Lenço de namorados

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Lenços de namorados
Tipo
bordado (produto) (d)
bordado
Características
Material
linho (en) e algodão (d)Visualizar e editar dados no Wikidata
Técnica
bordado
trabalho de agulhas (en)
Concepção
País de origem
Fabricação
Processos
bordado
trabalho de agulhas (en)
Origem

O lenço dos namorados, também conhecido por lenço de pedido, lenço de conversados, lenço de comprometimento ou lenço de amor, é um lenço cuja origem é atribuída ao Minho, Portugal, feito a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados. É no entanto uma peça de artesanato e vestuário típica do Minho, com uma tradição local bastante marcada nas localidades de Viana do Castelo, Telões, Guimarães e Aboim da Nóbrega, Vila Verde, Amares, sendo tradicionalmente usado por mulheres vistas como tendo idade de casar.[1][2]

História[editar | editar código-fonte]

Pensa-se que a origem dos lenços esteja ligada à nobreza portuguesa dos séculos XVII e XVIII, que se adornava de rendas e motivos bordados, que terão sido imitados pelas mulheres do povo, que criaram estes lenços.[3] Os primeiros lenços deste tipo de que há testemunho datam de finais do século XIX.[4][5]

Era hábito as raparigas bordarem lenços para entregar aos seus amados quando este se fosse ausentar - e que por vezes os rapazes mandavam bordar para oferecer às namoradas. O lenço servia tanto como prova de amor e compromisso, como instrumento de proteção. No entanto, existem também lenços em que a autora revela a disponibilidade do seu coração, e lenços de amor não correspondido. Nos lenços poderiam ter bordados versos, para além de vários desenhos, alguns padronizados, tendo simbologias próprias.[6][7]

Era usado como ritual de conquista. Depois de confeccionado, o lenço acabaria por chegar à posse do homem amado, que o passaria a usar em público - normalmente dobrado ao pescoço - como modo de mostrar que tinha dado início a uma relação. Se o namorado (também chamado de conversado) não usasse o lenço publicamente e o devolvesse, era sinal que tinha decidido não dar início a ligação amorosa.[2][8][9]

Em 1937, o OMEN - Obra das Mães pela Educação Nacional, apoiada pelo Ministério da Educação, contribui para a formação de raparigas em meios rurais, e enraizamento das pessoas em nesses locais. Ligado a esta iniciativa, abre em 1948 o Centro Rural de Formação Familiar de Vila Verde, organização que tinha como um dos seus objectivos a aprendizagem de técnicas de bordado; daqui surgem as primeiras reproduções de lenços de namorados que existiam em vários estados de deterioração. A manutenção deste património cultural teve um papel importante na vida económica das mulheres locais, que podiam utilizar algum do seu tempo diário (maioritariamente empregado em obrigações familiares) para o bordado, que trazia rendimento adicional. Após a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia em 1986, atribuem-se verbas para a formação profissional de jovens sobre arte e técnicas de bordado que permitem sobretudo a mulheres locais, de ter uma actividade económica que lhes aumenta os recursos. Em 1988, a criação da Aliança Artesanal - Cooperativa de Interesse Público de Responsabilidade Limitada, no concelho de Vila Verde, serve para preservar, recuperar, reproduzir e divulgar os lenços de namorados. Através desta organização, a divulgação dos lenços ocorre a nível nacional e leva a que entrem no imaginário popular português de forma mais abrangente, inspirando outras artes (como a cerâmica, têxteis, moda) e comercializando-se de forma mais generalizada.[3][7]

Certificação[editar | editar código-fonte]

Em 2002 iniciou-se a certificação destes lenços, para proteger a comercialização deste produção e das artesãs que se dedicam a esta arte. São mais de 5.000 os Lenços certificados. A marca registada "Lenços de Namorados do Minho", é detida pela Associação para o Desenvolvimento Regional do Minho (ADERE-Minho), e certificado pela A.Certifica (https://acertifica.pt/produtos-certificados/lencos-de-namorados) que é a única entidade acreditada para avaliar de certificar este artesanato regional[10]

Técnica[editar | editar código-fonte]

