Poraquê
Poraquê | |||||||||||||||
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Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Electrophorus electricus (Lineu, 1766) |
O poraquê (nome científico: Electrophorus electricus) é uma espécie de peixe actinopterígio, gimnotiforme, que pode chegar a dois metros de comprimento e pesar cerca de vinte quilogramas. É uma das conhecidas espécies de peixe-elétrico, com capacidade de geração elétrica que varia de cerca de trezentos volts a cerca de 0,5 ampères até cerca de 860 volts a cerca de três ampères.[1]
O termo "poraquê" vem da língua tupi e significa "o que faz dormir" ou "o que entorpece",[2] em referência às descargas elétricas que produz. Além deste nome, também é chamado de enguia, enguia-elétrica, muçum-de-orelha, pixundé, pixundu ou peixe-elétrico (embora não seja o único peixe-elétrico existente).[3]
É típico da Bacia amazônica (rios Amazonas, Orinoco, Madeira), bem como dos rios do estado brasileiro do Mato Grosso, Rondônia. Também encontra-se em quase toda a América do Sul.[3]
Fisiologia
[editar | editar código-fonte]E. electricus tem três pares de órgãos abdominais que produzem eletricidade: o órgão principal, o órgão de Hunter e o órgão de Sachs. Esses órgãos ocupam grande parte de seu corpo e dão à enguia elétrica a capacidade de gerar dois tipos de descargas de órgãos elétricos: baixa tensão e alta tensão. Esses órgãos são feitos de eletrócitos, alinhados para que uma corrente de íons possa fluir através deles e empilhados para que cada um adicione uma diferença de potencial.[4] Os três órgãos elétricos são desenvolvidos a partir do músculo e exibem diversas propriedades bioquímicas e características morfológicas do sarcolema muscular; eles são encontrados simetricamente ao longo de ambos os lados da enguia.[1]
Características
[editar | editar código-fonte]O poraquê ficou conhecido mundialmente por sua capacidade de produzir descargas elétricas elevadas, suficientes para matar até um cavalo, despertando a curiosidade de muitos pesquisadores. Essas descargas são produzidas por células musculares especiais, modificadas – os eletrócitos, sendo o conjunto deles denominado de mioeletroplacas. Cada célula nervosa típica gera um potencial elétrico de cerca de 0,14 volt. Essas células estão concentradas na cauda, que ocupa quatro quintos do comprimento total do peixe.
Um exemplar adulto possui de 2.000 a mais de 10.000 mioeletroplacas, conforme o seu tamanho. Dispõem-se em série, como pilhas de uma lanterna e ativam-se simultaneamente quando o animal encontra-se em excitação, como na hora da captura de uma presa ou para defender-se, fazendo com que seus três órgãos elétricos – o de Hunter e o órgão principal – descarreguem.
A maior parte desta energia expressiva é canalizada para o ambiente, não afetando o indivíduo, o qual possui adaptações especiais em seu corpo, ficando, assim, como que isolado de sua própria descarga.
Apresenta coloração negra tendente ao chocolate-escuro, salpicada de pequenas manchas amarelas, vermelhas ou branco-sujo, corpo alongado, cilíndrico, e provido apenas de nadadeira anal, que percorre grande extensão do abdome. Há exemplares em que a parte abdominal anterior à nadadeira é vermelha e seus músculos caudais geram descargas elétricas como arma de defesa e também para aturdir os peixes dos quais se alimenta. Necessita vir periodicamente à superfície (a cada oito minutos, em média), para respirar.
Embora pareça uma enguia, o poraquê é um peixe aparentado com a carpa e o bagre. Ao contrário destes, porém, ele captura suas presas utilizando descargas elétricas. As descargas elétricas podem chegar à tensão elétrica de 1500 volts, com uma corrente elétrica de até três ampères. Isso não significa que haja simultaneidade dos dois valores máximos. Além disso, o valor da corrente é determinado não apenas pela tensão aplicada, mas também pela resistência elétrica do alvo.
O poraquê é capaz de produzir descargas elétricas de magnitude (em tensão) variada, tensão a depender apenas do animal (conforme o tamanho) — arma que usa para se defender e caçar pequenos peixes, bem como para se defender de eventuais ameaças, predatórias ou não.
