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Língua crioula mauriciana

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(Redirecionado de Crioulo mauriciano)
Língua crioula mauriciano

Crioulo de Maurício, Crioulo da Maurícia, Kreol morisien

Falado(a) em: Maurício
Total de falantes: 1,2 milhões
Família: Línguas crioulas de base francesa
 Línguas crioulas burbonesas
  Língua crioula mauriciano
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: mfe

O crioulo mauriciano, ou Kreol morisien no próprio idioma, é uma língua crioula falada em Maurício (Maurícia). Praticamente todas as raízes de seu vocabulário são de origem francesa, com uma menor quantidade de palavras de origem inglesa e de línguas africanas e asiáticas que já foram faladas na ilha.

Uso da língua

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O crioulo mauriciano é a língua franca do país, mesmo sendo o inglês o idioma oficial do Governo, Educação e o francês padrão seja muito aprendido. O crioulo de Maurício é a língua mais falada nas relações informais entre os grupos étnicos da ilha. Tais encontros interétnicos são muito comuns pelo fato do país apresentar grande diversidade étnica e de línguas. A maioria da população de Maurício é de origem hindu, porém falando diversos diferentes idiomas como tâmil, boiapuri, telugo, hindi, guzerate, bem como inglês, francês e o Crioulo. O mesmo vale para as diversas pequenas minorias europeias e de chineses, que falam o inglês, o francês, o cantonês, o mandarim, o hacá. Os crioulos, que são pouco menos de um terço da população, são na sua maioria descendentes de escravos oriundos da África continental e da Ásia, trazidos para a ilha até antes da abolição da escravatura pelos britânicos por volta de 1830. Esses crioulos têm maior tendência a falar o crioulo como língua primária, embora frequentemente falem também francês e inglês.

Classificação

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Linguistas consideram o crioulo de Maurício uma língua crioula com base no francês em função da grande maioria de palavras dessa origem presentes no idioma da ilha. Também há concordância quanto a grandes semelhanças das línguas crioulas de Seicheles, do Arquipélago de Chagos, da Ilha Rodrigues entre si e com o crioulo de Maurício. Porém, as relações da língua de Maurício com outras línguas crioulas de origem francesa mais distantes geograficamente ainda é bem controversa. O linguista Robert Chaudenson especulou que o crioulo de Maurício tivesse relações próximas como a língua crioula de Reunião, ilha onde os franceses se estabeleceram antes de chegar a Maurício. Por outro lado, os linguistas R. A. Papen, Phillip Baker e Chris Corne rebatem, dizendo que o crioulo de Reunião em nada influenciou o de Maurício, sendo que as semelhanças entre os dois crioulos são mínimas, tais como as suas relações com outras línguas crioulas francesas, por exemplo, da América.

Embora os portugueses tenha sido o primeiro grupo étnico europeu a chegar em Maurício, eles não se assentaram ali. O pequeno vocabulário português na língua da ilha se deve principalmente aos elementos portugueses nos jargões marítimos (como Sabir e língua franca) e aos escravos que foram para Maurício oriundos de colônias portuguesas ou de locais onde a língua lusa era linguagem comercial, na África continental. De forma similar, poucas são as influência do neerlandês no falar mauriciano. Os neerlandeses colonizaram Maurício entre 1638 e 1710. Porém, evacuaram a ilha no final desse período deixando poucos escravos fugidos, cuja presença em quase nada influenciou a língua local. Os franceses reivindicaram a ilha e ali se assentaram entre 1715 e 1721.

Como já haviam feito em Reunião e nas Índias Ocidentais, os franceses criaram em Maurício uma economia agrícola com base no trabalho escravo. Os escravos se tornaram a maioria da população na ilha em1730 , tendo atingido 85% do total em 1777. Esses imigrantes forçados vieram da África do oeste e do leste, de Madagascar e da Índia, o que causou numa fragmentação linguística. Como resultado, o francês passou a ser uma língua franca entre os escravos. Porém, o reduzido tamanho da população francesa nativa, a sua completa indiferença para com a sua população servil, com uma ausência de educação formal para os escravos, resultou em um crescente distanciamento entre o francês desenvolvido pelos escravos e a língua francesa dos patrões. Documentos históricos desde a época de 1773 mostravam que os escravos já falavam outra língua, o crioulo.

