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Judaísmo messiânico

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 Nota: Não confundir com Messias no Judaísmo, nem com Cristão Judeu.
Símbolo de Uma Comunidade Judaica Messiânica

O Judaísmo Messiânico (em hebraico: יַהֲדוּת מְשִׁיחִית, translit.: Yahadút Mešiḥít) é uma corrente do judaísmo que combina elementos tradicionais judaicos com a crença de que Yeshua (Jesus) é o Messias prometido. Para essa corrente, Yeshua é o Mashiach ben Yosef (Messias Filho de José), o cumpridor das promessas referentes ao servo sofredor. Eles acreditam que Yeshua retornará como o Mashiach ben David (Messias Filho de Davi), cumprindo as promessas relacionadas ao Rei Messias.

Embora muitas vezes não reconhecida oficialmente pelo rabinato do Estado de Israel e por alguns grupos como uma corrente do cristianismo evangélico, o Judaísmo Messiânico é considerado por seus seguidores como uma linha judaica legítima. Algumas autoridades rabínicas também o reconhecem e respeitam.

As comunidades messiânicas, em sua maioria, guardam as mitzvot (mandamentos) de Israel, as 613 mitzvot (aqueles que são passíveis de serem cumpridos atualmente), observam as festas tradicionais e a kashrut, e professam os treze princípios da fé judaica formulados por Maimônides no século XII. Além disso, alguns membros do Judaísmo Messiânico servem no exército de Israel (Tzahal) quando vivendo no país.

Embora o Judaísmo Messiânico seja erroneamente atrelado ao seu início nos Estados Unidos na década de 1960, suas raízes são muito mais antigas. Ele se originou com o Rabino Yeshua de Nazaré no início de seu ministério, e continuou após sua morte e ressurreição no primeiro século, sendo seus seguidores conhecidos como a "seita do caminho".

Existem organizações que centralizam as comunidades judaico-messiânicas com representações nacionais e internacionais, incluindo Beit Din (Tribunal Rabínico) para a ordenação de seus rabinos. Apesar de divergências de opiniões entre alguns grupos, atualmente há uma coexistência de pensamento na maioria das comunidades.

Na visão judaica ortodoxa, os “judeus messiânicos” são considerados cristãos e uma falsa religião judaica, mesmo quando nascidos de mãe judia. No entanto, segundo o princípio número 12 da fé judaica: "Creio com plena fé na vinda de Mashiach. Mesmo que demore, esperarei por sua vinda a cada dia." (Moshê Maimônides, 1135-1204), a fé judaica está intrinsecamente ligada à crença em um messias. Portanto, qualquer judeu religioso que acredita nos 13 princípios de Maimônides é, de certa forma, messiânico, independentemente de acreditar que o messias é Yeshua de Nazaré, Menachem Mendel Schneerson, Bar Kochba, ou outros.

História[editar | editar código-fonte]

O Judaísmo Messiânico tem raízes profundas que remontam aos primeiros séculos da Era Comum, mas também possui desenvolvimentos significativos nos tempos modernos.

Origens no Primeiro Século: O Judaísmo Messiânico remonta ao primeiro século da Era Comum, quando Yeshua de Nazaré (Jesus) iniciou seu ministério. Seus seguidores, conhecidos como os Nazarenos ou "a seita do caminho", eram judeus que acreditavam que Yeshua era o Mashiach ben Yosef (Messias Filho de José), o servo sofredor profetizado nas Escrituras Hebraicas. Esses primeiros judeus messiânicos continuaram a observar a Torá, participar das sinagogas e celebrar as festas judaicas, ao mesmo tempo em que proclamavam Yeshua como o Messias prometido.

Desenvolvimento e Separação: Ao longo dos primeiros séculos, o movimento judaico-messiânico enfrentou crescentes tensões e divisões tanto dentro da comunidade judaica quanto com os gentios convertidos ao cristianismo. A destruição do Segundo Templo em 70 EC e a subsequente revolta de Bar Kochba em 132-135 EC contribuíram para a separação entre judeus messiânicos e o judaísmo rabínico tradicional. Além disso, a crescente helenização do cristianismo e a adoção de práticas e crenças não judaicas pelos gentios convertidos levaram a um distanciamento gradual entre as duas comunidades.

Renascimento no Século XX: O Judaísmo Messiânico moderno começou a tomar forma na década de 1960, principalmente nos Estados Unidos. Um marco significativo foi a fundação da "Hebrew Christian Alliance of America" (Aliança Cristã Hebraica da América) em 1915, que mais tarde se tornou a "Messianic Jewish Alliance of America" (MJAA) em 1975. Esse movimento buscou restaurar a identidade judaica dos seguidores de Yeshua e reconectar suas crenças com as práticas e tradições judaicas.

Crescimento e Reconhecimento: Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, o Judaísmo Messiânico experimentou um crescimento significativo. Comunidades messiânicas foram estabelecidas em várias partes do mundo, incluindo Israel, onde o movimento ganhou visibilidade. Organizações como a União das Congregações Judaico-Messiânicas (UMJC) e a Aliança Judaico-Messiânica de Israel (MJAI) foram formadas para centralizar e apoiar as comunidades messiânicas. A Ahavat Ammi International que foi fundada em 2006 dentre tantas outras associações judaicas que permanecem no anonimato.

Crenças[editar | editar código-fonte]

O Judaísmo Messiânico é uma corrente do judaísmo que combina elementos tradicionais judaicos com a crença de que Yeshua (Jesus) é o Messias prometido. As crenças centrais do Judaísmo Messiânico incluem:

1. Yeshua como o Messias: Os judeus messiânicos acreditam que Yeshua de Nazaré é o Mashiach ben Yosef (Messias Filho de José), o servo sofredor profetizado nas escrituras hebraicas. Eles veem Yeshua como aquele que cumpriu as profecias messiânicas do Tanakh (Bíblia Hebraica) e aguardam seu retorno como o Mashiach ben David (Messias Filho de Davi), que trará paz e restauração ao mundo.

