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Autolesão

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Autolesão
Autolesão
Cicatrizes no antebraço causadas por lesões autoinfligidas
Sinónimos Lesão autoprovocada intencionalmente (CID-10), lesão autoinfligida, automutilação (em desuso)
Especialidade Psiquiatria
Classificação e recursos externos
CID-10 X60X84
DiseasesDB 30605 29126
MeSH D016728
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Autolesão ou lesão autoprovocada intencionalmente é qualquer lesão intencional e direta dos tecidos do corpo provocada pela própria pessoa, mas sem que haja intenção de cometer suicídio.[1][2][3] A forma mais comum de autolesão é a utilização de um objeto afiado para cortar a pele. No entanto, o termo descreve uma ampla diversidade de comportamentos, incluindo queimaduras, arranhões, bater em ou com partes do corpo, agravar lesões existentes, arrancar cabelos ou ingerir objetos ou substâncias tóxicas.[2][4][5]

Os comportamentos relacionados com o abuso de substâncias ou distúrbios alimentares geralmente não são considerados autolesões, uma vez que eventuais lesões daí decorrentes são apenas efeitos secundários não intencionais.[6] No entanto, a linha divisória nem sempre é clara e alguns destes casos podem ser considerados autolesões quando haja intenção deliberada de causar lesões nos tecidos.[6] Embora o suicídio não tenha como objetivo causar lesões, a relação entre as duas condições é complexa, dado que muitas das formas de autolesão apresentam também um elevado risco de morte.[7] O risco de suicídio é maior em indivíduos que auto-infligem lesões[4][8] e em 40–60% dos casos de suicídio verificam-se também autolesões.[9] No entanto, nem todas as pessoas que se autolesionam apresentam tendências suicidas.[10][11]

O desejo de provocar lesões em si próprio é um sintoma comum de perturbação de personalidade borderline, podendo ainda ser observado em alguns casos de outras perturbações mentais como depressão, perturbações de ansiedade, abuso de substâncias, perturbações alimentares, perturbação de stresse pós-traumático, esquizofrenia e várias perturbações da personalidade.[2] No entanto, as autolesões também podem ocorrer em pessoas com elevado grau funcional sem qualquer outra perturbação mental subjacente.[6] Os motivos para infligir autolesões variam.[12] Algumas pessoas usam-nas como mecanismo de enfrentamento para obter alívio temporário de sentimentos intensos como ansiedade, pressão, stresse, alheamento emocional ou insucesso. Em muitos casos, as autolesões estão associadas a antecedentes de trauma psicológico, como abusos psicológicos ou sexuais.[13][14] Existem vários métodos que podem ser usados para tratar os casos de autolesão. Estes métodos focam-se tanto no tratamento das causas subjacentes como no comportamento em si. Quando os casos de autolesão estão associados a perturbações depressivas, a psicoterapia e antidepressivos podem ser eficazes.[8] Outras abordagens envolvem técnicas evasivas, que se focam em manter a pessoa ocupada com outras atividades, ou em substituir o ato de se lesionar por outros métodos mais seguros que não causem lesões permanentes.[15]

Em 2013 ocorreram cerca de 3,3 milhões de casos de autolesões.[16] A condição é mais comum entre os 12 e os 24 anos de idade.[1][5][6][17][18] A autolesão em crianças é relativamente rara, embora a sua incidência tenha vindo a aumentar desde a década de 1980.[19] No entanto, a autolesão pode ocorrer em qualquer idade.[12][20] O risco de lesões graves e de suicídio é maior entre os idosos que se autolesionam.[18] O comportamento de autolesão não está limitado ao ser humano, sendo observado também em animais de cativeiro.[21] Os termos "autolesão" ou "lesão autoprovocada intencionalmente" têm sido usados na literatura recente para descrever o fenómeno com uma terminologia neutra. Na literatura mais antiga, sobretudo na que antecede o DSM-5, o termo usado era quase exclusivamente automutilação.

