Pessoa de cor

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Pessoas de cor)

O termo pessoa de cor (às vezes abreviado PoC em inglês, person of color)[1] é hoje usado principalmente nos Estados Unidos para descrever qualquer pessoa que não seja considerada branca, inclusive em vários pontos da história dos EUA, como afro-americanos, latino-americanos, asiático-americanos, nativo-americanos[2] e outros. O termo enfatiza experiências comuns de racismo institucional.[3][4] O termo também pode ser usado com outras categorias coletivas de pessoas, como "comunidades de cor", "homens de cor" (MoC) e "mulheres de cor" (WoC).[5] O termo colored ("colorido") era originalmente equivalente em uso ao termo pessoa de cor, mas o uso dessa denominação no sul dos Estados Unidos gradualmente passou a ser restrito a "negros"[6] e agora é considerado um termo pejorativo.[7]

História[editar | editar código-fonte]

O American Heritage Guide to Contemporary Usage and Style cita o uso de "pessoas de cor" já em 1796. Foi inicialmente usado para se referir a pessoas de herança africana e mista. Os colonos franceses usaram o termo gens de couleur ("pessoas de cor") para se referir a pessoas de descendência mista africana e europeia que foram libertadas da escravidão nas Américas.[8] Na Carolina do Sul e em outras partes do sul profundo, esse termo foi usado para distinguir entre escravos que eram na maioria "pretos" ou "negros" e pessoas livres que eram principalmente "mulatas" ou "mestiças".[9] Após a Guerra Civil Americana, "colorido" foi usado como um rótulo exclusivo para americanos negros, mas o termo acabou sendo desvalorizado em meados do século XX.

Embora o ativista norte-americano Martin Luther King Jr. tenha usado o termo "cidadãos de cor" em 1963, a frase em seu significado atual não foi aceita até o final da década de 1970.[10][11] No final do século XX, o termo "pessoa de cor" foi introduzido nos Estados Unidos para combater a condescendência implícita nos termos "não-brancos" e "minoria"[12] e ativistas da justiça racial nos EUA, influenciado por teóricos radicais como Frantz Fanon, popularizou-o neste momento.[13] No final dos anos 80 e início dos 90, estava em ampla circulação.[13] Ativistas anti-racistas e acadêmicos procuraram mover o entendimento da raça para além da dicotomia preto-branco então predominante.[14]

A frase "mulheres de cor" foi desenvolvida e introduzida para amplo uso por um grupo de ativistas de mulheres negras na Conferência Nacional das Mulheres em 1977.[15] A frase foi usada como um método de comunicação de solidariedade entre mulheres não brancas que, segundo Loretta Ross, não se baseava no "destino biológico", mas em um ato político de se nomear.

Há também o uso de QTPoC[16] e TQPoC,[17] que agrupa QPoC (pessoa queer de cor) e[18] TPoC (pessoa transgênero de cor),[19] adicionalmente os usos de BIPoC (pessoas indígenas ou negras de cor),[20] BPoC (pessoa preta de cor),[21] BBIPoC (pessoas pretas, marrons e indígenas de cor),[22] IPoC (pessoa indígena de cor)[23] e NBPoC (pessoa não-negra de cor).[24]

Significado político[editar | editar código-fonte]

Segundo Stephen Saris, nos Estados Unidos existem duas principais divisões raciais. O primeiro é o delineamento "preto-branco". O segundo delineamento racial é aquele "entre brancos e todos os outros", com os brancos sendo "interpretados de maneira restrita" e todos os outros sendo chamados de "pessoas de cor".[25] Como o termo "pessoas de cor" inclui pessoas muito diferentes, com apenas a distinção comum de não ser branco, chama a atenção para o papel fundamental da racialização nos Estados Unidos. Joseph Tuman argumenta que o termo "pessoas de cor" é atraente porque une grupos raciais e étnicos díspares em um coletivo mais amplo, solidário entre si.[26]

O uso do termo "pessoa de cor", especialmente nos Estados Unidos, é frequentemente associado ao movimento de justiça social.[27] Os guias de estilo do American Heritage Guide to Contemporary Usage and Style,[28] da Stanford Graduate School of Business,[29] e do Mount Holyoke College[30] recomendam o termo "pessoa de cor" em detrimento de outras alternativas. Ao contrário de "colorido", que se refere apenas aos negros e geralmente é considerado ofensivo, "pessoa de cor" e suas variantes se referem inclusive a todos os povos não europeus - geralmente com a noção de que há solidariedade política entre eles - e "são virtualmente sempre considerados termos de orgulho e respeito".[5]

Crítica[editar | editar código-fonte]

