Guerra da Crimeia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Guerra da Crimeia
guerras russo-turcas e guerras otomanas na Europa

Zuavos franceses e soldados russos enfrentam-se na torre Malakoff durante a Batalha de Sevastopol.
Data 16 de outubro de 185330 de março de 1856
Local Crimeia, Cáucaso, Balcãs, Mar Negro, Mar Báltico, Mar Branco, Extremo Oriente
Desfecho Vitória aliada, Tratado de Paris
Beligerantes
Império Otomano Império Otomano
Império Francês
Império Britânico
Itália Reino da Sardenha

Apoio:


Imamate do Cáucaso
Circássia
Principado da Abecásia
 Império Russo
Comandantes
Império Otomano Abdul Mejide I
Império Otomano Omar Paxá
Império Otomano İskender Paxá
Napoleão III
Jacques Leroy de Saint Arnaud
Maréchal Canrobert
Aimable Pélissier
François Achille Bazaine
Patrice de Mac-Mahon
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda Rainha Vitória
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda Conde de Aberdeen
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda Lord Raglan
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda Sir James Simpson
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda Sir William Codrington
Itália Vítor Emanuel II
Itália Alfonso La Màrmora
Shamil
Sefer Bey Zanuko
Mikhail Shervashidze
Império Russo Nicolau I
Império Russo Alexandre II
Império Russo Píncipe Menshikov
Império Russo Pavel Nakhimov
Império Russo Vasily Zavoyko
Império Russo Nikolay Muravyov
Império Russo Yevfimy Putyatin
Império Russo Vladimir Istomin
Império Russo Conde Tolstoy
Forças
Total: 673 700
Império Otomano 165 000[1]
309 268[1]
107 864[1]
21 000[1]
889 000
Baixas
223 513 (total)

Império Otomano 45 400[1]
10 100 mortos em combate
10 800 mortos de ferimentos
24 500 mortos de doenças
135 485[1]
8 490 mortos em combate
11 750 mortos de ferimentos
75 375 mortos de doenças
39 870 feridos
40 462[1]
2 755 mortos em combate
1 847 mortos de ferimentos
17 580 mortos de doenças
18 280 feridos
2 166[1]
28 mortos em combate
2 138 mortos de doenças
210 000 - 530 000
25 000 mortos em combate
16 000 mortos de ferimentos
89 000 mortos de doenças
80 000 feridos[1][2][3]

A Guerra da Crimeia foi um conflito que se estendeu de 1853 a 1856, na península da Crimeia (no mar Negro), no sul da Rússia e nos Bálcãs. Envolveu, de um lado o Império Russo e, de outro, uma coligação integrada pelo Reino Unido, a França, o Reino da Sardenha — formando a Aliança Anglo-Franco-Sarda — e o Império Otomano (atual Turquia). Esta coligação, que contou ainda com o apoio do Império Austríaco, foi formada como reação às pretensões expansionistas da Rússia.

Nessa guerra, foi importante o papel da marinha de corso, pela França e Reino Unido.[4]

A guerra[editar | editar código-fonte]

Desde o fim do século XVIII, os russos tentavam aumentar a sua influência na península dos Balcãs, região entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo muito em parte pelo enfraquecimento Otomano.

Em 1853, o czar Nicolau I se declarou o protetor dos Cristãos Ortodoxos e seus locais sagrados em Jerusalém, que faziam parte do Império Otomano. Como os Otomanos já tinham, anteriormente, dado aos franceses, sob a jurisdição dos franciscanos, a guarda pelos cristãos e por alguns locais sagrados, começou uma tensão entre russos e turcos.[5]

Sob esse pretexto, as suas tropas invadiram os principados otomanos do Rio Danúbio (Moldávia e Valáquia, na atual Romênia). O sultão otomano, contando com o apoio da Grã-Bretanha e da França, rejeitou as pretensões do czar, declarando guerra à Rússia. Mediante a declaração de guerra, a frota russa destruiu a frota turca na Batalha de Sinop.

