A Primavera (Botticelli)
a Primavera, que é o tema da obra e o título dela é a estação do Renascimento, renascimento das flores e está ligado também a fecundidade, assim como foi fecundo o período do Renascimento[1]
A Primavera | |
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Autor | Sandro Botticelli |
Data | 1482 (542 anos) |
Técnica | têmpera sobre madeira |
Dimensões | 203 cm × 314 cm |
Localização | Galeria Uffizi, Florença |
A Primavera, também conhecido como Alegoria da Primavera, é um quadro do pintor renascentista Sandro Botticelli. A pintura utiliza a técnica de têmpera sobre madeira. Pintado no ano 1482, o quadro é descrito como "um dos quadros mais populares na arte ocidental". É também, segundo a publicação "Botticelli, Primavera" (1998), uma das pinturas mais faladas, e mais controversas do mundo".[2] Enquanto a maioria dos críticos concordam que a pintura, retrata um grupo de figuras mitológicas num jardim (alegoria para o crescimento exuberante da Primavera), outros dão sentidos diferente à obra, sendo, por vezes, citado para ilustrar o ideal de amor neoplatónico.
A história da pintura não é muito conhecida, porém, parece ter sido encomendada por Lorenzo di Pierfrancesco de Médici. É provável que Botticelli se tenha inspirado nas odes de Poliziano para realizar esta obra. As outras fontes são da Antiguidade: os Faustos de Ovídio e De rerum natura de Lucrécio.[1] Desde 1919 que a pintura faz parte da colecção da Galeria Uffizi em Florença, Itália.
Composição
[editar | editar código-fonte]A obra, A Primavera, possui inúmeros detalhes que podem ser revelados em uma Descrição Pré-iconográfica, o primeiro ato para análise de uma obra de acordo com Panofsky. Esse tipo de descrição revela que a obra possui nove personagens distribuídos por toda a extensão do quadro. Ao centro da obra, soberana a olhar o espectador, está uma mulher em pé, com o corpo levemente em “S”, segurando um forte manto vermelho. Sobre ela, um personagem que remete a um cupido, com o corpo infantil, asas que o suspendem no ar e olhos vendados, apontando para um grupo de três mulheres. Essas três mulheres de pele e cabelos claros dançam vestidas transparentemente. A esquerda da obra, o personagem de um jovem (quase fora da composição por seu olhar e suas ações indiferentes ao resto da obra) chama atenção ao lado das personagens femininas por seu manto vermelho nesta composição de cores claras. O jovem tem uma espada na cintura e uma das mãos erguidas que alcança uma fruta. Depois que o olho do espectador segue este ciclo, volta-se para o lado direito da obra, em que o tema Primavera parece alcançar seu auge. Neste espaço, o olhar segue da primeira à última figura e volta da última para a primeira, buscando compreender a narrativa da obra. Neste grupo, uma mulher floridamente vestida, espalha flores e atrás dela, uma jovem, também vestida transparentemente foge dos braços e do sopro de um ser azulado com asas.
Na obra, o chão verde escuro é muito florido e o cenário dos acontecimentos parece ser um bosque com muitas árvores dando frutos alaranjados. Há diferentes flores, diferentes caules de árvores e diferentes folhas. Há algumas entradas de luz, mas duas delas, atrás da personagem central chamam atenção pela sua forma, que ora parecem olhos, ora parecem pulmões. Os personagens destacam-se pela suavidade das cores, contrastando com o escuro do fundo e do chão. As figuras estão quase todas na vertical, com exceção do cupido, que está na horizontal, e de duas do grupo a direita que estão em diagonal, mas amparadas pelas verticais das outras personagens.
Temas
[editar | editar código-fonte]Várias interpretações do quadro foram definidas, mas é geralmente aceite o caracterizado por "Cunningham e Reich (2009)", "uma elaborada alegoria mitológica da fertilidade florescente do mundo." Elena Capretti em Botticelli (2002) sugere que a interpretação é feita da seguinte forma:
A leitura da imagem é da direita para a esquerda: Zefiros, o vento cortante de Março, sequestra e possui a ninfa Clóris, a quem mais tarde se casa e a transforma em divindade, torna-se a deusa da Primavera, portadora da vida eterna, espalhando rosas pelo chão.
Vénus preside o jardim, as graças que a acompanham (e alvo do Cupido) usam jóias com as cores da família Médici, enquanto o caduceu de Mercúrio mantém o jardim seguro de nuvens ameaçadoras. As identificações básicas de caracteres é amplamente adaptada, mas outros nomes são usados às vezes para as mulheres à direita. De acordo com Botticelli (1901), a mulher de vestido florido é Primavera (a sua personificação), cujo companheiro é Flora. Flores primaveris saem da boca de Flora em contacto com o Deus do Vento.