De certa maneira, o poraquê comporta-se como uma bateria elétrica. Seu polo negativo está localizado na parte da frente e o polo positivo na parte de trás do corpo do animal. O choque é mais forte quando ambos os polos tocam a vítima ao mesmo tempo.
O poraquê não é, porém, o único animal com essa propriedade. Há também a arraia-elétrica, encontrada nos mares tropicais. No Rio Nilo, existe uma espécie de bagre que também produz descargas elétricas.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Mermelstein, Claudia Dos Santos; Costa, Manoel Luis; Moura Neto, Vivaldo (Setembro de 2000). «The cytoskeleton of the electric tissue of Electrophorus electricus, L.». Anais da Academia Brasileira de Ciências. 72 (3): 341–351. ISSN 0001-3765. PMID 11028099. doi:10.1590/S0001-37652000000300008
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 1 366
- ↑ a b de Santana, C. David; Crampton, William G. R.; et al. (Setembro de 2019). «Unexpected species diversity in electric eels with a description of the strongest living bioelectricity generator» (PDF). Nature Communications. 10 (1). 4000 páginas. Bibcode:2019NatCo..10.4000D. PMC 6736962. PMID 31506444. doi:10.1038/s41467-019-11690-z. Consultado em 19 de junho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 10 de setembro de 2019
- ↑ Xu, Jian; Lavan, David A. (novembro de 2008). «Designing artificial cells to harness the biological ion concentration gradient». Nature Nanotechnology. 3 (11): 666–70. Bibcode:2008NatNa...3..666X. PMC 2767210. PMID 18989332. doi:10.1038/nnano.2008.274
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- FERREIRA, Aurélio. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro (RJ, Brasil: Nova Fronteira, 2000
- Catania, Kenneth C., "The Shocking Predatory Strike of the Electric Eel", Science, Vol.346, No.6214, (5 de dezembro de 2014), pp. 1231–1234.
- Catania, K.C., "Leaping Eels Electrify Threats, Supporting Humboldt’s Account of a Battle with Horses", Proceedings of the National Academy of Sciences, Vol.113, No.13 (21 June 2016), pp.6979-6984.
- Catania, Kenneth C. (2017). «Power Transfer to a Human during an Electric Eel's Shocking Leap». Current Biology. 27 (18): 2887–2891.e2. PMID 28918950. doi:10.1016/j.cub.2017.08.034
- Finger S., "Dr. Alexander Garden, a Linnaean in Colonial America, and the Saga of Five 'Electric Eels'", Perspectives in Biology and Medicine, Vol.53, No.3, (Verão de 2010), pp. 388–406.
- Finger, S. & Piccolino, M., The Shocking History of Electric Fishes: From Ancient Epochs to the Birth of Modern Neurophysiology, Oxford University Press, (New York), 2011.
- Gervais, R (2017). «Phenomenological Understanding and Electric Eels». Theoria. 32 (3): 293–302. doi:10.1387/theoria.17294
- Plumb, G., "The 'Electric Stroke' and the 'Electric Spark': Anatomists and Eroticism at George Baker's Electric Eel Exhibition in 1776 and 1777", Endeavour, Vol.34, No.3, (September 2010), pp. 87–94.
- Traeger, L.L.; Sabat, G.; Barrett-Wilt, G.A.; Wells, G.B.; Sussman, M.R. (Julho de 2017). «A Tail of Two Voltages: Proteomic Comparison of the Three Electric Organs of the Electric Eel». Science Advances. 3 (7): e1700523. Bibcode:2017SciA....3E0523T. PMC 5498108. PMID 28695212. doi:10.1126/sciadv.1700523
- Turkel, W.J., Spark from the Deep: How Shocking Experiments with Strongly Electric Fish Powered Scientific Discovery, Johns Hopkins University Press, (Baltimore), 2013.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Dados relacionados com Electrophorus electricus no Wikispecies
- Media relacionados com Poraquê no Wikimedia Commons
- Filme educativo sobre a enguia elétrica de 1954do Moody Institute of Science