2. A Torá: As comunidades messiânicas observam a Torá, incluindo as 613 mitzvot (mandamentos), na medida do possível e aplicável nos tempos modernos. Isso inclui a observância das festas bíblicas, o respeito às leis dietéticas (kashrut) e outras práticas tradicionais judaicas.

3. Os Treze Princípios da Fé Judaica: Os judeus messiânicos professam os treze princípios da fé judaica, formulados por Maimônides no século XII. Isso inclui a crença na unicidade de Deus, na revelação divina da Torá e na vinda do Messias.

4. Observância das Festas Judaicas: Os judeus messiânicos celebram as festas bíblicas, como Pessach (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Sucot (Festa dos Tabernáculos), Rosh Hashaná (Ano Novo Judaico) e Yom Kipur (Dia da Expiação). Essas celebrações são vistas como oportunidades para honrar a Deus e lembrar eventos importantes na história de Israel.

5. A Unidade do Povo Judeu: Apesar das divergências teológicas, os judeus messiânicos se veem como parte integral do povo judeu e da herança judaica. Eles enfatizam a importância da identidade judaica e da continuidade das tradições e práticas judaicas.

6. Serviço Militar e Vida Comunitária: Em Israel, alguns judeus messiânicos servem no Tzahal (Forças de Defesa de Israel) e participam ativamente na vida comunitária. As comunidades messiânicas frequentemente têm suas próprias sinagogas, escolas e instituições comunitárias.

Os rabinos messiânicos geralmente recebem formação rabínica através de uma Yeshivá (seminário teológico). Embora a maioria passe por um Beit Din (Tribunal Rabínico), alguns poucos podem não passar por esse processo formal. Os judeus messiânicos, em sua maioria, prezam por uma visão do judaísmo semelhante em vários aspectos ao judaísmo ortodoxo e conservador.

No judaísmo, assim como no judaísmo messiânico, são considerados judeus apenas os filhos de mães judias e os convertidos. A diferença está na conversão: no judaísmo messiânico, a conversão não precisa ser realizada em Israel e pode ser conduzida por rabinos locais e um tribunal rabínico composto por três rabinos. Algumas linhas do judaísmo messiânico aceitam quaisquer pessoas através de um processo de conversão básico. No entanto, esses convertidos são frequentemente referidos como "Ger" (estrangeiros conversos) em vez de "Goyim" (gentios).

Um Manifesto assinado por várias denominações judaicas, trata pontos significativos da emunah (fé) frente a inverdades ditas sobre o movimento no Brasil, Estes pontos não representam a totalidade do movimento.

1. Reconhecemos que D'us é Existente, Um, Indivisível e Incorpóreo.

2. Reconhecemos que as profecias messiânicas sobre o Messias "Servo Sofredor" se cumprem em Yeshua de Nazaré, Primogênito da Criação; e que sua morte tem efeito expiatório e sua ressureição é verdadeira. Cremos que, após sua ressurreição, elevou-se aos Céus e seu retorno, como Mashiach ben David, será literal e físico,

3. Reconhecemos que o povo de Israel é eleito eternamente por D'us e consiste em descendentes físicos e espirituais de Abraão, Isaque e Jacó.

4. Reconhecemos o Tanach (Antigo Testamento) e a Brit Chadashah (Novo Testamento) como sendo inspirados pelo D'us de Israel e são suficientes para a salvação individual mediante o chessed Divino.

5. Apoiamos a existência do atual Estado de Israel e sua capital indivisível, Jerusalém.

6. Somos contrários a qualquer agressão verbal, escrita ou física contra o Povo Judeu.

7. Somos contrários a qualquer manifestação de intolerância religiosa a cristãos e demais religiões.

8. Seguimos as leis da Torah segundo os aspectos positivos da halachá e da tecnologia. Consideramos o Talmud e a Literatura Rabínica como fontes relevantes.

9. Reconhecemos a veracidade do Calendário Judaico tradicional.

10. Reconhecemos que o Estado de Direito e suas leis devem ser respeitados e seguidos por todos os seus cidadãos, incluindo os judeus messiânicos.

Comentários[editar | editar código-fonte]

O Judaísmo Messiânico representa uma síntese única de crenças judaicas tradicionais e a fé em Yeshua (Jesus) como o Messias. Essa crença central distingue o movimento tanto do judaísmo rabínico tradicional quanto do cristianismo convencional. Teologicamente, os judeus messiânicos afirmam que Yeshua é o cumprimento das profecias messiânicas encontradas no Tanakh (Bíblia Hebraica). Eles interpretam passagens como Isaías 53, que fala do "servo sofredor", como uma prefiguração de Yeshua. Além disso, mantêm a observância da Torá e das práticas judaicas, como as festas bíblicas e as leis dietéticas (kashrut), o que reforça sua identidade judaica.

O Judaísmo Messiânico desafia e amplia as definições tradicionais de identidade judaica e fé messiânica. Ao insistir na observância da Torá e na crença em Yeshua, ele cria um espaço único onde elementos do judaísmo e do cristianismo se encontram. Esse movimento também levanta questões importantes sobre a natureza da fé, identidade e pertencimento dentro da tradição judaica mais ampla.

Em resumo, o Judaísmo Messiânico é um movimento que busca reconciliar a fé em Yeshua como o Messias com a continuidade das práticas e identidades judaicas. Embora enfrente desafios significativos de aceitação, ele representa uma tentativa vibrante e dinâmica de explorar novas formas de expressão religiosa e comunitária dentro do contexto judaico.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]