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Botoque

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Líder caiapó Raoni usando seu botoque

Botoque ou batoque é um ornamento feito de um pedaço circular, geralmente de madeira, introduzido nas orelhas, narinas ou lábio inferior por alguns povos, como algumas tribos indígenas brasileiras[1][2] e africanas.[3][nota 1] O artefato, originalmente chamado metara pelos indígenas brasileiros[2], foi renomeado “botoque” pelos portugueses por se parecer com os orifícios de barris ou tonéis, que se fecham com rolhas[4].

Este objetos às vezes são descritos como tembetás, outro adorno utilizado pelos indígenas nas Américas. A diferença entre ambos é que o botoque tem formato circular e o tembetá tem formato alongado.

Contudo, seu uso não é restrito a essa região, possuindo registros também no continente africano.

Nos grupos indígenas brasileiros, o botoque tem importante associação com a oratória e o canto[carece de fontes?]. Os maiores desses artefatos são usados pelos grandes oradores e chefes de guerra, como o conhecido líder Raoni dos caiapós.

Registros históricos em etnias brasileiras

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Da chegada portuguesa ao século XIX

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Os grupos indígenas brasileiros mais reconhecidos pelo adorno com botoques são os botocudos e caiapós. A aparência marcante causada pelo alargamento dos lábios e orelhas acabava por enquadrar etnias diferentes em um único grupo, de forma genérica, no início das explorações no Brasil.

Alguns exploradores e viajantes de origem europeia, no entanto, registraram esta prática em outras etnias como os Tupinambás, os Caraíbas e os

Charruas[5].

Os registros históricos deixados por estes exploradores e viajantes mostram que a percepção sobre os botoques não era positiva, visto que possuíam ideais de beleza ocidentais ou europeus. Estes ideais eram diferentes daqueles cultivados pelos povos indígenas. Assim, mesmo no século XIX, as descrições dos botoques eram frequentemente associadas à feiura, à deformidade e à hábitos primitivos, como pode se inferir pelas menções seguintes.

Ano Localização Menção Autor
1809 antigo aldeamento de Lorena dos Tocoyos, nas cercanias do rio Jequitinhonha Ao descrever a visita de indígenas "Botocudos Ambarés" ou Aimorés:

"Na última partida vinham dois meninos, um dos quais ainda não trazia botoque, teria de dez até doze anos e é hum dos meninos mais lindos que tenho visto (...) da última partida resolveram-se alguns a comer (...) e deste o que mais lhes agradou foi o mel de açúcar e o bebião, adaptando o vaso entre o botoque e o lábio superior, de sorte que não lhes escapava uma gota".

José Pereira Freire de Moura [6]
1841 Indeterminada Ao tratar sobre os índios botocudos:

"O que caracteriza os botocudos de ambos os sexos é a medonha moda de furar o beiço inferior e as pontas das orelhas, para lhes meter enormes discos ou rodelas de pau, que vão fazendo maiores com a idade (...). Usam da madeira das árvores chamadas 'barrigudas', ainda novas. Quando as crianças começam a crescer, furam-lhes as orelhas e os beiços, e aí lhes metem um pedaço de pau, primeiramente pequeno, para depois lhes substituírem outro maior quando a ferida está cicatrizada. Acrescentada assim gradualmente, esta rodela chega a ser de três polegadas de diâmetro. Tirada a rodela, o beiço fica pendurado até para baixo da ponta do queixo. Posto que sejam mais bonitas e engraçadas que os homens, as mulheres se tornam também disformes com esta moda".

Indeterminado[4]
1867 Indeterminada "A mutilação do lábio inferior e orelhas (...) é costume que encontramos em selvagens de todas as partes do globo (...), mas na América Meridional acham-se os modos mais extravagantes, e entre eles os Botocudos se distinguem pela exageração. (...) A vontade do pai determina a época de dar ao filho este singular ornato; mas tem isso lugar aos oito, sete anos e talvez mais cedo.

(...) em muitas tribos da América reina o costume de furarem o lábio inferior. Os Tupinambás traziam nele ossos e nefrite verde; os do Paraguai tinham o mesmo uso e assim os Charruas. (...) La Condamine viu no Amazonas selvagens com os lobos das orelhas de uma extensão prodigiosa. Ainda entre os Caraíbas se observou o mesmo costume."

A. Gonçalves Dias[5]
1895 a 1896 bacia do rio Doce Ao tratar sobre os índios botocudos:

"O abominável costume de usarem ornamentos, que tornam imensos os beiços e as orelhas, por meio dos quais tão notados têm sido, está acabando, e hoje o botoque é só encontrado entre alguns antigos membros das tribos que reservam intactos todos os primitivos hábitos e maneiras de seus antepassados".

viajante William John Steains[7]

Registros mais recentes foram feitos pelo fotógrafo austríaco Mario Baldi durante a década de 1930, quando conviveu com indígenas Carajás que habitavam as margens do rio Araguaia. O autor chama de botoque o que se hoje também se atribui ao tembetá:

"O grande amigo Kohubara, feiticeiro da tribo (...). O botoque é (como homem mais velho) bastante curto, ao contrário dos adolescentes e especialmente os moços em procura de noivas que trazem botoques muito mais compridos e enfeitados com cores vivas (...), de 30 ou 40 centímetros de largura".[8]

Notas

  1. Na historiografia dos indígenas no Brasil, há relatos de botoques em mármore, âmbar e cristal de rocha.[2]

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 279.
  2. a b c Gabriel Soares de Sousa, Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro) (1851). Tratado descriptivo do Brazil em 1587. [S.l.]: Typographia Universal de Laemmert. 519 páginas 
  3. Adm. do sítio web (2012). «Lip-plates, Mursi Online». University of Oxford. Consultado em 24 de setembro de 2016 
  4. a b «Os botocudos». Hemeroteca Digital Brasileira. Museo Universal (n.46): p.361. 15 de maio de 1841. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  5. a b Dias, Gonçalves A. (1867). «Memória apresentada ao Instituto Histórico e Geographico Brasileiro e lida na augusta presença de sua Magestade Imperial». Hemeroteca Digital Brasileira. Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geographico e Etnographico do Brasil (n.30-2): p.71 a 73. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  6. Moura, Jose Pereira Freire (1897). «Notícias e observações sobre os índios botucudos que frequentão as margens do rio Jiquitinhonha, e se chamão Ambarés pou Aymorés». Hemeroteca Digital Brasileira. Revista do Archivo Publico Mineiro: p.30. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  7. Steains, William John (1888). «O Valle do Rio Doce». Hemeroteca Digital Brasileira. Revista da Sociedade Brasileira de Geographia do Rio de Janeiro. Tomo IV (3° Boletim): p.221. Consultado em 4 de janeiro de 2023 
  8. Baldi, Mario (Março de 1943). «Os índios Carajás». Hemeroteca Digital Brasileira. Rio Social (n.47). Consultado em 17 de julho de 2023 
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