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Tariqa Maryamiyya: diferenças entre revisões

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A '''Tariqa Maryamiyya''' foi uma confraria [[Esoterismo|esotérica]],<ref>Montenegro, Silvia. "Sufi Western Islam: the Muslim Latin American landscape." Routledge Handbook of Islam in the West. Routledge, 2022. 261-272.</ref> inicialmente liderada por [[Frithjof Schuon]] (1907-1998), também conhecido como ''Shaikh Isa Nur al-Din''. A Ordem Maryamiyya foi amplamente formada em torno da [[filosofia perene]] e do [[neoplatonismo]], e fortemente influenciada pelo [[Advaita Vedanta]].<ref name="EMAH">{{cite book | first=Edward | last=Curtis | title=Encyclopedia of Muslim-American History | pages=361–362 | publisher =Infobase Publishing | year=2010}}</ref>
A '''Tariqa Maryamiyya''' é uma confraria [[Sufismo|sufi]] da ordem Shadhili fundada por [[Frithjof Schuon]] (1907-1998), poucos anos depois de ter ingressado, em 1932, na confraria do [[Xeique]] [[Ahmad al-Alawi]]. A ideia de que todas as religiões têm uma origem e uma sabedoria comuns é um dos pilares do ensinamento de Schuon.


== História ==
== História ==
Schuon, que era originalmente da Suíça, mudou-se para [[Bloomington]], [[Indiana]], na década de 1970. Ele esteve ligado à [[Ba 'Alawiyya|Tariqa Ba 'Alawiyya]] e ao [[Ahmad al-Alawi|Shaikh Ahmad al-Alawi]].<ref>''Qadayyat atTasawwuf: al-Madrasa al-Shadhiliyya'' (1988: 281–362). Danner (1991: 47)</ref>
Em 1932, Frithjof Schuon passou quatro meses na [[Argélia]] com Xeique Ahmad al-Alawi, que o iniciou no caminho sufi Alawiyya e lhe deu o nome de 'Īsā Nūr ad-Dīn.<ref>Fitzgerald, Michael, ''Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy'', World Wisdom, 2010, pp. 32, 34.</ref> Em 1935, após uma segunda estadia na Argélia, Schuon fundou [[zauia]]s na Suíça e na França, e iniciou aspirantes na confraria Alawi.<ref>Aymard, Jean-Baptiste, ''Frithjof Schuon: Life and Teachings'', SUNY, 2002, pp. 21–22.</ref> As diferenças de perspectiva entre Schuon e a zauia mãe o levaram a assumir gradualmente sua independência, apoiado por [[René Guénon]].<ref>Aymard, Jean-Baptiste, ''Frithjof Schuon: Life and Teachings'', SUNY, 2002, pp. 23–24.</ref>


Muitos estudiosos acadêmicos proeminentes do Islã que vivem no Ocidente, incluindo [[Hossein Nasr|Seyyed Hossein Nasr]], [[Martin Lings]], [[Titus Burckhardt]], [[Victor Danner]] e [[William Stoddart]] foram associados aos ensinamentos de Schuon.<ref>Lings, Martin, A Sufi Saint of the Twentieth Century: Shaikh Ahmad al-Alawi (London:
Ao longo de sua vida, Schuon mostrou uma devoção especial à figura de [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]], que ele expressou em sua obra doutrinária, poética e pictórica.<ref>Cutsinger, James, "Colorless Light and Pure Air: The Virgin in the Thought of Frithjof Schuon", revista ''Sophia'', Vol. 6, N° 2, 2000, p. 115.</ref> Daí veio o nome ''Maryamiyya'' ("Mariana", em árabe) da [[tariqa]] que ele fundou como ramo da ordem ''Shadhiliyya-Darqawiyya-Alawiyyah''.<ref>Fitzgerald, Michael, ''Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy'', World Wisdom, 2010, pp. 99, 83.</ref>
Allen and Unwin, 1971).</ref> Contudo, a influência acadêmica desse movimento em termos de filosofia na linhagem [[escola perenialista|perenialista]] tem sido mais importante do que seus ensinamentos especificamente [[islâmicos]].<ref name='m'>[[Mark Sedgwick]], “Western Sufism and Traditionalism”. Online, disponível em: www.
aucegypt.edu/faculty/sedgwick/trad/write/WSuf.html</ref>


