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João Soares de Paiva

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(Redirecionado de João Soares de Pávia)
João Soares I de Paiva
Nascimento 1140
Morte depois de 1194
Cônjuge Maria Anes I de Riba de Vizela
Descendência Pedro Anes
Rodrigo Anes
Soeiro Anes
João Anes
Teresa Anes
Maria Anes
Dinastia Baião-Paiva
Pai Soeiro Pais de Paiva
Mãe Urraca Mendes de Bragança
Religião Catolicismo romano

João Soares de Paiva (por vezes erroneamente grafado Pávia) O Trovador ou O Freire[a] (1140 — depois de 1194) foi um poeta (ou trovador) português e nobre, muitas vezes reconhecido como o primeiro autor literário em língua galego-portuguesa,[1] e, portanto, do próprio Português.

Primeiros anos

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João era filho de Soeiro Pais de Paiva O Mouro e de sua esposa, Urraca Mendes de Bragança[2],[1] cuja união se deverá ter processado nos anos seguintes à Batalha de Ourique, onde terá falecido o primeiro marido daquela. A linhagem de João, descendente da Casa de Baião, implantara-se nas margens do rio Paiva, cujo nome terá inspirado os seus ascendentes.

João está documentado pela primeira vez em Portugal em 1170, numa doação que faz ao Mosteiro de Paço de Sousa (fundado provavelmente pelos seus antepassados).

Herança paterna

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Aquando da morte do seu pai, herdou numerosos haveres nas terras de Paiva (atual Castelo de Paiva), entre as quais a honra de Sobrado (a atual vila de Paiva, sede de concelho) e a de Real (lugares de Gilde, Gildinho, Feiteira, etc., com vários casais), e a quintã de Oliveira de Arda (atual Raiva)

Foi através dele que o apelido Paiva se prolongou por linha masculina, uma vez que os descendentes do seu irmão Paio tomaram o nome Taveira. Para além de João, também a sua irmã Cristina, faria com que o apelido continuasse por via feminina; os filhos de Cristina com Fernão Ramires Quartela tomariam também o apelido materno Paiva. É desta linhagem de ascendência feminina que provém o célebre Rui Garcia de Paiva.

Saída de Portugal

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A partir de 1170, parece ter-se ausentado de Portugal, se não definitivamente, pelo menos, de forma muito prolongada. A sua única cantiga mostra precisamente que se encontrava nas terras que deteria na fronteira entre os reinos de Castela, Aragão e Navarra.

As razões que levaram João Soares a sair de Portugal são desconhecidas, e por isso mesmo surgiram algumas teorias em torno da justificação de tal saída. Poderá tê-lo feito talvez devido à perda de Badajoz por Afonso I de Portugal, precisamente no ano anterior (1169)[3]. A reforçar as possibilidades da sua saída estava a sua família materna, os Bragançãos, família muito ligada a Portugal, mas também não menos ao Reino de Leão, onde, em 1152 (poucos anos antes), um seu tio materno, Mendo Mendes de Bragança estivera documentado como alferes de Fernando II de Leão[4].

Uma outra alternativa seria que João se teria colocado ao serviço de Ruy Díaz de los Cameros, um senhor poderoso de origem castelhano-navarra e igualmente trovador (infelizmente a sua obra perdeu-se). A corroborar esta teoria está a localização do senhorio: na confluência, na fronteira entre Castela e Aragão, e não distante de Navarra.

Fora de Portugal

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Sabe-se que em 1182 confirmou uma venda efetuada em Vila Franca do Bierzo, na fronteira de Leão com a Galiza, de onde, segundo uma teoria, seria provavelmente originária a mãe do seu senhor, Rui Dias, que desta feita pertenceria à influente origem da mãe de Rui Dias, senhora galega da poderosa Casa de Trava. Infelizmente esta hipótese é contrariada por razões geográficas; na verdade a mãe do suserano era originária da parte ocidental da Galiza, abrangendo o noroeste e o sudoeste da região, e desta feita longe do Bierzo. O documento poderia confirmar a ligação de João Soares à família de Cabrera-Velaz, denunciada pelos Nobiliários.

João Soares parece ter ainda pertencido a uma Ordem Militar, uma vez que no Livro de Linhagens do Deão é designado como João Soares, o Freire[a]. Ora, na sua cantiga faz referência a Monzón, lugar de pertença dos Templários desde 1143, por doação de Petronila de Aragão e Raimundo Berengário IV de Barcelona. Este facto poderia indiciar a pertença de João Soares a esta ordem, ou que pelo menos possa ter mantido estreitas relações.

