Saltar para o conteúdo

Rattus norvegicus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Rato marrom)
Como ler uma infocaixa de taxonomiaRattus norvegicus
ratazana
Rattus norvegicus.
Rattus norvegicus.
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Muridae
Subfamília: Murinae
Género: Rattus
Espécie: R. norvegicus
Nome binomial
Rattus norvegicus
(Berkenhout, 1769)
Distribuição geográfica
Distribuição de Rattus norvegicus.
Distribuição de Rattus norvegicus.
Sinónimos

Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769), a ratazana[2][3] (ou ainda guabiru ou gabiru em algumas regiões do Brasil) ou simplesmente rato, é uma espécie de roedor originária do leste da Ásia (norte da China e Mongólia), mas actualmente naturalizada em quase todas as regiões povoadas do planeta, sendo a mais comum e conhecida de todas as espécie de ratos. Sendo uma das mais corpulentas espécies murinas, tem pelagem cinzento-acastanhada a acastanhada, até 25 cm de comprimento corporal e uma cauda com sensivelmente o mesmo comprimento do corpo. O macho pesa até 350 gramas, e uma ratazana fêmea, até 250 g, é considerada a espécie de mamífero com mais sucesso do planeta, após os humanos.[4] Ocorrendo em pequenos grupos, compostos por um macho e várias fêmeas, constrói abrigos em galerias subterrâneas escavadas no solo ou no interior de condutas, cavidades e outros espaços confinados em paredes e outras estruturas construídas. A criação selectiva da espécie produziu o rato de laboratório, um organismo modelo na investigação biológica, bem como diversas raças de ratos de estimação.

R. norvegicus é a mais corpulenta das espécies que integram o género Rattus, o mais diverso dos grupos taxonómicos de verdadeiros murídeos. Em média os espécimes pesam o dobro de um rato da espécie Rattus rattus, a outra espécie de ratazana comum em habitações humanas.

Com pelagem áspera de coloração acastanhada a cinzenta, mais clara ou mesmo esbranquiçada na zona ventral, os animais adultos apresentam comprimento corporal entre 20 a 25 cm, a que acresce uma cauda com 18 a 25 cm de comprimento, pouco mais curta ou sensivelmente igual ao corpo. As orelhas são pequenas, a pele áspera e os pés apresentam curtas membranas interdigitais.

Os machos adultos pesam em média 350 g e as fêmeas cerca de 250 g,[5] mas têm sido reportados indivíduos excepcionalmente grandes, com pesos de até 900-1000 g. Estes espécimes anormalmente pesados apenas ocorrem em situações excepcionais de disponibilidade de alimento e em ambiente doméstico. Descrições de ratos que atingem o tamanho de gatos são claramente exageradas ou resultam de confusão com outras espécies de roedores, nomeadamente com a nutria ou o rato-almiscarado. Na realidade, é comum que os ratos adultos que vivem sujeitos à competição intra-específica pesem menos, por vezes consideravelmente, de 300 g.[6][7]

R. norvegicus é dotado de uma excelente capacidade auditiva, são sensíveis aos ultrassons e possuem um sistema olfactivo muito desenvolvido, com um olfacto sensível a uma vasta gama de cheiros. O ritmo cardíaco médio é de 300 a 400 batidas por minuto, com um ritmo respiratório de cerca de 100 ciclos por minuto. A acuidade visual dos ratos é pobre, cerca de 20/600 para os exemplares pigmentados, enquanto nos espécimes albinos, desprovidos de melanina nos olhos, é de 20/1200 com grande dispersão da luz no campo de visão. Estes animais são dicrómatos, apenas capazes de perceber as cores da mesma maneira que os humanos com daltonismo, e a sua saturação da cor pode ser bastante baixa. No entanto, a sua percepção do azul está enriquecida com receptores de radiação ultravioleta, o que lhes permite ver numa banda em que a maioria das espécies de mamíferos é cega.[8]

A espécie tem um ciclo estral de cinco dias, com uma gestação de apenas vinte e quatro, da qual nascem geralmente oito crias. Ocorre, então, um novo ciclo cerca de dezoito horas depois do parto e outros filhotes nascem ao final do desmame da primeira ninhada, que se dá aos vinte e um dias. Os recém-nascidos abrem os olhos aos quinze ou dezasseis dias e sua maturidade sexual é atingida aos três meses de idade.

