Pedro Goulart: diferenças entre revisões

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===A acusação do processo judicial FUP/FP-25===
===A acusação do processo judicial FUP/FP-25===
Um familiar de uma das vítimas das FP-25 alega que deste vazio surge um maior protagonismo de Pedro Goulart que defende o elevar e radicalizar o patamar da violência armada promovendo maior violência contra pessoas, através de baleamentos e assassinatos<ref>{{Citar web|ultimo=Castelo-Branco|primeiro=Manuel|url=https://observador.pt/especiais/brigadas-revolucionarias-unir-organizar-armar-em-nome-da-revolucao-socialista/|titulo=Brigadas Revolucionárias: Unir, Organizar, Armar, em nome da Revolução Socialista|acessodata=2023-04-17|website=Observador|lingua=pt-PT|citacao=A 15 de Novembro de 1979, na Marinha Grande, nas vésperas do julgamento de Isabel do Carmo e Carlos Antunes, é assassinado à queima-roupa com três tiros na cabeça José Manuel Plácido, um dissidente da organização PRP/BR. José Plácido era um elemento importante, porque seria dos poucos a ter conhecimento da origem e do destino dos fundos. É a terceira vítima mortal da organização. Ao contrário das duas mortes anteriores — “danos colaterais” de um assalto a um banco e troca de tiros com a polícia —, esta foi uma morte premeditada e planeada. Carlos Antunes e Isabel do Carmo, que estavam detidos, negam ter tido conhecimento ou dado qualquer ordem para matar ou ferir, o que, a ser verdade, nos leva a concluir que Pedro Goulart tinha já tomado conta da organização. O PRP/BR passava agora para outro patamar da violência armada, do qual resultaria a criação das FP-25.}}</ref> e raptos. Desta divergência fundamental com os fundadores na cadeia, resulta a cisão e posterior expulsão destes e de alguns dos seus apoiantes. e posterior transferência de operacionais, militantes e sedes para o [[Projecto Global (FP-25 de Abril)|Projecto Global]], a super estrutura no qual incluía as [[Forças Populares 25 de Abril|FP-25]] e a FUP e o próprio [[Otelo Saraiva de Carvalho]]<ref name=":02">{{citar livro|url=https://books.google.pt/books/about/Viver_e_morrer_em_nome_das_FP_25.html?id=HbUgtwAACAAJ&redir_esc=y|título=Viver e Morrer em nome das FP-25|ultimo=Vilela|primeiro=António José|editora=Casa das Letras|ano=2005|local=Cruz Quebrada|páginas=336-339|capitulo=Réus do processo 396/91 (crimes de sangue)|isbn=972-46-1594-4}}</ref><ref name=":142">{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/1245348114|título=Presos por um fio : Portugal e as FP-25 de Abril|ultimo=Poças|primeiro=Nuno Gonçalo|data=|editora=Casa das Letras|ano=2021|local=Lisboa|páginas=44-52|capitulo=As organizações precedentes|isbn=978-989-66-1033-3}}</ref><ref name=":0">{{citar livro|url=https://books.google.pt/books/about/Viver_e_morrer_em_nome_das_FP_25.html?id=HbUgtwAACAAJ&redir_esc=y|título=Viver e Morrer em nome das FP-25|ultimo=Vilela|primeiro=António José|editora=Casa das Letras|ano=2005|local=Cruz Quebrada|páginas=336-339|capitulo=Réus do processo 396/91 (crimes de sangue)|isbn=972-46-1594-4}}</ref><ref name=":14">{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/1245348114|título=Presos por um fio : Portugal e as FP-25 de Abril|ultimo=Poças|primeiro=Nuno Gonçalo|data=|editora=Casa das Letras|ano=2021|local=Lisboa|páginas=44-52|capitulo=As organizações precedentes|isbn=978-989-66-1033-3}}</ref> algo que o próprio sempre negou.<ref name=":2" /> Entre 1980 e 1987, as [[Forças Populares 25 de Abril|FP-25]] foram diretamente responsáveis por 13 assassinatos, inclusive uma criança — às quais acrescem ainda as mortes de 5 dos seus operacionais e um dissidente/arrependido assassinado na véspera de ir depor a julgamento. Além disso foram responsáveis por dezenas de baleamentos, atentados com explosivos, assaltos a bancos, empresas e viaturas de transporte de valores.<ref>{{Citar web|ultimo=Castelo-Branco|primeiro=Manuel|url=https://observador.pt/especiais/a-lei-da-bala-os-25-anos-sobre-a-amnistia-as-forcas-populares-25-de-abril/|titulo=À lei da bala. Os 25 anos sobre a amnistia às Forças Populares-25 de Abril|acessodata=2022-05-29|website=Observador|lingua=pt-PT}}</ref>
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Revisão das 02h17min de 5 de setembro de 2023

