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Júlio Cibo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Júlio I Cybo-Malaspina)


Júlio Cibo
Marquês Soberano de Massa e Senhor Soberano de Carrara
Consorte Peretta Doria
Nascimento 1 de março de 1525
  Roma, Estados Pontifícios, Itália
Morte 18 de maio de 1548 (23 anos)
  Milão, Ducado de Milão, Itália
Casa Casa Ducal de Massa
Dinastia Cybo-Malaspina
Pai Lourenço Cybo
Mãe Ricarda Malaspina
Filho(s) (sem geração)

Júlio Cibo, tambén escrito Cybo,[1] em italiano moderno Giulio Cibo (Roma, 1 de março de 1525Milão, 18 de maio de 1548) foi marquês soberano de Massa e Senhor soberano de Carrara de 7 de outubro de 1546 a 27 de junho de 1547. Sucedeu, no meiu de graves conflitos, à sua mãe, Ricarda Malaspina, que, após pouco mais de oito meses, retoma o poder.[2] O jovem morreu decapitado no ano seguinte, exemplarmente condenado à morte por traição pelo imperador Carlos V.[3]

Júlio também se auto-intitulou por vezes com o duplo apelido "Cibo Malaspina",[4] adoptando assim também o da sua família materna, e com o duplo apelido foi frequentemente relatado na historiografia posterior.[5]

Primeiros anos

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Palazzo Cybo, piazza Navona, onde Júlio nasceu (Piranesi)

Nos seus pais foram Ricarda Malaspina, último membro do ramo Massa da família Malaspina do Spino Fiorito[6] (segunda filha de António Alberico II Malaspina (meados do séc. XV-1519), marquês de Massa e Senhor de Carrara), e Lourenço Cybo, Conde de Ferentillo, filho de Franceschetto Cybo (e neto do Papa Inocêncio VIII) e de Madalena de Médici (e neto de Lourenço o Magnífico).[3]

Júlio nasce em Roma no dia 1 de março de 1525 no palácio Cybo, na piazza Navona, que pertencia ao pai[7], onde Ricarda gostava de permanecer.[8]

Em antecipação do iminente saque de Roma (1527), a família retorna à sua residência oficial, o castelo da cidade de Massa, capital dos seus estados.[9] Durante as ausências da marquesa, e de acordo com as disposições do seu defunto pai, era a sua mãe Lucrécia d'Este, que administrava Massa e Carrara, coadjuvada pelo cunhado, o cardeal Inocêncio Cybo.

Ricarda e os filhos, Leonor e Júlio, regressaram a Roma e depois, a partir de 1533, a Florença, istalando-se no palazzo Pazzi (que pertencia à família Cybo), juntamente com a sua mãe e a sua irmã Tadeia, bem como o seu cunhado cardeal, de quem Ricciarda se tornara uma espécie de maîtresse-en-titre. Tadeia, por sua vez, era amante do novo jovem duque de Florença, Alexandre de Médici. O marido, Lourenço Cybo, com quem a relação conjugal era irremediavelmente quebrada, estabeleceu-se na sua propriedade em Agnano, perto de Pisa, daí administrando o seu Condado de Ferentillo.[9]

Em 1543 Júlio, com 18 anos, vai para Barcelona onde, com o apoio do almirante Andrea Doria, passou a pertencer à Corte do imperador Carlos V, deslocando-se imediatamente para Itália e Flandres seguindo o exército imperial e acompanhando o braço direito do imperador, Ferrante Gonzaga, em missão diplomática a Inglaterra.[3]

Rivalidade com a sua mãe

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As graves desavenças entre Júlio e a despótica mãe dependerão sobretudo das disposições testamentárias do defunto avô, António Alberico II Malaspina, que havia estabelecido como seu sucessor o futuro varão primogénito da filha e entretanto havia nomeado a própria Ricarda «dona e senhora e usufrutuária e herdeira da sua herança [de António Alberico] e dos seus bens, enquanto ela tiver idade para conceber e ter filhos."[10].

Em 1544, queixando-se de que o subsídio que lhe foi concedido pela mãe se revelava absolutamente insuficiente para prosseguir a desejada carreira militar, Júlio regressou a Itália, estabelecendo-se temporariamente em Carrara, com o tio, o Cardeal Inocêncio Cybo, passando depois a Agnano com o pai e, por fim, em Roma. Reclama à sua mãe, na qualidade de primogénito, o direito a marquês de Massa e senhor de Carrara, mas a mãe recusou, proclamando o seu direito pessoal ao título em virtude da investidura direta recebida do imperador em 1529, e também o direito de escolher pessoalmente o seu sucessor entre os filhos que lhe foi concedido com outro diploma imperial de 1533.[3]

