Issa ibne Iázide Aljuludi
Issa ibne Iázide Aljuludi (em árabe: عيسى بن يزيد الجلودي; romaniz.: Isa ibn Iazid al-Juludi) foi um comandante militar do século IX para o Califado Abássida. Por duas vezes serviu como governador do Egito, de 827 a 829 e novamente de 829 a 830, bem como tornar-se-ia governador do Iêmem em 820.
Vida[editar | editar código-fonte]
Carreira inicial[editar | editar código-fonte]
Na crônica de Tabari, Issa aparece pela primeira vez em 813, próximo do fim da guerra civil entre os califas rivais Alamim (r. 809–813) e Almamune (r. 813–833), como um dos indivíduos que fizeram parte da comitiva de Alamim.[1] após a execução de Alamim em setembro de 813, Issa entrou em serviço de Haçane ibne Sal,[2] que foi nomeado por Almamune como governador de Bagdá, e nos anos subsequentes participou na luta para manter a autoridade de Almamune nos territórios centrais do califado.[3]
Em 815, Issa foi enviado, junto de Uarca ibne Jamil, Handauai ibne Ali e Harune ibne Almoçaiabe para recapturar Meca, Medina e o Iêmem, que haviam caído para os rebeldes álidas. As forças de Uarca e Issa avançaram contra Meca e, após unirem-se com o governador deposto do Iêmem, derrotaram o anti-califa Maomé ibne Jafar Alçadique e entraram na cidade no começo de 816. Alguns meses depois, Issa derrotou uma força enviada para Meca por Ibraim ibne Muça Aljazar, que havia tomado controle do Iêmem, e por volta da mesma época Maomé ibne Jafar concordou em se render e abdicar. Issa então escoltou Maomé para Haçane ibne Sal, deixando seu filho como governador de Meca.[4][5][6]
Após a designação por Almamune do álida Ali ibne Muça Arrida como seu sucessor em 817, Issa foi enviado para Baçorá para prender o governador Ismail ibne Jafar que havia se recusado a obedecer a ordem califal de abandonar a tradicional vestimenta preta abássida em favor da verde álida. Ele então foi para Meca, onde entregou um juramento de lealdade que a população deveria entregar a Ali. Almamune também nomeou Ibraim ibne Muça, que no meio tempo havia perdido o Iêmem para Hamdauai ibne Ali, com governador da província e instruiu Issa a assisti-lo na reconquista. Issa, contudo, permaneceu em Meca e não deu apoio a Ibraim (provavelmente por sua insatisfação com a nova política pró-xiita do califa), que foi derrotado por Hamdauai em 818 e forçado a retornar para Meca.[7][8][9]
Em 820, Almamune ordenou a Issa que retomasse o Iêmem de Hamdauai, que foi então considerado um rebelde. Issa marchou para sul e derrotou Hamdauai no campo de batalha; o último fugiu para Saná, mas Issa o perseguiu, capturou e levou de volta para Almamune.[10][11] Naquele mesmo ano, Issa foi nomeado pelo califa para combater os jates, que rebelaram-se no Iraque e estavam pilhando os arredores de Baçorá e Uacite; Tabari fornece nenhum detalhe da campanha, mas os jates permaneceram ativos até 835.[12][13]
Governo do Egito[editar | editar código-fonte]
Em 827, Issa participou da reconquista do Egito realizada por Abedalá ibne Tair Coraçani,[14] que acabou com o tumulto deflagado no país desde a eclosão da guerra civil.[15] Após o Egito ser pacificado e Abedalá partir em 827, Issa foi nomeado governador representante da província. Quando o irmão do califa, Abu Ixaque (o futuro califa Almotácime, r. 833-842) tomou o lugar de Abedalá e assumiu o governo do Egito em 828, ele confirmou Issa como governador residente da segurança e fieis. Ao mesmo tempo, contudo, Abu Ixaque transferiu o controle dos impostos provinciais, dando-o a Sale ibne Xirzade.[16][17][18][19]
Os tributos elevados e a opressão oriunda da reimposição da autoridade califal no Egito tornaram o governo profundamente impopular e uma rebelião eclodiu no distrito de Haufe, no Baixo Egito. Issa respondeu à revolta ao enviar seu saíbe da xurta (chefe da segurança), seu filho Maomé, com um exército para lutar contra os haufitas. Maomé, contudo, sofreu uma pesada derrota em Bilbeis e por pouco escapou com vida, enquanto boa parte de seus homens foi morta. As notícias da derrota alcançaram Abu Ixaque, que respondeu com a demissão de Issa e a nomeação de Omeir ibne Alualide.[20][21][22][23][24]
