Manuel Francisco do Estanco Louro

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Manuel Francisco do Estanco Louro
Nascimento 6 de setembro de 1890
São Brás de Alportel, Portugal
Morte 21 de setembro de 1953 (63 anos)
Lisboa, Portugal
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Advogado, professor e investigador

Manuel Francisco do Estanco Louro (São Brás de Alportel, 6 de Setembro de 1890) - Lisboa, 21 de Setembro de 1953) foi um advogado, professor e investigador, e notabilizou-se no campo das letras, deixando uma obra volumosa, com diversos estudos nas áreas da linguísticagramática, dialectologia e toponímia, da etnografia algarvia, dos estudos camoneanos e ensaios diversos de literatura portuguesa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Patrono da Biblioteca Municipal de São Brás de Alportel, Manuel Francisco do Estanco Louro no, nasceu no seio de uma família humilde. Iniciou estudos em São Brás de Alportel e depois da instrução primária, por opção dos pais, entrou para o seminário de Faro, cujo curso não terminaria por falta de vocação eclesiástica. Em 1916, cumpriu o serviço militar obrigatório e, no ano seguinte, seguiu para a 1.ª Grande Guerra, como alferes, regressando a Lisboa precocemente ao fim de sete meses, por razões de saúde, não chegando a participar efectivamente em combates[1] . Em Lisboa, licenciou-se em filologia românica e direito, cursou Estudos Camoneanos e obteve a aprovação no exame de Estado de Magistério Liceal. [2]

Intelectual progressista, fez parte do grupo Seara Nova, ao lado de grandes nomes da História Contemporânea Portuguesa, como Câmara Reis, Aquilino Ribeiro, Raul Proença, Raul Brandão, António Sérgio, Jaime Cortesão e Azeredo Perdigão. [2]

Eterno enamorado da sua terra natal, foi um grande estudioso do concelho que o viu nascer, e é autor daquela que é, ainda hoje a grande fonte de estudo e referência de São Brás de Alportel - a premiada monografia "O Livro de Alportel", publicada pela primeira vez em 1929 e reeditada posteriormente pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel. [2]

Manuel Francisco do Estanco Louro é o Patrono da Biblioteca Municipal de São Brás de Alportel.

Excerto de "O Livro de Alportel"[editar | editar código-fonte]

" Quási todos os geógrafos que se tem ocupado do Algarve nos dizem que êle se divide em duas regiões - Barlavento e Sòtavento. Nenhum dêles porém nos indica os limites rigorosos ou aproximados das duas regiões; apenas, vagamente, se sabe que o Barlavento é o oeste, e o Sòtavento o este do Algarve. Por outro lado, a nunhum Algarvio que ignore totalmente a geografia se ouvirá qualquer das duas frases: «Eu sou do Barlavento»; «Eu sou do Sòtavento». É pois uma mera divisão convencional, apoiada apenas na tradição scientífico-literária, injustificada, porque lhe não podem servir de base quaisquer factos de ordem geográdica. Aplicou-se ao Algarve, como se poderia aplicar a qualquer outra região. Se aproveitássemos esta divisão vertical e lhe determinássemos uma linha divisória o trôço da linha férrca do Sul e Sueste que, de S. Marcos da Serra vai a Faro, o Alportel ficaria quási no coração do Sòtavento algarvio. " [3]

Excerto do Prefácio de "O Livro de Alportel"[editar | editar código-fonte]

"Infalivelmente, o "amigo Estanco" vinha todos os anos ao Algarve na abertura da caça. Numa dessas vezes fui esperá-lo de manhãzinha à estação de caminho de ferro, pois vinha sempre no correio da noite. Depois dos abraços da praxe, fomos até a Leitaria Aliança, onde ele tirou logo um frango assado do saco de retalhos. Mandou o espanhol da Leitaria comprar vinho à rua do Peixe Frito e convidou-me para comer. Como eu não quisesse, ao fim de uma hora de conversa, o frango tinha desaparecido. Disse-me, então, que ia tomar a camioneta para o Alportel, mas que parava em S. Brás para ver alguns amigos, entre eles o Antonino Calapez, barbeiro, de quem gostava de ouvir os discursos qye fazia "inspirado" com uns copitos, com palavras muito especiais, nunca usadas no estado sóbrio, mas que o barbeiro juravam a pés juntos existirem, pois, repisava ele, "se as digo é porque elas háem", o que fazia o "meu amigo Estanco" rir a bom rir. [3]

Bibliografia do Autor[editar | editar código-fonte]

Entre as suas obras encontram-se: [2][4]