Os britânicos tomaram Maurício aos franceses durante as guerras napoleônicas, mas a língua inglesa não foi absorvida pelos escravos. Foram poucos os ingleses que se instalaram na ilha e, além disso, o crioulo de origem francesa já estava bem firme entre a população de escravos na época. A abolição da escravatura em 1830 permitiu a muitos crioulos mauricianos deixar as plantações. Assim, os proprietários de terras começaram a trazer trabalhadores meeiros da Índia para substituí-los. Dessa maneira, os indianos se tornaram, e ainda o são, o maior contingente populacional da ilha. Muitas eram as línguas desses grupos vindos da Índia, os quais também ficavam alienados dos falantes de inglês e de francês, o que levou-os a também usar o crioulo de Maurício como língua franca. O inglês e o francês têm até hoje um longo e significativo domínio no status social, sendo usadas no Governo, nos negócios, na educação e na "mídia" de massa na ilha. Porém o crioulo mauriciano tem grande popularidade nos domínios informais, entre o povo.

A fonologia do crioulo de Maurício é muito similar à do francês. porém as letras "j" e o "g" suave apresentam a pronúncia "z" em mauriciano. A vogais "redondas" francesas , "u" e "eu" são percebidas como "i" ou "u" (não arredondado, como o "ou") e "e" ou "o," respectivamente.

Embora a língua ainda não tenha uma ortografia padrão oficial, há diversos dicionários publicados, mono e bilinguais, escritos por autores como Philip Baker, Arnaud Capooran, o grupo "Ledikasyon pu travayer" e outros. A quantidade de publicações vem crescendo de forma estável e uma ortografia ainda não oficial vem se afirmando. Em geral, o sistema segue a ortografia francesa, porém simplificada pela eliminação de letras mudas e pela redução da quantidade de diferentes modos de escrever um mesmo som.

Em 2005, Professor Vinesh Hookoomsing da Universidade de Maurício publicou o relatório "Grafi Larmoni" que busca harmonizar as diferentes maneiras de escrever o Crioulo de Maurício no país. Está em andamento a tradução de uma Bíblia para o crioulo.

A maior parte das palavras do crioulo mauriciano são de origem francesa, mas não são usados do mesmo modo. Como exemplo temos o artigo definido francês "le/la" que em mauriciano é na grande maioria das vezes é fundido ao substantivo. Assim a palavra rato é dita lerat (vem de rat em francês). De forma similar, a palavra tempo (francês temps) é falado letan em Mauriciano. Isso também ocorre com adjetivos e preposições em Mauriciano: Bolfan (boa mulher) vem do francês bonne femme; Duri (arroz) vem do francês du riz. Outras palavras tiveram também seus significados modificados. É o caso de "gayh" (verbo ter - Mauriciano), que vem do francês "gagner" ("vencer em francês).

Há também diversas palavras de origem de línguas estrangeiras, trazidos escravos vindos da própria África. Exemplos: de ampango, Língua malgaxe para 'camada de arroz que fica no fundo do pote', veio lapang. Também do malgaxe veio "hafotsa" (tipo de árvore), em Mauriciano "lafus," O termo mauriciano "zahtak veio do Malgaxe "antaka" (tipo de planta). Nesses casos, como nos substantivos que vieram do francês, ocorre a fusão dos artigos francese "le/la/les." com a palavra africana(Malgaxe). Outras palavras originárias da África oriental são: Mauriciano "makutu", vindo da língua makua - "makhwatta" (ferida aberta); "matak" língua suaíle e língua makonde - "matako" (nádegas).

Os substantivos mauricianos não declinam em número. A percepção de um substantivo ser singular ou plural é feita pelo contexto da sua aplicação. No caso da necessidade de um marcador de número sem ambiguidade, é usada partícula "ban" (do Francês "bande" - bando) colocada antes do substantivo. Os artigos indefinidos franceses "un/une" correspondem ao en mauriciano, porém, as regras para uso são ligeiramente diferentes. Em Mauriciano tem o artigo definido "la," que é porém usado depois do substantivos: Os termos franceses "un rat" - "le rat" - "les rats" (português um rato - o rato - os ratos) são em mauriciano "en lera," "lera-la," "ban-lera."

