Império de Salonica
Império de Salonica | ||||
Vassalo do Segundo Império Búlgaro (1230–37) e do Império de Niceia (1242–46) | ||||
| ||||
Despotado do Epiro entre 1205-1230. O verde claro representa os domínios conquistados por Teodoro I | ||||
Continente | Europa | |||
País | Grécia e Turquia | |||
Capital | Salonica | |||
Língua oficial | Grego medieval | |||
Religião | Igreja Ortodoxa | |||
Governo | Monarquia | |||
Imperador | ||||
• 1224–1230 | Teodoro | |||
• 1244–1246 | Demétrio | |||
Período histórico | Baixa Idade Média | |||
• 1224 | Fundação | |||
• 1246 | Dissolução |
Império de Salonica (em grego: Αυτοκρατορία της Θεσσαλονίκης) é um termo historiográfico utilizado por alguns estudiosos modernos[1][2][3][4] para referir-se ao Estado grego bizantino de curta duração centrado na cidade de Salonica entre 1224 e 1246 e governado pela dinastia Comneno Ducas do Epiro. No momento da sua criação, o Império de Salonica sob o capaz Teodoro Comneno Ducas rivalizou com o Império de Niceia e o Segundo Império Búlgaro como o mais forte Estado na região, e aspirou capturar Constantinopla, colocando fim ao Império Latino, e restaurando o Império Bizantino que foi extinto em 1204. A ascensão de Salonica foi breve, terminando com a desastrosa batalha de Klokotnitsa contra a Bulgária em 1230, quando Teodoro Comneno Ducas foi capturado.
Reduzido à vassalagem búlgara, seu irmão e sucessor Manuel Comneno Ducas foi incapaz de evitar a perde de muitas das conquistas de seu irmão na Macedônia e Trácia, enquanto o núcleo original do Estado, Epiro, tornou-se independente sob Miguel II Comneno Ducas. Teodoro recuperou Salonica em 1237, instalando seu filho João Comneno Ducas, e após ele Demétrio Comneno Ducas (r. 1244–1246), como governantes da cidade, enquanto Manuel, com apoio niceno, tomou a Tessália. Os governantes de Salonica portaram o título imperial de 1225/1227 até 1242, quando foram forçados a renunciá-lo e reconhecer a suserania do rival Império de Niceia. Os Comnenos Ducas continuaram a governar como déspotas de Salonica por mais quatro anos depois disso, mas em 1246 a cidade foi anexada por Niceia.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Após a Quarta Cruzada capturar Constantinopla em abril de 1204, o Império Bizantino foi dissolvido e dividido entre os líderes cruzados e a República de Veneza. O Império Latino foi centrado em Constantinopla, enquanto boa parte do norte e leste da Grécia continental foram para o Reino de Salonica sob Bonifácio de Monferrato.[5][6] Ao mesmo tempo, dois grandes Estados gregos bizantinos nativos emergiram para enfrentar os latinos e reclamar a herança bizantina, o então chamado Império de Niceia sob Teodoro I Láscaris (r. 1204–1222) na Ásia Menor, e o então chamado Despotado do Epiro na Grécia ocidental sob Miguel I Comneno Ducas (r. 1205–1215), enquanto um terceiro Estado, o então chamado Império de Trebizonda, estabeleceu uma existência separada nas costas remotas do Ponto.[7][8] Miguel I Comneno Ducas logo estendeu seu Estado na Tessália e seu sucessor Teodoro Comneno Ducas capturou Salonica em 1224.[9][10]
Ascensão e declínio
[editar | editar código-fonte]A captura de Salonica, tradicionalmente a segunda cidade do Império Bizantino após Constantinopla, permitiu a Teodoro enfrentar as reivindicações nicenas sobre o título imperial bizantino. Com o apoio dos bispos de seus domínios, foi coroado imperador em Salonica pelo arcebispo de Ócrida, Demétrio Comateno. A data é desconhecida, mas foi situada em 1225 ou em 1227/1228.[11][12] Tendo abertamente declarado suas ambições imperiais, Teodoro voltou seu olhar para Constantinopla. Apenas o imperador niceno João III Ducas Vatatzes (r. 1221–1254), e o imperador búlgaro João II Asen (r. 1218–1241) eram fortes o bastante para enfrentá-lo.[13]