Publicada

  • "Do ensino da Língua francesa, especialmente na Instrução Secundária. (O que se tem feito. O que se deve fazer)". Lisboa, 1919.
  • "Caderno de Gramática Portuguesa". Lisboa, 1919.
  • "Os Lusíadas e o Povo Português. I - No vocabulário". Lisboa, 1927.
  • "O E e o I em Português". Lisboa, 1927.
  • "Gramáticos Portugueses do Século XVI - F. de Oliveira, João de Barros, P. de M. de Gândavo e D.N de Leão". Lisboa, 1929.
  • "A Literatura de Ideias na Obra de Fialho de Almeida e os Problemas Nacionais". Lisboa, 1929.
  • "Raízes da Alma Latina. A Riqueza. A Mediania. A Pobreza. O urbanismo. O Rurismo. (Literatura Comparada da Românica até fins do Século XVI". Coimbra, 1929.
  • "O Livro de Alportel - Monografia de uma Freguesia Rural - Concelho". Lisboa, 1929.
  • "Caderno de Gramática Portuguesa. I Volume (1.º e 2.º anos dos Liceus)" Lisboa, 1932.
  • "Caderno de Gramática Portuguesa. II Volume (3.º e 4.º e 5.º anos dos Liceus)" Lisboa, 1933.
  • "Os Lusíadas e o Povo Português. II - Princípios e Críticas". Lisboa, 1934.
  • "Introdução e Notas à edição de 'As Viagens na Minha terras' de Almeida Garrett". Lisboa, 1935.

Pedagogia e Didáctica

  • "Elementos de Gramática Francesa, Segundo a Gramática da Academia Francesa para o Ensino Médio, Liceal e Técnico (Escrita por um Professor de Liceu para Facilitar o ensino dos seus filhos". Lisboa.
  • "Cem Páginas de Revolução Pacífica ou o Legado Testamentário do Professor".
  • "Selecta de Educação e Instrução, para o Ensino do Português no I e II anos do Ensino Secundário"". 1949.
  • "A terra e a Gente Portuguesa", Livro de Leitura Educativa e Instrutiva para I e II anos do Curso Secundário.
  • "Subsídios para a História da Universidade de Lisboa", 1929. Sobre o Doutoramento e outras coisas.
  • "Subsídios para a História da Cultura Portuguesa. Manuscrito contendo o subtítulo, "Repeli a Lisonja, a Subserviência e Escolhi o lado da Verdade, do Povo".
  • "Na Floresta do Ensino de Letras", com dedicatória à esposa e aos dois filhos, e um Índice: Introdução; I - No Ensino Superior: um doutoramento espantoso!; II - O Sr. David Lopes ou o ridículo de uma enfatuada ignorância; III - No Ensino Secundário: A Gramática do Dr. José Saraiva & CIA; IV - No Ensino Primário; V - Filologia de Cueiros: O Sr. Armando de Sousa Gomes e a Revista Lisbonense " A Lingua Portuguesa"; VI - O Supervacâneo ou o Moitão.
  • Artigo/s "Reforma Ortográfica - Ordenação Sintética".
  • "Subsídios para o Estudo do Ensino Secundário".

Estudos Camoneanos

  • Quatro Volumes c/notas s/ "Os Lusíadas".
  • Manuscrito c/anotações s/ o Canto II de "Os Lusíadas".
  • Manuscrito de "Os Lusíadas falsificado por Filinto Elíseo".
  • 1 Caderno c/ o título "Camoneana" e um outro com uma biografia de Camões e outras notas muito importantes.

Regionalismo Algarvio

  • 3 Cadernos com romance intitulado " Como as Algarvias Amam", emendado depois para "Como Elas Amam".
  • Romance regionalista com falas Algarvias.
  • "Gestos, Sons, Palavras, Expressões, etc. que fazem «Dar Sorte»". Artigo com 5 páginas.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Manuel Francisco do Estanco Louro - Alferes de Infantaria Meleciano». ahm-exercito.defesa.gov.pt. Consultado em 22 de abril de 2024 
  2. a b c d Marreiros, Glória (2000). Quem é quem? 200 Algarvios do século XX. Lisboa: Edições Colibri. pp. 285–286. ISBN 972-772-192-3 
  3. a b Louro, Estanco (1929). O livro de Alportel: Monografia de uma Freguesia rural Concelho. [S.l.]: Servico de publicidade agricola do Ministério da agricultura 
  4. «Biblioteca Nacional de Portugal - Obras de Estanco Louro». catalogo.bnportugal.gov.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021