Aliança Luso-Britânica
A Aliança Luso-Britânica, em Portugal conhecida vulgarmente como Aliança Inglesa, entre o Reino da Inglaterra (sucedido pelo Reino Unido) e o Reino de Portugal (sucedido pela República Portuguesa) é a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor.[1] Foi instituída pelo Tratado Anglo-Português de 1373, durante a Idade Média.[2][3] A aliança já não é invocada, ainda que se mantenha. Ao longo da história de Portugal teve importantes consequências, ao colocar o país frente às tropas napoleónicas, devido à rejeição lusa do Bloqueio Continental, incompatível com os termos desta aliança. No período pós-guerra, a Inglaterra manteve um largo contingente militar e determinados privilégios em território português.[4]
História
[editar | editar código-fonte]Idade Média
[editar | editar código-fonte]A ajuda inglesa à Casa de Avis foi o primeiro patamar de um conjunto de ações de cooperação com Inglaterra que viriam a ser de extrema importância na política externa portuguesa por mais de 500 anos.[1] Em 9 de maio de 1386, o Tratado de Windsor afirmava uma aliança que já tivera o seu gérmen em 1294, e que fora confirmada em Aljubarrota com um pacto de amizade perpétua entre os dois países. João de Gant duque de Lencastre, filho de Eduardo III de Inglaterra, teve o apoio português nas suas tentativas de ascender ao trono de Castela, apesar de D. Fernando I também o reclamar para si. Pelo Tratado de Tagilde de 10 de julho de 1372, os dois pretendentes decidem unir esforços contra o mesmo rival, deixando para depois qualquer decisão quanto às pretensões ao trono. Contudo, desta união resultou apenas uma derrota, que se viria a repetir em 1385, com compensação financeira para João de Gante por parte do seu rival, Henrique da Trastâmara. Portugal tinha reafirmado a aliança pelo Tratado de Londres de 16 de junho de 1373, considerado por alguns autores como o seu fundamento jurídico, mas ratificado em Windsor.
João de Gante deu, entretanto, a mão de sua filha, Filipa de Lencastre, a D. João I — ato que selou a aliança política. A influência de Filipa de Lencastre foi notável, tanto no ponto de vista da sua descendência (a Ínclita Geração) bem como pela sua intervenção no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, incentivando as importações de bacalhau e vestuário de Inglaterra e a exportação de cortiça, sal, vinho e azeite, a partir dos armazéns do Porto.
Do século XVII ao século XIX
[editar | editar código-fonte]Após a Restauração, o tratado de 1642 reafirmou a amizade recíproca entre os dois reinos, e concedeu liberdade de comércio aos ingleses nos domínios de Portugal. Em 1661, foi assinado o tratado de Paz e Aliança entre Portugal e a Grã-Bretanha, marcando o início da predominância económica inglesa sobre Portugal e suas colónias. Ficou acordado o casamento de Carlos II de Inglaterra com D. Catarina de Bragança, entregando-se aos ingleses as cidades de Tânger em Marrocos e Bombaim e Colombo na Índia.
O Tratado de Methuen, em 1703, deu livre entrada aos lanifícios ingleses em Portugal e redução das tarifas impostas à importação de vinhos portugueses em Inglaterra.
Outros episódios que marcaram a aliança foram, por exemplo, a Guerra da Sucessão Espanhola em que Portugal começou por estar ao lado de França, em conjunto com o Duque de Saboia, mas voltando a reunir-se ao seu aliado depois da Batalha de Blenheim. Para Portugal, contudo, teve maior importância as implicações da aliança para o desencadear das Invasões francesas e para a resposta militar que permitiria conservar a independência com a ajuda militar inglesa, cuja frota acompanhou a família real para o Brasil.
Em consequência da divisão de África pelas potências europeias, as relações entre Portugal e o Reino Unido entraram em crise, agravada pela Questão de Bolama e pelo Ultimato Britânico, que gerou uma forte reação patriótica contra os Britânicos.[5]
Século XX
[editar | editar código-fonte]Durante o século XX, o tratado voltou a ser invocado por diversas vezes:
- As tropas portuguesas participaram na Campanha de França, na Primeira Guerra Mundial, depois da solicitação, por parte da Grã-Bretanha, da requisição de todos os navios alemães em portos portugueses — o que motivou a declaração de Guerra da Alemanha a Portugal em 9 de Março de 1916.
- Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar da neutralidade portuguesa, a aliança foi invocada para o estabelecimento de bases militares nos Açores.
- Em 1961, durante a ocupação da Índia Portuguesa (Goa, Damão e Diu) pela União Indiana, o Reino Unido limitou-se a mediar o conflito, o que levou Salazar a considerar a aliança numa crise insanável.
- Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, as bases militares nos Açores estiveram de novo à disposição da Marinha Real Britânica.
Importância na atualidade
[editar | editar código-fonte]Hoje em dia, os dois países são membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO/OTAN), sendo as suas relações mais coordenadas por essa instituição do que pelos pontos previstos nos diversos tratados que formam a totalidade da Aliança.[6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Tratado Anglo-Português de 1373
- Tratado Anglo-Português de 1878
- Tratado de Windsor (1386)
- Relações entre Portugal e Reino Unido
Referências
- ↑ a b «O Tratado de Windsor, a mais antiga aliança diplomática do mundo». O Tratado de Windsor, a mais antiga aliança diplomática do mundo. Consultado em 15 de outubro de 2019
- ↑ «Portugal assina com a Inglaterra a mais antiga aliança entre nações (13-06-1373 D.C.)». History. Consultado em 16 de junho de 2016. Cópia arquivada em 2 de outubro de 2015
- ↑ «Fatos históricos do dia 13 de junho». O Sul. 13 de junho de 2016. Consultado em 16 de junho de 2016. Cópia arquivada em 16 de junho de 2016
- ↑ Infopédia. «Artigo de apoio Infopédia - Aliança Luso-Britânica». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 15 de outubro de 2019
- ↑ «Ultimato britânico». www.parlamento.pt. Consultado em 15 de outubro de 2019
- ↑ Joana Teles (13 de junho de 2016). «13 de junho, o dia em que Portugal viu nascer e morrer grandes nomes». PT Jornal. Consultado em 16 de junho de 2016. Cópia arquivada em 16 de junho de 2016
Leitura adicional
[editar | editar código-fonte]- Leite, Joaquim da Costa (1998). «Neutrality by Agreement: Portugal and the British Alliance in World War II». American University International Law Review. 14 (1): 185–199. Consultado em 8 de novembro de 2014
- Este artigo incorpora material em domínio público do sítio eletrônico ou documento de Estudos sobre Países da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.