Numa tentativa de antecipar Teodoro, os nicenos tomaram Adrianópolis dos latinos em 1225, mas Teodoro rapidamente marchou para a Trácia e forçou os nicenos a deixar seus domínios europeus para ele. Teodoro estava livre para assaltar Constantinopla, mas por rasões desconhecidas atrasou seu ataque. No meio tempo, os nicenos e latinos resolveram suas diferenças, e embora formalmente aliados com Teodoro, João II Asen também iniciou conversações para uma aliança dinástica entre o Império Latino e Bulgária.[13] Em 1230, Teodoro finalmente marchou contra Constantinopla, mas virou seu exército inesperadamente para norte contra a Bulgária. Na resultante Batalha de Klokotnitsa, o exército de Teodoro foi destruído e ele foi levado cativo e depois cegado.[14][15]
Esta derrota abrupta diminuiu o poder de Salonica. Um estado construído sob rápida expansão militar e contando com a habilidade de seu governante, sua administração foi incapaz de lidar com a derrota. Seus territórios na Trácia, bem como da Macedônia e Albânia, rapidamente caíram para os búlgaros, que emergiram como o poder mais proeminente dos Bálcãs.[15][16] Teodoro foi sucedido por seu irmão Manuel Comneno Ducas (r. 1230–1241). Ele ainda controlou os arredores de Salonica bem como as terras da dinastia na Tessália e Epiro, mas foi forçado a reconhecer-se como vassalo de Asen. A fim de preservar alguma liberdade de manobra, Manuel virou-se para os antigos rivais de seu irmão em Niceia, oferecendo reconhecido da superioridade de Vatatzes e do patriarca de Constantinopla, que residia em Niceia.[17] Manuel também foi incapaz de evitar Miguel II Comneno Ducas, o filho bastardo de Miguel I, de retornar do exílio no rescaldo de Klokotnitsa e tomar controle do Epiro, onde aparentemente gozou de suporte considerável. No fim, Manuel foi forçado a aceitar o fait accompli e reconheceu Miguel II como governante do Epiro sob sua própria suserania. Como sinal disso, conferiu a Miguel o título de déspota. De início, a suserania de Manuel foi teórica, e por 1236–37 Miguel II esteve agindo como um governante independente, tomando Corfu, e emitindo cartas e concluindo tratados em seu próprio nome.[18]
O reinado de Manuel durou até 1237, quando foi deposto num golpe por Teodoro. O último foi libertado do cativeiro e secretamente retornou para Salonica após João II Asen apaixonar-se e casar-se com sua filha Irene. Tendo sido cegado, Teodoro não poderia reclamar o trono para si e coroou seu filho João Comneno Ducas (r. 1237–1244), mas permaneceu o poder real atrás do trono e regente virtual.[19][20] Manuel logo escapou e fugiu para Niceia, onde prometeu lealdade a Vatatzes. Assim, em 1239, Manuel foi permitido velejar para a Tessália, onde começou a reunir um exército para marchar contra Salonica. Após a captura de Lárissa, Teodoro ofereceu-o um acordo, no qual ele e seu filho manteriam Salonica, Manuel manteria a Tessália, enquanto outro irmão, Constantino Comneno Ducas, governaria a Etólia e Acarnânia, que havia recebido como apanágio desde a década de 1220. Manuel concordou e governou a Tessália até sua morte em 1241, momento que ela foi rapidamente ocupada por Miguel II do Epiro.[21]
Submissão de Niceia
[editar | editar código-fonte]Em 1241, na garantia de salvo conduto, Teodoro foi para Niceia, mas lá Vatatzes manteve-o como prisioneiro, e no ano seguinte embarcou com seu exército para a Europa e marchou contra Salonica. Vatatzes teve que interromper a campanha e retornou para Niceia quando recebeu notícias da invasão mongol na Ásia Menor, mas conseguiu intimidar João à submissão: em troca do reconhecimento de seu título imperial e reconhecimento da autoridade nicena, permitiu-se a João manter-se como governante de Salonica com o título de déspota.[19][22] Em 1244, João morreu e foi sucedido por seu irmão mais novo Demétrio Comneno Ducas (r. 1244–1246). Demétrio era um governante frívolo que rapidamente fez-se impopular entre seus súditos.[23]
