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Igreja da Virgem do Farol

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(Redirecionado de Igreja da Virgem de Pharos)
Igreja da Virgem do Farol
Igreja da Virgem do Farol
Mapa do distrito imperial de Constantinopla. A igreja da Virgem estava na parte sul, próxima ao farol.
Informações gerais
Estilo arquitetónico arquitetura bizantina
Religião Ortodoxa grega
Ano de consagração Virgem Maria
Geografia
País  Turquia
Localização Istambul
Coordenadas 41° 00′ 21″ N, 28° 58′ 38″ L
Mapa
Localização em mapa dinâmico
Notas: Destruída durante o período do Império Latino

A Igreja da Virgem do Farol (em grego: Θεοτόκος τοῦ Φάρου; romaniz.: Theotokos tou Pharou) era uma capela bizantina construída na parte sul do Grande Palácio em Constantinopla e batizada em homenagem ao farol (pharos) que existia nas redondezas.[1] Ela abrigava a mais importante coleção de relíquias da cidade e funcionou como a principal capela palaciana para os imperadores bizantinos. A igreja não sobreviveu à ocupação latina na cidade.[2]

A igreja foi provavelmente construída em algum momento do século VIII, como atestado pela primeira vez na crônica de Teófanes, o Confessor, em seu texto sobre o ano de 769: seria ali que o futuro imperador Leão IV, o Cazar (r. 775–780) se casaria com Irene de Atenas. A igreja estava localizada perto do centro cerimonial do palácio, a sala do trono do Crisotriclino e colada nos aposentos imperiais.[3] Logo após o final do Iconoclasma, ela foi inteiramente reconstruída e redecorada pelo imperador Miguel III, o Ébrio (r. 842–867). Mesmo depois de restaurada, a igreja ainda era um edifício relativamente pequeno, com uma cúpula estriada, três absides, um nártex e um átrio "esplendidamente decorado".[4] Quando ela foi rededicada, por volta de 864, o patriarca de Constantinopla Fócio proferiu ali uma de suas mais famosas homilias, elogiando a espetacular decoração da igreja,[5][6] quando na realidade, ele estava sutilmente criticando-a por ser "muito" suntuosa, especialmente por causa de seu pequeno tamanho.[7]

Juntamente com as igrejas de Santo Estevão do Palácio de Dafne e a Igreja Nova, a Virgem do Farol se tornou uma das maiores coleções de relíquias sagradas cristãs. Consequentemente - e também por conta da proximidade dos aposentos imperiais - ela se tornou um dos principais locais cerimoniais no palácio imperial,[8] se tornando, eventualmente, nas palavras de Cyril Mango, "a capela palaciana par excellence".[9]

Cobertura em ouro do relicário da lápide do Santo Sepulcro.
Obra bizantina atualmente preservada no tesouro de Sainte-Chapelle..

Já em 940, sua coleção de relíquias incluía a Lança Sagrada e parte da Vera Cruz e, durante os dois séculos seguintes, uma sucessão de imperadores foi acrescentando novos tesouros: a Imagem de Edessa (o Mandílio) em 944, o braço direito de João Batista em 945 (atualmente em exposição no Palácio de Topkapı), as sandálias de Cristo e o Tijolo Sagrado (cerâmio) na década de 960, a carta de Cristo ao rei Abgar V de Edessa em 1032. No final do século XII, de acordo com o relato de Nicolau Mesarita, o escevofílax da igreja, e de peregrinos, como Antônio de Novogárdia, a coleção incluía ainda mais relíquias, relacionadas principalmente à Paixão de Cristo: a Coroa de Espinhos, um dos Santos Cravos, roupas de Cristo, o manto púrpura e a bengala de junco, e até mesmo um pedaço de sua lápide.[10][11] Como resultado, a igreja era considerada pelos bizantinos como "um outro Sinai, uma Belém, um Jordão, uma Jerusalém, uma Nazaré, uma Betânia, uma Galileia, uma Tiberíades.".[3]

O cruzado francês Robert de Clari, em sua narrativa sobre o saque de Constantinopla pela Quarta Cruzada em 1204, chama a igreja de la Sainte Chapelle ("a Capela Sagrada").[4] A capela em si foi poupada ao saque durante o evento: Bonifácio de Monferrato tomou rapidamente a área do Palácio de Bucoleão e as relíquias passaram em segurança para as mãos do novo imperador latino, Balduíno I (r. 1204–1205).[12] Nas décadas seguintes, porém, a maioria delas se dispersou por toda a Europa Ocidental, na forma de presentes para influentes e poderosos reis ou foram vendidas para conseguir dinheiro e suprimentos para o claudicante e sempre sem dinheiro Império Latino.[13] Muitas delas, principalmente as que diziam respeito à Paixão, foram adquiridas pelo rei Luís IX da França (r. 1226–1270) e, para abrigá-las, ele construiu também uma capela palaciana especialmente dedicada, caracteristicamente chamada de Sainte-Chapelle, imitando diretamente a Igreja da Virgem do Farol.[14][15] O conceito da igreja foi novamente imitado na capela relical do Castelo de Karlstejn, construída por Carlos IV, imperador do Sacro Império Romano Germânico (r. 1346–1378) em consonância com o seu desejo de ser o "novo Constantino".[3]

Referências

  1. Klein 2006, p. 79-80.
  2. Maguire 2004, p. 57.
  3. a b c Klein 2006, p. 80.
  4. a b Maguire 2004, p. 56.
  5. Maguire 2004, p. 55.
  6. Mango 1986, p. 185-186.
  7. Necipoğlu 2001, p. 171-172.
  8. Klein 2006, p. 93.
  9. Mango 1986, p. 185.
  10. Klein 2006, p. 91-92.
  11. Maguire 2004, p. 56; 67-68.
  12. Angold 2003, p. 235-236.
  13. Angold 2003, p. 236-239.
  14. Maguire 2004, p. 56-57.
  15. Angold 2003, p. 239.