Helenira Resende
Helenira Resende | |
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Nascimento | 19 de janeiro de 1944 Cerqueira César, Brasil |
Morte | 29 de setembro de 1972 (28 anos) região do Araguaia, Brasil |
Nacionalidade | brasileira |
Ocupação | guerrilheira |
Helenira Resende de Souza Nazareth, de codinome Fátima (Cerqueira César, 19 de janeiro de 1944 – Araguaia, 29 de setembro de 1972), foi uma guerrilheira brasileira, militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e integrante da Guerrilha do Araguaia.
Foi um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, que apura mortes e desaparecimentos na ditadura militar brasileira. Helenira é considerada uma desaparecida política desde 1972 porque os seus restos mortais não foram encontrados e nem entregues para os familiares, impedindo seu sepultamento.[1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Líder estudantil e ex-vice-presidente da UNE, jogadora de basquete e praticante do atletismo, conhecida como "Preta" pelos colegas de militância e da universidade e reconhecida por sua capacidade como oradora, cursou Letras e Filosofia na USP, na rua Maria Antônia, em São Paulo, e foi presa durante o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, 1968. Do ônibus que a transportava junto com outros estudantes presos, conseguiu entregar um bilhete a um transeunte que avisava sua família de sua prisão, o que impediu que fosse dada como desaparecida. Transferida do Presídio Tiradentes para o DOPS, foi jurada de morte pelo delegado Sérgio Fleury, figura máxima da repressão policial à resistência à ditadura militar.[2]
Helenira foi solta por força de habeas-corpus concedido na véspera da edição do AI-5, em dezembro de 1968, e caiu na clandestinidade, vivendo em várias partes do país até ir para o Araguaia, no sul do Pará, para contribuir na organização da luta armada rural contra o regime.[3]
Integrante do Destacamento A da guerrilha, onde usava o nome Fátima, Helenira fazia parte de um grupo emboscado por fuzileiros navais em 29 de setembro de 1972. Ferida no tiroteio e metralhada nas pernas, recusou-se a entregar a localização dos companheiros aos militares[4] e foi torturada e morta a golpes de baioneta.[5]
Morte
[editar | editar código-fonte]Sua morte foi descrita no Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, o único dirigente da guerrilha a sobreviver a ela, da seguinte maneira:
“No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Resende. Ela, juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estrada vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram ‘batedores’ para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este, quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando viu, os soldados já estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte”.— Ângelo Arroyo, no Relatório Arroyo, único documento conhecido dos guerrilheiros sobre a Guerrilha do Araguaia.[6]
Seu corpo, que segundo camponeses teria sido enterrado num local conhecido como 'Oito Barracas', nunca foi encontrado e oficialmente é reconhecida como "foragida" pelas Forças Armadas. Após sua morte, o destacamento em que atuava, em homenagem à sua coragem e espírito de liderança, passou a chamar-se Destacamento Helenira Rezende.[7]
Homenagens
[editar | editar código-fonte]Casa Helenira Preta de referência para mulher, em São Paulo, na cidade de Mauá, centro de apoio à mulheres em situação de violência construído a partir de uma ocupação organizada por mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário reivindicando políticas públicas para mulheres.
No ano de 2012, a Associação de Pós-graduandos da Universidade de São Paulo, no campus capital, decidiu prestar-lhe homenagem, passando a se denominar APG Helenira 'Preta' Resende – USP/capital.[8]
Em 1997, a Câmara Municipal de Campinas criou a Lei 9497 de 20/11/97 que nomeou, a anteriormente rua 3 do Residencial Cosmo I, como Helenira Rezende de Sousa Nazareth.
Na cidade de São Paulo, algumas ruas dos bairros do Grajaú e Cidade Ademar receberam o seu nome. Além disso, Guarulhos também homenageou Helenira ao intitular uma das ruas com o nome da guerrilheira.[1]
Em 2014, na cidade de Assis, a Lei 5.876/2014 de 24 de julho de 2014 denominou a Praça de Esportes e da Cultura do Parque Colinas de Espaço Comunitário "Helenira Rezende de Souza Nazareth", conforme Projeto de Lei do vereador Reinaldo Farto Nunes[9] - Partido dos Trabalhadores.[10][10]
Em sua homenagem também, o centro acadêmico do curso de Ciências Sociais da EFLCH/Unifesp leva seu nome.
No dia 26 de agosto de 2024, Helenira, assim como outros quatorze estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo assassinados pela ditadura militar recebeu postumamente o diploma da graduação como parte do projeto "Diplomação da Resistência".[11]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b «HELENIRA RESENDE DE SOUZA NAZARETH - Comissão da Verdade». comissaodaverdade.al.sp.gov.br. Consultado em 15 de outubro de 2019
- ↑ «Mortos e Desaparecidos Políticos». www.desaparecidospoliticos.org.br
- ↑ «Helenira Resende de Souza Nazareth». Memórias da ditadura. Consultado em 17 de outubro de 2019
- ↑ Ribeiro, Bruno -Helenira Rezende e a Guerrilha do Araguaia, Expressão Popular, ISBN 78-85-7743-029-1
- ↑ Berardo, João Batista - Guerrilhas e guerrilheiros no drama da América Latina, Ed. Populares, 1981
- ↑ «HELENIRA RESENDE DE SOUZA NAZARETH». memoriasdaditadura.org.br. Consultado em 4 de setembro de 2015
- ↑ «MEPR». Consultado em 5 de agosto de 2009. Arquivado do original em 9 de junho de 2008
- ↑ «Ato-festa marca a refundação da APG-USP Capital». Associação Nacional de Pós-Graduandos/USP. Consultado em 15 de março de 2013[ligação inativa]
- ↑ «Câmara se reúne na segunda e inclui LDO e homenagem do PT na pauta». Câmara Municipal de Assis. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ a b «Centro de Artes e Esportes Unificado é ignaugurado no Parque Colinas». 24 de junho de 2016. Consultado em 8 de julho de 2020
- ↑ «USP vai diplomar 15 alunos da FFLCH que foram mortos pela ditadura militar». Jornal da USP. 12 de agosto de 2024. Consultado em 26 de agosto de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- MORAIS, Tais de. SILVA, Eumano. Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha. ISBN 8575091190.
- MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos - Dos filhos deste solo - Fundação Perseu Abramo, 1999 - ISBN 978-85-7643-066-7
- Nascidos em 1944
- Mortos em 1972
- Guerrilheiros do Araguaia
- Comunistas do Brasil
- Naturais de Cerqueira César
- Casos de pessoas desaparecidas no Brasil
- Opositores da ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Mortos e desaparecidos no combate à ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Afro-brasileiras
- Estudantes assassinados no Brasil
- Alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
- 1972 no Pará
- Crimes no Pará
- Crimes não resolvidos no Brasil
- Crimes na América do Sul em 1970
- Ativistas brasileiros assassinados
- Pessoas assassinadas no Brasil na década de 1970
- Pessoas torturadas na ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Mortes por armas brancas
- Violência política no Brasil