Saltar para o conteúdo

Ganga Bruta

Este é um artigo bom. Clique aqui para mais informações.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Ganga bruta)
Ganga Bruta
Ganga Bruta
Cartaz do filme.
 Brasil
1933 •  p&b •  82 min 
Género drama
Direção Humberto Mauro
Produção Cinédia
Roteiro Humberto Mauro
Otávio Gabus Mendes
Elenco Durval Bellini
Déa Selva
Lu Marival
Carlos Eugênio
Música Radamés Gnattali
Cinematografia Afrodísio de Castro
Paulo Morano
Distribuição Cinédia
Lançamento 29 de maio de 1933
Idioma português

Ganga Bruta é um filme brasileiro de drama de 1933 dirigido por Humberto Mauro. Estrelado por Durval Bellini e Déa Selva, acompanha um homem que, depois de matar sua esposa na noite de núpcias, muda-se para uma cidade onde se torna parte de um triângulo amoroso. Foi produzido entre 1931 e 1932 por Ademar Gonzaga em seu estúdio Cinédia.

Em seu lançamento inicial, o filme foi altamente criticado e seus baixos números de bilheteria resultaram em perdas financeiras para a empresa distribuidora, mas mais tarde os críticos e diretores de cinema o elogiaram. Em novembro de 2015, entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Foi listado por Jeanne O Santos, do Cinema em Cena, como "clássicos nacionais".[1]

Marcos, um rico engenheiro, descobre na noite de núpcias que sua noiva não era virgem e, enfurecido, a mata. Apesar da repercussão midiática, Marcos é absolvido e se muda para Guaraíba na tentativa de se distanciar do caso. Ele encontra um trabalho como gerente de construção de uma fábrica e se torna colega de trabalho de Décio, que vive com sua mãe paralisada e Sônia, sua irmã adotiva. Sônia, que está noiva de Décio, é atraída por Marcos e, embora não esteja sabendo de seus sentimentos, ele finalmente reconhece que se apaixonou por ela. Depois de descobrir que Marcos seduziu Sônia, Décio jura matá-lo, mas uma luta culmina na morte de Décio. No final do filme, Marcos e Sônia se casam.[2][3]

Déa Selva e Durval Bellini em Ganga Bruta

O elenco do filme foi o seguinte:[4]

  • Durval Bellini como Marcos;
  • Déa Selva como Sônia;
  • Lu Marival como a esposa de Marcos;
  • Décio Murillo como Décio;
  • Andréa Duarte como a mãe de Décio;
  • Alfredo Nunes como mordomo; e
  • Ivan Villar como criado.
Ganga Bruta Eu usei, como no filme mudo, símbolos e inferências, o que me rendeu o apelido de Freud de Cascadura. Quando a febre de Freud se apoderou, li tudo o que ele escreveu para poder me apossar. Tentei ver o que poderia ser aplicado ao cinema. Em Ganga Bruta eu queria ver se poderia criar alguns efeitos freudianos, principalmente por meio dos símbolos fálicos, como guindastes, movimentos verticais da câmera, objetos e composição de filmagens. Ganga Bruta

Humberto Mauro[5]

O filme foi inicialmente chamado de Dança das Chamas. Raul Schnoor, Tamar Moema, e Ruth Gentil estavam planejados para desempenhar os papéis de destaque, com as filmagens ocorrendo nos estados de Amazonas e Pará.[6][7] O filme foi finalmente filmado com um elenco diferente na Ilha das Cobras e na Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, e em Guaxindiba, São Gonçalo, Rio de Janeiro, entre 2 de setembro de 1931 e 21 de outubro de 1932, usando uma câmera portátil.[5][6]

Ganga Bruta foi o sexto longa-metragem dirigido por Humberto Mauro e seu segundo para o estúdio de cinema Cinédia, uma empresa de propriedade de Ademar Gonzaga.[8] Gonzaga, que era produtor de filmes, o concebeu como um filme mudo com uma partitura gravada em disco e sincronizada com o filme durante sua exibição.[9] Quando quase terminou, no entanto, Gonzaga concordou em adicionar vozes gravadas em Vitaphone,[9] uma mudança provocada pelo advento dos filmes sonoros e seu aumento de popularidade no mercado brasileiro durante a produção do filme.[5][9]

Recepção e análises

[editar | editar código-fonte]

O filme foi lançado pela primeira vez em 29 de maio de 1933 no cinema Alhambra no Rio de Janeiro.[6][7] Não foi bem recebido em sua estreia; Ganga Bruta foi rotulado como "o pior filme de todos os tempos" pela crítica[10] e resultou em "grandes perdas financeiras" para a Cinédia.[11] A Time Out Rio de Janeiro afirmou que "foi rejeitado energicamente por críticos tradicionais e telespectadores míopes."[12] As opiniões foram revisadas após a sua restauração em 1952 como uma triagem na 1.ª Retrospectiva Cinematográfica Brasileira,[10] quando "impressionou profundamente" os diretores que fariam parte do movimento Cinema Novo nas décadas de 1960 e 1970.[13] Por exemplo, Glauber Rocha ficou especialmente impressionado e depois o citou como "um dos vinte melhores filmes de todos os tempos" em seu livro Revisão Crítica do Cinema Brasileiro.[10] Outro diretor de cinema, Walter Lima, Jr., declarou: "há dois filmes que são claros arquétipos da busca eterna do Brasil, nomeadamente Limite e Ganga Bruta. Eles representam algo que você tem que polir e algo que determina seu próprio espaço, sugerindo ao mesmo tempo que algo mais existe além de seus limites."[14]