A variedade Wistar deste rato, conhecido como rato-branco-de-laboratório, é muito usado em investigação científica e em testes laboratoriais. Foram-lhe seleccionadas características recessivas, como o albinismo.

Nomenclatura e etimologia

[editar | editar código-fonte]

Apesar de comprovadamente ter origem nas planícies do leste da Ásia, devido à acção humana a espécie Rattus norvegicus alastrou pelo mundo inteiro, transformando-se numa espécie invasora. Apesar de não se conhecer com precisão a data de chegada à Europa, as primeiras referências indubitáveis à espécie na literatura científica europeia datam do século XVIII. As primeiras descrições conhecidas na Grã-Bretanha referem a espécie como rato Hanover, aparentemente uma alusão pouco abonatória à então reinante Casa de Hanover.[9] O binome Rattus norvegicus, que pode ser traduzido como rato-da-noruega, parece ter origem na crença de que a espécie teria chegado à Inglaterra por volta de 1728 num navio carregado de madeira proveniente da Noruega. Esta informação, hoje considerada errónea pois naquela data a espécie não tinha ainda atingido a Noruega, foi incluída pelo naturalista John Berkenhout na sua obra Outlines of the Natural History of Great Britain (Esboços da História Natural da Grã-Bretanha), publicada em 1769. A descrição contida naquela obra, considerada taxonomicamente válida, popularizou o termo impróprio e o binome atribuído por Berkenhout persiste.

Ratazana da espécie Rattus norvegicus numa floreira em East Village, New York City.

Nas primeiras décadas do século XIX os académicos britânicos estavam cientes de que a espécie não era nativa da Noruega, levantando as hipóteses (hoje também consideradas incorrectas) que poderia ter vindo da Irlanda, de Gibraltar ou do outro lado do Canal da Mancha com os navios de Guilherme, o Conquistador.[10] No início da década de 1850 já se tinha desenvolvido um entendimento mais claro sobre as origens asiáticas da espécie.[11] O novelista britânico Charles Dickens reconheceu em 1888 a impropriedade do nome ao escrever no seu semanário All the Year Round:[12]

Exemplar adulto de R. norvegicus.

"Agora há um mistério sobre o país de origem da espécie mais conhecida de rato, a ratazana comum. É frequentemente chamada, em livros e de outra forma, o 'rato da Noruega', e diz-se ter sido importado para este país numa carga madeira trazida da Noruega por um navio. Contra esta hipótese está o facto de que quando a ratazana se tornou comum neste país, era ainda desconhecido na Noruega, embora haja um animal pequeno como um rato, mas que realmente é um lemming, que lá é nativo."

Pelos finais do século XIX, os académicos começaram a compreender a origem e corrigiram a etimologia do nome da espécie, como foi o caso do investigador norte-americano Alfred Henry Miles na sua obra Natural History:[13]

"A ratazana é a espécie [de rato] comum na Inglaterra e a mais conhecida em todo o mundo. Diz-se ter viajado da Pérsia para a Inglaterra há menos de duzentos anos atrás e que se espalhou a partir daí para outros países visitados por navios ingleses."

Comparação entre as espécies Rattus rattus (rato-preto) com a ratazana (Rattus norvegicus).

Embora as origens e história da expansão desta espécie ainda não sejam conhecidas com precisão, por volta de meados do século XX, estava estabelecida entre os naturalistas a convicção de que a ratazana não se originara na Noruega, mas que a espécie viera da Ásia Central e (provavelmente) da China.[14] Apesar disso, o nome comum de "rato-da-noruega" atribuído a esta espécie ainda se mantém em uso.

Biologia e etologia

[editar | editar código-fonte]

As ratazanas desta espécie têm comportamento noturno e são boas nadadoras, tanto na superfície como debaixo de água, e têm sido observadas escalando postes de metal redondos e afilados com vários metros de altura para alcançar dispositivos alimentadores de pássaros de jardim. Escavam com facilidade, construindo com frequência sistemas de tocas extensos e complexos. Um estudo de 2007 descobriu que estes animais possuem metacognição, uma habilidade mental antes só encontrada em humanos e em alguns outros primatas,[15] mas uma análise mais aprofundada sugeriu que o comportamento identificado pode ter sido devido ao seguimento de princípios de simples condicionamento operante.[16]

Crânio de R. norvegicus.
Sistema digestivo de Rattus norvegicus.


