Província do Ceará

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 Nota: Este artigo é sobre a província. Para outros significados, veja Ceará (desambiguação).



Província do Ceará
Província do Ceará

Província do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves
(1821-1822)
Província do Império do Brasil (1822-1889)


1821 – 1891
Flag Brasão
Bandeira (não oficial) Brasão do Império do Brasil
Localização de Ceará
Localização de Ceará
Localização da Província
Continente América do Sul
País Império do Brasil
Capital Fortaleza
Língua oficial Português
Religião Católica romana [a]
Governo Monarquia constitucional parlamentarista
Presidente de Província
 • 1822 - 1823 José Pereira Filgueiras (primeiro)
 • 1889 Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim (último)
Legislatura Assembleia Legislativa Provincial [b]
Período histórico Século XIX
 • 28 de fevereiro de 1821 Mudança de Capitania para Província
 • 24 de fevereiro de 1891 Proclamação da República
Área
 • 1872[1] 148 825 km2
População
 • 1872[1] est. 721 686 
     Dens. pop. 4,8 hab./km²
Moeda Réis
a. Art. 5º: A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.[2]
b. Criada a partir do Ato Adicional de 1834.

A Província do Ceará foi uma província do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e posteriormente do Império do Brasil, criada a partir da Capitania do Ceará. E que daria, mais tarde, origem ao atual Estado do Ceará, após a promulgação da Constituição de 1891, em 24 de fevereiro daquele ano.[3][4]

Histórico[editar | editar código-fonte]

A Província do Ceará foi uma subdivisão administrativa do Império do Brasil, estabelecida em 1822, com a independência do país. Compreendia uma vasta área territorial no nordeste brasileiro, englobando o atual estado do Ceará e partes dos estados do Piauí e do Maranhão. Durante o período imperial, a província teve um papel significativo na economia e na política do Brasil, contribuindo para o desenvolvimento da região e para a consolidação do poder central.[5]

A economia da Província do Ceará era baseada principalmente na agricultura, com destaque para a produção de algodão, açúcar, café, tabaco e outras culturas comerciais. A pecuária também desempenhava um papel importante, especialmente a criação de gado bovino. Além disso, a região possuía recursos naturais abundantes, como minérios, madeira e recursos hídricos, que impulsionavam a atividade econômica e o desenvolvimento industrial.[6][7]

No aspecto político, a Província do Ceará teve uma participação ativa nos principais acontecimentos do Império do Brasil. Durante o período regencial, o Ceará foi palco de conflitos políticos e sociais, como a Revolta dos Balaios (1838-1841), que foi uma das maiores revoltas populares da história do país. Além disso, a província foi um importante centro de resistência à escravidão, com a presença de movimentos abolicionistas e libertários.[8][9]

Culturalmente, a Província do Ceará contribuiu significativamente para a diversidade cultural do Brasil. A região era habitada por diversas etnias indígenas, como os tapuias e os cariris, que deixaram sua marca na cultura local. Além disso, a presença de colonizadores europeus, africanos escravizados e imigrantes de diversas partes do mundo contribuiu para a formação de uma sociedade multicultural e plural.[10][11]

A Província do Ceará foi extinta em 1889, com a Proclamação da República e a consequente reorganização política do país. No entanto, seu legado perdura até os dias atuais, com a preservação de sua história, cultura e tradições. O Ceará é reconhecido como um estado rico em diversidade cultural, com uma economia diversificada e um povo hospitaleiro e acolhedor.[12][13]

Economia provinciana[editar | editar código-fonte]

A economia da Província do Ceará, no período colonial, era principalmente agrária e dependia fortemente da produção de produtos tropicais, como açúcar, algodão e tabaco, além da pecuária. Essa economia estava integrada ao sistema colonial português, que buscava extrair recursos naturais das colônias para exportação e enriquecimento da metrópole.[14]

Durante os primeiros séculos de colonização, a produção açucareira foi a principal atividade econômica do Ceará. Grandes engenhos foram estabelecidos ao longo da costa para processar a cana-de-açúcar, que era exportada principalmente para a Europa. No entanto, devido a condições climáticas desfavoráveis e à concorrência com outras regiões produtoras, como o leste da região Nordeste e o próprio Sudeste do Brasil, a produção de açúcar no Ceará entrou em declínio a partir do século XVII.[15]

Com o declínio da produção açucareira, outras culturas começaram a ganhar destaque na economia cearense. O algodão tornou-se uma cultura importante, especialmente nas áreas mais secas do interior, devido à resistência da planta à seca e ao solo pobre. O algodão era cultivado em grandes fazendas e exportado para os mercados internacionais, principalmente para a Inglaterra.[16]

Além do algodão, o tabaco também se tornou uma cultura significativa na economia do Ceará colonial. A produção de tabaco era principalmente voltada para o mercado interno, mas também havia exportações para outras regiões do Brasil e para o exterior.

