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Lauretta Ngcobo

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Lauretta Ngcobo
Nascimento 13 de setembro de 1931
Ixopo (União Sul-Africana)
Morte 3 de novembro de 2015 (84 anos)
Joanesburgo
Cidadania África do Sul
Alma mater
Ocupação romancista, ensaísta, ativista, professora, política, escritora de literatura infantil, escritora

Lauretta Ngcobo (13 de setembro de 1931 - 3 de novembro de 2015)[1][2] foi uma professora, ativista, romancista e ensaísta sul-africana.[3] Após ter vivido exilada, entre 1963 e 1994, na Suazilândia, Zâmbia e finalmente na Inglaterra, onde lecionou durante 25 anos, regressou a Durban, no seu país natal.[4]

Os textos de Lauretta Ngcobo entre os anos 1960 e o início dos anos 1990 foram descritos como "revelações significativas sobre as experiências das mulheres negras com os caprichos do apartheid".[5] Como romancista, é reconhecida pela obra And They Didn't Die (1990), ambientado na África do Sul dos anos 1950, que retrata "a opressão particular das mulheres que lutam para sobreviver, trabalhar a terra e manter a dignidade sob o sistema de apartheid enquanto os seus maridos procuram trabalho nas minas e nas cidades."[2]

Filha de Rosa Cele Gwina e Simon Gwina, ambos professores, Lauretta Gladys Nozizwe Duyu Gwina nasceu em Ixopo, KwaZulu-Natal.[6] Frequentou a Escola do Seminário Inanda, perto de Durban, tornando-se na primeira mulher da região a estudar na Universidade de Fort Hare.[2] Posteriormente, lecionou por dois anos e obteve um cargo no Conselho de Pesquisa Científica e Industrial de Pretória.[2] A 9 de agosto de 1956, participou na Marcha das Mulheres de Pretória e foi uma das principais oradoras.[2][7]

Em 1957, casou-se com o ativista e político Abednego Bhekabantu Ngcobo, fundador e membro do conselho executivo do Congresso Pan-Africanista de Azania, que em 1961 foi condenado a dois anos de prisão ao abrigo da Lei de Supressão do Comunismo.[2]

Exílio (1963-1994)

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Em 1963, correndo risco de ser presa, fugiu do país com os seus dois filhos, mudando-se inicialmente para a Suazilândia, depois para a Zâmbia e finalmente para Inglaterra, onde trabalhou como professora do ensino primário durante 25 anos.[3] Foi nomeada vice-diretora e chefe interina da Lark Hall Infant School de Lambeth, no sul de Londres,[8] onde era a única funcionária negra. Em 1984, tornou-se presidente da ATCAL (Associação para o Ensino das Literaturas Caribenhas, Africanas, Asiáticas e Associadas), um grupo de professores e escritores que promovem um currículo mais diversificado no sistema educacional britânico.[2]

Carreira literária

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Durante o seu exílio, Lauretta Ngcobo escreveu dois romances, Cross of Gold (1981) e And They Didn't Die (1990), este último descrito como "inovador no retrato das experiências de uma mulher negra que dá ao seu principal personagem, Jezile, uma interioridade e uma voz raramente vista na literatura sul-africana. (...) É singular ao destacar os efeitos prejudiciais e sobrepostos do apartheid e do direito consuetudinário nas vidas das mulheres africanas confinadas aos bantustões do apartheid."[9][10] Em 2018, Annie Gagiano escreveu sobre And They Didn't Die: "Os horrores desta época ainda não foram apagados, mas um romance desta estatura transmite o seu testemunho, assim como a surpreendente coragem e força de muitas das vítimas do apartheid de uma forma que adequada ao lugar, ao tempo e às pessoas que nunca devemos esquecer."[11]

Além de escritora, foi editora da obra Let It be Told: Essays by Black Women Writers in Britain (Pluto Press, 1987), que incluiu as contribuições dos autores Amryl Johnson, Maud Sulter, Agnes Sam, Valerie Bloom, Grace Nichols, Marsha Prescod, Beverley Bryan, Stella Dadzie e Suzanne Scafe.[12] Lauretta Ngcobo também escreveu um livro infantil, Fikile Learns to Like Other People (1994), e em 2012 editou uma antologia de histórias de mulheres sul-africanas no exílio, intitulada Prodigal Daughters (Filhas Pródigas), que foi escolhida como Livro do Ano por Neelika Jayawardane. [13]

Regresso a África do Sul

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A autora regressou a África do Sul com a família em 1994, após as eleições que nomearam o Congresso Nacional Africano ao poder. O seu marido morreu em 1997.[6]

