Saltar para o conteúdo

Carcinossarcoma odontogênico

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O carcinossarcoma odontogênico é uma neoplasia odontogênica maligna extremamente rara[1]. O nome carcinossarcoma se dá porque o tumor contém tanto um componente maligno epitelial (carcinoma) quanto mesenquimal (sarcoma)[1][2].

Sinais e sintomas

[editar | editar código-fonte]

O carcinossarcoma odontogênico tende a se apresentar como uma massa, causando dor na maior parte dos casos (55%)[3]. Os tumores tendem a ter tamanho exuberante, acima de 5 cm[2]. Outros sinais e sintomas incluem[3]:

Aspectos radiográficos e histológicos

[editar | editar código-fonte]

Radiograficamente, é uma neoplasia de aspecto radiolúcido, podendo ter focos radiopacos ou aspecto de vidro despolido[2]. O carcinossarcoma odontogênico é uma lesão extremamente agressiva, resultando em destruição óssea e perfuração da cortical na maioria dos casos (61,1%), com quase um terço (27,8%) apresentando também reabsorção dentária[2].

Histologicamente, é uma neoplasia formada por um componente epitelial e um mesenquimal[1]. O componente epitelial pode ser ameloblástico (65%), de células claras (10%), de células escamosas (10%), ou acantomatoso (23,1%)[2]. Boa parte (45%) exibe características histológicas semelhantes a um precursor benigno, sendo o ameloblastoma o mais frequente[2]. As células epiteliais tendem a ter atipia como hipercromatismo do núcleo, perda da proporção núcleo-citoplasma, pleomorfismo celular e nuclear, hipercelularidade, e aumento do número de mitoses, incluindo mitoses atípicas[3].

O componente mesenquimal é formado por células fusiformes, que podem assumir aspecto mixoide a esclerótico[2][3]. Essas células podem ter aspecto fusiforme, mas podem ter forma variada, de ovalada a plasmocitoide e rabdoide, também sendo afetadas por atipia (hipercromatismo, perda da proporção núcleo-citoplasma, pleomorfismo celular e nuclear, hipercelularidade, mitoses atípicas)[3].

Além disso, pode haver perda da arquitetura tecidual, presença de células basaloides e células hipertróficas no componente epitelial, assim como células tumorais gigantes multinucleadas e calcificações osteoides e dentinoides no componente mesenquimal[3].

O carcinossarcoma odontogênico foi adicionado à classificação de lesões odontogênicas da OMS em 1992, mas removido em 2005 porque a maior parte dos casos foram publicados antes de imuno-histoquímica[4]. Por isso, poucos casos são registrados na literatura desde seu retorno na classificação de 2017[4]. Sabe-se que o carcinossarcoma odontogênico secundário, isto é, que surge a partir de uma neoplasia benigna primária como o ameloblastoma e o fibroma ameloblástico, representa 73% dos casos[3].

Um caso de carcinossarcoma odontogênico em que foi realizado painel NGS demonstrou haver deleção de 9p21 (CDKN2A e CDKN2B) e ganho de 12q (MDM2 e CDK4)[2]. Outras mutações testadas, como EWSR1 e BRAF V600E foram negativas[2].

Epidemiologia

[editar | editar código-fonte]

Afeta majoritariamente a mandíbula (85% dos casos), especialmente a região posterior, com predileção por homens (2:1) e idade média ao diagnóstico de 47 anos[2][3]. É um câncer extremamente raro, com menos de 20 casos registrados na literatura[2][3].

O diagnóstico se dá pelo exame anatomopatológico[3]. Imuno-histoquímica pode auxiliar no diagnóstico, e alguns dos marcadores mais comuns são[3]:

Para epitélio[3]:

  • Ki67: variável, podendo estar entre 7 e 93%;
  • Marcadores epiteliais (AE1/AE3, CK8/18, CK19, CK5/6, CK17, CK14, p63): positivos;
  • p53 positivo;
  • Negativo para vimentina, desmina, actina de músculo liso, CD34 e S100.

Para mesênquima[3]:

  • Ki67: varia entre 3 e 55%;
  • Positivo para vimentina, p53, expressão focal de SMA, HHF35 e desmina;
  • Negativo para marcadores epiteliais, CD34 e S100.

Prognóstico e tratamento

[editar | editar código-fonte]

A sobrevida específica à doença mediana foi 46 meses, e a sobrevida livre de doença foi 25 meses[2]. Em três anos, 58% dos pacientes ainda estavam vivos, e 35% livres da doença[2]. A taxa de recidiva local atingiu 75%, e mais de um terço (36%) teve metástase a distância, especialmente em pulmões, linfonodos, costelas e pelve[3]. Considerando que o carcinossarcoma odontogênico é um tumor agressivo, a ressecção cirúrgica radical é o tratamento mais utilizado e recomendado[3]. A quimioterapia e radioterapia são ainda controversas para esse tumor, sem benefício demonstrado na sua combinação com a cirurgia[3].

Referências

  1. a b c Soluk-Tekkesin, Merva; Wright, John M. «The World Health Organization Classification of Odontogenic Lesions: A Summary of the Changes of the 2022 (5th) Edition». Turkish Journal of Pathology (2): 168–184. ISSN 1018-5615. PMC 9999699Acessível livremente. PMID 35578902. doi:10.5146/tjpath.2022.01573. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  2. a b c d e f g h i j k l m Awang Hasyim, Noratikah; Ismail, Sumairi; Ling, Xiao Feng; Tilakaratne, Wanninayake Mudiyanselage (31 de março de 2023). «Odontogenic Carcinosarcoma: An Updated Literature Review and Report of a Case». Head and Neck Pathology (3): 731–738. ISSN 1936-055X. PMID 36997684 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.1007/s12105-023-01545-x. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p Cole, Grayson; Chi, Angela; Cook, Daniel R.; Kubik, Mark; Bilodeau, Elizabeth A.; Seethala, Raja R. (24 de julho de 2023). «Odontogenic Carcinosarcoma: Clinicopathologic and Molecular Features of Three Cases, a Literature Review and Nomenclature Proposal». Head and Neck Pathology (3): 751–767. ISSN 1936-055X. PMID 37486533 Verifique |pmid= (ajuda). doi:10.1007/s12105-023-01569-3. Consultado em 15 de setembro de 2024 
  4. a b Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2013). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2017 (4th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. doi:10.5146/tjpath.2017.01410. Consultado em 15 de setembro de 2024