Randal Johnson e Robert Stam, escritores do Brazilian Cinema, chamaram o filme de "obra-prima de Mauro", dizendo que "melhora criativamente os estilos cinematográficos do expressionismo e da montagem soviética."[13] Daniel Balderston, Mike Gonzalez e Ana M. Lopez, da Encyclopedia of Contemporary Latin American and Caribbean Cultures, escreveram que o filme é "magisterial", combinando lirismo, naturalismo e expressionismo.[15] Escrevendo para a South American Cinema: A Critical Filmography, Peter Rist elogiou sua música, dizendo que a "mistura áudio-visual de Mauro" tem um "efeito lírico completo."[8] Georges Sadoul, autor de Dictionary of Films, observou que "apesar de sua trama tola e convencional, este é o melhor filme de Humberto Mauro e um marco na história do cinema brasileiro."[16] Sadoul sugeriu que os elementos industriais eram usados como "símbolos eróticos", e comparou o cenário com o filme Él, de Luis Buñuel.[16] O crítico francês Jacques Lourcelles afirmou que o tema principal de Ganga Bruta é a violência, ao lado do qual é "uma atmosfera de erotismo carnal e cósmico."[17] Em Le cinéma brésilien, Carlos Roberto de Souza comentou que "há ecos freudianos e surrealistas" no filme.[18]

Em novembro de 2015, Ganga Bruta entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos. No ranking, foi listado como o 24.º melhor, superando filmes como Tropa de Elite, Ônibus 174, Rio, 40 Graus e Bang Bang.[19]

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Ganga Bruta», especificamente desta versão.

Referências

  1. Jeanne O Santos. «Clássicos nacionais». Cinema em Cena. CartaCapital. Consultado em 29 de junho de 2019 
  2. Flávia Lago de Jesus Pereira (Junho de 2010). «Cinema à moda brasileira: Ganga Bruta e a questão da identidade nacional» (PDF). Universidade Federal da Bahia. Consultado em 14 de julho de 2017 
  3. «Cinemateca exibe longas de Humberto Mauro». Ministério da Cultura do Brasil. 11 de novembro de 2016. Consultado em 14 de julho de 2017 
  4. «Ganga Bruta». Cinédia. 2008. Consultado em 14 de julho de 2017 
  5. a b c Shaw, Lisa; Dennison; Stephanie (2014). Brazilian National Cinema. [S.l.]: Routledge. pp. 50–51. ISBN 9781134702107 
  6. a b c «Ganga Bruta». Cinemateca Brasileira. Consultado em 30 de abril de 2014. Cópia arquivada em 6 de Julho de 2014 
  7. a b «Ganga Bruta». Cinédia. Consultado em 8 de julho de 2014. Cópia arquivada em 8 de Julho de 2014 
  8. a b Barnard, Timothy; Rist, Peter (2010). South American Cinema: A Critical Filmography, 1915–1994. [S.l.]: University of Texas Press. pp. 153–155. ISBN 9780292792104 
  9. a b c Ramos, Fernão; Miranda, Luiz Felipe (2000). Enciclopédia do cinema brasileiro. [S.l.]: Senac. p. 131. ISBN 9788573590937 
  10. a b c Galdini, Ana Paula. «Ganga Bruta (1933)». Cinemando. Consultado em 30 de abril de 2014. Cópia arquivada em 13 de janeiro de 2004 
  11. Dennison, Stephanie (2004). Popular Cinema in Brazil: 1930-2001. [S.l.]: Manchester University Press. p. 48. ISBN 9780719064999 
  12. Time Out Rio de Janeiro. [S.l.]: Time Out Group. 2007. p. 159. ISBN 9781846700453 
  13. a b Johnson, Randal; Stam, Robert (1995). Brazilian Cinema. [S.l.]: Columbia University Press. pp. 25–26. ISBN 9780231102674 
  14. Nagib, Lúcia (2004). The New Brazilian Cinema. [S.l.]: I.B. Tauris. pp. 246–247 
  15. Balderston, Daniel; Gonzalez; Mike; Lopez, Ana M. (2014). Encyclopedia of Contemporary Latin American and Caribbean Cultures. [S.l.]: Routledge. p. 936. ISBN 9781134788521 
  16. a b Sadoul, Georges (1972). Dictionary of Films. [S.l.]: University of California Press. p. 123. ISBN 9780520021525 
  17. Lourcelles, Jacques (1999). Dictionnaire du cinéma – Les films. [S.l.]: Éditions Robert Laffont. ISBN 2221091124 
  18. Paranaguá, Paulo Antonio; Augusto; Sergio, eds. (1987). Le cinéma brésilien. [S.l.]: Centre Georges Pompidou. p. 138. ISBN 9782858503872 
  19. André Dib (27 de novembro de 2015). «Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros». Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Consultado em 8 de julho de 2017 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]