No seu país natal, lecionou novamente por algum tempo antes de se tornar membro da Legislatura de KwaZulu-Natal, onde trabalhou 11 anos antes de se aposentar em 2008.[4] Durante esse período, publicou diversos artigos acadêmicos, participou em conferências de escritores e apresentou artigos em várias universidades.[14]

Faleceu no hospital de Joanesburgo, aos 84 anos, a 3 de novembro de 2015, após um acidente vascular cerebral.[1] O obituário do Sunday Times da África do Sul a descreveu como uma "escritora e ativista que deu voz às mulheres vulneráveis",[15] enquanto Barbara Boswell, do Instituto Africano de Gênero da Universidade da Cidade do Cabo, escreveu: "A morte de Lauretta Ngcobo nos roubou um talento literário significativo, lutador pela liberdade e voz feminista.".[9]

Em 2006, Lauretta Ngcobo recebeu o Lifetime Achievement Literary Award dos South African Literary Awards.[3]

Em 2008, foi premiada com a Ordem de Ikhamanga em Prata pelas suas conquintas no no campo da literatura e pelo seu ativismo na defesa da causa da igualdade de género na África do Sul.[6][16]

Foi ainda nomeada eThekwini Living Legend em 2012 e, em 2014, recebeu um honris causa em Tecnologia em Artes e Design pela Universidade de Tecnologia de Durban.[1]

Em 2021, a sua filha Zikethiwe Ngcobo dirigiu uma curta-metragem documental de 10 minutos, intitulado Lauretta: And They Did Not Die, sobre as lutas e causas de sua mãe como escritora e ativista, explorando o seu legado e "impacto transformador na literatura de mulheres negras".[17]

Em 2022, Barbara Boswell publicou a obra Lauretta Ngcobo: Writing as the Practice of Freedom, a qual incluia análises da vida, voz e legado de romancista e ativista sul-africana.[18][19][20]

Romances

Como editora

Contos infantis

  • Fikile Learns to Like Other People (1994) [3]
  1. a b c "Lauretta Ngcobo: author, teacher and activist", News24, 5 November 2015.
  2. a b c d e f g Lyn Innes, "Lauretta Ngcobo obituary", The Guardian, 19 November 2015.
  3. a b c d «Lauretta Ngcobo». South African Literary Awards. 2006 
  4. a b "Authorship & Ownership in TV Drama", biographical note, Mail & Guardian, 25 April–1 May 2008. Official Input 2008 Blog.
  5. Angelo Fick, "In memoriam, Lauretta Ngcobo (1931–2015)", eNCA, 6 November 2015.
  6. a b c d «Stories of exile». The Witness. 6 January 2012  Verifique data em: |data= (ajuda)
  7. "RIP Lauretta Ngcobo (1931 – 2015)", Books Live, Sunday Times, 14 November 2015.
  8. Gaele Sobott, "In memory of Lauretta Ngcobo 1931-2015", 12 November 2015.
  9. a b Barbara Boswell, "Reflections on Lauretta Ngcobo’s feminist contribution to African literature", Vanguard, 12 November 2015.
  10. "And They Didn't Die", Publishers Weekly, 4 March 1991.
  11. Annie Gagiano (27 June 2018). «African Library: And they didn't die by Lauretta Ngcobo». Litnet. Consultado em 21 December 2022  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  12. "Let It Be Told: Essays by Black Women in Britain", Goodreads.
  13. Tom Devriendt, "Our Favorite Books of 2012", Africa is a Country, 31 December 2012.
  14. "Lauretta Ngcobo", South African History Online.
  15. Chris Barron, "Obituary: Lauretta Ngcobo, writer and activist who gave vulnerable women a voice", Sunday Times, 8 November 2015.
  16. «Lauretta Ngcobo (1931 – ) | The Order of Ikhamanga in Silver». The Presidency – Republic of South Africa. Consultado em 21 December 2022  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  17. «Lauretta: And They Did Not Die». tekanoreabua.org.za. Consultado em 21 December 2022  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  18. Mngini, Esihle (12 September 2022). «6 books to read to celebrate Heritage Month». Glamour. Consultado em 21 December 2022  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  19. «TekanoReaBua Watch Party 2 of 3: Lauretta: And They Did Not Die & Celebrating Winnie Through Song». Mail & Guardian. 9 December 2021 – via YouTube  Verifique data em: |data= (ajuda)
  20. Ngcobo, Lauretta G. (2022). Lauretta Ngcobo: Writing as the Practice of Freedom (em inglês). [S.l.]: HSRC Press