Geografia

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Paisagem africana

Geografia (do grego γεωγραφία, geographia, literalmente "descrição da Terra")[1][2] é uma área da ciência dedicada ao estudo responsável por examinar a superfície do planeta Terra e compreender todos os aspectos físicos e humanos deste. A primeira pessoa a usar a palavra γεωγραφία foi Eratóstenes (276–194 a.C.). A geografia é uma disciplina abrangente que busca uma compreensão da Terra e suas complexidades humanas e naturais — não apenas onde os objetos estão, mas também como eles mudaram e vieram a ser. Embora a geografia seja específica do planeta Terra, muitos conceitos podem ser aplicados de forma mais ampla a outros corpos celestes no campo da ciência planetária.

A geografia é muitas vezes definida em termos de dois ramos: geografia humana e geografia física. A geografia humana está preocupada com o estudo das pessoas e suas comunidades, culturas, economias e interações com o meio ambiente, estudando suas relações com e através do espaço e lugar. A geografia física está preocupada com o estudo de processos e padrões no ambiente natural, como a atmosfera, hidrosfera, biosfera e geosfera. Para alguns, a Geografia também é uma prática humana de conhecer onde se vive, para compreender e planejar o local de moradia de um indivíduo. Um dos temas centrais da geografia é a relação homem-natureza. Ambos os ramos fazem uso de filosofias geográficas, conceitos e ferramentas semelhantes e muitas vezes têm sobreposição significativa. Um desses conceitos, a primeira lei da geografia, proposta por Waldo Tobler, é "tudo está relacionado a tudo o mais, mas coisas próximas são mais relacionadas do que coisas distantes".

As quatro tradições históricas em pesquisa geográfica são análises espaciais dos fenômenos naturais e humanos, estudos de área de lugares e regiões, estudos das relações homem-terra e ciências da terra. A geografia tem sido chamada de "a disciplina mundial" e "a ponte entre as ciências humanas e físicas".

Visão geral[editar | editar código-fonte]

A geografia é uma ciência que estuda a relação entre a Terra e seus habitantes. Os geógrafos querem saber onde vivem os homens, as plantas e os animais, onde se localizam os rios, os lagos, as montanhas e as cidades. Estudam o porquê desses elementos se encontrarem onde estão e como eles se relacionam. A palavra "geografia" vem do grego geographía (γεογραπηία), que significa descrição da Terra.

A geografia depende muito de outras áreas do conhecimento, para obter informações básicas, especialmente em alguns ramos especializados. Utiliza os dados da química, da geologia, da matemática, da história, da física, da astronomia, da antropologia e da biologia e, principalmente, da ecologia, pois tanto a Ecologia como a Geografia são estudos relacionados: ambos estão preocupados com as análises biológicas, de fatores geológicos e dos ciclos biogeoquímicos dos Ecossistemas, isto é, da relação entre os seres vivos (inclusive os povos) e seu meio ambiente.

Os geógrafos utilizam inúmeras técnicas, como viagens, leituras e estudo de estatísticas. Os mapas são seu instrumento e meio de expressão mais importante. Além de estudar mapas, os geógrafos os atualizam, graças às suas pesquisas especializadas, aumentando assim o nosso conhecimento geográfico.

Como o conhecimento da geografia é útil às pessoas em sua vida cotidiana, o aprendizado da geografia se inicia no jardim de infância ou no ensino fundamental, e estende-se até à universidade. O objetivo básico do estudo da geografia é o desenvolvimento do sentido de direção, da capacidade de ler mapas, da compreensão das relações espaciais e do conhecimento do tempo, do clima e dos recursos naturais.

O homem sempre precisou e utilizou o conhecimento geográfico. Os povos pré-históricos tinham de encontrar cavernas e reservas regulares de água. Tinham também de morar perto de um lugar onde pudessem caçar, saber localizar rastros de animais e trilhas de inimigos. Usavam carvão ou argila colorida para desenhar mapas primitivos de sua região nas paredes das cavernas e em peles secas de animais. Com o tempo, o homem aprendeu a lavrar a terra e a domesticar os animais. Essas atividades o forçaram a prestar mais atenção ao clima e à localização dos pastos.

Atualmente, não nos satisfazemos com um conhecimento geográfico limitado a área que circunda nossas casas. Hoje, nem mesmo basta às pessoas conhecer as terras e os mares próximos, como acontecia na época do Império Romano. Para satisfazer nossas necessidades, precisamos saber um pouco da geografia da Terra inteira.