Pedro Goulart (Pedro Goulart da Silva, Ilha do Pico, freguesia de São Mateus, 5 de Outubro de 1940 - Lisboa, 20 de Novembro de 2018), [1] foi um professor do ensino secundário, formado em economia no Instituto Superior de Economia, ativista anti-fascista e anti-capitalista e dirigente político, militando em variadas organizações de esquerda e extrema-esquerda durante a ditadura e a democracia. Foi fundador e dirigente político das Brigadas Revolucionárias conhecido como PRP/BR[2], e do grupo terrorista Forças Populares 25 de Abril (FP25)[3]. O acusado nunca reconheceu qualquer ligação às FP-25, apenas ao partido FUP,[4] e, paralelamente a Otelo, foi amnistiado e julgado inocente nesse processo judicial.[5] Continuou a militar em actividades que considerava anti-capitalistas e anti-imperialistas até à sua morte.

Biografia

Juventude

Segundo sua autobiografia[6] nasceu em 1940 e viveu na freguesia rural de São Mateus, Pico, Açores, até aos seus 17 anos[7]. Depois, na vila da Madalena, despertou para a política a ouvir a rádio BBC, a rádio Moscovo e a ler o jornal a República [8]. A candidatura de Humberto Delgado, a revolução cubana e o assalto ao Santa Maria foram vividos com entusiasmo [9].

A crescente influência da leitura de autores censurados pelo Estado Novo como “António Sérgio, Ferreira de Castro, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Jorge Amado, e vários outros” marcam-no. A realidade dura das ilhas e a influência crescente particularmente das leituras de António Sérgio, consolidam as suas aspirações a um socialismo libertário [10].

Em 1961, já na cidade da Horta, dinheiro amealhado a trabalhar em cafés e numa livraria permitiram que se dedicasse dois anos ao estudo para concluir sete anos de escolaridade (do 5.º ao 11.º ano), como aluno auto-proposto. No final, passou a dar explicações, especializando-se na matemática [11].

Atividade política durante a ditadura

Ainda segundo a autobiografia,[6] na Horta começou a participar em actividades anti-fascistas, celebrando da forma possível o 1.º de Maio ou o 5 de Outubro, o que lhe valeu ameaças de ser impedido de dar explicações [12]. É também nesta altura que progressivamente optou pelo marxismo, mas mantendo pontes com outros sectores oposicionistas como os católicos progressistas [13].

Chegou a Lisboa em 1966 para frequentar o ISCEF (Económicas, actual ISEG), envolvendo-se crescentemente no movimento oposicionista estudantil e “proletário”, incluindo actividades clandestinas [14]. Participa na associação de estudantes, então ligada ao PCP, na secção cultural [15]. Como eventos marcantes na altura destaca o maio de 1968, a crise estudantil de 1969, bem como os protestos contra a Guerra do Vietname.

Envolveu-se na política nacional, aderindo à CDE que iria candidatar-se às eleições de 1969.[4] Mais tarde, apesar de preferências mais radicais face ao percecionado reformismo do PCP, aderiu a este mesmo partido por considerar que os outros “grupos não constituíam uma alternativa política, e porque dada a militância, a combatividade e até, por vezes, a heroicidade de alguns militantes” lhe davam esperanças de uma “viragem revolucionária” [16].[4][6] Denunciado por presos políticos eventualmente sob tortura e perseguido pela PIDE, como documentado na Torre do Tombo, entrou temporariamente na clandestinidade durante vários meses [17].[6]