Depois de uma prima tentativa falhada de depor a mãe em 1545,[3] no ano seguinte Júlio desafiou-a novamente pelo controlo do marquesado. Com o apoio de Cosme I de Médici e Andrea Doria, tomou o poder pela força, ocupando as terras de Massa e Carrara com tropas fornecidas por Cosme I e lideradas pelo seu pai Lorenzo, proclamando-se marquês.[11] Ricarda recorreu imediatamente ao imperador, e Carlos V decidiu confiscar temporariamente o marquesado, colocando-o nas mãos do seu plenipotenciário em Itália, Ferrante Gonzaga, e depois, a pedido de Júlio, nas do cardeal Cybo.[3]

A recalcitrância de Júlio em cumprir os decretos imperiais e as suspeitas suscitadas em Cosme I pelos seus laços cada vez mais estreitos com a família Doria, induziram o duque de Florença a mandá-lo prender em Pisa em 17 de Março de 1747 e a mantê- lo na prisão até ao dia 20. quando finalmente aceitou colocar o marquesado nas mãos do seu tio.[3]

Entretanto, em dezembro de 1546, Júlio havia casado com Peretta Doria (1526–1591), filha de Tomás (Tommaso) e irmã de Giannettino Doria (1510–1547), herdeiro designado de Andrea e pai de Giovanni Andrea. Tinha sido prometido a Júlio um grande dote, com o qual imaginava financiar a sua conquista do poder. Na verdade, continuou a exercer fortes pressões sobre a mãe, com promessas, ameaças e novos actos de força, e, principalmente graças à intercessão do seu tio, o Cardeal, conseguiu finalmente a estipulação de um contrato oneroso com ela para a compra dos direitos do governo sobre o marquesado, permanecendo a soberania na posse da marquesa. Os encargos do contrato, no entanto, estavam absolutamente acima das suas possibilidades e planeava cobrir a grande dívida dele decorrente – no valor de 40.000 ducados – metade dos fundos que esperava poder angariar sozinho, e metade de todo o dote da sua mulher. Andrea Doria, o chefe de família, recusou-se a proceder ao pagamento do dote, culpando inicialmente as dificuldades financeiras da família durante esse período, e argumentando depois que já tinha praticamente pago o que devia pelo dote, ao financiar as tentativas de Giulio para tomar o marquesado à força.[12]

A 27 de junho de 1747, pendente de pagamento por Júlio da totalidade do valor acordado, Ricarda retomou a posse do marquesado.[3]

Conspirações dos Fieschi e morte

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Até então, Júlio apoiava fielmente Andrea Doria. Em janeiro de 1747, por ocasião de uma revolta liderada pelo seu cunhado Gian Luigi Fieschi (1523–1547),[13] não hesitou em enviar para o norte uma pequena expedição militar para ajudar Doria; que, no entanto, foi interrompida ao longo do caminho pela notícia do fracasso da rebelião.[3]

Depois de Doria se ter recusado a pagar-lhe o dote, a atitude de Júlio mudou radicalmente e, na segunda metade do ano, aderiu a uma conspiração contra Doria montada pelo irmão de Gian Luigi, Ottobono Fieschi (?-1555) e outros refugiados genoveses em Veneza, e também apoiada pela família Strozzi de Florença, agora ao serviço de França, e pelo novo duque de Parma, Pedro Luís Farnésio. Mais ou menos nos bastidores estavam provavelmente o pai deste último, o Papa Paulo III, e os franceses. O objetivo era entrar na cidade e assassinar Doria, o embaixador espanhol e outros membros do partido Doria. Estes acontecimentos deveriam desencadear uma revolta popular e o plano seria concluído com a chegada das tropas francesas do Piemonte.[3]

A conspiração foi descoberta antes de qualquer ação ser tomada e Cybo foi preso em Pontremoli( a 22 de janeiro de 1748. Apesar das tentativas de o salvar por parte da sua mãe e do seus primos afastados Cosme I da Toscânia e Hércules II d'Este, duque de Ferrara, foi considerado culpado de traição pelo imperador e decapitado em Milão, em maio de 1548.[9]

Após a morte da mãe em 1553, os estados de Massa e Carrara foram finalmente herdados pelo seu irmão mais novo, Alberico I, na verdade provavelmente seu meio-irmão, como filho do cardeal Cybo. Alberico, em conformidade com as disposições testamentárias de Ricarda, adotou o novo apelido Cybo Malaspina acrescentando o da mãe ao do seu pai[9] (como o seu irmão mais velho fizera por sua iniciativa cerca de dez anos antes)[4].

Júlio Cibo foi inicialmente sepultado na igreja milanesa de Santa Maria degli Angeli[14] (pertencente à Ordem dos Frades Menores, a quem Júlio escreveu ao tio na véspera da sua morte para fazer uma doação). Por ordem de Alberico I, o seu corpo foi finalmente transladado para Massa em 1573, e sepultado na cripta da catedral junto dos restos mortais dos seus pais.[3]

Os títulos completos de Júlio incluíam: Marquês de Massa e senhor soberano de Carrara, Moneta e Avenza; Patrício romano, genovês, napolitano, de Pisa e de Florença; Nobre de Viterbo.