Ontologia[editar | editar código-fonte]

Há muitas interpretações do que seria o objeto geográfico. Ratzel afirma que a Geografia estuda as "relações recíprocas entre sociedade e meio, entre a vida e o palco de seus acontecimentos". Filósofos que buscaram criar uma ontologia marxista, como Georg Lukács, influenciaram a construção de um modelo de análise do objeto da Geografia. Milton Santos se debruçou sobre a construção de um modelo ontológico, explicitado na análise dialética do movimento da "totalidade para o lugar".

Uma afirmação comum é de que há tantas geografias quantos forem os geógrafos. Apesar das múltiplas possibilidades de orientações teórico-metodológicas caminharem em direções diferentes, deve-se respeitar a caracterização da Ciência Geográfica e as formulações acerca de seu objeto.

Cabe ainda afirmar que a distinção entre Geografia Humana e Geografia Física se refere aos ramos da Ciência Geográfica, pois as Geograficidades não apresentam essa fragmentação, decorrente exclusivamente da construção do conhecimento sobre a realidade.

De qualquer forma, a ciência deve dar conta de questionar a relação dialética do homem com a natureza; é impossível analisar o "meio natural" sem entender a relação que tem com o homem e, da mesma forma, é impossível analisar o "meio social" sem compreender as determinações que vêm da relação que ele tem com a natureza. Há ainda discussões entre a Geografia técnica e a Geografia escolar, porém ambas as partes do conhecimento científico são apuradas através do questionamento da razão, ou seja, derivam da filosofia grega.

Princípios básicos[editar | editar código-fonte]

O estudo da geografia compreende quatro linhas de investigação principais. São elas:

  • a localização de acidentes geográficos, localidades e povos;
  • a descrição das diversas partes do mundo e o estudo das diferenças existentes entre elas;
  • a explicação da origem dos diferentes acidentes geográficos do globo terrestre;
  • o estabelecimento de relações espaciais entre os acidentes e as regiões.

Localização[editar | editar código-fonte]

Uma das principais tarefas da geografia é dizer onde se situam as diferentes localidades do mundo e interpretar as vantagens e as desvantagens da localização. Assim que o homem começou a se afastar dos limites da sua casa, precisou medir as distâncias e registrar essas medidas. Começou a desenhar mapas grosseiros, para mostrar as distâncias e as direções. No século XVI, quando começou a grande era das explorações, mais que nunca foram necessários cartógrafos (desenhistas de mapa) para registrar as descobertas dos novos continentes e oceanos.

O mapa não apenas mostra onde está um lugar, mas também fornece sua posição em relação a outros. (Veja: mapa).

Descrição dos lugares[editar | editar código-fonte]

Nem todas as pessoas se satisfazem em conhecer apenas a localização de um ponto da Terra, como Paris, São Paulo, a África ou o Ártico. Querem saber que tipo de ambiente a natureza oferece na região e o que as pessoas já fizeram nele. Querem saber como os habitantes utilizaram a terra, que tipo de casas construíram, como e onde construíram estradas, como são, afinal, eles próprios. Querem saber em que aspecto a região se assemelha e difere de outros lugares, e o que significa essa semelhança e diferença. Em outros tempos, os viajantes relatavam essas informações de viva voz. Hoje, as pessoas complementam esses relatórios com dados escritos, fotos tiradas do solo ou das alturas e com mapas, preparados com equipamentos de precisão extremamente eficazes.

Mudanças na face da Terra[editar | editar código-fonte]

Quase todo mundo já viu exemplos de mudança na superfície da Terra. Algumas mudanças são feitas pelo homem, como a eliminação de uma favela ou a alteração do curso de um rio. Essas mudanças são em geral muito mais rápidas que as provocadas pela natureza, como, por exemplo, a formação de uma grande garganta pela ação da erosão, que demora milhões de anos para acontecer.

Muitas perguntas ocorrem aos geógrafos quando examinam as mudanças sofridas pela Terra: querem saber como os acidentes geográficos surgiram no lugar onde estão hoje, como o homem modificou a superfície da Terra, querem descobrir a aparência da Terra no passado, e por que as cidades se desenvolveram onde estão hoje. Os geógrafos também pretendem descobrir por que certas áreas do mundo são mais densamente povoadas que outras.

