Boa Esperança (caravela)
Boa Esperança | |
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Caravela Boa Esperança, ancorada no Porto de Lagos, em 2014. | |
Construção | 1990 |
Estaleiro | Samuel & Filhos, Lda. Vila do Conde |
Lançamento | 28 de Abril de 1990 |
Características gerais | |
Tipo de navio | Navio-museu |
Comprimento | 23,8 m |
Boca | 6,6 m |
Calado | 3,3 m |
Passageiros | 22 |
A caravela Boa Esperança, igualmente conhecida como Cabo da Boa Esperança, é um navio-museu português. Lançada em 28 de Abril de 1990, é uma réplica de uma caravela, uma embarcação do século XV utilizada durante os Descobrimentos Portugueses.[1]
Descrição[editar | editar código-fonte]
O navio é uma réplica aproximada de uma caravela de dois mastros do século XV,[2] utilizada durante a exploração do Oceano Atlântico e das costas africanas durante o século XV, como parte dos Descobrimentos Portugueses.[3] Foi construída em madeira, utilizando técnicas que respeitavam os trâmites da construção naval quatrocentista, embora com algumas alterações que possibilitaram um aumento no conforto e segurança da embarcação.[1] As velas ostentam o símbolo da Cruz de Cristo, enquanto que no mastro principal situam-se as armas do Infante D. Henrique.[1] As funções originais do navio incluíam a participação em eventos náuticos e provas, permitir a investigação sobre as antigas caravelas, e servir para treino de mar e vela.[2]
Tem cerca de 23,8 m de comprimento por 6,6 m de boca, e um calado de 3,3 m.[4] O motor auxiliar é um Volvo Penta com 190 Cv,[4] a gasóleo, com uma velocidade máxima de 10 nós.[3] O mastro grande tem 18 m de altura e 26 m de verga, com cerca de 155 m² de vela, enquanto que a mezena tem 16 m de altura, 20 m de verga, e 80 m² de vela.[4] O forro, a borda falsa, a sobrequilha e os mastros são em madeira de pinheiro bravo, as balizas foram construídas em carvalho e sobro, o convés e o tombadilho em madeira de câmbola, e as vergas são de eucalipto.[4] A sua capacidade de alojamento é de vinte e duas pessoas.[4]
Está atracado ao cais de honra da Marina de Lagos, onde funciona como um navio-museu.[1]
História[editar | editar código-fonte]
Inauguração e primeiros anos[editar | editar código-fonte]
O navio foi encomendado pela Associação Portuguesa de Treino de Vela,[5] tendo custado cerca de 180 mil contos.[6] Foi a segunda réplica de uma caravela construída por iniciativa daquela instituição, tendo a primeira sido a Bartolomeu Dias, e a terceira a Vera Cruz[2] O lançamento à água foi em 28 de Abril de 1990, no porto de Vila do Conde, tendo-se dirigido em seguida a Bruges, na Bélgica, onde iria marcar presença no aniversário da fundação da feitoria portuguesa naquela cidade, no século XV.[2]
O navio percorreu grandes distâncias ao longo da sua carreira, tendo ancorado em diversos portos de Portugal, Norte da Europa, Mar Mediterrâneo, e na América do Norte, com uma tripulação formada por voluntários da Associação Portuguesa de Treino de Vela.[2] Participou igualmente em importantes regatas, e foi utilizado como cenário em documentários e filmes,[7] tendo por exemplo figurado na longa-metragem A Espada e a Rosa, filmada em 2010.[8] Também esteve presente por diversas vezes no Encontro Internacional de Embarcações Tradicionais de Vela, organizado na Bretanha, em França.[6]