Outra atividade econômica importante na Província do Ceará era a pecuária. O gado era criado em grandes fazendas no interior do estado, onde pastagens extensas ofereciam condições favoráveis para a criação de animais. O gado era utilizado para consumo local, bem como para abastecer outros mercados, como o do Recife.[17]

Além das atividades agrícolas e pecuárias, a economia da Província do Ceará também incluía o comércio e a manufatura em menor escala. As cidades costeiras, como Fortaleza, serviam como centros comerciais e portos para o escoamento da produção agrícola e a importação de bens manufaturados da Europa.[18]

Abolicionismo[editar | editar código-fonte]

A abolição da escravidão no Ceará, assim como em outras partes do Brasil, foi um processo gradual e complexo que culminou com a libertação dos escravos em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea em nível nacional.[19]

No contexto histórico do Ceará, a abolição foi resultado de uma série de fatores sociais, econômicos e políticos que contribuíram para a gradual eliminação do sistema escravista na região. Entre esses fatores, destacam-se a resistência dos escravos, movimentos abolicionistas, mudanças econômicas e pressões internacionais.[20]

Movimentos abolicionistas ganharam força no Ceará a partir da segunda metade do século XIX, influenciados por ideias iluministas, pela revolta dos escravos em outras regiões do país e pela crescente pressão internacional contra a escravidão. Sociedades abolicionistas foram formadas, como a Sociedade Libertadora Cearense, que lutava pela libertação dos escravos e pela abolição da escravidão.[21]

Além disso, mudanças econômicas também contribuíram para o fim da escravidão no Ceará. O declínio da economia açucareira e a ascensão da economia do algodão e do comércio de gado tornaram o sistema escravista menos lucrativo e viável. O trabalho assalariado e livre passou a ser mais vantajoso para os proprietários de terras.[22]

Em 1884, o Ceará decretou a libertação de todos os escravos da província, tornando-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão, antecipando-se à Lei Áurea, que foi assinada em 1888. Essa decisão histórica foi resultado de anos de luta e mobilização por parte dos abolicionistas e da pressão popular pela libertação dos escravos.[23]