O Reino Unido, sob a rainha Vitória, temia que uma possível queda da cidade de Constantinopla diante das tropas russas lhe pudesse retirar o controle estratégico dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, cortando-lhe as comunicações com a Índia. Por outro lado, Napoleão III de França mostrava-se ansioso para mostrar que era o legítimo sucessor de seu tio, Napoleão I. Mediante a derrota naval dos turcos, ambas declararam guerra à Rússia no ano seguinte, seguidos pelo Reino da Sardenha (governado por Vítor Emanuel II e o seu primeiro-ministro Cavour). Em troca, os turcos permitiriam a entrada de capitais ocidentais no Império.

O conflito iniciou-se efetivamente em março de 1854. Em agosto, os turcos, com o auxílio de seus aliados, já haviam expulsado os invasores dos Bálcãs. De forma a encerrar definitivamente o conflito, as frotas dos aliados convergiram sobre a península da Crimeia, desembarcando tropas a 16 de setembro de 1854, iniciando o bloqueio naval e o cerco terrestre à cidade portuária fortificada de Sebastopol, sede da frota russa no mar Negro. Embora a Rússia tenha sido vencida em batalhas como a de Balaclava e em Inkerman, o conflito arrastou-se com sua recusa em aceitar os termos de paz. Entre as principais batalhas desta fase da campanha registam-se:

Durante o cerco a Sebastopol, a doença cobrou um pesado tributo às tropas britânicas e francesas, tendo se destacado o heroico esforço de Florence Nightingale dirigindo o atendimento hospitalar de campanha. A praça-forte, em ruínas, só caiu um ano mais tarde, em setembro de 1855.

O Tratado de Paris[editar | editar código-fonte]

Fronteiras do Império Otomano nos Balcãs. Depois do tratado de Paris de 1856 (linha azul clara); e
Depois do Tratado de Berlim de 1878 (linha vermelha).
Ver artigo principal: Tratado de Paris (1856)

A guerra terminou com a assinatura do tratado de Paris de 30 de março de 1856. Pelos seus termos, o novo czar, Alexandre II da Rússia, devolvia o sul da Bessarábia e a embocadura do rio Danúbio para o Império Otomano e para a Moldávia, renunciava a qualquer pretensão sobre os Balcãs e ficava proibido de manter bases ou forças navais no mar Negro.

Por outro lado, o Império Otomano, representado por Aali-pachà ou Meliemet Emin era admitido na comunidade das potências europeias, tendo o sultão se comprometido a tratar seus súditos cristãos de acordo com as leis europeias. A Valáquia e a Sérvia passaram a estar sob proteção internacional.

Enquanto isso, em Jerusalém, estabelecia-se o Status-quo que organiza a divisão de posses das Igrejas dentro da Cidade Santa.[5]

Novas hostilidades[editar | editar código-fonte]