Relações espaciais[editar | editar código-fonte]

As relações espaciais interessam tanto aos geógrafos quanto aos astrônomos. Os astrônomos estudam principalmente as relações entre os planetas, as estrelas e outros corpos celestes. Os geógrafos limitam seu estudo às relações espaciais entre os pontos da Terra. Por exemplo, estudam como o crescimento de uma cidade dependeu de um rio, e como a água do rio foi afetada pela cidade. Os geógrafos encaram os seres humanos em suas relações espaciais, assim como os historiadores veem a vida humana em suas relações temporais.

Os geógrafos sempre procuraram saber como os seres humanos se relacionam com o globo terrestre. As condições naturais podem limitar as possibilidades do ser humano, como no deserto, ou oferecer ótimas possibilidades de vida, como num vale fértil. As variações de tempo, as erupções vulcânicas e outras mudanças na natureza podem afetar as atividades diárias das pessoas. Além disso, as próprias pessoas são fator importante nas mudanças geográficas. Elas queimam florestas, escavam ou represam os leitos dos rios e provocam a erosão do solo. Os esforços para compensar os danos resultantes dessas alterações são parte importante dos movimentos de conservação da natureza.

Os geógrafos também estudam as ligações entre elementos geográficos. Por exemplo, podem investigar de que maneira as populações do Nordeste brasileiro dependem das chuvas, ou qual a relação entre o clima e o solo da região afro-tropical.

História do pensamento geográfico[editar | editar código-fonte]

A história do pensamento geográfico se inicia com os gregos, os quais foram a primeira cultura conhecida a explorar ativamente a Geografia como ciência e filosofia, sendo os maiores contribuintes Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu. A cartografia feita pelos romanos, à medida que exploravam novas terras, incluía novas técnicas. O périplo era uma delas, uma descrição dos portos e escalas que um marinheiro experiente poderia encontrar ao longo da costa; dois exemplos que sobreviveram até hoje são os périplos do cartaginês Hanão, o Navegador, e um périplo do mar eritreu, que descreve as costas do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico.

Durante a Idade Média, Árabes como Edrisi, ibne Batuta e ibne Caldune aprofundaram e mantiveram os antigos conhecimentos gregos. As viagens de Marco Polo espalharam pela Europa o interesse pela Geografia. Durante a Renascença e ao longo dos séculos XVI e XVII, as grandes viagens de exploração reavivaram o desejo de bases teóricas mais sólidas e de informação mais detalhada. A Geographia Generalis de Bernardo Varenius e o mapa-múndi de Gerardo Mercator são exemplos importantes.

Durante o século XVIII, a Geografia foi sendo discretamente reconhecida como disciplina e tornou-se parte dos currículos universitários. Ao longo dos últimos dois séculos, a quantidade de conhecimento e o número de instrumentos aumentou enormemente. Há fortes laços entre a Geografia, a Geologia e a Botânica. No Ocidente, durante os séculos XIX e XX, a disciplina geográfica passou por quatro fases importantes: determinismo geográfico, geografia regional, revolução quantitativa e geografia radical.

O determinismo geográfico defendia que as características dos povos se devem à influência do meio natural. Deterministas proeminentes foram Carl Ritter, Ellen Churchill Semple e Ellsworth Huntington. Hipóteses populares como "o calor torna os habitantes dos trópicos preguiçosos" e "mudanças frequentes na pressão barométrica tornam os habitantes das latitudes médias mais inteligentes" eram assim defendidas e fundamentadas. Os geógrafos deterministas tentaram estudar cientificamente a importância de tais influências. Nos anos 1930, esta escola de pensamento foi largamente repudiada por lhe faltarem bases sustentáveis e por ser propensa a generalizações.

O determinismo geográfico constitui um embaraço para muitos geógrafos contemporâneos e leva ao ceticismo sobre aqueles que defendem a influência do meio na cultura (como as teorias de Jared Diamond).

Porém, o determinismo foi uma teoria reducionista do pensamento do alemão Friedrich Ratzel, que dizia que o meio influencia, mas não determina o homem. E muito provavelmente esta teoria tenha sido criada por políticos e militares de uma classe hegemônica-dominante-europeia para justificar a exploração em suas colônias. Tanto que para os geógrafos mais esclarecidos, o possibilismo de Vidal de La Blache (teoria que vem a dizer que o homem tem a possibilidade de intervir no meio), seria na verdade uma complementação, uma continuação da teoria de Ratzel e não uma oposição, como a maioria enxerga e ensina, de forma simplista.