Depois de estudar brevemente com Shaikh Ahmad al-Alawi, que conheceu em 1932, Schuon parece ter tido sua própria inspiração visionária para se conectar com a [[Virgem Maria]] e [[Jesus Cristo]] em suas práticas espirituais. Seu movimento ficou conhecido como o “Tariqa Maryamiyya”, ou o caminho de Maria.<ref name='d'>Dressler, Markus, Ron Geaves, and Gritt Klinkhammer, eds. Sufis in Western society: global networking and locality. Routledge, 2009. pp.35 a 45.</ref>
Para Schuon, como para outros, todo caminho espiritual consiste em uma doutrina e um método.<ref>Schuon, Frithjof, ''Survey of Metaphysics'', World Wisdom, 1986, p. 115.</ref> Metodicamente, a Tariqa Maryamiyya é baseada em ritos sufi, portanto [[Islã|islâmicos]],<ref>Aymard, Jean-Baptiste, ''Frithjof Schuon: Life and Teachings'', SUNY, 2002, p. 62 + "Approche biographique", revista ''Connaissance des Religions'', numéro hors série Frithjof Schuon, 1999, p. 61.</ref> e doutrinariamente sobre a [[Filosofia perene|''philosophia perennis'']],<ref>Soares de Azevedo, Mateus, ''O Livro dos Mestres'', Ibrasa, 2016, p. 103.</ref> ou seja, a "[[metafísica]] universal", com suas ramificações [[Cosmologia|cosmológicas]] e [[Antropologia|antropológicas]].<ref>Béguelin, Thierry, "Preface" ''in'' ''Towards the Essential: Letters of a Spiritual Master'', The Matheson Trust, 2021, p. ''x''.</ref> Segundo William Stoddart, "a ideia central da filosofia perene é que a Verdade divina é una, atemporal e universal, e que as diversas religiões são apenas linguagens diferentes que expressam essa Verdade".<ref>Stoddart, William, ''Lembrar-se num Mundo de Esquecimento: Reflexões sobre Tradição e pós-modernismo'', Sapientia, 2013, p. 74.</ref> Isto explica o uso, nos escritos de Schuon, de termos e conceitos de outras tradições como o [[hinduísmo]], o [[budismo]] e o [[cristianismo]].<ref>Oldmeadow, Harry, ''Frithjof Schuon and the Perennial Philosophy'', World Wisdom, 2010, pp. 51-52. [https://www.pdfdrive.com/frithjof-schuon-and-the-perennial-philosophy-e188767895.html]</ref>


Embora as práticas da tariqa sejam islâmicas, há também um certo ecletismo com terminologia e práticas de tradições cristãs, hindus e nativas americanas sobre as quais Schuon também escreveu sobre. Schuon optou por não dar palestras publicamente e permanecer pessoalmente isolado, mas ensinou a um círculo fechado de seguidores em [[Bloomington]].<ref name='d'/>
Uma série de acadêmicos e estudiosos ocidentais que se dedicaram a discutir e expor aspectos do islamismo — como, por exemplo, [[Hossein Nasr|Seyyed Hossein Nasr]], [[Martin Lings]], [[Titus Burckhardt]], [[Victor Danner]] e [[William Stoddart]] — têm sido associados aos ensinamentos de Schuon, mas a influência desta corrente é mais importante no âmbito da filosofia tradicionalista ou perennialista do que especificamente no domínio dos ensinamentos islâmicos shadhilitas.<ref name='d'> Hermansen, Marcia, "Global Sufism: 'theirs and ours' ", ''in'' Dressler, Markus, Ron Geaves, and Gritt Klinkhammer, eds. ''Sufis in Western society: global networking and locality''. Routledge, 2009, p. 34.</ref>


Desde a morte de Schuon em 1998, o líder do ramo americano do movimento tem sido o professor Seyyed Hossein Nasr. O foco da tariqa tem sido caracterizado como da [[gnose]], ao invés de popular ou devocional.
Em 1980, Frithjof Schuon emigrou da Suíça para os Estados Unidos, onde morreu em 5 de maio de 1998, aos 90 anos de idade, depois de ter dado sua independência aos diferentes ramos da tariqa.<ref>Fitzgerald, Michael, ''Frithjof Schuon Messenger of the Perennial Philosophy'', World Wisdom, 2010, pp. 115, 128, 136.</ref>
Há associação entre a tariqa e um suposto projeto de “ressacralização do Ocidente”.<ref name='d'/>


