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O Jovem Törless

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Die Verwirrungen des Zöglings Törleß
O Jovem Törless
O Jovem Törless
Capa da primeira edição
Autor(es) Robert Musil
Idioma Alemão
País  Áustria
Gênero Romance
Editora Wiener Verlag
Lançamento 1906
Edição portuguesa
Tradução João Filipe Ferreira
Editora Livros do Brasil
Lançamento 1987
Páginas 245
Edição brasileira
Tradução Lya Luft
Editora Nova Fronteira
Lançamento 1981
Cronologia
O Homem sem Qualidades
(1930-1943)

O Jovem Törless (Die Verwirrungen des Zöglings Törleß em alemão, que em uma tradução literal para o português seria As Confusões do Jovem Törless) é o romance de estreia do escritor austríaco Robert Musil, publicado em 1906.

É um típico romance de formação, contando a história de um jovem desorientado em busca de valores morais na sociedade e do que eles significam para si. O livro, que de acordo com especialistas classifica-se no expressionismo,[1] é baseado nas experiências que Musil viveu em um internato militar em Hranice (na época pertencente à Áustria-Hungria, hoje na República Tcheca). Mais tarde, no entanto, Musil negaria que as experiências retratadas no livro foram as suas.

O livro foi escrito entre 1903 e 1905,[1] iniciado logo após ele mudar-se para Stuttgart, em 1902,[2] servindo em um ano de trabalho não remunerado obrigatório como assistente de professor na prestigiada Technische Hocshchule após passar com distinção nos seus exames finais e começar o curso de engenharia - um trabalho cuja monotonia o levou a começar a escrita do romance. Musil queria seguir a carreira de engenheiro, apesar de suas aspirações literárias, e por essa época passou a interessar-se por filosofia, matemáticas, física e psicologia, cursos pelos quais trocou a engenharia e mudou-se para Berlim.[1]

Devido a seu conteúdo sexual explícito, o romance causou, em seu lançamento, espanto entre os leitores e as autoridades da Áustria-Hungria.[1]

Resumo do enredo

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Três estudantes de um internato militar, Reiting, Beineber e Törless, o protagonista, flagram seu colega Basini roubando dinheiro de um dos três, e decidem puni-lo com suas próprias mãos ao invés de denuncia-lo às autoridades do colégio. Começam a abusá-lo, primeiro fisicamente e depois psicológica e sexualmente, ao mesmo tempo em que chantageiam-no ameaçando denunciá-lo. O tratamento abusivo que aplicam a Basini torna-se abertamente sexual e cada vez mais sádico; apesar disso, ele aguenta toda a tortura, mesmo quando, depois de ter sido privado de qualquer dignidade, ele é desacreditado por toda a turma.

As confusões morais e sexuais de Törless o levam a juntar-se à humilhação aplicada por Beineberg e Reiting a Basini; ele sente tanto atração sexual por Basini e Beineberg quanto repulsa. Ele observa e participa da tortura e do estupro de Basini enquanto diz a si mesmo que está tentando entender a lacuna que há entre o seu ser racional e o seu ser irracional e obscuro; ele é um observador perturbado e desesperado do seu próprio estado de consciência. Basini, que é homossexual, no início dos abusos sexuais, que gradualmente agravam-se, é um pouco complacente com o que seus colegas fazem consigo por ainda estar descobrindo a sua sexualidade e estar sofrendo tortura psicológica. Beinberg e Reiting aliviam-se da culpa de sentirem atração por Basini humilhando-o. Basini confessa seu amor para Törless e Törless acaba por sentir um sentimento quase que recíproco, mas por fim é repelido pela incapacidade de Basini de lutar por si. Essa aversão com a passividade de Basini frente a seus agressores quase o leva a desistir de se opôr a Beineberg e Reiting. Quando a tortura passa dos limites morais de Törless, ele secretamente aconselha Basini a se entregar do roubo para o diretor, como uma forma de sair da situação.

Uma investigação começa, mas as únicas transgressões encontradas são as de Basini. (Neste ponto o romance cai no lugar-comum das histórias sobre bullying nas escolas: a vítima acaba por ser punida enquanto os bullies permanecem incólumes.) Törless faz um estranho discurso existencialista ao corpo docente sobre a lacuna entre o racional e o irracional (“mas que apesar de tudo, as coisas simplesmente acontecem”), que acaba por confundir os docentes ainda mais. Eles decidem que o intelectual dele é avançado demais para o instituto, e sugerem a seus pais que ele seja educado em casa, uma conclusão a que ele já chegou sozinho.

Outras tramas menores entrelaçadas com a questão central do romance são a experiência de Törless com a prostituta local Božena, seu encontro com o professor de matemáticas e as reflexões sobre as atitudes de seus pais frente ao mundo.

Leituras críticas

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Uma das leituras críticas mais populares do romance é a do escritor sul-africano J. M. Coetzee, vencedor do Prêmio Nobel, que foi publicada como introdução da tradução inglesa da Penguin Books de 2001. O texto comenta o livro ao mesmo tempo em que paraleliza-o à vida de Musil e às suas outras obras, principalmente O Homem sem Qualidades.[3]

Coetzee comenta, no início do texto, um dos temas principais do romance e que mais causou controvérsia em sua época: a sexualidade. Pelo fato de o protagonista estar em busca d“a lacuna que há entre o racional e o irracional”, a crítica habitualmente associa o livro à psicanálise, apesar de Musil ter confessado para seus amigos não gostar do culto levantado à então recém-criada psicanálise, que para ele seria algo passageiro. Outra questão delicada no modo como Musil abordou surgiu do fato de Musil ter explorado no romance o desenvolvimento da sexualidade, mostrando jovens europeus comuns com desejos e relações homossexuais.[1]

Outro ponto bastante discutido no meio literário são os personagens Beineberg e Reitin, alunos exemplares de um internato militar europeu que passam a torturar psicologicamente de um colega indefeso. Essa atitude dos personagens é vista como uma espécie de presságio do surgimento do fascismo na Europa.[4]

Mesmo tendo sido escrito aos 25 anos e sendo um livro de estreia, Musil nunca chegou a renegá-lo, admitindo inclusive ter impressionado-se com o que escreveu. Apesar de ter uma trama bastante diferente da de O Homem sem Qualidades, visto como o principal livro de Musil, alguns críticos, como Coetzee, afirmam que os dois livros partilham do mesmo tema central: a busca por um suporte em meio à instabilidade social.[3]

Em 1966, o diretor alemão Volker Schlöndorff lançou Der junge Törless, filme baseado no romance de Musil.[5]

Referências

  1. a b c d e «Notes for Robert Musil». Simon Fraser University. Consultado em 18 de agosto de 2014 
  2. Blasberg, Cornelia (1989). Robert Musil in Stuttgart. Verwirrungen eines Ingenieurs;1902-1903 (em alemão). Marbach am Neckar: Deutsches Literaturarchiv Marbach 
  3. a b Musil, Robert (2001). The Confusions of Young Törless (em inglês). [S.l.]: Penguin Classics. ISBN 978-0142180006 
  4. «The Confusions of Young Törless, By Robert Musil». The Irish Times. 1 de março de 2014. Consultado em 18 de agosto de 2014 
  5. «Der junge Törless». IMDb. Consultado em 18 de agosto de 2014