A Geografia Regional representou a reafirmação de que os aspectos próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. Os geógrafos regionais dedicaram-se à recolha de informação descritiva sobre lugares, bem como aos métodos mais adequados para dividir a Terra em regiões. As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. Vale a pena lembrar que, enquanto Vidal vê a região como uma determinada paisagem, onde os gêneros de vida determinam a condição e a homogeneidade de uma região, Hartshorne não utilizava o termo região: para ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe e, assim, as descontinuidades delas levariam às divisões das áreas. E este ficou conhecido como método regional.

A revolução quantitativa foi a tentativa da Geografia se redefinir como ciência, no renascer do interesse pela ciência que se seguiu ao lançamento do Sputnik. Os revolucionários quantitativos, frequentemente referidos como "cadetes espaciais", declaravam que o propósito da Geografia era o de testar as leis gerais do arranjo espacial dos fenômenos. Adotaram a filosofia do neopositivismo ou positivismo lógico das ciências naturais e viraram-se para a Matemática — especialmente a estatística — como um modo de provar hipóteses. A revolução quantitativa fez o trabalho de campo para o desenvolvimento dos sistemas de informação geográfica.

Neste caso, é bom lembrar que a geografia em seu início, com Humboldt, Ratzel, Ritter, La Blache, Hartshorne e outros, já se utilizava de métodos positivistas, e a mudança de paradigma, que ocorreu com a matematização do espaço, foi a da inclusão da informática para a quantificação dos dados, pelo método neopositivista, por volta dos anos 1950, no Brasil.

Apesar das perspectivas positivista e pós-positivista permanecerem importantes na Geografia, a Geografia Radical surgiu como uma crítica ao positivismo. O primeiro sinal do surgimento da Geografia Radical foi a Geografia Humanista. A partir do Existencialismo e da Fenomenologia, os geógrafos humanistas (como Yi-Fu Tuan) debruçaram-se sobre o sentimento de, e da relação com, lugares. A mais influente foi a Geografia Marxista, que aplicou as teorias sociais de Karl Marx e seus seguidores aos fenômenos geográficos. David Harvey e Richard Peet são bem conhecidos geógrafos marxistas. A Geografia feminista é, como o nome sugere, o uso de ideias do feminismo no contexto geográfico. A mais recente versão da Geografia Radical é a geografia pós-modernista, que emprega as ideias do pós-modernismo e teorias pós-estruturalistas, para explorar a construção social das relações espaciais.

No Brasil[editar | editar código-fonte]

Quanto ao conhecimento geográfico, no Brasil, não se pode deixar de observar a grande importância e influência do Geógrafo mais reconhecido do país, seguidor de Aziz Ab'Saber e seu pioneirismo, não por profissão, mas por mérito, Milton Santos. Com várias publicações, Milton Santos, tornou-se o pai da Geografia Crítica, que faz análises fenomenológicas dos fatos e incidências de casos. Isso é importante, visto que a Geografia é uma ciência global e abrangente e, somente, o olhar geográfico aguçado consegue identificar determinados processos, sejam naturais, sociais ou espaciais.

Vale ressaltar também os importantes estudos do professor Jurandyr Ross, que se dedicou a mapear, de forma bastante detalhada, o relevo brasileiro, além das inúmeras publicações do professor e doutor José William Vesentini, que se tornaram referência no estudo da Geografia no Brasil.

Não podendo esquecer de importantes geógrafas como Bertha Becker, Ana Fani Alessandri Carlos, Dora de Amarante Romariz e geógrafos como Armen Mamigonian, Manuel Correia de Andrade, Roberto Lobato Corrêa, Ruy Moreira, Armando Correa da Silva, Antonio Cristofoletti, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Melhem Adas, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro entre outros de outras épocas, não tão conhecidos como os que fizeram suas carreiras na Universidade de São Paulo.

Epistemologia[editar | editar código-fonte]

A Geografia como ciência surge sob forte influência do Positivismo Lógico. E essa condição se expressa em grande parte nos estudos de geografia até hoje. Entretanto, a Ciência evoluiu e transformou as suas orientações teórico-metodológicas.

Sobre a sua epistemologia, é importante destacar um problema não só da geografia, como também de todas as ciências ambientais: os recursos metodológicos utilizados na verificação dos postulados ou estudos geográficos são oriundos dos primeiros passos do naturalismo (Humboldt e Ritter).

