. O [i] final epentético só ocorre em palavras com codas oclusivas → /tɛp/ → [ˈtɛːpi] ‘peixe’. Já o [i] inicial epentético pode ser obrigatório, opcional ou antigramatical em dependência da raiz da palavra. A tabela a seguir indica o uso deste, em que [T] se refere a uma consoante oclusiva, [CC] se refere a uma consoante geminada e [NT] a uma consoante nasal em caso de pós-oralização, como [m͡p, n͡t, n͡s, ŋ͡k][11]:
[i] inicial em | Raíz com inicial [T] | Raíz com inicial [CC] | Raíz com inicial [NT] |
---|---|---|---|
monossílaba | opcional | obrigatório | obrigatório |
polissílaba | antigramatical | opcional | opcional |
Monossílaba [T] | /tu/ → [tu ~ iˈtu] ‘barriga’ |
Monossílaba [CC] | /kkjɯt/ → [ikˈkjɯːti] ‘anta’ |
Polissílaba [CC] | /ppẽkə/ → [pẽˈkə ~ ippẽˈkə] ‘roupas’ |
Monossílaba [NT] | /ŋo/ → [iŋˈko] ‘água’ |
Polissílaba [NT] | /nɔpə̃ː/ → [tɔˈpə̃ː ~ intɔˈpə̃ː] ‘pequeno buraco’ |
Escrita
A ortografia para o Panará tem sido desenvolvida nos últimos 20 anos pela própria comunidade - em especial pelos Panará formados como professores que trabalham nas escolas locais - com o auxílio de workshops de alfabetização propostos tanto por organizações não-governamentais quanto pelo governo brasileiro[10]. Eles utilizam o alfabeto latino, porém as letras b, c, d, f, g, l, q, v, x e z não são empregadas. A letra y é considerada uma vogal, e possui pronúncia diferente da consoante y no português.
Uma outra distinção significativa entre a língua portuguesa e o Panará é que os fonemas nasais no último são grafados com o sinal diacrítico tilde, e não possuem a alternativa de serem seguidos por consoantes nasais. Exemplo: [ĩ] que é grafado como ‘ĩ’ no Panará, mas é representada por ‘im’ ou ‘in’ no português.
O tamanho das vogais é fonêmico, assim como sua nasalização, e é representado pelo dígrafo da vogal. Quanto às consoantes, a pós-oralização nasal é representada por um dígrafo, nasais codais são representadas por n, e geminadas - antes representadas por uma pausa glotal - são agora representadas por um dígrafo. Por último, nas combinações fonéticas [m͡p, n͡t, n͡s, ŋ͡k], as consoantes nasais são representadas pela letra n[12].
Referências
- ↑ a b «Panará». Ethnologue (em inglês). Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ a b «Glottolog 4.3 - Panará». glottolog.org. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ a b Moseley, Christopher (ed.). 2010. Atlas of the World’s Languages in Danger, 3rd edn. Paris, UNESCO Publishing. Online version: http://www.unesco.org/culture/en/endangeredlanguages/atlas
- ↑ a b Rocha, Ana Flávia (março de 2003). «A defesa dos direitos socioambientais no Judicário» (PDF). Instituto Socioambiental. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ a b c «Panará - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 26 de abril de 2021
- ↑ Hammarström, Harald; et al. «Simultaneous Visualization of Language Endangerment and Language Description». University of Hawaii's Press. Language Documentation & Conservation: https://scholarspace.manoa.hawaii.edu/bitstream/10125/24792/1/hammarstrom_et_al.pdf
- ↑ «Glottolog 4.3 - GlottoScope». glottolog.org. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ a b c d GIRALDIN, Odair (1997). Cayapó e Panará : Luta e sobrevivência de um povo jê no Brasil central. Campinas: Editora da Unicamp. 184 páginas
- ↑ Nikulin, Andrey (2020). «Proto-Macro-Jê: um estudo reconstrutivo». UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA. Biblioteca Digital Curt Nimuendajú: http://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/tese%3Anikulin-2020/Nikulin_2020_Proto-Macro-Je.pdf line feed character character in
|publicado=
at position 25 (ajuda); - ↑ a b c DOURADO, Luciana Gonçalves. Aspectos morfossintaticos da Lingua Panara (Je). 2001. 240p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em: <<>http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269111</>>. Acesso em: 25 de abril de 2021.
- ↑ a b Lapierre, Myriam. «Word-initial [i] epenthesis in Panãra» (em inglês). Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ a b Bardagil-Mas, Bernat (20 de setembro de 2018). «Case and agreement in Panará» (PDF). University of Groningen. Consultado em 18 de abril de 2021