Saltar para o conteúdo

Partido dos Trabalhadores do Curdistão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de PKK)
Partido dos Trabalhadores do Curdistão
Partiya Karkerên Kurdistan (PKK)
px
A bandeira atual do PKK, usada desde 2005
Outros nomes KONGRA-GEL
Datas das operações 1978 - Presente
Líder(es) Murat Karayilan (atual)
Abdullah Öcalan (fundador)
Fundação  Turquia, 27 de novembro de 1978.
Motivos Direitos culturais e políticos para a população curda na Turquia.
Área de atividade  Turquia,  Iraque, Irã Irão e Síria Síria
Ala Militar
Ideologia
Espectro político Esquerda
Efetivo 5.000[2](especulado)
Financiamento Diáspora curda na Europa[3]
Aliados
Inimigos
Filiação Confederação dos Povos do Curdistão
Guerras/batalhas Conflito curdo-turco
Guerra Civil no Curdistão Iraquiano
Guerra Civil Síria
Conflito curdo-iraquiano
Cor(es)      Vermelho
     Amarelo
     Verde
Bandeira
Designado como um grupo terrorista por

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (em curdo: پارتی کار کهرانی کوردستان, transl. Parti Karkerani Kurdistan, ou Partiya Karkerên Kurdistan), vulgarmente conhecido como PKK, também conhecido como KGK e anteriormente conhecido como KADEK ou Kongra-Gel,[4] é uma organização política curda que desde 1984 vem se engajando em uma luta armada contra o estado turco, por um Curdistão autônomo e mais direitos culturais e políticos para os curdos na Turquia.[5] O grupo foi fundado em 27 de novembro de 1978 e foi liderado por Abdullah Öcalan. A ideologia do PKK foi originalmente uma fusão do socialismo revolucionário e do nacionalismo curdo - embora desde a sua prisão, Öcalan tenha abandonado o marxismo ortodoxo[6] e elaborado o que ele chamou de confederalismo democrático.[7]

O PKK é listado como uma organização terrorista internacional por um número de estados, incluindo os Estados Unidos[4][8] e a Turquia.[9] A Turquia, em particular, rotula a organização como uma organização étnica separatista, que usa o terrorismo e a ameaça da força contra civis[10][11] e alvos militares, com a finalidade de alcançar os seus objetivos políticos.

Protesto anti-guerra de colaboradores do PKK, em 15 de fevereiro de 2003 em Londres.

Durante as décadas de 1960 e 1970, a Turquia passou por grandes transformações sociais que contribuíram para o surgimento e radicalização de diversos grupos nacionalistas curdos. Entre esses grupos estava o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), fundado formalmente por Abdullah Öcalan no final de 1978. O PKK surgiu como uma organização marxista-leninista dedicada à criação de um Curdistão independente. Desde o início, o grupo se diferenciou pela sua composição social, que incluía principalmente membros das classes sociais mais baixas, e pelo seu radicalismo. A violência foi adotada como um dos princípios centrais do PKK, que demonstrou prontidão em utilizar a força não apenas contra o governo turco, mas também contra curdos que fossem considerados colaboradores ou contra outras organizações curdas rivais.[12]

Diáspora e Reorganização do Partido

[editar | editar código-fonte]

Em 1979, Abdullah Öcalan fugiu da Turquia para a Síria, onde começou a estabelecer conexões com organizações militantes palestinas. Após o golpe militar de 1980 na Turquia, muitos membros do PKK foram forçados a se exilar em países vizinhos, incluindo Líbano e Síria. Esses militantes receberam treinamento militar facilitado pelas conexões de Öcalan com grupos palestinos. No início da década de 1980, o PKK também começou a formar uma aliança com o Partido Democrático do Curdistão Iraquiano (KDP), que permitiu a movimentação de militantes curdos para campos no norte do Iraque. Foi a partir dessas bases que, em 1984, o PKK lançou uma campanha armada contra o governo da Turquia. O grupo começou a realizar ataques frequentes, tanto no território turco quanto em outras partes, dirigidos a instalações e funcionários do governo, bem como a turcos e curdos que viviam nas regiões curdas do país. As ações do PKK incluíram atos terroristas e operações de guerrilha, com alvos variando de diplomatas a missões estrangeiras turcas.[12]