É fácil concluir que, em detrimento de diversas mudanças na temática ambiental, as ciências ambientais não poderiam utilizar recursos de verificação originárias de um tempo em que o ambiente não despertava atenção alguma da mídia e menos ainda dos poderes políticos, que enxergavam apenas o fortalecimento de suas economias em função de uma interminável exploração e esgotamento dos recursos naturais. Por isso, é extremamente necessário pensar em uma nova epistemologia, não só para geografia, mas para todas as demais ciências ambientais.

Com o surgimento da discussão a respeito de um estatuto próprio para as Ciências Humanas, a Geografia sente a necessidade de revisar sua epistemologia. Os críticos do positivismo, sob influência do Historicismo de Hegel e Dilthey, afirmavam ser impossível manter a objetividade e a neutralidade do conhecimento científico. Um exemplo claro é a ideia de Incomensurabilidade do Conhecimento, de Thomas Kuhn, na qual afirma a impossibilidade de separar os conceitos e juízos de valor do conhecimento dito neutro.

Ainda no contexto do embate historicismo x positivismo, surgem dois grandes nomes da Geografia: Friedrich Ratzel e Vidal de La Blache. O primeiro, influenciado por Ritter e Haeckel, notabilizou-se pelos estudos de Geografia Política e de alguma forma ajudou a consolidar a Geografia de Estado. Já o outro, empirista, trabalhou principalmente sobre o conceito de Gênero de Vida e afastou a Geografia das relações com a sociologia, então representada pela morfologia social de Émile Durkheim. Essa condição é exemplificada na famosa definição: Geografia é a ciência dos lugares e não dos Homens. La Blache e Ratzel representavam, respectivamente, as escolas Francesa e Alemã, em uma época em que as universidades se fecharam em seus próprios países, criando escolas nacionais. Lucien Febvre, historiador francês, em seu livro A Terra e Evolução do Homem, criou uma imagem reducionista deste conflito teórico-ideológico, através da criação dos conceitos de escolas geográficas: Determinismo e Possibilismo. Essa consideração reducionista contribuiu para criar imagens errôneas sobre os dois autores e, por muito tempo, Ratzel foi entendido como simples determinista geográfico e La Blache, como um simples possibilista geográfico. Hoje, essa concepção foi superada e o recorte abstrato de Febvre foi relativizado, na medida em que nenhum dos dois Geógrafos se enquadrava completamente nas escolas a eles atribuídas.

Durante a renovação pragmática nos EUA, surgiu a corrente da Geografia Teorética, na qual os métodos quantitativos geográficos agiam com métodos numéricos peculiares para a geografia. Por consequência, a análise do espaço, provavelmente encontrará temas como a análise de rácios, análise discriminatória, e não — paramétrica, e testes estatísticos, nos estudos geográficos. Um expoente dessa corrente no Brasil foi Antonio Christofoletti, co-fundador da Revista de Geografia Teorética.

Sob a influência da Fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty, foram desenvolvidos estudos de Geografia da Percepção, que valorizam a construção subjetiva da noção de espaço perceptivo. Inter-relações com a psicologia de massas e psicanálise, entre outras áreas, garantiram uma multidisciplinaridade desses estudos na revisão e desenvolvimento de conceitos como horizonte geográfico, percepção de lugar, sociabilidade e percepção do espaço, espaço esquizoide, entre outros. Alguns textos de Armando Corrêa da Silva fazem referência à Geografia da Percepção. Cabe também ressaltar que a influência da fenomenologia foi importante para o desenvolvimento da Geografia Humanista.

No final da década de 1970, iniciou-se um movimento de renovação crítica da Geografia humana, marcado no Brasil pelo encontro nacional de Geógrafos em 1978 no Ceará. Esse movimento acompanhou a inserção do marxismo como base teórica do discurso geográfico humano e assimilou um arcabouço conceitual do marxismo na construção de teorias sobre a (re)produção do espaço e as formações sócio-espaciais.

No Brasil, um representante dessa corrente, conhecida como Geocrítica ou Geografia Crítica, foi Milton Santos. O geógrafo Armando Corrêa da Silva escreveu alguns artigos sobre as possíveis limitações que uma adesão radical a essa corrente pode causar.

Na Itália, Massimo Quaini foi o principal autor a escrever sobre a relação entre a corrente marxista e a Ciência Geográfica.

