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A Caça (curta-metragem)

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(Redirecionado de A Caça (1964))
A Caça
Portugal Portugal
1964 •  cor •  21 min 
Género drama
Direção Manoel de Oliveira
Roteiro Manoel de Oliveira
Elenco António Rodrigues Sousa
João Rocha Almeida
Albino Freitas
Manuel de Sá
Música Joly Braga Santos
Diretor de fotografia Manoel de Oliveira
Distribuição Filmes Lusomundo
Lançamento 20 de Janeiro de 1964
Idioma português

A Caça (1964) é uma curta-metragem de ficção de Manoel de Oliveira. O filme tem origem numa notícia de jornal em que o autor se baseia para escrever o argumento[1] [2]

Há quem destaque a «dimensão simbólica» deste filme pelas referências subliminares à mitologia clássica que contém: o plano inserido de uma estátua de Diana, deusa da caça, a implícita alusão a um neto de Apolo, Acteon, exímio caçador que sucumbirá pela sua obstinação[3][4]. Não sendo porventura tão simbólico como isso, este filme conta no entanto um história exemplar em que a virtude da solidariedade falha por desentendimento... Ou acaba por resultar por força das circunstâncias.

Outra particularidade deste filme reside em dois factores, um deles tão importante como o outro para a compreensão da carreira de Manoel de Oliveira. O primeiro consiste numa construção puramente cinematográfica da narrativa, com planos curtos e cuidadamente articulados, como no Douro, Faina Fluvial, com diálogos verosímeis e curtos também, como em certos outros filmes seus. O segundo consiste na vertente da história que envolve gente de uma aldeia pobre e que dela traça um fiel retrato. Nesta tentativa se distingue o celebrado Manoel pela tentação algo obstinada de retratar em muitos outros filmes, desde O Passado e o Presente (1971), certa aristocracia, certas individualidades históricas, em décors monumentais, palácios ou aburguesadas mansões, ou em cenários artificiais e estilizados, em planos longos ou estáticos, em monólogos ou diálogos declamados, em teatro filmado, tendência essa que se extrema em O Sapato de Cetim (1985).

Feito o balanço dessas tentativas e tentações desde a sua primeira longa-metragem, Aniki Bóbó (1942), verifica-se serem maioritários os filmes teatrais na obra do «Mestre». Curiosamente porém, nos seus filmes mais recentes o estilo cinematográfico é mais recorrente que a pesadíssima teatralidade das suas “grandes” obras, coisa ainda por explicar mas cuja explicação por certo lançará nova luz sobre o percurso do veterano cineasta.

A Caça estreia em Lisboa no “Estúdio” do Cinema Império[5][6] a 23 de setembro de 1970.

Pela calada da noite, uma atrevida raposa mete-se num galinheiro e papa uma galinha. O José, rapaz desembaraçado, sai de casa sem dar por isso e junta-se ao seu amigo Roberto, que com ele se confronta em lutas corpo-a-corpo e o segue em brincadeiras insensatas, provocando venerandos e pacíficos habitantes da aldeia.

Ambos têm um fraquinho pela caça. O Roberto vai ter com o pai, que cumpre a rotina de limpar carcaças de gado abatido. Pede-lhe que lhe empreste a espingarda para ir caçar com o amigo, mas e prudente papá recusa. Frustrados, lá vão os rapazolas, cometendo várias tropelias pelo caminho. Metem-se pelo lameiro fora e cruzam-se com dois vigilantes armados que deambulam à caça de caçadores furtivos, que os rapazes acabam também por provocar.

O Roberto tem uma fisga, a única arma com que poderão matar algum incauto passarinho. O José vai de mãos vazias. Passada a linha férrea que atravessa os campos, tomados pelo tédio, separam-se. Nisto, o Roberto é alertado por um grito de socorro do amigo. Corre ao seu encontro e dá com ele afundado até à cintura numa grande poça de lama. Assustado, vê que nada pode fazer sem risco de vida. O amigo enterra-se cada vez mais. Lança-se então o Roberto em desesperada correria, pedindo socorro a quem não o ouve. Só chegado de regresso à aldeia consegue convencer quem antes provocara a mobilizar gente para salvar o amigo.

Vários homens acorrem. Para conseguirem retirá-lo da poça formam uma fila em que se agarram uns aos outros mão a mão. No extremo da fila, um velho maneta aventura-se metendo-se dentro de água. O José está completamente imerso. O velho consegue deitar-lhe a única mão que tem, mas a cadeia quebra-se. O maneta, que tem o José aparentemente morto fisgado com a mão esquerda e o couto da mão direita erguido no ar, grita para os outros: «A mão. A mão!». O grupo desentende-se em contenda, a cadeia solidária desfaz-se. O José e o maneta afundam-se. E o filme acaba.

O que não chega a acontecer. A censura do regime salazarista está de olho vivo para coisas destas e exige a Oliveira que altere a história com um final feliz, se quer o subsídio prometido e a fita nos cinemas. Resultado: refaz-se a cadeia solidária e tanto o maneta como o José saem vivos do buraco em que se meteram[7].

Moral da história: na versão original, a quebra de solidariedade entre os homens é mortal. Na versão censurada, a solidariedade persistente é salvadora.

Qual a diferença entre tais constatações se uma implica obrigatoriamente a outra? Por que motivo validar a primeira e rejeitar a segunda se isso implica omitir um facto, importante e intrínseco ao filme, de relevância história e política? Preferir uma versão ou outra não será nunca decisão inocente. Resta perceber porquê.

Ficha artística

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  • Argumento e diálogos : Manoel de Oliveira
  • Realização: Manoel de Oliveira
  • Assistente de realização: Domingos Carneiro
  • Género: drama
  • Actores: António Rodrigues Sousa (José), João Rocha Almeida (Roberto), Albino Freitas (Sapateiro), Manuel de Sá (Maneta), entre outros habitantes de uma aldeia.
  • Música: Joly Braga Santos

Ficha técnica

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  • Direcção de fotografia: Manoel de Oliveira
  • Imagem: António Lopes Fernandes
  • Director de som: Manoel de Oliveira
  • Operadores de som: Fernando Jorge e Manuel Fortes
  • Formato: 16 mm ampliado para 35 mm
  • Duração: 21min.
  • Montagem: Manoel de Oliveira
  • Produção: Manoel de Oliveira (colaboração da Tobis Portuguesa)
  • Exteriores: Vagueira, Ílhavo
  • Rodagem: Outono 1959 a 1963
  • Laboratórios: Tobis Portuguesa e Ulyssea Filme
  • Antestreia: Cinema São Luiz (Festival Internacional de Arte Cinematográfica), a 20 de janeiro de 1964
  • Distribuição: Filmes Lusomundo
  • Estreia: Estúdio do Cinema Império, Lisboa, 23 setembro de 1970

Referências

Ligações externas

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