Distribuição e habitat

[editar | editar código-fonte]

A distribuição natural de espécie R. norvegicus antes da sua expansão e naturalização por sinantropia não é bem conhecida, mas seguramente a expansão partiu das planícies do leste da Ásia, mais precisamente da Mongólia e do norte da China, iniciando-se em força a partir da Idade Média europeia.[17][18][19] A determinação do período histórico a partir do qual estas ratazanas se tornaram comensais em torno das populações humanas permanece sem resposta incontroversa, mas como espécie, R. norvegicus expandiu a sua área de distribuição e estabeleceu-se ao longo das rotas de migração humana, estando naturalizada em quase todas as regiões onde se estabeleceram populações humanas.[20]

No que respeita à parte central e ocidental da Eurásia, a espécie pode ter já estado presente na Europa Central antes de 1553, conclusão que se pode retirar de uma ilustração e descrição publicada pelo naturalista suíço Conrad Gesner na sua obra intitulada Historiae animalium, publicada entre 1551 e 1558.[21] Apesar da descrição de Gesner se poder aplicar igualmente à espécie Rattus rattus, o rato-negro, a sua menção de uma larga proporção de espécimes com albinismo, situação não incomum entre as populações selvagens de R. norvegicus, aumenta a credibilidade desta conclusão.[22] Fontes confiáveis datadas do século XVIII permitem afirmar com certeza que R. norvegicus já estava presente na Irlanda em 1722, na Inglaterra em 1730, na França em 1735, na Alemanha em 1750 e na Espanha em 1800,[22] tornando-se muito difundido durante a Revolução Industrial.[23] A espécie não atingiu a América do Norte até 1750–1755.[21][24]

À medida que a espécie se foi expandindo a partir do leste asiático, as populações de R. norvegicus tenderam a substituir as populações de R. rattus em torno das habitações humanas. A nova espécie, para além de ser mais corpulenta e mais agressiva, foi favorecida pela progressiva mudança dos edifícios, que tenderam a evoluir de estruturas em madeira com telhados de colmo para estruturas em alvenaria de pedra ou tijolo com telhados, beneficiando as ratazanas capazes de escavar tocas e de viver em buracos face àquelas, como R. rattus, melhor adaptadas à vida sobre as árvores. Para além disso, R. norvegicus é capaz de aproveitar uma maior variedade e alimentos e é mais resistente a situações climáticas extremas.[25]

Quando a espécie se instala na ausência de populações humanas, a espécie R. norvegicus prefere ambiente úmidos, com muita disponibilidade de águas, tais como as margens dos rios e a periferia de zonas húmidas.[23] Contudo, dado que a vasta maioria destes ratos vive actualmente em sinantropia, as suas populações preferem ambientes construídos pelos humanos onde exista água e o alimento esteja próximo, em especial as redes de esgotos domésticos, as margens de cursos de água ricas em resíduos, as lixeiras e escombreiras e ambientes similares, desde que exista água nas proximidades.

Um aforismo muitas vezes repetido diz que «existem tantos ratos nas cidades quanto pessoas», mas na realidade o número de ratos nos ambientes urbanos varia grandemente, dependendo das características da cidade, da higiene urbana e do nível de vida da sua população humana e do clima, entre outros factores. Os espécimes de R. norvegicus residentes nas cidades tendem a não vaguear extensivamente, muitas vezes permanecendo num raio de 20 m em torno do seu ninho se uma fonte de alimento adequado está disponível, mas podem explorar áreas maiores quando a disponibilidade de alimentos seja menor.

Uma das cidades onde parece ser grande a população de ratos é New York, existindo um constante debate sobre o número de roedores que nela existe, com estimativas que variam de cerca de 100 milhões a apenas 250 000.[26] Os peritos afirmam que New York é uma cidade particularmente atractiva para ratos devido à sua infraestrutura envelhecida, elevada disponibilidade de água e altas taxas de pobreza urbana.[26] Para além dos esgotos, os ratos encontram habitat favorável em becos ricos em lixo e em edifícios residenciais mal mantidos, locais onde há geralmente uma disponibilidade contínua e abundante de alimento.[27]

No Reino Unido, algumas estimativas apontam para um aumento da população de ratos, com estimativas que apontam para uma população de R. norvegicus superior a 81 milhões de indivíduos.[28] Esse número significaria que há 1,3 ratos por pessoa naquele país, sendo que as elevadas densidades populacionais de ratos no Reino Unido são atribuídas ao clima ameno, o que lhes permite taxas de sobrevivência elevadas durante os meses de inverno.