Participou na 1992 em Génova, e no festival marítimo de Brest, em 1996.[2] Em 1998 a caravela esteve presente na Exposição Mundial de Lisboa, onde teve milhares de visitantes.[6] Durante a década de 1990 também fez parte da iniciativa Visitas Escolares organizada pela Associação Portuguesa de Treino de Vela e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, chegando a ser visitada anualmente por cerca de cinquenta mil jovens.[6] Em 1999 a Boa Esperança estava atracada na Doca do Terreiro do Trigo, junto à Estação ferroviária de Santa Apolónia, em Lisboa, mas este local era considerado pouco propício devido à reduzida quantidade de água disponível durante a maré baixa, que fazia a embarcação ficar assente sobre o lodo.[6] Segundo o responsável pela manutenção do navio, esta situação, que durava há cerca de um ano, impedia o bom funcionamento dos sanitários a bordo, aumentava o risco do casco apodrecer, e criava uma acumulação de lama nas válvulas para a respiração do motor, provocando a sua deterioração.[6] Os problemas no local eram causados pela falta de dragagem, operação que era da responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa.[6] O secretário-geral da Associação Portuguesa de Treino de Vela, o comandante Canelas Cardoso, informou que tinham sido feitas «diligências junto da APL para a resolução deste problema, mas ainda não foi tomada nenhuma decisão», e que era esperada a dragagem da doca nos princípios do ano seguinte, «para receber os veleiros que vêm do Brasil, nas comemorações da viagem histórica de Pedro Álvares Cabral».[6] O administrador da APL, Eduardo Martins, respondeu que «a doca do Jardim do Tabaco tem um assoreamento muito rápido e por mais que se façam dragagens, volta sempre ao mesmo», motivo pelo qual teria de ser feita «uma intervenção de fundo naquela doca, o que não poderá acontecer antes de terminarem as obras do Metro que decorrem naquela zona».[6] Acrescentou igualmente a que a doca tinha sido «dragada pela última vez antes da Expo-98», e que não podiam fazer «uma intervenção para aguentar com embarcações de grande calado, como é o caso da caravela. Aquele não é o local indicado para a Boa Esperança».[6] Em 8 de Março de 2000, participou nas comemorações oficiais do V Centenário da Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, tendo integrado uma frota de veleiros portugueses que fez a viagem de Lisboa a Santa Cruz Cabrália.[2]
Carreira ao serviço da Região de Turismo do Algarve[editar | editar código-fonte]
Em 2000[9] ou 2001, a Boa Esperança foi comprada pela Região de Turismo do Algarve,[1] por cerca de 75 mil Euros, valor que foi parcialmente comparticipado por fundos europeus.[9] Passou a funcionar como navio-museu sobre as antigas caravelas, e ao mesmo tempo promover o Algarve e explicar a história da região.[1] Na altura da sua aquisição, foi considerado um dos principais elementos para a candidatura de Sagres a Património da Humanidade da UNESCO, tendo sido utilizado, conforme explicou o antigo presidente do Turismo do Algarve, Paulo Neves, para inserir a região «na rota dos itinerários culturais, ligados a Sagres, património da Humanidade».[9] Porém, a candidatura não chegou a arrancar.[1]
Esperava-se igualmente que o navio fosse empregue em passeios turísticos, mas não conseguiu despertar o interesse dos operadores privados.[9] Esta situação, em conjunto com os custos anuais de 100 a 150 mil Euros em manutenção, geraram graves problemas financeiros para a Região de Turismo.[9] O único apoio veio da Câmara Municipal de Lagos, que se comprometeu a oferecer um subsídio anual de 100 mil Euros durante quatro anos, terminando em 2012.[9] Porém, devido a dificuldades financeiras, a autarquia reduziu este valor para metade.[9] Em 2012, existia um custo fixo para a manutenção da caravela, que era feita por dois indivíduos, e era igualmente atribuído um subsídio ao comandante, José Gravata, quando o navio estava a navegar, enquanto que o resto da tripulação era composta por voluntários.[9] José Gravata comentou em Janeiro de 2012 que «há dois anos que não recebo, porque a caravela está parada», tendo elogiado o apoio por parte da Câmara Municipal e do Centro de Ciência Viva de Lagos.