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Athaydeville

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(Redirecionado de Centro da Barra)

Athaydeville (originalmente denominado Centro da Barra) foi um projeto de construção de residências, lojas e escritórios na Barra da Tijuca, lançado em 1969, que resultou em um dos maiores escândalos imobiliários do Brasil. Depois de grandes atrasos nas obras, reduções drásticas nas dimensões do projeto e pendências judiciais, ergueram-se três torres residenciais; uma delas, apesar de vendida a centenas de adquirentes, ainda aguarda ocupação.

Península vista da Torre Abraham Lincoln, futura Niemeyer 360

No fim da década de 1960, na sequência do lançamento do Plano Piloto da Barra da Tijuca, a Desenvolvimento Engenharia (empresa de Múcio Athayde) lançou o Centro da Barra, com projeto urbanístico de Lúcio Costa, na região então pouco explorada. Segundo o projeto oferecido pela Desenvolvimento, seriam construídas 76 torres residenciais cilíndricas de 36 andares, projetadas por Oscar Niemeyer, combinadas com áreas de comércio, lazer e serviços. O cronograma original previa a inauguração das primeiras unidades em 1974, e todas as obras estariam concluídas em 1980[1]

No entanto, desde o começo várias falhas comprometeram o Centro da Barra. Sem conseguir apoio do governo da Guanabara para o cumprimento dos gabaritos do Plano Piloto, Lúcio Costa se desligou do projeto, e o tamanho reduzido dos apartamentos em forma de "fatia de pizza" desagradou muitos interessados.[2] As obras da Torre H, iniciadas em 1970[3], foram paralisadas em 1972 por preocupações com a integridade da estrutura[4], sendo reiniciadas mais tarde.

Diante dos atrasos nas obras, os mutuários devolviam suas cotas à Desenvolvimento por preço abaixo do mercado; essas cotas eram revendidas a outros mutuários, sem que essas transações fossem registradas em cartório. Essa manobra, exacerbada pela elevada inflação do período, teria gerado grandes lucros à Desenvolvimento. Por sua vez, Múcio Athayde publicava matérias pagas em jornais para declarar-se vítima de um bloqueio econômico do governo, que lhe dificultava o acesso a financiamentos do BNH em condições favoráveis.

No centro, a Torre H ainda desocupada. No canto esquerdo, a Torre A, habitada.

Renomeado Athaydeville no fim da década de 1970, o empreendimento foi reformulado e reduzido para quatro torres, mas continuou a controvérsia em torno da viabilidade do projeto. Em 1984, uma comissão especial de inquérito da Câmara Municipal do Rio de Janeiro chegou a recomendar à prefeitura que não renovasse licenças para construção de novas torres no Athaydeville diante de irregularidades no pagamento de impostos.[5]

Das quatro torres, três foram completadas e duas entregues:

  • Torre Abraham Lincoln (Torre H) (Avenida das Américas, 1245). Construção inciada em 1970[3], paralisada em 1984[6], sem conclusão e sem habite-se;
  • Torre Ernest Hemingway (Avenida Sernambetiba, 3400). Construção entre 1973 e 1977[7], não concluída pela Desenvolvimento; transferida à Encol, que a inaugurou em 1994[8];
  • Torre Charles de Gaulle (Torre A) (Avenida das Américas, 1245), construída entre 1974 e 1990 e entregue pela Desenvolvimento aos adquirentes[9].

Com 36 andares e 122,2 metros de altura, os três edifícios são até hoje as estruturas mais altas da Barra da Tijuca.

Apesar dos problemas, o empreendimento continuou sendo oferecido em constantes campanhas publicitárias até a década de 1990. Restou desocupado o esqueleto da Torre H, que teve 250 de seus 454 apartamentos vendidos. Por cerca de um mês, em 2004, o edifício vazio chegou a ser ocupado por habitantes de uma favela próxima. A crise da invasão acelerou o processo de falência da Desenvolvimento Engenharia, decretada em 2005. 190 apartamentos da Torre H foram levados a leilão em 2007, e a Associação de Adquirentes da Torre H decidiu completar as obras com recursos próprios. As obras seguem indefinidas e, caso não seja reformado e ocupado regularmente, o edifício corre o risco de ser implodido.[2]

Torre Abraham Lincoln ( futura Niemeyer 360 ) vista do estacionamento do condomínio Summer Coast

Remanescentes

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Com a redução do projeto original, a maior parte das terras de Múcio Athayde na Barra da Tijuca -- agora substancialmente valorizadas com o progresso do bairro -- acabou sendo negociada com outros empresários. Em uma parcela, trocada por um jornal em Brasília, Sérgio Naya construiu o Palace II e outros edifícios[10]; outra foi recebida pelo incorporador Cláudio Macário em troca de cotas da TV Rio -- a empresa de Macário idealizou, no início da década de 1990, os condomínios Villa Borghese e San Filippo, que começaram a ser construídos pela Encol em regime de permuta[11]. Nos anos 1970, com o objetivo de construir novos estúdios, a TV Globo recebeu de Athayde uma parcela de terreno na região em troca de espaço de propaganda para o Athaydeville; em 1980 esse terreno foi negociado por uma área maior em Jacarepaguá, onde foi construído o Projac.

A região do projeto continuou sendo chamada Athaydeville, até que lei municipal de 2003 renomeou seus dois trechos como Bosque Marapendi e Parque Lúcio Costa.[12] Várias vias públicas da área, incluindo a Ponte Lúcio Costa, foram construídas pela Desenvolvimento Engenharia como parte do Athaydeville ou para valorização do conjunto.

Em 2012 o projeto artístico Paraíso Ocupado, dos artistas holandeses Wouter Osterholt e Elke Uitentuis, foi instituído com o objetivo de completar as obras da Torre H e restaurar os planos socialistas de Lúcio Costa para o empreendimento.[2] O projeto incluía uma réplica virtual do prédio e um levantamento do contexto histórico do empreendimento.[13]

Outdoor da Niemeyer 360 na Avenida das Americas.

Ligações externas

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Referências