Os lenços são habitualmente quadrados e bordados em linho ou algodão brancos, e variam em tamanho entre quinze e cinquenta centímetros de lado. São normalmente bordados de forma simétrica do centro para as pontas, e contêm inscrições (que incluem nomes, datas, frases e quadras), e elementos gráficos. Inicialmente usavam ponto-cruz, mas mais tarde outros tipos de ponto foram adicionados, como o ponto-espinha, o ponto cheio, o ponto pé-de-flor, o ponto nó, o ponto canutilho, o ponto em cadeia, o ponto de areia, o crivo, o ponto de recorte, ilhós. Os lenços mais antigos apresentam também um bordado mono ou bi-cromático, com a policromia actual desenvolvida mais tarde. Podem ainda apresentar bainhas abertas e picot.[4][5][7][9]

Simbologia[editar | editar código-fonte]

Os motivos gráficos dos lenços estão normalmente ligados ao amor: casal de namorados, silva, chave, corações; à fidelidade: pombas, cães; ao casamento, através do uso de símbolos religiosos: cruzes, vasos, cibórios, custódias, candelabros. Para além destes, usam-se também motivos relacionados à vida agrícola, com principal destaque para as vindimas: cestas, escadas, cântaros, barris, e também motivos alusivos à emigração: navios, pombas com cartas.[9]

Ortografia[editar | editar código-fonte]

Uma das características particulares destes lenços é o erro ortográfico, que se explica pelas características da pronúncia minhota, transcrita foneticamente por pessoas que tinham domínio parcial das normas de escrita da língua portuguesa, bem como em casos em que bordadeiras copiavam riscos comerciais e se desviavam do modelo.

Hoje em dia, esta situação modificou-se para uma em que as bordadeiras não podem introduzem deliberadamente erros ortográficos por motivos comerciais, fazem replicas de originais com erros e criam lenços inovadores para atrair clientes cujas expectativas relativas aos lenços se geram através de modelos do passado. Estes correspondem à fonética Minhota,a com o resto do país.

Lenços votivos e de casamento[editar | editar código-fonte]

Existe uma variante do lenço de namorados chamada de lenço votivo, lenço de casamento, ou lenço de empenho, que eram lenços que eram utilizados no dia de casamento para complementar a indumentária da noiva; ou lenços que se usavam em dias de festas religiosas para cobrir o ombro de quem segurava o andor, ou para segurar a vara do pálio na procissão, ou velas votivas. Estes lenços são por norma mono ou bi-cromáticos.[7]

Cultura popular[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «ADERE - lenços de namorados». www.adereminho.pt. Arquivado do original em 24 de junho de 2021 
  2. a b Vilela, Paula Filipa Vivas (2012). A etnomatemática nos lenços dos namorados - Dissertação de mestrado em Estudos da Criança (área de especialização em Ensino e Aprendizagem da Matemática). [S.l.: s.n.] 
  3. a b Favaro, Cleci Eulália (17 de dezembro de 2011). «Os lenços de namorados. Tradição, cultura popular e afetividade.». Fronteiras. 13 (24): 151-168. Consultado em 7 de outubro de 2023 
  4. a b Nogueira, Carlos (2013). «Os lenços de namorados: Amor e corpo»Subscrição paga é requerida. Anthropos (2): 622–627. ISSN 0257-9774. Consultado em 7 de outubro de 2023 
  5. a b Durand, Jean-Yves (2005). «Haverá coisas eternas? Vila Verde, os Lenços de Namorados, a tradicão e a inovação». Câmara Municipal de Vila Verde. Boletim Cultural de Vila Verde. 1 (1). Consultado em 7 de outubro de 2023 
  6. «O Leme». www.leme.pt. Consultado em 8 de outubro de 2023. Arquivado do original em 18 de maio de 2022 
  7. a b c d e Cunha, Mário Vilhena da (2021). Lenços de Namorados - Escritas de Amor. Vila Verde: Município de Vila Verde. ISBN 978-989-99066-9-3 
  8. «Lenços de Namorados». Câmara Municipal de Espinho. Arquivado do original em 7 de outubro de 2007 
  9. a b c d Norogrando, Rafaela; Broega, Ana Cristina (2012). «Espaço aberto: O lenço de namorados». dObra[s]: revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda (12): 10–12. ISSN 1982-0313. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  10. O Minho, Publicação periódica (ed.). «Adere-Minho ameaça processar "usurpadores" da marca Lenços de Namorados do Minho». Consultado em 27 de março de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]