A nível mundial, as únicas zonas livres de R. norvegicus são a Antártida, algumas regiões das costas do Árctico, algumas ilhas especialmente isoladas, a Província de Alberta do Canadá,[29] e certas áreas de conservação na Nova Zelândia.[30][31]

A Antártida é um continente quase totalmente coberto pelo gelo e não tem habitantes humanos permanentes, tornando-o inabitável para os ratos. O Ártico tem invernos extremamente frios que os ratos não podem sobreviver ao ar livre, e a densidade populacional humana é extremamente baixa, o que torna difícil para os ratos viajar de um habitação para outra, apesar de terem chegado a muitas zonas costeiras entre as cargas transportados por navios. Quando uma ocasional infestação de ratos é encontrada e eliminada, os ratos são incapazes de reinfestar o local a partir de outro adjacente. Em ilhas isoladas também tem sido possível eliminar populações de ratos por causa da baixa densidade da população humana e da distância geográfica a outras populações de ratos.

Existem algumas raras experiências de manutenção de áreas livres da infestação por R. norvegicus e alguns pequenos territórios onde foi possível a sua erradicação. Os casos mais conhecidos são os seguintes:

  • A ilha Hawadax (mais conhecida por Rat Island), no Alaska, foi infestada por R. norvegicus aquando do naufrágio de um navio japonês na sua costa, ocorrido em 1780. A presença dos roedores teve um efeito devastador sobre as populações de aves nativas, em particular sobre as aves marinhas. Em 2007 foi iniciado um programa de erradicação e a ilha foi declarada livre de ratos em Junho de 2009;
  • A província de Alberta, no Canadá, é a maior área habitada livre de ratos que se conhece. Até ao presente foi possível manter sob controlo as invasões de ratos, sendo os focos de infestação eliminados através de medidas governamentais de desratização muito agressivas, que se iniciaram na década de 1950;[32][33][34]
  • Na Nova Zelândia existem diversas zonas livres de ratos destinadas a proteger a biodiversidade através da eliminação dos efeitos dos ratos sobre a fauna e a flora nativas. Os primeiros espécimes de R. norvegicus chegaram às ilhas antes de 1800, talvez a bordo dos navios de James Cook,[35] transformando-se numa das mais importantes ameaças à sobrevivências de muitas espécies nativas da Nova Zelândia. A introdução de programas agressivos de desratização visando a eliminação das populações de ratos levou à criação de ecossistemas livres de ratos nas ilhas e ilhéus situados ao longo das costas das ilhas. Também está em curso um programa que visa manter nas áreas protegidas um conjunto de "ilhas ecológicas" livres de ratos em espaços especialmente vedados de forma a evitar a sua entrada;
  • A ilha Campbell, uma ilha oceânica situada a sul da Nova Zelândia, era conhecida como o território com maior densidade de ratos em todo o mundo, o que levou à extinção de boa parte das populações de aves que a habitavam. Em 2001 foi lançado um programa de desratização da ilha, o qual permitiu que diversas espécies de aves recolonizassem a ilha.[36]

O caso de Alberta

[editar | editar código-fonte]

A manutenção do território da Província de Alberta livre de ratos merece particular atenção dado o sucesso das políticas de controle da infestação e de desratização que foram seguidas. A única espécie de Rattus que é capaz de sobreviver no clima de Alberta é a espécie R. norvegicus, que, ainda assim, apenas encontra habitat adequado que lhe permita a sobrevivência na região de pradarias da província, tendo aí necessariamente de recorrer ao abrigo em edifício para invernagem. Essas condições naturais limitam a área onde a infestação é possível e criam uma dependência em relação aos edifícios que tem sido aproveitada na desratização.