Uma cisão na CDE leva à disseminação dos dissidentes pela esquerda revolucionária, como a trotskista LCI, a marxista-leninista URML (eventualmente integrada na UDP), mas principalmente o PRP [18]. Afastou-se do PCP pela sua perceção de uma “estratégia reformista”, da “subordinação aos interesses (...) soviéticos”, e de “métodos estalinistas (...) no dia-a-dia” [19].[6] “[E]m fins de 1973, ainda sob regime fascista [é fundado] o PRP-BR (Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias)”, incorporando dissidentes da CDE, as Brigadas Revolucionárias e outros militantes “antifascistas e anticapitalistas” [20].[6][4] É um dos poucos dirigentes do partido a ter alguma aparição mediática, para além de Isabel do Carmo e Carlos Antunes.

Atividade política durante a jovem democracia

Depois de 48 anos de ditadura, o final dos anos 1970 e princípio dos 1980 no Portugal democrático é turbulento e polarizado, no seguimento do PREC, de várias inflexões políticas e de duas intervenções do FMI (1977; 1983).[21] Entretanto, organizações de extrema- direita – como o ELP, Maria da Fonte[22] e MDLP[23] – foram responsáveis por 566 ações violentas[24] de 1974 a 1977, com vários assassinatos até 1979.[25]

Fez parte de Frente de Unidade Revolucionária em 1975 [26] e milita na candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho nas presidenciais de 1976, que reúne 800.000 votos.[4] Participa em organização políticas como a FUR (Frente de Unidade Revolucionária, 1975), a OUT (Organização Unitária de Trabalhadores, 1978) e a FUP (Força de Unidade Popular, 1980).[4] Faz parte dos fundadores da Organização Unitária dos Trabalhadores (OUT), com Otelo Saraiva de Carvalho, Mouta Liz, em Abril de 1978. Em Junho de 1978 dá-se a prisão de Isabel do Carmo e Carlos Antunes o que vem enfraquecer a liderança do PRP/BR.[27]

A acusação do processo judicial FUP/FP-25

Deste vazio surge um maior protagonismo de Pedro Goulart que defende o elevar e radicalizar o patamar da violência armada promovendo maior violência contra pessoas, através de baleamentos e assassinatos[28] e raptos. Desta divergência fundamental com os fundadores na cadeia, resulta a cisão e posterior expulsão destes e de alguns dos seus apoiantes. e posterior transferência de operacionais, militantes e sedes para o Projecto Global, a super estrutura no qual incluía as FP-25 e a FUP e o próprio Otelo Saraiva de Carvalho[29][30][31][32] algo que o próprio sempre negou.[4] Entre 1980 e 1987, as FP-25 foram diretamente responsáveis por 13 assassinatos, inclusive uma criança — às quais acrescem ainda as mortes de 5 dos seus operacionais e um dissidente/arrependido assassinado na véspera de ir depor a julgamento. Além disso foram responsáveis por dezenas de baleamentos, atentados com explosivos, assaltos a bancos, empresas e viaturas de transporte de valores.[33]

Participa na famosa reunião do Conclave, na Serra da Estrela,[34] bem como em reuniões posteriores onde se discute a oportunidade dos "engarrafamentos", nome dado pela organização aos raptos de políticos e empresários, cujo resgate deveria engrossar os cofres da organização. Nas reuniões clandestinas do Projecto Global ou das FP25 é referenciado por “João" ou simplesmente “PG".[35][36] O acusado nunca reconheceu qualquer ligação às FP-25.[4]

Processo judicial FUP/FP-25

O processo jurídico teve várias reviravoltas. É preso preventivamente a 20 de Junho, um dia após o início da operação Orion.[37] Foi condenado em Primeira Instância, a 20 de Maio de 1987, a 15 anos de prisão. Dois anos depois, a 13 de Setembro de 1989, o Tribunal da Relação de Lisboa agravaria a pena para os 18 anos, acabando o Supremo Tribunal de Justiça, a 19 de Dezembro de 1990, por fixar a condenação em 17 anos de cadeia.[38]

No entanto, Oscar Mascarenhas ou Miguel Portas no Diário de Notícias denunciam o processo inicial como rocambolesco.[39][40] A defesa alega fragilidades jurídicas como, por exemplo, serem julgados com um código de processo penal da ditadura” (de 1929), com direito de defesa não garantido, em que o acusador também foi o juiz, fundamental para a condenação no primeiro julgamento e em que se produziu a prova analisada posteriormente. Os vereditos não serão unânimes, haverá vasta solidariedade nacional e internacional e uma denúncia de condições injustas na prisão.[41] No caso mais mediático de Otelo, estes assuntos são tratados em mais detalhe na secção “O processo judicial FUP/FP-25 de Abril”.