[9] Assim, a embarcação foi posta à venda pela Região de Turismo, medida que foi justificada pelo presidente daquela associação, António Pina, em Janeiro de 2012: «Este ano, vamos sofrer mais um corte no orçamento de 30 por cento, cerca de 1,2 milhões de euros. Não há dinheiro».[9] Nessa altura já existia uma entidade privada interessada na aquisição do navio, que o iria utilizar em viagens de turismo, tendo oferecido sessenta mil Euros.[9] António Pina elaborou que o lançamento do concurso público iria depender da «análise dos compromissos assumidos, no âmbito de um programa transfronteiriço» no qual a Boa Esperança iria ser um dos vários navios históricos a fazer uma rota entre Lisboa, o Algarve e Sevilha.[9] Em Fevereiro de 2013, estava previsto que a Boa Esperança fosse até Sagres, para participar na apresentação do programa Descubriter – Rota Europeia dos Descobrimentos, em conjunto com a réplica da nau espanhola Victoria.[10] Porém, a caravela estava impedida de sair do porto de Lagos devido a problemas de manutenção, existindo o risco de se afundar durante o percurso.[10] O presidente do Turismo do Algarve, Desidério Silva, admitiu que o navio não estava em condições para viajar até Sagres, mas afirmou que aquele órgão estava em «contacto permanente com a Câmara de Lagos para ver qual o futuro da caravela», e acrescentou que havia «uma associação que está a ser formada, sediada em Lagos, integrada por gente com vontade e com vocação para tomar conta da Boa Esperança. Dentro de dois meses, espero que haja uma evolução positiva em relação a esta questão».[10]
Entre Junho e Setembro de 2014 a Boa Esperança fez uma viagem pela costa espanhola, para promover o Algarve como destino turístico, organizada pela Região de Turismo do Algarve, com o apoio da Fundación Nao Victoria (es).[11] Durante este percurso, a caravela passou pelos portos de Cádis, Sevilha, Málaga e Almeria.[11] Em Outubro de 2014 ocorreu um acidente a bordo da caravela, quando esta estava ancorada na marina de Lagos, tendo os bombeiros sido alertados para a presença de fumo negro a sair por uma escotilha.[12] Os operacionais constataram que o fumo era proveniente de um frigorífico que tinha sido sofrido um curto-circuito, tendo apenas removido o aparelho avariado, não sendo necessária a utilização de meios extintores.[12] Em Agosto de 2015, a caravela foi o palco para uma cerimónia de acolhimento à comitiva que estava a fazer a Invicta - Rota do Infante, uma viagem de motorizada entre o Porto e Ceuta, no âmbito das comemorações dos seiscentos anos da tomada daquela cidade africana.[13]
Em Julho de 2016, participou na XXVII edição da Regata Portos dos Descobrimentos, entre Lagos e Palos de la Frontera, na Andaluzia.[14] Em Outubro de 2016, a caravela iniciou uma nova viagem em Espanha para promover o Algarve, desta vez na região da Galiza.[15] Porém, no dia 18 sofreu um acidente no porto de Vigo, quando o motor falhou durante a manobra de atracagem na cabeceira do molhe, tendo o navio embatido contra uma passadeira metálica para atraque de navios de cruzeiro.[16] A estrutura ficou totalmente destruida, mas o navio não sofreu quaisquer danos.[16] Em Março de 2017 esteve em Alcoutim para o festival Contrabando, mas no regresso a Lagos encalhou num banco de areia no Rio Guadiana, provocando estragos no leme.[17] Foram feitas reparações provisórias no local por técnicos dos estaleiros Nautiber, no sentido do navio poder deslocar-se até às instalações da empresa, em Vila Real de Santo António, para reparações mais profundas.[17] Porém, pouco depois voltou a encalhar noutro banco de areia, tendo ficado imobilizado até que a maré voltasse a subir, para ser rebocado até Vila Real, com o apoio da Marinha Portuguesa.[17] Em Setembro de 2018 fez parte da frota que escoltou a chegada do Navio-Escola Sagres ao porto de Faro, onde também atracou.[18]