O governo de Omeir terminou subitamente em maio de 829, quando perdeu sua vida na batalha contra os rebeldes. Com a morte de Omeir, Abu Ixaque decidiu renomear Issa como governador, e o último tomou do filho de Omeir, Maomé, o controle dos assuntos do país. Issa então organizou uma nova tentativa de debelar a rebelião, mas ms haufitas derrotaram-no em Muniate Matar em setembro de 829, e ele esteve compelido a retirar-se para Fostate após queimar sua bagagem.[25][26][27][23][24]
Após a derrota de Issa, o califa Almamune (r. 813–833) decidiu que reforços eram necessários no Egito e ordenou que Abu Ixaque se dirigisse à província. Abu Ixaque chegou no Egito com 4 000 tropas turcas e rapidamente derrotou os rebeldes em outubro de 829. Após entrar em Fostate em novembro, onde recebeu homenagens de Issa e os notáveis locais, continuou a proteger a província e executar os líderes da rebelião. Cerca do fim do ano os haufitas foram pacificados e Abu Ixaque partiu à Síria em fevereiro de 830, levando consigo grande número de prisioneiros.[28][29][30][23][24] Issa não reteve o governo do Egito após a campanha de Abu Ixaque, sendo ele demitido e substituído por Abdauai ibne Jabalá.[31][32][23]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Precedido por Handauai ibne Ali |
Governador abássida do Iêmen 820 |
Sucedido por Hisne ibne Alminal |
Precedido por Abedalá ibne Tair Coraçani |
Governador abássida do Egito 827–829 |
Sucedido por Omeir ibne Alualide |
Precedido por Omeir ibne Alualide |
Governador abássida do Egito 829–830 |
Sucedido por Abdauai ibne Jabala |
Referências
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 31: pp. 183, 188-89.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: pp. 10, 12, 27.
- ↑ Rekaya 1990, p. 334-36.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: pp. 27-39, 49.
- ↑ Iacubi 1883, p. 544.
- ↑ Geddes 1963–1964, p. 101-02.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: p. 83.
- ↑ Iacubi 1883, p. 544-46.
- ↑ Geddes 1963–1964, p. 102-04.
- ↑ Iacubi 1883, p. 553-54.
- ↑ Geddes 1963–1964, p. 104-05.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: p. 106.
- ↑ Bosworth 2002, p. 574.
- ↑ Alquindi 1912, p. 180.
- ↑ Kennedy 1998, p. 80-82.
- ↑ Alquindi 1912, p. 184-85.
- ↑ ibne Tagribirdi 1930, p. 204-05.
- ↑ Iacubi 1883, p. 561.
- ↑ Kennedy 1998, p. 82-83.
- ↑ Alquindi 1912, p. 185.
- ↑ ibne Tagribirdi 1930, p. 205.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: p. 178.
- ↑ a b c d Iacubi 1883, p. 567.
- ↑ a b c Kennedy 1998, p. 83.
- ↑ Alquindi 1912, p. 186-88.
- ↑ ibne Tagribirdi 1930, p. 207-08.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: p. 181-82.
- ↑ Alquindi 1912, p. 188-89.
- ↑ ibne Tagribirdi 1930, p. 208-09.
- ↑ Tabari 1985–2007, v. 32: p. 182.
- ↑ Alquindi 1912, p. 189.
- ↑ ibne Tagribirdi 1930, p. 209.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Bosworth, C. E. (2002). «Al-Zutt». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume XI: W-Z. Leida e Nova Iorque: Brill. p. 574–575. ISBN 90-04-12756-9
- Alquindi, Maomé ibne Iúçufe (1912). Guest, Rhuvon, ed. The Governors and Judges of Egypt. Leydon e Londres: E. J. Brill
- Geddes, C. L. (1963–1964). «Al-Ma'mūn's Šī'ite Policy in Yemen». Wiener Zeitschrift für die Kunde des Morgenlandes. 59-60: 99–107
- Iacubi, Amade ibne Abu Iacube (1883). Houtsma, M. Th., ed. Historiae, Vol. 2. Leida: E. J. Brill.
- ibne Tagribirdi, Jamaladim Abu Almacim Iúçufe (1930). Nujum al-zahira fi muluk Misr wa'l-Qahira, Volume II. Cairo: Dar al-Kutub al-Misriyya
- Kennedy, Hugh (1998). «Egypt as a province in the Islamic caliphate, 641–868». In: Petry, Carl F. Cambridge History of Egypt, Volume One: Islamic Egypt, 640–1517. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-47137-0
- Rekaya, M. (1990). «Al-Ma'mun b. Harun al-Rashid». The Encyclopedia of Islam, New Edition, Volume VI: Mahk-Mid. Leida e Nova Iorque: Brill. p. 331–339. ISBN 90-04-08112-7
- Tabari, Abu Jafar Maomé ibne Jarir (1985–2007). Yar-Shater, Ehsan (ed.), ed. The History of Al-Ṭabarī. 40 vols. Albany, Nova Iorque: State University of New York Press