Além de seu significado evidente, a pintura tem sido interpretada como uma ilustração do amor neoplatónico popularizado entre os Medicis e seus seguidores por Marsilio Ficino.[3] Nesta interpretação, tal como estabelecido em Sandro Botticelli, 1444-1445 -1510 (2000), o amor carnal natural representada por a figura de Zefiros à direita, é objecto de renúncia pela figura central das três Graças, que virou as costas para a cena despreocupada com a ameaça (cupido) que paira sobre ela. A preocupação dela está em Mercúrio, que mesmo ele olha despreocupado para além da tela, ignorando-a.
Origens
[editar | editar código-fonte]A origem da pintura é um pouco obscura. Pode ter sido criada em resposta a um pedido em 1477 de Lorenzo de Medici,[5] ou pode ter sido encomendado por Lorenzo um pouco mais tarde, ou pelo seu primo Lorenzo di Pierfrancesco de Medici.[6][7] Outra teoria sugere que Lorenzo encomendou o retrato para celebrar o nascimento de seu sobrinho, Júlio di Juliano de Médici (que um dia se tornaria Papa), mas mudou de ideia após o assassinato do pai de Júlio, seu irmão Juliano, tendo assim oferecido como um presente de casamento para Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, que se casou em 1482.[8] A primavera também está nos Uffizi, n.º datável de c. 1478, como propôs Cavalcaselle.
O quadro em geral foi inspirado por uma descrição do poeta Ovídio sobre a chegada da Primavera (Fasti, Livro 5, 2 de Maio), embora os detalhes podem ter sido derivadas de um poema de Poliziano.[9] Como o poema de Poliziano, "Rústico", foi publicado em 1483 e que a pintura é geralmente dita de ter sido concluído por volta de 1482, alguns estudiosos têm argumentado que a influência foi revertida. Outra fonte de inspiração para a pintura parece ter sido Lucrécio no poema "Natura Rerum De". Tem sido proposto que o modelo de Vénus foi Simonetta Vespucci, esposa de Marco Vespucci e, talvez, a amante de Juliano de Médici, que se diz ter sido ele próprio o modelo para Mercúrio.[4]
História
[editar | editar código-fonte]Independentemente da veracidade da sua origem e inspiração, a pintura foi inventariado na colecção de Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, em 1499. Em 1919, foi movido para a Galeria Uffizi, em Florença. Durante a campanha italiana na Segunda Guerra Mundial, a imagem foi transferida para o Castelo de Montegufoni, cerca de dez milhas a sudoeste de Florença, para protegê-lo dos bombardeamentos. Foi devolvido para a Galeria Uffizi, onde permanece até hoje. Em 1982, a pintura foi restaurada.[10] O trabalho tem escurecido consideravelmente ao longo do tempo.[9]
Galeria
[editar | editar código-fonte]Alguns detalhes de "A Primavera":
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Pormenor do colar (cores da família Medici) de uma das Graças.
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Flora.
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As três Graças.
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Vénus debaixo do seu arco.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Barbara Deimling, Botticelli, Taschen, 2004, pp. 39-43.
- ↑ Fossi (1998), p. 5.
- ↑ a b Deimling (2000), p. 45.
- ↑ a b Heyl (1912), p. 89-90.
- ↑ Mattern (2005), p. 22.
- ↑ Brown (2010), pp. 103-104.
- ↑ Deimling (2000), p. 39.
- ↑ Capretti (2002), p. 48.
- ↑ a b Steinmann (1901), p. 80.
- ↑ Connolly (2004), p. 44.
Leitura adicional
[editar | editar código-fonte]- Brown, Alison (2010). The Return of Lucretius to Renaissance Florence. Harvard University Press. ISBN 9780674050327.
- Capretti, Elena (1 January 2002). Botticelli. Giunti Editore Firenze Italy. ISBN 9788809214330.
- Cheney, Liana (1985). Quattrocento Neoplatonism and Medici humanism in Botticelli's mythological paintings. University Press of America.
- Connolly, Sean (October 2004). Botticelli. Gareth Stevens. ISBN 9780836856484.
- Cunningham, Lawrence S.; John J. Reich (16 January 2009). Culture & Values, Volume II: A Survey of the Humanities with Readings. Cengage Learning. ISBN 9780495569268.
- Deimling, Barbara (1 May 2000). Sandro Botticelli, 1444/45-1510. Taschen. ISBN 9783822859926.
- Fossi, Gloria (1998). Botticelli. Primavera. (Inglese ed.). Giunti Editore Firenze Italy. ISBN 9788809214590.
- Heyl, Charles Christian (1912). The art of the Uffizi Palace and the Florence Academy. L.C. Page. R
- Lucretius. On the Nature of Things at Project Gutenberg
- Mattern, Joanne (January 2005). Sandro Botticelli. ABDO Group. ISBN 9781591978398.
- Patterson, Annabel M. (1987). Pastoral and ideology: Virgil to Valéry. University of California Press. ISBN 9780520058620.
- Phythian, John Ernest (1907). Trees in nature, myth and art. Methuen & co.
- Servadio, Gaia (2005). Renaissance Woman. I.B.Tauris. ISBN 9781850434214.
- Steinmann, Ernst (1901). Botticelli. Velhagen & Klasing.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- A Primavera, Uffizi.org
- A Primaverano Google ArtProject