O principal veículo de divulgação da Renovação Crítica da Geografia humana foi a Revista Antipode, criada em agosto de 1968, nos Estados Unidos, sob a direção editorial de Richard Peet, então professor na University of British Columbia. O primeiro artigo da Revista justificava seu subtítulo — A Radical Jornal Of Geography — escrito por David Stea, "Positions, Purposes, Pragmatics: A Journal Of Radical Geography", introduzia no mundo acadêmico uma publicação que viria a ter muita importância para discussões no âmbito da ciência geográfica.

Antipode já contou com a participação de Geógrafos como Milton Santos e David Harvey, que até hoje é um dos colaboradores, além de um grupo de cientistas do mundo todo: EUA, Canadá, Japão, Índia, Inglaterra, Espanha, África do Sul, Países Baixos, Suíça, Quênia, coordenados sob a editoração de Noel Castree, da Universidade de Manchester (Inglaterra) e Melissa Wright, da Universidade da Pensilvânia (EUA).

Profissão[editar | editar código-fonte]

No Brasil, o Geógrafo é o profissional que fez o Bacharelado em Geografia, legalmente habilitado através da Lei 6 664/79, no qual remete-se ao registro no CREA — Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura — de seu Estado.

A diferenciação profissional entre um Geógrafo e um Professor de Geografia é que o Geógrafo possui habilitação para emissão de pareceres técnicos, desde que regularmente associado ao CREA, assim como para a elaboração de EIA/RIMA, podendo também prestar concursos públicos para quadros estatais que precisem de bacharelados.

Já o professor de Geografia é o profissional que tem titulação de Licenciado em Geografia, podendo exercer legalmente apenas as funções de docência, do 6º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental (antigas 5ª a 8ª série), e todo o Ensino Médio de uma mesma escola.

Para lecionar no Ensino Superior, tanto o licenciado quanto o bacharel, o requisito é um curso de mestrado, não necessariamente na Geografia, mas também nas áreas afins. A obrigatoriedade fica por conta de cada edital de concurso ou da política interna das universidades.

Historicamente, o geógrafo perdeu colocação no mercado de trabalho para o Engenheiro Ambiental e o Geólogo, devido à visão segmentada do conhecimento que o mercado de trabalho exigiu nos últimos anos, uma vez que o geógrafo não se compatibiliza com análises segmentadas e, sim, é capacitado para lidar com a visão de totalidade, que envolve as análises das dinâmicas sócio-espaciais, seu principal objeto de estudo.

Apesar de nos últimos anos o próprio modo capitalista de produção ter contribuído para a segmentação do conhecimento, há uma tendência no mercado de trabalho, onde é importante ter a capacitação de analisar a totalidade dos fenômenos de maneira interdisciplinar. Dessa forma, o Geógrafo acaba sendo um importante profissional cada vez mais designado para coordenar equipes multidisciplinares, devido a sua formação abrangente.

Com isso, os Geógrafos vêm, nesta última década, ganhando considerável espaço no mercado de trabalho no Brasil e no mundo, em função principalmente de novas tecnologias, que estão sendo aliadas para a conversão e produção de trabalhos em meio digital.

Frente ao mercado de trabalho atual no Brasil, alguns profissionais compartilham informações em comum. São estes os Geógrafos, Engenheiros Agrimensores e Engenheiros Cartógrafos.

No dia 29 de maio, comemora-se o dia do geógrafo.

Ramos da geografia[editar | editar código-fonte]

Geografia física[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geografia física

A geografia física (ou fisiografia) se foca na geografia dentro das Ciências da Terra. Tem como objetivo entender a litosfera, hidrosfera, atmosfera, pedosfera, e os padrões da fauna e flora global (biosfera). A Geografia física pode ser dividida nas seguintes categorias:

Biogeografia Climatologia & paleoclimatologia Geografia litorânea Geografia ambiental & Gestão ambiental
Geodésia & Topografia Geomorfologia Glaciologia Hidrologia & Hidrografia
Ecologia de paisagem Oceanografia Pedologia Paleogeografia

Geografia humana[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geografia humana

A geografia humana (ou sociografia) é o ramo da geografia que estuda os padrões e processos que formam a interação humana com os vários ambientes. Ela envolve os aspectos humanos, políticos, culturais, sociais e econômicos. Apesar do foco principal da geografia humana não ser a paisagem física da Terra (ver geografia física), dificilmente é possível discutir a geografia humana sem se referir à paisagem física onde as atividades humanas acontecem e, assim, a geografia ambiental emerge como um link entre estes dois ramos da geografia. A geografia humana pode ser dividida em muitas categorias, como por exemplo:

Geografia cultural Geografia do desenvolvimento Geografia econômica Geografia da saúde
Geog. histórica & temporal Geog.política & Geopolítica Geog. populacional ou Demografia Geografia da religião
Geografia social Geografia do transporte Geografia turística Geografia urbana
Geografia rural Recenseamento

Com o passar do tempo, várias maneiras de se ver o estudo da geografia humana têm aparecido, como :

Geografia ambiental[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geografia ambiental

A geografia ambiental é um ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais da interação entre humanos e o mundo natural. Isso requer o entendimento dos aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os modos como as sociedades conceitualizam o ambiente.

A geografia ambiental emergiu como um ponto de ligação entre a geografia física e a humana, como resultado do aumento da especialização destes dois campos de estudo. Além disso, como a relação do homem com o ambiente tem mudado, em consequência da globalização e mudança tecnológica, uma nova aproximação é necessária, para entender esta relação dinâmica e mutável. Exemplos de áreas de pesquisa em geografia ambiental incluem administração de emergência, gestão ambiental, sustentabilidade, e ecologia política.

Geografia matemática[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geografia matemática

A geografia matemática tem seu foco na superfície da Terra, estudando sua representação matemática e sua relação com a lua e o sol. Esta vocação dual não é contraditória, porque, através do estudo dos fenômenos da superfície, que ocorrem produto da interação com o sol e a lua, pode ser mapeado o Equador, os trópicos, as linhas polares, coordenadas geográficas e, até, medir o tamanho da Terra. Normalmente, os conteúdos da geografia matemática são primeiro tratados, abordando um estudo introdutório da geografia, para cobrir a localização da Terra no universo e do sistema solar, movimentos da terra, a influência do sol e da lua sobre a superfície (ponto inevitável e essencial em ramos como a climatologia, hidrologia) e à definição e compreensão dos sistemas de localização, como a base para todo o estudo geográfico.

Geografia matemática incorpora uma vasta área de estudos envolvidos com a análise espacial, como a Cartografia, geomática, fotogrametria, Geoestatística, Sistema de informação geográfica (SIG), Sensoriamento remoto, e Sistema de Posicionamento Global (GPS), Geografia Astronômica, Topografia e Orografia.

Cartografia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Cartografia
Mapa de Mauna Kea, Havaí

A Cartografia é um ramo da geografia matemática que estuda a representação da superfície da Terra, com símbolos abstratos (mapeamento). Apesar de outros campos da geografia dependerem de mapas para a apresentação de suas análises, a fabricação dos mapas é abstrata o suficiente para ser considerada separadamente. A cartografia cresceu de uma coleção de técnicas de representação, até se tornar uma verdadeira ciência. A cartografia clássica acabou se juntando a uma abordagem mais moderna da análise geográfica, apoiada pelos Sistemas de Informações Geográficas (SIG).

Cartógrafos precisam aprender psicologia cognitiva e ergonômica, para entenderem como os símbolos conduzem a informações sobre a Terra mais eficazes, e psicologia comportamental, para induzir os leitores de seus mapas a atuar de acordo com as informações. Precisam aprender corretamente geodésia e matemática, razoavelmente avançada, para entender como a forma da Terra distorce mapas, pois estes são projetados em uma superfície plana, para a visualização. Através da produção de mapas e cartas, a Cartografia manifesta-se como uma linguagem essencial para a produção de imagens geográficas, através de conceitos espaciais como a Localização, Densidade, Distribuição, Escala, Distância. Pode ser dito, sem muitas controvérsias, que a cartografia é a semente da qual a geografia nasceu. Muitos geógrafos citam uma “fantasia de infância” com mapas, como um primeiro sinal de que acabariam em suas áreas.

Geomática[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geomática
Digital Elevation Model (DEM)

Geomática é o ramo da geografia que surgiu desde a revolução quantitativa da geografia, em meados da década de 1950. A geomática envolve o uso de técnicas espaciais tradicionais, usadas em cartografia e topografia e suas aplicações nos computadores. Este ramo se tornou mais utilizado com muitas outras disciplinas, usando técnicas como SIG e Sensoriamento remoto. A geomática também levou a uma revitalização de alguns departamentos de geografia, especialmente na América do Norte, onde o assunto estava em declínio, durante a década de 1950.