O confronto entre o PKK e o governo turco resultou em um estado de guerra assimétrica no leste da Turquia durante as décadas de 1980 e 1990. No decorrer deste período, o governo turco conduziu operações militares contra bases do PKK, tanto no território turco quanto nas chamadas zonas seguras no norte do Iraque, estabelecidas após a Guerra do Golfo Pérsico (1990–91). Inicialmente, os ataques eram aéreos, mas, posteriormente, também envolviam tropas terrestres. Durante o período seguinte, principalmente na época da Guerra Civil Curda no Iraque, diversas outras operações turcas contra o PKK ocorreram, como a Operação Martelo em 1997 que pretendia diminuir a influência do PKK sobre o Curdistão Iraquiano. Em fevereiro de 1999, Abdullah Öcalan foi capturado em Nairóbi, no Quênia, e levado à Turquia. Em junho do mesmo ano, ele foi julgado e condenado à morte por traição. Contudo, após a abolição da pena de morte na Turquia em 2002, sua sentença foi convertida para prisão perpétua em outubro do mesmo ano.[12]

Mudanças e Negociações

[editar | editar código-fonte]

Nos anos 1990, o PKK começou a mudar sua abordagem estratégica. O grupo passou a se distanciar do objetivo de uma independência total, voltando-se para a luta por maior autonomia e tratamento igualitário para os curdos dentro do território turco. Abdullah Öcalan, em particular, começou a promover uma nova teoria social que rejeitava a ideia de um estado-nação curdo como solução para os problemas da população curda. Ele defendia, em vez disso, a auto administração local como um caminho mais viável. Essa mudança de foco se tornou mais clara após a prisão de Öcalan, em 1999, quando o PKK reduziu significativamente suas atividades militares e ele fez tentativas ativas de reestruturar a imagem do grupo, além de elaborar uma nova ideologia para o partido, nomeada de confederalismo democrático, assim deturpando parte do caráter Marxista inicial do grupo. No entanto, os ataques de guerrilha foram retomados em 2004. O PKK foi responsabilizado por uma série de novos ataques no sudeste da Turquia nos anos seguintes.[12]

Em outubro de 2007, o parlamento turco aprovou uma resolução que autorizava operações militares contra alvos do PKK na fronteira com o Iraque por um período de um ano. Em dezembro de 2007, uma série de ataques foi iniciada, culminando em uma incursão terrestre em fevereiro de 2008. A partir de 2009, autoridades turcas e líderes do PKK começaram a realizar conversações secretas para explorar opções de paz. As negociações, no entanto, foram prejudicadas pela repatriação de 34 combatentes e refugiados curdos para a Turquia no final de 2009. A recepção festiva de seus apoiadores irritou as autoridades turcas e resultou na interrupção temporária do diálogo. As negociações prosseguiram por mais algumas rodadas até 2011, mas acabaram fracassando sem avanços substanciais. Durante esse período, as autoridades turcas continuaram a prender membros de partidos políticos curdos legais, sob acusações de pertencimento a PKK.[12]

Em 2012, uma nova rodada de negociações foi anunciada, mostrando-se inicialmente mais promissora do que as anteriores. Em março de 2013, o PKK libertou oito reféns turcos, e Abdullah Öcalan, ainda sob custódia, declarou um cessar-fogo que durou mais de dois anos, até julho de 2015. Durante esse período, o governo turco manteve diálogos com o PKK, mas a situação regional começou a se deteriorar. Com a Guerra Civil Síria e o crescimento do Estado Islâmico (ISIS), surgiu um novo vácuo de poder na região, levando grupos curdos sírios alinhados ao PKK a estabelecer autogoverno em grandes áreas do nordeste da Síria, assim formando um Curdistão Sírio de facto autônomo, que por consequência aumentou as preocupações turcas.[12]

Após uma tentativa fracassada de golpe militar na Turquia em julho de 2016, o governo turco usou isso de pretexto para intensificar a repressão contra o PKK e outros opositores internos. A Turquia também lançou uma ofensiva militar no noroeste da Síria no mês seguinte, com o objetivo de evitar que militantes curdos se aproximassem de suas fronteiras e para impedir a expansão das forças curdas alinhadas ao PKK na Síria para o oeste. Nos anos seguintes, a Turquia manteve uma presença militar ativa no noroeste da Síria e continuou a realizar ataques periódicos contra o PKK e seus aliados, tanto no território sírio quanto no Iraque.[12] E o PKK, nesse mesmo tempo, prosseguiu executando atentados contra civis, militares e estruturas turcas.

Atentado na sede da TUSAS (2024)

[editar | editar código-fonte]
Autores do atentado ocorrido na sede da TUSAS capturados por câmera de segurança local.