Precedido por
Ricarda Malaspina
( 1ª vez )

Marquês de Massa e Senhor de Carrara

1546-1547
Sucedido por
Ricarda Malaspina
( 2ª vez )
  1. A grafia inicialmente mais comum, "Cibo", embora não a única, tem alternado historicamente com a de "Cybo", ligada às míticas origens gregas da família. Esta última tornou-se então a norma especialmente para o ramo que se estabeleceu em Massa. A este propósito, ver a nota do Abade Angelo Grillo (1557–1629) a Alberico I, que evidentemente percebeu a versão com y como mais consentânea com a nobreza da família: «Lettera al Signor Prencipe di Massa - Argomento: Conferma, che è bene scrivere il cognome della Famiglia Cybo con la y greca per due ragioni, il che osservano alcuni ancora nel nome Hieronymo». Lettere del molto R.P. Abbate D. Angelo Grillo (em italiano). Veneza: Giunti, Ciotti & C. 1608. p. 527 
  2. Pelù-Raffo, p. 135.
  3. a b c d e f g h i j k Petrucci (1981), DBI.
  4. a b Veja-se a sua correspondência, várias vezes assinada "Julio Cibo Malaspina", em L. Staffetti (1892), II, "Lettere inedite di Giulio Cybo Malaspina al Cardinale Innocenzo Cybo, suo zio, a Cosimo I Duca di Firenze e ad Ercole II Duca di Ferrara", pp. 102 e seguintes.
  5. Veja-se por exemplo: F.Petrucci (1981), titolo; L.Staffetti (1892), titolo.
  6. em português "espinho florido"
  7. e que, posteriormente, veio a ser incorporado no Palácio Pamphilj
  8. S.Bertocchi, p. 70.
  9. a b c d Calonaci, DBI.
  10. Staffetti, II, p. 144.
  11. Christine Shaw (2014). Barons and Castellans: The Military Nobility of Renaissance Italy (em inglês). [S.l.]: BRILL. p. 79. ISBN 978-90-04-28276-6 
  12. James Theodore Bent (1881). Genoa: how the Republic Rose and Fell (em inglês). [S.l.]: C. K. Paul & Company. pp. 291 
  13. Fieschi era marido da irmã mais velha de Júlio, Leonor (1523–1594), e sobrinho de Ricarda desde o seu primeiro casamento.
  14. Deve ter sido evidentemente o edifício antigo, demolido alguns anos depois da morte de Júlio e reconstruído não muito longe dali.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em italiano cujo título é «Giulio Cibo».
  • (em italiano) Simona Bertocchi (2015). Nel nome del figlio. Viareggio: Giovane Holden Edizioni. ISBN 978-88-6396-645-9 
  • (em italiano) Umberto Burla (2001). Malaspina di Lunigiana : dalle origini sino alla fine dei feudi imperiali. La Spezia: Luna. IT\ICCU\PIS\0003410 
  • (em italiano) Franco Buselli (1973). Il castello Malaspina Cybo a Massa. Genova: Sagep. IT\ICCU\SBL\0602085 
  • (em italiano) Stefano Calonaci, «MALASPINA, Ricciarda». Dizionario Biografico degli Italiani - Volume 67 (2006)  Istituto dell'Enciclopedia Italiana
  • (em italiano) Francesco Musettini (1864). Ricciarda Malaspina e Giulio Cybo. Modena: R. Deputazione di Storia per le Provincie Modenesi. IT\ICCU\PAL\0277807 
  • (em italiano) Paolo Pelù; Olga Raffo, eds. (2007). Ricciarda Malaspina Cibo, marchesa di Massa e signora di Carrara, 1497-1553. Modena: Aedes Muratoriana. IT\ICCU\MOD\1385702 
  • (em italiano) Franca Petrucci «CIBO MALASPINA, Giulio». Dizionario Biografico degli Italiani - Volume 25 (1981)  Istituto dell'Enciclopedia Italiana
  • (em italiano) Luigi Staffetti (1892). «Giulio Cybo-Malaspina, Marchese di Massa. Studio storico su documenti e atti per la maggior parte inediti». Atti e Memorie della R. Deputazione di storia patria per le province modenesi. I e II (IV): 123-268 e 5-184. Consultado em 10 de agosto de 2024 
  • (em italiano) Luigi Staffetti, ed. (1908). «Il libro dei ricordi della famiglia Cybo» (PDF). Genova: SLSP. Atti della Società Ligure di Storia Patria. XXXVIII. Consultado em 10 de agosto de 2024 
  • (em italiano) Leone Tettoni; Francesco Saladini (1997). La famiglia Cibo e Cybo Malaspina. Massa: Palazzo di S. Elisabetta. IT\ICCU\CFI\0399307 

Ligações externas

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