Topografia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Topografia

Topografia é a ramo da geografia matemática que estuda todos os acidentes geográficos, definindo a situação e a localização deles, que podem ficar em qualquer área. Tem a importância de determinar analiticamente as medidas de área e perímetro, localização, orientação, variações no relevo, etc. E, ainda, representá-las graficamente em cartas (ou plantas) topográficas.

Geografia regional[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geografia regional

A geografia regional é o ramo da geografia que estuda as regiões da Terra, de todos os tamanhos. Ela tem um caráter principalmente descritivo. O principal objetivo é entender ou definir as particularidades de uma determinada região, que consiste de elementos naturais e humanos. Também é dada atenção para a regionalização, que cobre as técnicas apropriadas para delimitar o espaço em regiões.

Campos relacionados[editar | editar código-fonte]

Técnicas geográficas[editar | editar código-fonte]

A geografia, em seus estudos para a compreensão do mundo, utiliza-se de alguns instrumentos essenciais para algumas de suas áreas. Produções como os mapas são a base para muitas das análises e observações realizadas pelos diversos campos, e a evolução das técnicas instrumentais acaba influenciando muito a evolução da própria geografia. Assim foi com o surgimento das imagens de sensoriamento remoto e os Sistemas de Informações Geográficas. Cada técnica instrumental acaba, então, fundando uma área da ciência para si própria.

Sistema de Informações Geográficas[editar | editar código-fonte]

Sistemas de Informações Geográficas (SIG) tratam do armazenamento de informações sobre a Terra, para visualização e processamento através de um computador, de forma precisamente apropriada à informação que se deseja fornecer. Além de todas as outras subdisciplinas da geografia, especialistas em SIG precisam entender técnicas de computação e sistemas de banco de dados. O SIG revolucionou o campo da cartografia, e praticamente toda a fabricação de mapas de hoje em dia é feita com a ajuda de alguma forma de software SIG. SIG também se refere à ciência do uso de tais softwares e suas técnicas de representação, análise e previsão das relações espaciais.

Sensoriamento remoto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Sensoriamento remoto

Sensoriamento remoto é a ciência da obtenção de informações sobre as características da Terra, através de medições feitas à distância. Dados sensoriados remotamente vêm de várias maneiras, como por imagens de satélite, fotografias aéreas e dados obtidos por sensores manuais. Geógrafos utilizam cada vez mais dados obtidos por sensoriamento remoto, para conseguirem informações sobre a superfície terrestre, o oceano e a atmosfera, pois esta técnica: a) fornece informações objetivas, em várias escalas espaciais (de local a global), b) fornece uma visão sinóptica da área de interesse, c) permite o acesso a locais distantes e/ou inacessíveis, d) fornece informações espectrais fora da porção visível do espectro eletromagnético, e e) facilita o estudo de como as características e as áreas mudam através do tempo. Dados de sensoriamento remoto podem ser analisados tanto independentes como juntos de outras camadas digitais de dados (como por exemplo nos SIG).

Métodos geográficos quantitativos[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Geoestatística

A Geoestatística trata de análise quantitativa, especificamente a aplicação da metodologia estatística à exploração de fenômenos geográficos. Geoestatística é utilizada extensivamente em uma variedade de campos, incluindo: hidrologia, geologia, exploração de petróleo, análises climáticas, planejamento urbano, logística e epidemiologia. A base matemática para a geoestatística deriva da análise de clusteres, análise linear discriminante e testes estatísticos não-paramétricos. Aplicações da geoestatística dependem muito dos Sistemas de Informações Geográficas, particularmente da interpolação (estimativa) de pontos não-medidos. Geógrafos têm feito contribuições notáveis ao método das técnicas quantitativas.

Métodos geográficos qualitativos[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Etnografia

Métodos geográficos qualitativos ou técnicas de pesquisa etnográficas são utilizados pelos geógrafos. Na geografia cultural, há uma tradição do emprego de técnicas de pesquisa qualitativa, também utilizada na antropologia e na sociologia. Observações participativas e entrevistas em campo fornecem aos geógrafos humanos dados qualitativos.

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Referências

  1. «Tudo sobre a Geografia». Brasil Escola. Consultado em 8 de agosto de 2022 
  2. «O que significa geografia no latim?». afontedeinformacao.com. Consultado em 8 de agosto de 2022