Além dos iniciados formais da Ordem, teve uma influência mais ampla em leitores instruídos tanto no Ocidente quanto no mundo muçulmano interessados em misticismo e religião comparada através dos escritos de Schuon e de seus discípulos proeminentes do [[perenialismo]].<ref name='m'/>

Uma filial da Maryamiyya foi estabelecida no Brasil, e permanece ativa até hoje.<ref>Silva Filho, Mário Alves da. "A mística islâmica em Terræ Brasilis: o sufismo e as ordens sufis em São Paulo." (2012).</ref> Houve também uma filial da Maryamiyya no México.<ref name='d'/>
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Revisão das 16h46min de 24 de março de 2023

A Tariqa Maryamiyya foi uma confraria esotérica,[1] inicialmente liderada por Frithjof Schuon (1907-1998), também conhecido como Shaikh Isa Nur al-Din. A Ordem Maryamiyya foi amplamente formada em torno da filosofia perene e do neoplatonismo, e fortemente influenciada pelo Advaita Vedanta.[2]

História

Schuon, que era originalmente da Suíça, mudou-se para Bloomington, Indiana, na década de 1970. Ele esteve ligado à Tariqa Ba 'Alawiyya e ao Shaikh Ahmad al-Alawi.[3]

Muitos estudiosos acadêmicos proeminentes do Islã que vivem no Ocidente, incluindo Seyyed Hossein Nasr, Martin Lings, Titus Burckhardt, Victor Danner e William Stoddart foram associados aos ensinamentos de Schuon.[4] Contudo, a influência acadêmica desse movimento em termos de filosofia na linhagem perenialista tem sido mais importante do que seus ensinamentos especificamente islâmicos.[5]

Depois de estudar brevemente com Shaikh Ahmad al-Alawi, que conheceu em 1932, Schuon parece ter tido sua própria inspiração visionária para se conectar com a Virgem Maria e Jesus Cristo em suas práticas espirituais. Seu movimento ficou conhecido como o “Tariqa Maryamiyya”, ou o caminho de Maria.[6]

Embora as práticas da tariqa sejam islâmicas, há também um certo ecletismo com terminologia e práticas de tradições cristãs, hindus e nativas americanas sobre as quais Schuon também escreveu sobre. Schuon optou por não dar palestras publicamente e permanecer pessoalmente isolado, mas ensinou a um círculo fechado de seguidores em Bloomington.[6]

Desde a morte de Schuon em 1998, o líder do ramo americano do movimento tem sido o professor Seyyed Hossein Nasr. O foco da tariqa tem sido caracterizado como da gnose, ao invés de popular ou devocional. Há associação entre a tariqa e um suposto projeto de “ressacralização do Ocidente”.[6]

Além dos iniciados formais da Ordem, teve uma influência mais ampla em leitores instruídos tanto no Ocidente quanto no mundo muçulmano interessados em misticismo e religião comparada através dos escritos de Schuon e de seus discípulos proeminentes do perenialismo.[5]

Uma filial da Maryamiyya foi estabelecida no Brasil, e permanece ativa até hoje.[7] Houve também uma filial da Maryamiyya no México.[6]

Referências

  1. Montenegro, Silvia. "Sufi Western Islam: the Muslim Latin American landscape." Routledge Handbook of Islam in the West. Routledge, 2022. 261-272.
  2. Curtis, Edward (2010). Encyclopedia of Muslim-American History. [S.l.]: Infobase Publishing. pp. 361–362 
  3. Qadayyat atTasawwuf: al-Madrasa al-Shadhiliyya (1988: 281–362). Danner (1991: 47)
  4. Lings, Martin, A Sufi Saint of the Twentieth Century: Shaikh Ahmad al-Alawi (London: Allen and Unwin, 1971).
  5. a b Mark Sedgwick, “Western Sufism and Traditionalism”. Online, disponível em: www. aucegypt.edu/faculty/sedgwick/trad/write/WSuf.html
  6. a b c d Dressler, Markus, Ron Geaves, and Gritt Klinkhammer, eds. Sufis in Western society: global networking and locality. Routledge, 2009. pp.35 a 45.
  7. Silva Filho, Mário Alves da. "A mística islâmica em Terræ Brasilis: o sufismo e as ordens sufis em São Paulo." (2012).