Em 1246, Vatatzes mais uma vez cruzou para a Europa. Numa campanha de três meses ele capturou muito da Trácia bem como da Macedônia da Bulgária, que agora tornou-se sua vassala, enquanto Miguel II do Epiro também tomou territórios no oeste. Após este sucesso notável, Vatatzes virou-se contra Salonica, onde cidadãos proeminentes já estavam conspirando para derrubar Demétrio e entregar a cidade para ele. Quando Vatatzes apareceu diante da cidade, Demétrio recusou-se a aparecer e pagar homenagem a seu suserano, mas os apoiantes nicenos dentro da cidade abriram um portão e deixaram o exército niceno entrar. Salonica foi incorporada ao Estado niceno, com Andrônico Paleólogo como seu governador, enquanto Demétrio foi enviado para um exílio confortável em propriedades conferidas a ele na Ásia Menor. Por outro lado, seu pai foi exilado para Vodena.[19][24]
Rescaldo
[editar | editar código-fonte]Apesar do fim do Estado salonicense, Miguel II do Epiro assumiu o manto das reivindicações de sua família. Miguel tentou capturar Salonica e restabelecer um Estado grego ocidental forte capaz de confrontar Niceia pela supremacia e a herança imperial bizantina. Um primeiro assalto em 1251–53, encorajado pelo antigo Teodoro Comneno Ducas, falhou, e Miguel foi forçado a negociar termos. Isso não impediu Miguel, que após 1257 procurou alianças com outros poderes contra a ameaça crescente de Niceia, incluindo o Principado de Acaia e Manfredo da Sicília. As ambições de Miguel foram destruídas na Batalha de Pelagônia de 1259. No rescaldo de Pelagônia, Epiro e Tessália foram ocuparas por pouco tempo pelos nicenos. Mais importantemente, a vitória abriu o caminho para a reconquista de Constantinopla em 15 de agosto de 1261, e a restauração do Império Bizantino sob a dinastia paleóloga.[25][26]
Governantes
[editar | editar código-fonte]Lista de governantes Comneno Ducas de Salonica:
- Teodoro Comneno Ducas (1224–1230, coroado imperador em 1225/1227);
- Manuel Comneno Ducas (1230–1237, coroado imperador em 1235/1237);
- João Comneno Ducas (1237–1242 como imperador; 1242–1244 como déspota);
- Demétrio Comneno Ducas (1244–1246 como déspota);
- Anexação pelo Império de Niceia.
Referências
- ↑ Finlay 1877, p. 124ff.
- ↑ Vasiliev 1952, p. 522.
- ↑ Bartusis 1997, p. 23.
- ↑ Magdalino 1989, p. 87.
- ↑ Nicol 1993, p. 8–12.
- ↑ Fine 1994, p. 62–65.
- ↑ Nicol 1993, p. 10–12.
- ↑ Hendy 1999, p. 1, 6.
- ↑ Nicol 1993, p. 12–13.
- ↑ Fine 1994, p. 112–114, 119.
- ↑ Nicol 1993, p. 13, 20.
- ↑ Fine 1994, p. 119–120.
- ↑ a b Fine 1994, p. 122–124.
- ↑ Fine 1994, p. 124–125.
- ↑ a b Nicol 1993, p. 13, 22.
- ↑ Fine 1994, p. 125–126.
- ↑ Fine 1994, p. 126–128.
- ↑ Fine 1994, p. 128.
- ↑ a b c Nicol 1993, p. 22.
- ↑ Fine 1994, p. 133.
- ↑ Fine 1994, p. 133–134.
- ↑ Fine 1994, p. 134.
- ↑ Fine 1994, p. 157.
- ↑ Fine 1994, p. 157–158.
- ↑ Fine 1994, p. 157–165.
- ↑ Nicol 1993, p. 24, 28–29, 31–36.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bartusis, Mark C. (1997). The Late Byzantine Army: Arms and Society 1204–1453. Filadélfia: Pennsylvania University Press. ISBN 0-8122-1620-2
- Fine, John Van Antwerp (1994). The Late Medieval Balkans: A Critical Survey from the Late Twelfth Century to the Ottoman Conquest. Ann Arbor, Michigan: Michigan University Press. ISBN 978-0-472-08260-5
- Finlay, George (1877). A History of Greece, Vol. III. Oxford: Clarendon Press
- Hendy, Michael F. (1999). Catalogue of the Byzantine Coins in the Dumbarton Oaks Collection and in the Whittemore Collection, Volume 4: Alexius I to Michael VIII, 1081–1261 – Part 1: Alexius I to Alexius V (1081–1204) (em inglês). Washington: Dumbarton Oaks Research Library and Collection. ISBN 0-88402-233-1
- Magdalino, Paul (1989). «Between Romaniae: Thessaly and Epirus in the Later Middle Ages». In: Arbel, Benjamin; Hamilton, Bernhard; Jacoby, David. Latins and Greeks in the Eastern Mediterranean After 1204. Londres: Frank Cass & Co. Ltd. pp. 87–110. ISBN 0-71463372-0
- Nicol, Donald MacGillivray (1993). The Last Centuries of Byzantium, 1261–1453. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-43991-4
- Vasiliev, Alexander Alexandrovich (1952). History of the Byzantine Empire, 324–1453. Madison, Wisconsin: The University of Wisconsin Press. ISBN 0-299-80925-0