Muitos críticos, brancos e não brancos, do termo se opõem à sua falta de especificidade e acham a frase racista.[31] Argumentou-se que o termo diminui o foco em questões individuais enfrentadas por diferentes grupos raciais e étnicos.[32] Várias pessoas, brancas e não-brancas, compararam-na com os termos "colorido", "racializado" e "negro". Segundo alguns críticos, o termo implica que brancos ocidentais são sem raça ou sem cor.[33]

Referências

  1. Jackson, Yo (2006). Encyclopedia of Multicultural Psychology. SAGE. Thousand Oaks, CA: [s.n.] ISBN 9781412909488. For example, the person of color (POC) racial identity model describes racial identity development for people of color... 
  2. «Andrew Yang Qualifies for December Democratic Debate». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331 
  3. «Racism and Invisibility». Journal of Emotional Abuse. 6: 9–30. 2006. ISSN 1092-6798. doi:10.1300/J135v06n02_02 
  4. Alvin N. Alvarez; Helen A. Neville (1 de março de 2016). The Cost of Racism for People of Color: Contextualizing Experiences of Discrimination. Amer Psychological Assn. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-4338-2095-3 
  5. a b Houghton Mifflin Company (2005). The American Heritage Guide to Contemporary Usage and Style (PDF). Houghton Mifflin Harcourt. [S.l.: s.n.] 
  6. Trigger, Bruce G. (1978). Northeast. Smithsonian Institution. [S.l.: s.n.] 
  7. Butterly. «Warning: Why using the term 'coloured' is offensive». BBC Newsbeat (em inglês)  |nome3= sem |sobrenome3= em Authors list (ajuda)
  8. Brickhouse, Anna (2009). Transamerican Literary Relations and the Nineteenth-Century Public Sphere. Cambridge University Press. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0521101011 
  9. Powers, Bernard. Black Charlestonians: a Social History 1822-1885. University of Arkansas Press, 1994
  10. William Safire. «On language: People of color». The New York Times 
  11. "The Black Press at 150", editorial, The Washington Post, March 18, 1977
  12. Christine Clark, Teja Arboleda (1999). Teacher's Guide for in the Shadow of Race: Growing Up As a Multiethnic, Multicultural, and "Multiracial" American. Routledge. [S.l.: s.n.] The term People of Color emerged in reaction to the terms "non-white" and "minority." … The term people of color attempts to counter the condescension implied in the other two." 
  13. a b Rinku Sen. «Are Immigrants and Refugees People of Color?». ColorLines 
  14. Elizabeth Martinez. «Seeing More Than Black & White». Z Magazine 
  15. «Loretta Ross on the Phrase "Women of Color"». Sociological Images 
  16. «4 Unique Struggles That Queer and Trans People of Color Have to Deal With» (em inglês). 20 de janeiro de 2016 
  17. «But Can I Pay My Rent Tho?!: Surviving as a TQPOC Artist, Pt. 2» (em inglês) 
  18. «QTBIPOC: Queer & Trans Black, Indigenous, People of Color». queer.ucsc.edu. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  19. «TPOC - Trans Person of Color | AcronymFinder». www.acronymfinder.com. Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  20. «The BIPOC Project». The BIPOC Project (em inglês). Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  21. «Talking about us: BPoC Men* and Masculinity» (em alemão) 
  22. Hill, Myisha T. (fevereiro de 2020). Check Your Privilege: Live into the Work (em inglês). [S.l.]: Dirt Path Publishing 
  23. afreeman (26 de julho de 2019). «Mental Health Collective of Indigenous People and People of Color» (em inglês) 
  24. Smith, Sean Dajour; ContributorSon; Student; Organizer (6 de março de 2017). «Non-Black People Of Color Perpetuate Anti-Blackness Too». HuffPost (em inglês). Consultado em 8 de fevereiro de 2020 
  25. Zack, Naomi (1995). American Mixed Race: The Culture of Microdiversity. Rowman & Littlefield. [S.l.: s.n.] pp. 55–56. ISBN 978-0847680139 
  26. Tuman, Joseph S. (2003). Communicating terror. SAGE. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-7619-2765-5 
  27. Maurianne Adams; Lee Anne Bell; Pat Griffin (1997). Teaching for Diversity and Social Justice: A Sourcebook. Psychology Press. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-415-91057-6 
  28. Houghton Mifflin Company, p. 319
  29. «Stanford Graduate School of Business Writing and Editing Style Guide» (PDF) 
  30. Mount Holyoke College. «Editorial Style Guide» 
  31. Adebola Lamuye. «I am no 'person of colour', I am a black African woman». The Independent 
  32. «As a black woman, I hate the term 'people of colour'» 
  33. Leaverton, David (12 de setembro de 2018). «The Problem with Labels: People of Color». Undivided Nation (em inglês). Arquivado do original em 8 de março de 2021