Em Setembro de 2021 deslocou-se até aos Estaleiros Navais de Portimão, para ser alvo de profundas obras de restauro, incluindo a reparação das madeiras do casco e do convés.[19] Esta intervenção, que tinham uma duração prevista de quatro a cinco meses, foi realizada no âmbito de uma parceria entre a Região de Tturismo do Algarve, a autarquia de Lagos e outros parceiros a nível internacional, e com o apoio da Docapesca, e tinha como finalidade recuperar e valorizar a embarcação, no sentido de a reintegrar no património cultural da região, e promover o Algarve como destino turístico.[19]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ a b c d e f g «Caravela Boa Esperança». Turismo do Algarve. Região de Turismo do Algarve. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ a b c d e f g «Boa Esperança». Associação Nacional de Cruzeiros. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ a b «Caravela Boa Esperança». Visit Algarve. Região de Turismo do Algarve. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ a b c d e «Caravela Boa Esperança» (PDF). Região de Turismo do Algarve. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ «Vai acontecer». Diário de Lisboa. Ano 70 (23229). Lisboa: Renascença Gráfica. p. 40. Consultado em 19 de Julho de 2021 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares
- ↑ a b c d e f g h i j BASSO, Pérsio (13 de Agosto de 1999). «Há lodo na "Boa Esperança"». Público. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ «Caravela Boa Esperança». Visit Algarve. Região de Turismo do Algarve. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ «Caravela Boa Esperança é estrela em filme a concurso no Festival de Veneza». Barlavento. 4 de Setembro de 2010. Consultado em 23 de Julho de 2021
- ↑ a b c d e f g h i j k l REVEZ, Idálio (23 de Janeiro de 2012). «Caravela Boa Esperança, "encalhada" na marina de Lagos, vai ser posta à venda». Público. Consultado em 22 de Julho de 2021
- ↑ a b c RODRIGUES, Elizabete (16 de Fevereiro de 2013). «Rota dos Descobrimentos lançada em Sagres a bordo de nau espanhola (com fotos)». Sul Informação. Consultado em 27 de Julho de 2021
- ↑ a b AFONSO, Patrícia (19 de Junho de 2014). «Caravela Boa Esperança promove Algarve». Publituris. Consultado em 20 de Julho de 2021
- ↑ a b RODRIGUES, Elisabete (11 de Outubro de 2014). «Incêndio na caravela Boa Esperança não passou de «valente susto» (com fotos)». Sul Informação. Consultado em 26 de Julho de 2021
- ↑ «RTA dá boas-vindas a "motards" que viajam para assinalar 600 anos dos Descobrimentos». Sul Informação. 18 de Agosto de 2015. Consultado em 26 de Julho de 2021
- ↑ «Regata Portos dos Descobrimentos já partiu de Lagos para Palos de La Frontera». Sul Informação. 9 de Julho de 2016. Consultado em 26 de Julho de 2021
- ↑ «Caravela Boa Esperança vai promover o Algarve em portos da Galiza». Sul Informação. 11 de Outubro de 2016. Consultado em 20 de Julho de 2021
- ↑ a b «Caravela Boa Esperança com entrada atribulada no porto de Vigo (com vídeo)». Sul Informação. 21 de Outubro de 2016. Consultado em 20 de Julho de 2021
- ↑ a b c «Caravela Boa Esperança encalhou no Guadiana». Guadiana Digital. 4 de Abril de 2017. Consultado em 19 de Julho de 2021
- ↑ RODRIGUES, Hugo (5 de Setembro de 2018). «Navio-Escola Sagres chegou a Faro com Boa Esperança». Sul Informação. Consultado em 20 de Julho de 2021
- ↑ a b «Caravela «Boa Esperança» saiu de Lagos para Portimão para profundas reparações». Sul Informação. 27 de Setembro de 2021. Consultado em 20 de Julho de 2021