Após a abolição, os ex-escravos enfrentaram desafios significativos de integração na sociedade, incluindo a falta de moradia, educação e oportunidades de emprego. Muitos migraram para áreas urbanas em busca de trabalho e melhores condições de vida, contribuindo para a formação da população afrodescendente no Ceará.[24]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. IBGE. «Tabela 1286 - População e Distribuição da população nos Censos Demográficos». SIDRA IBGE. Consultado em 16 de novembro de 2011 
  2. «Constituição Política do Império do Brasil». planalto.gov.br. 25 de março de 1824. Consultado em 20 de maio de 2023 
  3. «Província do Ceará (1821-1891) Archives». Impressões Rebeldes. Consultado em 4 de março de 2024 
  4. Caxilé, Carlos Rafael Vieira (2006). «Abolição na Província do Ceará: a sociedade cearense libertadora e seus ideais». Espaço Plural (14): 28–31. ISSN 1981-478X. Consultado em 4 de março de 2024 
  5. «Diario do Conselho Geral da Provincia do Ceara (CE) - 1830 - DocReader Web». memoria.bn.br. Consultado em 4 de março de 2024 
  6. Cunha, George (31 de março de 2021). «O ALGODÃO NA ECONOMIA DA PROVÍNCIA DO CEARÁ DURANTE O SÉCULO XIX: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA IMPORTÂNCIA». RDE - Revista de Desenvolvimento Econômico (47). doi:10.21452/rde.v3i47.6850. Consultado em 4 de março de 2024 
  7. Rocha, Anderson Coelho Da (18 de fevereiro de 2021). «NOS SERTÕES DOS OITOCENTOS: escravidão, liberdade e criminalidade nos sertões da província do Ceará (1830-1888)». Outros Tempos: Pesquisa em Foco - História (31): 212–232. ISSN 1808-8031. doi:10.18817/ot.v18i31.829. Consultado em 4 de março de 2024 
  8. Silva, Leandro Maciel (8 de agosto de 2013). «Tristão de Alencar Araripe e a história da província do Ceará: contribuição à história nacional.». repositorio.ufpb.br. Consultado em 4 de março de 2024 
  9. Freitas, Bruno Cordeiro Nojosa de (2007). «Exaltação dos eleitos: a Província do Ceará nas eleições das décadas de 1850 e 60 e seus amálgamas sociais». Consultado em 4 de março de 2024 
  10. Silva, Bárbara Eliza Soares (2012). «Uma história da educação: A invenção da instrução pública na província do Ceará (1858-1889)». Consultado em 4 de março de 2024 
  11. Fernandes, Ana Carla Sabino (20 de junho de 2012). «"Archive-se!" História, documentos e memória arquivística no Ceará (1835-1934)». Consultado em 4 de março de 2024 
  12. Cavalcanti, José Pompeu de Albuquerque (1888). «Chorographia da provincia do Ceará : o Ceará em 1887». Consultado em 4 de março de 2024 
  13. «Comandante das Armas da Província do Ceará - Arquivo Histórico». arquivohistorico.camara.leg.br. Consultado em 4 de março de 2024 
  14. Cunha, George Henrique de Moura (12 de setembro de 2019). «Ensaios sobre a economia da província do Ceará durante do século XIX». REVISTA ECONOMIA POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO (21): 98–111. ISSN 1984-0756. doi:10.28998/repd.v9i21.8746. Consultado em 4 de março de 2024 
  15. PARENTE CORTEZ, ANA SARA RIBEIRO (15 de dezembro de 2014). «"A CONVENCIONAL RECUSA DA POPULAÇÃO A CERTOS TRABALHOS AGRÍCOLAS, QUE JULGÃO DESTINCTIVO DA ESCRAVIDÃO": o trabalhador ideal para o Cariri Cearense da segunda metade do século XIX». Outros Tempos: Pesquisa em Foco - História (18). ISSN 1808-8031. doi:10.18817/ot.v11i18.317. Consultado em 4 de março de 2024 
  16. Cunha, George (31 de março de 2021). «O ALGODÃO NA ECONOMIA DA PROVÍNCIA DO CEARÁ DURANTE O SÉCULO XIX: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A SUA IMPORTÂNCIA». RDE - Revista de Desenvolvimento Econômico (47). doi:10.21452/rde.v3i47.6850. Consultado em 4 de março de 2024 
  17. «Economia Ceará, um estudo sobre a economia da região | Guia do Turista». www.guiadoturista.net. Consultado em 4 de março de 2024 
  18. Lemenhe, Maria Auxiliadora de Abreu Lima (1981). «A economia pastoril e as vilas coloniais no Ceará». ISSN 0041-8862. Consultado em 4 de março de 2024 
  19. «Muito além do 13 de maio: há 135 anos, o Ceará tornava-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão». Fundação Cultural Palmares. Consultado em 4 de março de 2024 
  20. «Você sabia que o Ceará foi o primeiro estado a abolir a escravidão no Brasil? Conheça a história do feriado estadual». G1. 25 de março de 2022. Consultado em 4 de março de 2024 
  21. «Ceará celebra os 136 anos da abolição da escravidão no estado nesta quarta (25)». Brasil de Fato. 24 de março de 2020. Consultado em 4 de março de 2024 
  22. Fortaleza, Câmara Municipal de. «Libertação dos escravos no Ceará completa 135 anos « Câmara Municipal de Fortaleza». Consultado em 4 de março de 2024 
  23. Antonelli, Diego (9 de maio de 2021). «Entenda como a província do Ceará se tornou a primeira a abolir a escravidão no Brasil». Aventuras na História. Consultado em 4 de março de 2024 
  24. dos Santos, Maria Emília Vasconcelos (2016). «Antes Do 13 De Maio: O 25 De Março No Ceará E O Movimento Abolicionista Em Pernambuco». Afro-Ásia (53): 149–183. Consultado em 4 de março de 2024 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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