No crioulo mauriciano cada pronome tem uma única forma, não dependendo nem do caso (sujeito-nominativo; objeto direto-acusativo; posse-genitivo), nem do gênero. A palavra mauriciana Li pode ser traduzida como ele, ela, o, a, se, dele, dela (seu), dependendo também apenas do contexto.

De forma similar aos substantivos, os verbos mauricianos não variam nem com o tempo verbal, nem como a pessoa gramatical. A presença de um substantivo ou de um pronome junto ao verbo define quem pratica a ação. Uma série de partículas pré-verbais são usadas sozinhas ou em conjunto para indicar o tempo verbal. Assim "ti" (francês "etais" - era) marca o passado, "pe" (francês "apres" - depois) marca o aspecto progressivo (presente), "(f)in" (francês "fin" - fim) marca ação completa (passado perfeito), a" (francês "va" - vai) marca o futuro. Exemple: "li fin gayh" (ele/ela tinha), o que pode ser simplificado para "li n gayh" pronunciado como se fosse uma única palavra.

Amostra de texto

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Pai Nosso
Crioulo de Maurício Francês Português
Nou Papa ki dan lesiel

Fer rekonet ki to nom sin,

Fer ki to regn vini,

Fer to volonte akompli,

Lor later kuma dan lesiel.

Donn nou azordi dipin ki nou bizin.

Pardonn-nou nou bann ofans,

Koman nou osi pardonn lezot ki fin ofans nou.

Pa less nou tom dan tentation

Me tir-nu depi lemal.

Notre Père qui est aux cieux

que ton nom soit sanctifié,

que ton règne vienne,

que ta volonté soit faite,

sur la terre comme au ciel.

Donne-nous aujourd’hui notre pain de ce jour.

Pardonne-nous nos offenses,

comme nous pardonnons aussi à ceux qui nous ont offensés.

Et ne nous soumets pas à la tentation,

mais délivre-nous du Mal.

Pai Nosso, que estais no céu

Santificado seja o vosso nome,

Venha a nós o vosso reino,

Seja feita a vossa vontade

Assim na Terra como no céu

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Perdoai nossas ofensas,

Assim como nós perdoamos aqueles que nos tenham ofendido

E, não nos deixeis cair em tentações,

Mas livrai-nos do mal.

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Referências externas

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  • Adone, Dany. The Acquisition of Mauritian Creole. Amsterdam; Philadelphia: J. Benjamins, 1984.
  • Baker, Philip and Chris Corne, Isle de France Creole: Affinities and Origins. Ann Arbor: Karoma, 1982.
  • Baker, Philip. Kreol: A Description of Mauritian Creole. London: Hurst, 1972.
  • Baker, Philip and Vinesh Y. Hookoomsing. Morisyen-English-français : diksyoner kreol morisyen (Dictionary of Mauritian Creole). Paris : Harmattan, 1987.
  • Carpooran, Arnaud. Diksioner morisien. Quatre Bornes, Ile Maurice : Editions Bartholdi, 2005.
  • Chaudenson, Robert. Les créoles francais. Evreux: F. Nathan, 1979.
  • Chaudenson, Robert. Creolization of language and culture; translated and revised by Salikoko S. Mufwene, with Sheri Pargman, Sabrina Billings, and Michelle AuCoin. London ; New York : Routledge, 2001.
  • Frew, Mark. Mauritian Creole in seven easy lessons. 2nd ed. Port Louis, Republic of Mauritius : Ledikasyon pu Travayer, 2003.
  • Holm, John. Pidgins and Creoles, Volume II: Reference Survey. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
  • Lee, Jacques K. Mauritius : its Creole language : the ultimate Creole phrase book : English-Creole dictionary. London, England : Nautilus Pub. Co., 1999.
  • Strandquist, Rachel Eva. Article Incorporation in Mauritian Creole. B.A. thesis, University of Victoria, 2003.
  • Sem autor. Diksyoner Kreol-Angle / Prototype Mauritian Creole-English Dictionary. Port Louis: L.P.T., 1985.