Como consequência, o Tribunal Constitucional anulou parcialmente a primeira condenação em Fevereiro de 1989 baseada nos acusados não terem tido direito à reavaliação da prova acusatória e reconfirmada em 1996.[42] Em Maio de 1989, o Supremo Tribunal de Justiça libertou 29 dos presos, entre eles Pedro Goulart. Esteve preso preventivamente “5 anos sem culpa formada!”, mais do que o legal permitido, obrigando a intervenção europeia.[4][43]

Dada a sentença nunca ter transitado em julgado, segundo a lei portuguesa Pedro Goulart deve ser considerado inocente. Foi amnistiado pela Assembleia da República em 1996 dada a “complexidade jurídica tem tornado extremamente difícil a sua solução judicial. (…) com desenvolvimentos que não prenunciam a possibilidade de uma solução de justiça em tempo razoável".[1] Foi absolvido pelo tribunal no processo dos “crimes de sangue” em 2001, decisão reconfirmada em 2003[44], como no caso de Otelo.[5]

Atividade política nos últimos anos e morte

Foi simpatizante do Bloco de Esquerda.[45] Participou em numerosas iniciativas cívicas contra a guerra (Iraque; Tribunal Iraque; Lisboa contra a guerra; Jugoslávia) ou anti-capitalistas, colaborando com a Política Operária, entre outras organizações. Foi um dos fundadores do jornal Mudar de vida.

Assistiu com agrado a iniciativas frentistas de esquerda como o nascimento do BE ou à chamada Geringonça, em alternativa às políticas de austeridade e de direita implementadas durante a troika. Votou Jorge Sampaio quando este derrotou Cavaco Silva.[4]

Em 1999, autodenominava-se como “um comunista libertário, que não aceita nem deuses nem chefes”.[4]

Faleceu de morte súbita em Lisboa a 20 de Novembro de 2018. A notícia do seu falecimento foi divulgada em organizações de esquerda como o Bloco de Esquerda[45] e o jornal Mudar de Vida.[44]