Esta cantiga é de maldizer e feze-a Joam Soárez de Pávia
a 'l-rei Dom Sancho de Navarra porque lhi troub'host'em
sa terra e nom lhi deu el-rei ende dereito.
"Ora faz host'o senhor de Navarra,,
pois em Proenç'est el-rei d'Aragom;
nom lh'ham medo de pico nem de marra
Tarraçona, pero vezinhos som,
nem ham medo de lhis poer boçom
e riir-s'-am muit'em dura edarra;
mais se Deus traj'o senhor de Monçon,
bem mi cuid'eu que a cunca lhis varra.
Se lh'o bom rei varrê'la escudela
que de Pamplona oístes nomear,
mal ficará aquest'outr'em Todela,
que al nom há [a] que olhos alçar:
ca verrá i o bom rei sejornar
e destruir atá burgo d'Estela,
e veredes Navarros lazerar
e o senhor que os todos caudela.
Quand'el-rei sal de Todela, estrẽa
ele sa host'e tod'o seu poder;
bem sofrem i de trabalh'e de pẽa,
ca vam a furt'e tornam-s'em correr;
guarda-s'el-rei, com'é de bom saber,
que o nom filhe luz em terra alhẽa,
e onde sal, i s'ar torn'a jazer
ao jantar ou se nom aa cẽa."
João Soares de Paiva

A única cantiga que resta hoje deste trovador é de escárnio, intitulada Ora Faz ost'o senhor de Navarra. Além dessa é autor de seis outras cantigas de amor, indicadas no índice de Colocci, que infelizmente não chegaram até nós.[1]

Esta cantiga é certamente uma, por entre as datáveis, das mais antigas que os cancioneiros nos transmitiram, e alude a um contexto histórico preciso: as lutas travadas entre Sancho VII de Navarra e os reis de Aragão e de Castela, depois da derrota de Alarcos em 1195. Tendo em conta o contexto, a composição deverá ter sido composta no final século XII, provavelmente por volta de 1196. O nome do rei de Aragão não é identificado pelo nome, o que causa problemas na datação. A hipótese mais provável é Afonso II de Aragão, que terá partido para a Provença, tendo falecido pelo caminho, em Perpinhã, a 25 de abril de 1196. Contudo, Pedro II de Aragão foi também uma hipótese abordada por alguns autores, o que retardaria a canção para o período 1200-1204, de grande conflito entre Aragão e Navarra, ou até para 1213, quando o monarca estava ausente no Languedoc, onde viria a falecer na Batalha de Muret, nesse mesmo ano.

Seja qual for o rei de Aragão mencionado, o certo é que Sancho VII, um rei ainda recente no trono (ascendera a 27 de junho de 1194), terá aproveitado a ausência deste para, a partir da sua praça-forte de Tudela, tentar invadir e devastar as suas terras, o que, na ótica de João Soares, era uma atitude cobarde. A própria rubrica parece indicar que as terras de João Soares, na região de fronteira entre os dois reinos, teriam sido afetadas por esta invasão, sendo a cantiga, que escarnece do invasor, uma espécie de "vingança literária".

Morte e posteridade

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Desconhece-se a data de morte de João Soares, embora se possa apontar para depois de 1194 ou provavelmente nos primeiros anos do século XIII, uma vez que a cantiga que dele se conhece faz referência a Sancho VII de Navarra (1194-1234).

Um amor régio?

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Desconhecem-se as razões de uma carta do Marquês de Santilhana ao Infante-Condestável Pedro de Avis, que conta que este trovador se terá apaixonado por uma infanta portuguesa, que, a ser o facto verdadeiro, teria de ser necessariamente filha de Afonso I de Portugal[2].

Confusão no apelido

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Os nobiliários medievais costumam apresentar a forma Pavha para o seu apelido, o que gerou grande confusão, uma vez que, posteriormente começou a ser referenciado como Panha ou Pávia. O fator determinante para a descoberta da verdadeira forma do apelido pode mesmo ter tido a localização dos bens da família na região do Paiva[2].

Casamento e descendência

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João desposou, por volta de 1215[5][a], Maria Anes I de Riba de Vizela, filha de João Fernandes de Riba de Vizela e Maria Soares de Sousa, da qual teve seis filhos[6]:

[a] ^ A disparidade da data do matrimónio de João Soares com Maria Anes (1215), sobretudo quando este já é adulto em 1169, leva a crer que este João Soares de Paiva casado com Maria Anes será diferente do trovador, podendo, na verdade, ser um seu neto, que viria, este sim, a ser conhecido como O Freire, indicando uma possível pertença a uma Ordem Militar.

Referências

  1. a b c Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro; et al. «João Soares de Paiva». Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. Consultado em 13 de outubro de 2016 
  2. a b c GEPB 1935-57.
  3. Mattoso & 2000 p.329.
  4. Souto Cabo & 2012 p.57-70.
  5. Oliveira 1994.
  6. Sottomayor-Pizarro 1997.
  • Pensa-Galiza "Ora faz ost’o senhor de Navarra"
  • Tolman, Earl Dennis. "Critical Analysis of a Cantiga d'Escarnho." Luso-Brazilian Review, Vol. 8, No. 2. (Inverno, 1971), pp. 54–70.
  • Mattoso, José (2000). «A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular». Naquele Tempo. Ensaios de História Medieval 1ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores. pp. 565–570 
  • Sottomayor-Pizarro, José Augusto (1997). Linhagens Medievais Portuguesas: Genealogias e Estratégias (1279-1325). I. Porto: Universidade do Porto 
  • Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1904). «Capítulo VI. Notas biográficas. LVI. Joan Soares de Pávia (ou Paiva)». Cancioneiro da Ajuda. Edição crítica e comentada. Vol. 2. 1ª ed. Halle: Max Niemeyer. pp. 565–570 
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