Referências

  1. a b Laye-Gindhu, A.; Schonert-Reichl, Kimberly A. (2005), «Nonsuicidal Self-Harm Among Community Adolescents: Understanding the "Whats" and "Whys" of Self-Harm», Journal of Youth and Adolescence, 34 (5): 447–457, doi:10.1007/s10964-005-7262-z 
  2. a b c Klonsky, D. (2007), «The functions of deliberate self-injury: A review of the evidence», Clinical Psychological Review, 27 (2): 226–239, PMID 17014942, doi:10.1016/j.cpr.2006.08.002 
  3. Muehlenkamp, J. J. (2005), «Self-Injurious Behavior as a Separate Clinical Syndrome», American Journal of Orthopsychiatry, 75 (2): 324–333, PMID 15839768, doi:10.1037/0002-9432.75.2.324 
  4. a b Skegg, K. (2005), «Self-harm», Lancet, 366: 1471–1483, doi:10.1016/s0140-6736(05)67600-3 
  5. a b Truth Hurts Report, ISBN 978-1-903645-81-9, Mental Health Foundation, 2006, consultado em 11 de junho de 2008 
  6. a b c d Klonsky, E. D. (2007), «Non-Suicidal Self-Injury: An Introduction», Journal of Clinical Psychology, 63 (11): 1039–43, PMID 17932979, doi:10.1002/jclp.20411 
  7. Farber, S.; et al. (2007), «Death and annihilation anxieties in anorexia nervosa, bulimia, and self-mutilation», Psychoanalytic Psychology, 24 (2): 289–305, doi:10.1037/0736-9735.24.2.289 
  8. a b Haw, C.; et al. (2001), «Psychiatric and personality disorders in deliberate self-harm patients», British Journal of Psychiatry, 178 (1): 48–54, PMID 11136210, doi:10.1192/bjp.178.1.48 
  9. Hawton K., Zahl D. and Weatherall, R. (2003), «Suicide following deliberate self-harm: long-term follow-up of patients who presented to a general hospital», British Journal of Psychiatry, 182: 537–542, PMID 12777346, doi:10.1192/bjp.182.6.537 
  10. Fox, C; Hawton, K (2004), Deliberate Self-Harm in Adolescence, ISBN 978-1-84310-237-3, London: Jessica Kingsley 
  11. Suyemoto, K. L. (1998), «The functions of self-mutilation», Clinical Psychology Review, 18 (5): 531–554, PMID 9740977, doi:10.1016/S0272-7358(97)00105-0 
  12. a b Swales, M., Pain and deliberate self-harm, The Welcome Trust, consultado em 26 de maio de 2008, arquivado do original em 16 de setembro de 2008 
  13. Meltzer, Howard; et al. (2000), Non Fatal Suicidal Behaviour Among Adults aged 16 to 74, ISBN 0-11-621548-8, Great Britain: The Stationery office 
  14. Rea, K., Aiken, F., and Borastero, C. (1997), «Building Therapeutic Staff: Client Relationships with Women who Self-Harm», Women's Health Issues, 7 (2): 121–125, doi:10.1016/S1049-3867(96)00112-0 
  15. Klonsky, E. D.; Glenn, C. R. (2008), «Resisting Urges to Self-Injure», Behavioural and Cognitive Psychotherapy, 36 (02): 211–220, doi:10.1017/S1352465808004128 
  16. Global Burden of Disease Study 2013, Collaborators (22 de agosto de 2015). «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 301 acute and chronic diseases and injuries in 188 countries, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.». Lancet. 386 (9995): 743–800. PMC 4561509Acessível livremente. PMID 26063472. doi:10.1016/s0140-6736(15)60692-4 
  17. Schmidtke A; et al. (1996), «Attempted suicide in Europe: rates, trends and sociodemographic characteristics of suicide attempters during the period 1989–1992», Acta Psychiatrica Scandinavica, 93 (5): 327–338, PMID 8792901, doi:10.1111/j.1600-0447.1996.tb10656.x 
  18. a b National Institute for Clinical Excellence (2004), National Clinical Practice Guideline Number 16: Self-harm (PDF), The British Psychological Society, consultado em 13 de dezembro de 2009 
  19. Thomas B; Hardy S; Cutting P (1997), Stuart and Sundeen's mental health nursing: principles and practice, ISBN 978-0-7234-2590-8, Elsevier Health Sciences, p. 343 
  20. Pierce, D. (1987), «Deliberate self-harm in the elderly», International Journal of Geriatric Psychiatry, 2 (2): 105–110, doi:10.1002/gps.930020208 
  21. Jones I. H.; Barraclough B. M. (2007), «Auto-mutilation in animals and its relevance to self-injury in man», Acta Psychiatrica Scandinavica, 58 (1): 40–47, PMID 99981, doi:10.1111/j.1600-0447.1978.tb06918.x