Referências

  1. «FP-25 Quem são os 73 acusados». FP-25 Quem são os 73 acusados. O Jornal. 19 de julho de 1985. pp. 18–19 
  2. «Morreu Pedro Goulart, um dos fundadores do PRP/BR». Esquerda.net. 21 de novembro de 2018 
  3. «Acórdão n.º 231/2004/T. Const, de 30 de abril». INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda. Diário da República. 2004. Consultado em 5 de fevereiro de 2023. 13 - No (transitado em julgado) Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 25 de Junho de 2003, a fls. 2428 e seguintes (supra n.º 11), confirmou-se integralmente o Acórdão da 3.ª Vara Criminal de Lisboa de 6 de Abril de 2001, a fls. 1543 e seguintes (supra n.º 9). (...) E é a seguinte a matéria de facto dada como provada no referido acórdão da 3.ª Vara Criminal (fls. 1852 e segs.), depois reproduzida no Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 25 de Junho de 2003 (fls. 2466 e segs.), e que assume relevo para o presente processo: (...) 3 - Pertenceram à mesma organização terrorista, autopublicitada 'Forças Populares 25 de Abril - FP-25' os réus (...) Pedro Goulart da Silva." 
  4. a b c d e f g h i j k Dâmaso, Eduardo. «O economista revolucionário». PÚBLICO. Consultado em 29 de maio de 2022 
  5. a b Noronha do Nascimento (2021). «Símbolo mítico do 25 de Abril» (PDF). O Referencial (109) 
  6. a b c d e f Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. ISBN 9728165293 
  7. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 11-12. ISBN 9728165293 
  8. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 13. ISBN 9728165293 
  9. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 13-17. ISBN 9728165293 
  10. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 12-13. ISBN 9728165293 
  11. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 19. ISBN 9728165293 
  12. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 20-21. ISBN 9728165293 
  13. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 20-21. ISBN 9728165293 
  14. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 24-25. ISBN 9728165293 
  15. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 25. ISBN 9728165293 
  16. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 37. ISBN 9728165293 
  17. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 38-39,106107. ISBN 9728165293 
  18. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 45. ISBN 9728165293 
  19. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 45. ISBN 9728165293 
  20. Goulart, Pedro (2001). Resistência. Lisboa: Edições Dinossauro. p. 47. ISBN 9728165293 
  21. «As vindas do FMI nos anos 70 e 80 recordadas pelos líderes sindicais». Público. 1 de Maio de 2011 
  22. «PLANO MARIA DA FONTE». 74 
  23. «MOVIMENTO DEMOCRÁTICO DE LIBERTAÇÃO DE PORTUGAL (MDLP)». 74 
  24. Tadeu, Pedro (2021). «Otelo é pior do que Spínola?». Diário de Notícias 
  25. Carvalho, Miguel (2017). Quando Portugal Ardeu. [S.l.]: Oficina do Livro 
  26. «Frente de Unidade Revolucionária». Rádio e Televisão de Portugal. 10 de setembro de 1975. Consultado em 6 de março de 2023 
  27. «Não acreditamos no Socialismo a cinquenta por cento». A Capital. 17 de março de 1975 
  28. Castelo-Branco, Manuel. «Brigadas Revolucionárias: Unir, Organizar, Armar, em nome da Revolução Socialista». Observador. Consultado em 17 de abril de 2023. A 15 de Novembro de 1979, na Marinha Grande, nas vésperas do julgamento de Isabel do Carmo e Carlos Antunes, é assassinado à queima-roupa com três tiros na cabeça José Manuel Plácido, um dissidente da organização PRP/BR. José Plácido era um elemento importante, porque seria dos poucos a ter conhecimento da origem e do destino dos fundos. É a terceira vítima mortal da organização. Ao contrário das duas mortes anteriores — “danos colaterais” de um assalto a um banco e troca de tiros com a polícia —, esta foi uma morte premeditada e planeada. Carlos Antunes e Isabel do Carmo, que estavam detidos, negam ter tido conhecimento ou dado qualquer ordem para matar ou ferir, o que, a ser verdade, nos leva a concluir que Pedro Goulart tinha já tomado conta da organização. O PRP/BR passava agora para outro patamar da violência armada, do qual resultaria a criação das FP-25. 
  29. Vilela, António José (2005). «Réus do processo 396/91 (crimes de sangue)». Viver e Morrer em nome das FP-25. Cruz Quebrada: Casa das Letras. pp. 336–339. ISBN 972-46-1594-4 
  30. Poças, Nuno Gonçalo (2021). «As organizações precedentes». Presos por um fio : Portugal e as FP-25 de Abril. Lisboa: Casa das Letras. pp. 44–52. ISBN 978-989-66-1033-3 
  31. Vilela, António José (2005). «Réus do processo 396/91 (crimes de sangue)». Viver e Morrer em nome das FP-25. Cruz Quebrada: Casa das Letras. pp. 336–339. ISBN 972-46-1594-4 
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  33. Castelo-Branco, Manuel. «À lei da bala. Os 25 anos sobre a amnistia às Forças Populares-25 de Abril». Observador. Consultado em 29 de maio de 2022 
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  38. Vilela, António José. (2005). «As penas do processo 23/85 - Associação terrorista». Viver e morrer em nome das FP-25 1 ed. Cruz Quebrada [Portugal]: Casa das Letras. pp. 328–334. ISBN 972-46-1594-4 
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  42. Observatório Permanente da Justiça Portuguesa (1998). Porquê tão lentos. Três casos especiais de morosidade na administração de justiça. (PDF). [S.l.]: Relatório 
  43. Oscar Mascarenhas, DN, 25-4-2001
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