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Abzeme

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Ibn Hazm)
Abzeme
Abzeme
Nascimento 7 de novembro de 994
Córdova
Morte 15 de agosto de 1064 (69 anos)
Huelva
Cônjuge Uns al-Qulub
Ocupação filósofo, alfaqui, letrado, poeta, geógrafo
Obras destacadas The Ring of the Dovo, Al-Muhalla, Rasāʾil Ibn Ḥazm al-ʾandalusī
Religião Islamismo

Abu Maomé Ali ibne Amade ibne Saíde ibne Hazme (em árabe: أبو محمد علي بن احمد بن سعيد بن حزم; romaniz.: Abū Muḥammad ʿAlī ibn Aḥmad ibn Saʿīd ibn Ḥazm; Munte Lixum, Califado de Córdova, 7 de novembro de 994 – Munte Lixum,[1][2] 15 de agosto 1064,[3] / 456 AH[4]), mais conhecido como ibn Hazm,[5][6][7][2], ibn Khazem,[8] ou Abenházam,[9] aportuguesado como Abzeme,[10] ou ibne Házeme,[11] ibne Hazme,[12] também referido como Alandalusi Azairi (al-Andalusī aẓ-Ẓāhirī)[13] foi um erudito, poeta, historiador, jurista e teólogo andalusino, considerado o pai da religião comparada.[14]

Descrito como um dos mais estritos intérpretes dos hádices, foi um dos principais proponentes e codificadores da escola de jurisprudência islâmica zahiri (sunita).[15] A Enciclopédia do Islã refere-se a ele como um dos maiores pensadores do mundo islâmico.[15][16] Produziu cerca de 400 obras (totalizando cerca de 80 000 páginas), das quais apenas 40 chegaram à nossa época.[17][14][18] Sua produção abrange várias áreas do conhecimento, tais como jurisprudência islâmica, história, genealogia, ética, teologia e religião comparada.[14][3] Seu grande tratado histórico-religioso al-Fiṣal ('Discriminação') critica não só o judaísmo e o cristianismo, mas também as seitas muçulmanas heterodoxas - embora ele próprio tenha rompido com a ortodoxia, nos campos jurídico e teológico, apoiando o sistema zahirita.

Particularmente interessante é o seu tratado sobre o amor Ṭawq al-ḥamāma ('O colar da pomba'), onde a parte teórica é acompanhada por lembranças autobiográficas e anedóticas, com citações extensas de seus próprios versos.[19][14] Nele, o autor relata a existência de homossexualidade feminina e masculina na comunidade islâmica, em particular a andalusa, condenado tais práticas como pecado à luz dos textos religiosos, mas advogando contra a pena de morte. Declara-se contra a visão de que era uma condição irredímivel e merecedora da mais elevada punição, e sugere reduzir a punição a apenas dez chibatadas.[20]

Nasceu em Munte Lixum ou Munte Lixã (Montíjar), Niebla, perto de Huelva,[21] Taifa de Sevilha. De temperamento apaixonado e vigoroso polêmico, participou intensamente da vida política da sua próspera época. Foi vizir do califa Abderramão V (r. 1023–1024) mas, em consequência de intrigas palacianas, esteve na prisão em várias ocasiões, além de ter sofrido um breve desterro. Posteriormente, abandonou a política para se dedicar aos estudos de teologia e direito. Após as crises do Califado de Córdova, exilou-se em diferentes taifas de Alandalus - como a taifa de Sevilha, a convite de Almutadide (r. 1042–1069), e a taifa de Maiorca. Morreria perto do sítio de seu nascimento.[21]

Os seus pontos de vista controversos não foram bem aceites pela generalidade dos seus pares. A célebre queima pública de seus livros, em Sevilha, pelo governante Almutadide,[22] inspirou um seu conhecido poema:

دعـوني من إحراقِ رَقٍّ وكـاغدٍ

وقولوا بعلمٍ كي يرى الناسُ من يدري

فإن تحرقوا القرطاسَ لا تحرقوا الذي

تضمّنه القرطاسُ، بـل هو في صدري

يـسيرُ معي حيث استقلّت ركائبي

وينـزل إن أنـزل ويُدفنُ فـي قبري

Referências

  1. Ibn ḥazm. Oxford Islamic Studies Online
  2. a b Dizionario di filosofia (2009) treccani.it
  3. a b Ibn Hazm. The Ring of the Dove: A Treatise on the Art and Practice of Arab Love. Trans. A. J. Arberry. Luzac Oriental, 1997 ISBN 1-898942-02-1
  4. «USC-MSA Compendium of Muslim Texts». Usc.edu. Consultado em 12 de setembro de 2010. Arquivado do original em 28 de novembro de 2008 
  5. Nykl, A. R. "Ibn Ḥazm's Treatise on Ethics". The American Journal of Semitic Languages and Literatures, Vol. 40, No. 1. (Oct., 1923), pp. 30–36.
  6. Enfrentamientos entre árabes y beréberes. Artehistoria.
  7. Dialnet. Lista de títulos disponíveis sobre Ibn Hazm.
  8. Biswas, Paul S. Perceptions of Christianity Among South Asian Muslims in America. WestBow Press, 2020.
  9. Palacios, Miguel Asín Abenházam de Córdoba y su historia crítica de las ideas religiosas, 5 v., Madrid Tip. de la Revista de archivos, 1927-32.1927–32 [repr. 1984].
  10. Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S.A. p. 69 
  11. Dias, Eduardo; Cavalheiro, Rodrigues (1945). Memórias de forasteiros aquém e além-mar: Portugal, África e Índia, séculos XII-XVI. Elementos bibliográficos. Lisboa: Livraria Clássica. p. 22 
  12. Coelho, António Borges. Comunas ou concelhos. Lisboa: Prelo. p. 44 
  13. A. R. Nykl. "Ibn Ḥazm's Treatise on Ethics". The American Journal of Semitic Languages and Literatures, Vol. 40, No. 1. (Oct., 1923), pp. 30–36.
  14. a b c d Fiegenbaum, J. W. (1998). «Ibn Ḥazm». Britânica Online. Consultado em 23 de abril de 2022 
  15. a b Arnaldez, R. Ibn Ḥazm. Encyclopaedia of Islam, 2d Ed. Brill Online, 2013. Ref. 9 de janeiro de 2013
  16. Islamic Desk Reference, p. 150. Ed. E. J. Van Donzel. Leiden: Brill Publishers, 1994. ISBN 9789004097384
  17. Kechichian, Joseph A. A mind of his own. Gulf News, 20 de dezembro de 2012.
  18. Kalin, Ibrahim; Ayduz, Salim(ed.), The Oxford Encyclopedia of Philosophy, Science, and Technology in Islam, Volume 1, p. 328
  19. Enciclopedia Treccani: Ibn Ḥazm
  20. Adang, Camilla (2003). Ibn Ḥazm on Homosexuality. A case-study of Ẓāhirī legal Methodology. [S.l.]: Al-Qanṭara 
  21. a b O papel dominante que a cidade de Huelva desempenha atualmente em sua província homônima data apenas do início do século XIX; a província inclui Niebla, situada a menos de 30km a noroeste, hoje um pequeno assentamento rural. Na Idade Média, no entanto, era o contrário: Labla (Niebla) era um centro urbano de primeira categoria administrativa (kūra), do qual dependia a menor e menos importante Huelva (Ūnba/Wilba). Isso explica o fato de Niebla ainda possuir o mais impressionante patrimônio arquitetônico islâmico da província - em particular a muralha da cidade - enquanto não há restos monumentais preservados em Huelva. V. García-Sanjuán, Alejandro. Ibn Ḥazm and the territory of Huelva: personal and family relationships. In Adang, Camilla; Fierro, Maribel; Schmidtke, Sabine, Ibn Ḥazm of Cordoba - The Life and Works of a Controversial Thinker]. Leiden/Boston: Brill, 2013, p. 51.
  22. Safran, Janina M. (2014). «The politics of book burning in al-Andalus». Journal of Medieval Iberian Studies (2). 148 páginas. ISSN 1754-6559. Consultado em 28 de junho de 2024 
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