Pararu-espelho

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Espécime desenhado entre 1700-1880 e presente nas Coleções Especiais da Universidade de Amesterdã
Espécime desenhado entre 1700-1880 e presente nas Coleções Especiais da Universidade de Amesterdã
Estado de conservação
Espécie em perigo crítico
Em perigo crítico (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Columbiformes
Família: Columbidae
Género: Paraclaravis
Espécie: P. geoffroyi
Nome binomial
Paraclaravis geoffroyi
(Temminck, 1811)
Distribuição geográfica
Distribuição do pararu-espelho
Distribuição do pararu-espelho
Sinónimos
  • Claravis geoffroyi[2]
  • Claravis godefrida (Temminck, 1811)[3]

Pararu-espelho[4] (nome científico: Paraclaravis geoffroyi) é uma espécie de ave columbiforme da família dos columbídeos (Columbidae). Encontra-se em perigo crítico de extinção de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN).

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

O gênero Claravis foi introduzido em 1899 pelo ornitólogo americano Harry C. Oberholser com o pararu-azul (Paraclaravis pretiosa) como espécie-tipo.[5][6] O nome do gênero combina o latim clarus que significa "distinto" ou "claro" com avis que significa "pássaro".[7] Claravis anteriormente incluía o pararu-espelho e o pararu-de-peito-escuro (Paraclaravis mondetoura), além do pararu-azul, mas as duas primeiras espécies foram reatribuídas ao gênero Paraclaravis devido à descoberta de que a Claravis tradicional não era monofilética. Um estudo realizado usando sequências de quatro genes mitocondriais e um gene nuclear, que incluiu representantes de 15 das 17 espécies do grupo, recuperou o pararu-azul como o clado com maior suporte.[8]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

É uma espécie nômade que acompanha a produção de frutas de certas espécies de bambu Guadua da Mata Atlântica, a saber, Guadua chacoensis e Guadua trinii; ela compartilha esse traço com seu parente mais próximo, o pararu-de-peito-escuro, que se especializa em bambu andino. Esse estilo de vida especializado pode ser o que levou a um declínio tão dramático na população da espécie, apesar de sua distribuição anterior relativamente grande, com o desmatamento em massa da Mata Atlântica no final do século XX desencadeando um efeito Allee, semelhante ao ocorrido seu parente extinto, o pombo-passageiro (Ectopistes migratorius), que também dependia de eventos de árvores produtoras de nozes.[9]

Situação[editar | editar código-fonte]

Não houve observações verificáveis da espécie desde a década de 1980 e pode muito bem estar extinta, embora vários registros não verificados tenham sido feitos desde então, sendo o mais recente um avistamento em 2017 de um indivíduo na Argentina em uma área com Guadua trinii. Os modelos de extinção são divididos quanto à existência ou não da espécie; quando apenas fotografias, espécimes e registros são considerados, prevê-se que a espécie tenha sido extinta durante os anos 2000, mas modelos que incorporam registros de visão confirmam que a espécie ainda existe.[9]

A espécie pode ser facilmente confundida com o pararu-azul (Paraclaravis pretiosa) com a qual ocorre em simpatria, em más condições de observação, contribuindo à contestada legitimidade das observações mais recentes. A juriti-vermelha (Geotrygon violacea), outra espécie simpátrica com necessidades de habitat semelhantes, ainda é registrada na região desde a década de 1980, levantando ainda mais dúvidas sobre a sobrevivência do pararu-espelho; redes de neblina na área capturaram regularmente a juriti-vermelha, mas nenhum pararu-espelho. A natureza nômade do pararu-espelho adiciona mais dúvidas à perspectiva de sua sobrevivência, pois é improvável que uma espécie nômade persista em um único local ou viaje por uma grande área invisível. No entanto, a natureza restrita da espécie e a falta de gravações de chamadas até recentemente indicam que a espécie pode ter baixa detectabilidade naturalmente, especialmente fora dos eventos de produção de frutos de bambu.[9]

Se ainda existir, a população total é estimada em 50 a 249 indivíduos. As áreas nas quais a espécie ainda pode persistir incluem a Serra do Mar do Brasil e a província de Misiones da Argentina, pois essas áreas são expansivas e pouco exploradas em comparação com o restante dos remanescentes da Mata Atlântica.[9][10] A espécie foi registrada ao longo dos últimos anos em várias listas de conservação do Brasil: em 2005, foi classifica como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[3] em 2010, como criticamente em perigo na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais de 2010;[11] em 2014, como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo[12] e possivelmente extinta na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[13] e em 2018, como possivelmente extinta no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[2][14]

Em cativeiro[editar | editar código-fonte]

A espécie foi mantida e criada na comunidade avícola brasileira da década de 1970 até o final da década de 1980, chegando a mais de 150 aves em cativeiro. No entanto, novas regulamentações sobre a criação de aves impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) nas décadas de 1970 e 1980 levaram ao desmantelamento da maioria dos grupos, com indivíduos em cativeiro sendo enviados para criadores autorizados pelo IBAMA que tinham pouco conhecimento de como cuidar das aves, o que foi agravado pela falta de conhecimento do perigo de extinção da espécie na natureza na época. Acredita-se que os últimos indivíduos em cativeiro tenham morrido em meados da década de 1990 sem produzir qualquer descendência, marcando o fim de uma das melhores chances de salvar a espécie da extinção. Gravações de som da espécie foram adquiridas de antigos criadores de pombas e podem ser cruciais para detectar a espécie na natureza em pesquisas futuras.[9][10]

Referências

  1. BirdLife International (2012). «Claravis geoffroyi». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2012. Consultado em 27 de abril de 2022 
  2. a b «Claravis geoffroyi (Temminck, 1912)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 27 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
  3. a b «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  4. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 124. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  5. Oberholser, Harry C. (1899). «Some untenable names in ornithology». Proceedings of the Academy of Natural Sciences of Philadelphia. 51: 201–216 [203] 
  6. Peters, James Lee, ed. (1937). Check-List of Birds of the World. 3. Cambrígia, Massachussetes: Imprensa da Universidade de Harvarde. p. 203 
  7. Jobling, James A. (2010). The Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Christopher Helm. p. 110. ISBN 978-1-4081-2501-4 
  8. Sweet, A.D.; Maddox, J.D.; Johnson, K. P. (2017). «A complete molecular phylogeny of Claravis confirms its paraphyly within small New World ground-doves (Aves: Peristerinae) and implies multiple plumage state transitions». Journal of Avian Biology. 48 (3): 459-464. doi:10.1111/jav.01077Acessível livremente 
  9. a b c d e Lees, Alexander C.; Devenish, Christian; Areta, Juan Ignacio; de Araújo, Carlos Barros; Keller, Carlos; Phalan, Ben; Silveira, Luís Fábio (2021). «Assessing the Extinction Probability of the Purple-winged Ground Dove, an Enigmatic Bamboo Specialist». Frontiers in Ecology and Evolution (em English). 9. ISSN 2296-701X. doi:10.3389/fevo.2021.624959Acessível livremente 
  10. a b «New research delivers hope for one of South America's 'lost' bird species». phys.org (em inglês). Consultado em 26 de maio de 2021 
  11. «Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais» (PDF). Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM. 30 de abril de 2010. Consultado em 2 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 21 de janeiro de 2022 
  12. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  13. «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022 
  14. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018