No dia 23 de outubro de 2024, ocorreu um atentado à sede de uma importante empresa de defesa em Ancara, na Turquia, que matou pelo menos cinco pessoas e deixou outras 22 feridas. A Turquia, pouco tempo após o atentado terrorista, atribuiu o ataque ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e, em retaliação, lançou uma série de ataques aéreos em locais suspeitos de serem usados pelo grupo militante no norte do Iraque, bem como por seus afiliados no norte da Síria. Na noite de 23 de outubro, as forças turcas atingiram 29 alvos no norte do Iraque e 18 no norte da Síria, resultando na morte de 59 militantes curdos, segundo o Ministério da Defesa da Turquia. O ministro da Defesa, Yasar Guler, afirmou que os ataques aéreos faziam parte da resposta ao atentado em Ancara.[13]

As Forças Democráticas Sírias (FDS), que recebem apoio dos Estados Unidos e são acusadas pela Turquia de serem um ramo da PKK, relataram que os bombardeios turcos no norte e leste da Síria resultaram na morte de 12 civis, incluindo duas crianças, e deixaram 25 pessoas feridas. A FDS alegou também que, além das áreas residenciais, as forças turcas alvejaram usinas de energia, instalações de petróleo e postos de controle das Forças de Segurança Interna, utilizando caças e drones.[13]

A Turquia, um dia depois do ataque (24), identificou os dois autores do atentado terrorista e garantiu que eram combatentes curdos do PKK.[13]

Um grupo militante curdo reivindicou, na sexta-feira (25 de outubro), a responsabilidade pelo atentado na Turquia que matou cinco pessoas. Em comunicado, a ala militar do PKK afirmou que o ataque, realizado na quarta-feira (23) nas instalações da empresa aeroespacial e de defesa TUSAS, foi conduzido por dois membros de seu "Batalhão Imortal" em resposta aos "massacres" e outras ações da Turquia nas regiões curdas.[14]

Também na sexta-feira (25), um oficial de segurança iraquiano informou que os aviões turcos aumentaram a intensidade dos bombardeios contra alvos relacionados ao PKK e outras forças aliadas na região de Sinjar, no norte do Iraque. Os ataques aéreos visaram túneis, bases e posições militares do partido curdo e das Unidades de Proteção de Sinjar nas áreas montanhosas de Sinjar.[14]

O atentado ocorreu um dia após o chefe do partido de extrema direita MHP, que pertence à coalizão governista de Erdogan, convidar o líder preso do PKK, Abdullah Ocalan, para discursar no parlamento para anunciar a dissolução de seu movimento.[15]

Referências

  1. A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES NO NOROESTE DO CURDISTÃO: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CONFEDERALISMO DEMOCRÁTICO E DA JINEOLOGÎ (1978-2018)
  2. [URL= https://www.state.gov/reports/country-reports-on-terrorism-2020/#PKK | Organizações terroristas estrangeiras designadas pelo governo dos EUA]
  3. terroristas estrangeiras designadas pelo governo dos EUA
  4. a b «Chapter 6—Terrorist Groups». Country Reports on Terrorism. Departamento de Estado dos Estados Unidos. 27 de abril de 2005. Consultado em 23 de julho de 2008 
  5. Tahiri, Hussein. The Structure of Kurdish Society and the Struggle for a Kurdish State. Costa Mesa, California: Mazda Publications 2007. pp 232 ff
  6. Ocalan, Abdullah. Prison Writings: The Roots of Civilisation, 2007, Pluto Press. (p. 243-277)
  7. ÖCALAN, Abdullah (2016). Confederalismo democrático. Tradução: Coletivo  Libertário  de  Apoio  a  Rojava. Editora Rizoma. ISBN 978-85-5700-045-21
  8. Barnhart, Stephen R. (2002). The New International Terrorism and Political Violence Guide (em inglês). [S.l.]: Trafford 
  9. «Estado turco recorre a mão de ferro para presos curdos de círculos dissidentes». RFI. 21 de dezembro de 2021. Consultado em 12 de janeiro de 2022 
  10. «Turkish Kurds: some back the state». Christian Science Monitor. 6 de junho de 2007 
  11. «PKK baskınına uğrayan Kürt köyleri ABD gazetesine haber oldu». Milliyet (em turco). 7 de julho de 2007 
  12. a b c d e f g «Kurdistan Workers' Party | Kurdish Militancy, History & Ideology | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 1 de novembro de 2024. Consultado em 2 de novembro de 2024 
  13. a b c «Grupo curdo foi responsável por atentado a estatal aeroespacial, diz Turquia». G1. 24 de outubro de 2024. Consultado em 26 de outubro de 2024 
  14. a b «Turquia: grupo curdo reivindica autoria de atentado em companhia aeroespacial e de defesa». GZH. 25 de outubro de 2024. Consultado em 26 de outubro de 2024 
  15. «Turkey points finger at PKK as attack on defence firm kills five, injures 22». France 24 (em inglês). 23 de outubro de 2024. Consultado em 26 de outubro de 2024 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]


Ícone de esboço Este artigo sobre a região do Curdistão ou sobre o povo curdo é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.