Na Conferência de Londres (1875), a Rússia obteve o direito de livre trânsito nos estreitos de Bósforo e Dardanelos. Em 1877, iniciou nova guerra contra a Turquia, invadindo os Bálcãs em consequência da repressão turca a revoltas de eslavos balcânicos. Diante da oposição das grandes potências, os russos recuaram outra vez. O Congresso de Berlim (1878), consagrou a independência dos Estados balcânicos e as perdas turcas da ilha de Chipre, para o Reino Unido, da Arménia e parte do território asiático para a Rússia e da Bósnia e Herzegovina para o Império Austro-Húngaro. Em 1895, o Reino Unido apresentou um plano de partilha da Turquia, rechaçado pela Alemanha, que preferia garantir para si concessões ferroviárias. Nos Bálcãs, no início do século XX, o crescente nacionalismo eslavo contra a presença turca levou a região à primeira das Guerras Balcânicas. Esta política russofóbica iria perdurar até a Entente anglo-russa de 1907 quando começa a emergir o Império Alemão na política europeia.[7]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i Clodfelter 2017, p. 180.
  2. Mara Kozelsky, "The Crimean War, 1853–56." Kritika: Explorations in Russian and Eurasian History 13.4 (2012): 903–917 online.
  3. Zayonchkovski, Andrei Medardovich (2002). Восточная Война 1853–1856 [Eastern War 1853–1856] (em russo). Volume II part 2. Saint Petersburg, Russia: Полигон [Polygon]. ISBN 978-5-89173-158-5. OCLC 701418742. Consultado em 29 de janeiro de 2020 
  4. Vasconcellos, J.S. (1939). Princípios de defesa militar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército 
  5. a b «Guerra da Crimeia, quando Jerusalém e Belém levaram a Europa à guerra». Israel em Casa. 31 de agosto de 2021. Consultado em 7 de janeiro de 2022 
  6. «Центральный военно-морской музей» (em russo). Consultado em 6 de maio de 2012 
  7. F. William Engdahl, A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, Londres, Pluto Press, 2004, pp. 29-30.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Arnold, Guy. Historical dictionary of the Crimean War (Scarecrow Press, 2002)
  • Badem, Candan. The Ottoman Crimean War (1853–1856) (Leiden: Brill, 2010). 432 pp. ISBN 90-04-18205-5
  • Bridge and Bullen, The Great Powers and the European States System 1814–1914, (Pearson Education: London), 2005
  • Bamgart, Winfried The Crimean War, 1853–1856 (2002) Arnold Publishers ISBN 0-340-61465-X
  • Clodfelter, M. (2017). Warfare and Armed Conflicts: A Statistical Encyclopedia of Casualty and Other Figures, 1492-2015 4th ed. Jefferson, North Carolina: McFarland. ISBN 978-0786474707 
  • Cox, Michael, and John Lenton. Crimean War Basics: Organisation and Uniforms: Russia and Turkey (1997)
  • Curtiss, John Shelton. Russia's Crimean War (1979) ISBN 0-8223-0374-4
  • Figes, Orlando, Crimea: The Last Crusade (2010) Allen Lane. ISBN 978-0-7139-9704-0; the standard scholarly study; American edition published as The Crimean War: A History (2010) excerpt and text search
  • Goldfrank, David M. The Origins of the Crimean War (1993)
  • Gorizontov, Leonid E (2012). «The Crimean War as a Test of Russia's Imperial Durability». Russian Studies in History. 51 (1): 65–94. doi:10.2753/rsh1061-1983510103 
  • Greenwood, Adrian (2015). Victoria's Scottish Lion: The Life of Colin Campbell, Lord Clyde. UK: History Press. p. 496. ISBN 978-0-7509-5685-7 
  • Hoppen, K. Theodore. The Mid-Victorian Generation, 1846–1886 (1998) pp. 167–83; summary of British policy online
  • Lambert, Andrew (1989). «Preparing for the Russian War: British Strategic Planning, March, 1853 – March 1854». War & Society. 7 (2): 15–39. doi:10.1179/106980489790305605 
  • Lambert, Professor Andrew (2013). The Crimean War: British Grand Strategy against Russia, 1853–56. [S.l.]: Ashgate Publishing. ISBN 9781409482598  argues that the Baltic was the decisive theatre
  • Martin, Kingsley. The triumph of Lord Palmerston: a study of public opinion in England before the Crimean War (Hutchinson, 1963). online
  • Pearce, Robert. "The Results of the Crimean War," History Review (2011) #70 pp. 27–33.
  • Ponting, Clive The Crimean War (2004) Chatto and Windus ISBN 0-7011-7390-4
  • Pottinger Saab, Anne The Origins of the Crimean Alliance (1977) University of Virginia Press ISBN 0-8139-0699-7
  • Puryear, Vernon J (1931). «New Light on the Origins of the Crimean War». Journal of Modern History. 3 (2): 219–234. JSTOR 1871715. doi:10.1086/235723 
  • Ramm, Agatha, and B. H. Sumner. "The Crimean War." in J.P.T. Bury, ed., The New Cambridge Modern History: Volume 10: The Zenith of European Power, 1830–1870 (1960) pp. 468–92, short survey online
  • Rath, Andrew C. The Crimean War in Imperial Context, 1854–1856 (Palgrave Macmillan, 2015). excerpt
  • Rich, Norman Why the Crimean War: A Cautionary Tale (1985) McGraw-Hill ISBN 0-07-052255-3
  • Ridley, Jasper. Lord Palmerston (1970) pp. 425–54
  • Royle, Trevor Crimea: The Great Crimean War, 1854–1856 (2000) Palgrave Macmillan ISBN 1-4039-6416-5
  • Schroeder, Paul W. Austria, Great Britain, and the Crimean War: The Destruction of the European Concert (Cornell Up, 192) online
  • Schmitt, Bernadotte E (1919). «The Diplomatic Preliminaries of the Crimean War». American Historical Review. 25 (1): 36–67. JSTOR 1836373. doi:10.2307/1836373. hdl:2027/njp.32101066363589 
  • Seton-Watson, R. W. Britain in Europe, 1789–1914 (1938) pp 301–60.
  • Small, Hugh. The Crimean War: Queen Victoria's War with the Russian Tsars (Tempus, 2007); diplomacy, pp. 62–82
  • Strachan, Hew (1978). «Soldiers, Strategy and Sebastopol». Historical Journal. 21 (2): 303–325. JSTOR 2638262. doi:10.1017/s0018246x00000558 
  • Taylor, A.J.P. The Struggle for Mastery in Europe: 1848–1918 (1954) pp. 62–82.
  • Temperley, Harold W. V. England and the Near East: The Crimea (1936) online
  • Trager, Robert F. "Long-term consequences of aggressive diplomacy: European relations after Austrian Crimean War threats." Security Studies 21.2 (2012): 232-265. Online
  • Troubetzkoy, Alexis S. (2006). A Brief History of the Crimean War. London: Constable & Robinson. ISBN 978-1-84529-420-5 
  • Wetzel, David The Crimean War: A Diplomatic History (1985) Columbia University Press ISBN 0-88033-086-4
  • Zayonchkovski, Andrei (2002) [1908–1913]. Восточная война 1853–1856 [Eastern War 1853–1856]. Col: Великие противостояния (em Russian). St Petersburg: Poligon. ISBN 978-5-89173-157-8 

Historiografia e memórias[editar | editar código-fonte]

  • Gooch, Brison D. "A Century of Historiography on the Origins of the Crimean War", American Historical Review 62#1 (1956), pp. 33–58 in JSTOR
  • Edgerton, Robert B. Death or Glory: The Legacy of the Crimean War (1999) online
  • Kozelsky, Mara. "The Crimean War, 1853–56," Kritika (2012) 13#4 online
  • Lambert, Albert (2003). «Crimean War 1853–1856," in David Loades, ed.». Reader's Guide to British History. 1: 318–19 
  • Lambert, Andrew. The Crimean War: British Grand Strategy Against Russia, 1853–56 (2nd ed. Ashgate, 2011) the 2nd edition has a detailed summary of the historiography, pp. 1–20 excerpt
  • Markovits, Stefanie. The Crimean War in the British Imagination (Cambridge University Press: 2009) 287 pp. ISBN 0-521-11237-0
  • Russell, William Howard, The Crimean War: As Seen by Those Who Reported It (Louisiana State University Press, 2009) ISBN 978-0-8071-3445-0
  • Small, Hugh. "Sebastopol Besieged," History Today (2014) 64#4 pp. 20–21.
  • Young, Peter. "Historiography of the Origins of the Crimean War" International History: Diplomatic and Military History since the Middle Ages (2012) online

Fontes contemporâneas[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Guerra da Crimeia
Ícone de esboço Este artigo sobre história ou um(a) historiador(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.