Embora seja uma importante área agrícola, Alberta está longe de qualquer porto de mar e apenas uma parte da sua fronteira oriental com Saskatchewan oferece uma rota de entrada favorável aos ratos. Os ratos, mesmo os da espécie R. norvegicus, não conseguem sobreviver na natureza na região de floresta boreal que rodeia o seu território pelo norte, pelo oeste as Montanhas Rochosas constituem uma barreira difícil de transpor, e a sul não conseguem cruzar as planícies semi-áridas das High Plains de Montana. Devido a este isolamento natural, o primeiro rato não alcançou Alberta até 1950, e em 1951, a província lançou um programa de controle de roedores, que incluiu o abate a tiro, o envenenamento e gaseamento dos ratos. Os edifícios infestados que não podiam com segurança ser desratizados foram sujeitos a demolição ou queimados. O esforço foi reforçado pela legislação que exigia que cada pessoa e cada município colaborassem na erradicação e na prevenção do estabelecimento de um conjunto de pragas, entre as quais as ratazanas. Em caso de incumprimento, o governo provincial poderia levar a cabo as medidas necessárias e cobrar os custos ao proprietário do terreno ou ao município.[37]

No primeiro ano de funcionamento do programa de desratização, foram utilizadas 64 t de trióxido de arsénio, espalhadas por 8 000 edifícios em explorações agrícolas ao longo da fronteira com Saskatchewan. Em 1953 foi introduzido um rodenticida muito mais seguro e eficaz, a warfarina, o qual veio substituir o arsénio. A warfarina é um anticoagulante aprovado para uso farmacêutico em 1954, sendo muito mais seguro que o arsénio para utilização em espaços onde existam humanos ou outros grandes animais.[38] Em 1960, o número de infestações por ratos em Alberta tinha caído para menos de 200 por ano. Em 2002, a província finalmente conseguiu registar um ano sem qualquer infestação por ratos, e de 2002 a 2007 só ocorreram duas infestações.[39] Após ter sido descoberta em 2012 uma infestação por ratos no aterro sanitário de Medicine Hat, o estatuto da província como região livre de ratos foi questionado, mas os especialistas em desratização do governo provincial utilizaram maquinaria de escavação, removeram por escavação, abateram a tiro ou envenenaram 147 ratos naquele aterro, e após essa operação não foi ali detectado qualquer rato vivo.[40] Em 2013, o número de infestações por ratos em Alberta caiu novamente para zero. Alberta define uma infestação como dois ou mais ratos encontrados na mesma localização, pois um único rato não se pode reproduzir. Em média, cerca de uma dúzia de ratos isolados entram em Alberta em cada ano e são abatidos pelos especialistas em desratização do governo provincial antes de se poderem reproduzir.[41]

Apenas os jardins zoológicos, universidades e instituições de investigação científica devidamente acreditadas estão autorizadas a manter ratos em cativeiro em Alberta. A posse de ratos sem licença, incluindo a posse de ratinhos como animal de estimação, é punível com uma multa de até $5 000 ou com até 60 dias de prisão.[42]

A província adjacente de Saskatchewan, igualmente sem costa marítima, iniciou um programa de de controlo da infestação de ratos em 1972, e conseguiu reduzir substancialmente o número de ratos no seu território, apesar de ainda não ter conseguido a sua eliminação. O programa de desratização de Saskatchewan reduziu substancialmente o número de ratos que entram em Alberta.[43]

Tal como acontece com outras espécies de roedores, R. norvegicus são transportadores e podem agir como vectores de um elevado número de patógenos,[44] incluindo vários que podem causar doença em humanos, como a leptospirose, a estreptobacilose (a febre da mordedura do rato), a criptosporidiose, a febre hemorrágica viral, a febre Q e o síndrome pulmonar por hantavírus.

No Reino Unido, as ratazanas da espécie R. norvegicus são um importante reservatório de Coxiella burnetii, a bactéria que causa a febre Q, com a seroprevalência para esta bactéria a atingir 53% dos indivíduos em algumas populações de ratos.[45]

A espécie pode também servir de reservatório para Toxoplasma gondii, o parasita que causa toxoplasmose em humanos, apesar da doença ser normalmente apenas transmitida dos ratos para os humanos quando gatos domésticos ingerem espécimes de R. norvegicus infectados.[46] Este parasita apresenta sinais de uma longa coevolução com R. norvegicus, existindo evidências de que o parasita evoluiu no sentido de alterar a percepção que os ratos infectados têm dos gatos, reduzindo o medo e a tendência de fuga, tornando-os mais susceptíveis à predação e aumentando assim a probabilidade de transmissão do parasita do rato para o gato.[47]

Os resultados de estudos feitos em populações e espécimes isolados de R. norvegicus em todo o mundo têm demonstrado que esta espécie está muitas vezes associada a surtos de triquinose,[48][49] mas a prevalência da transmissão pelos ratos de larvas de Trichinella para os humanos e outros animais sinantrópicos parece ser pequena.[50] Trichinella pseudospiralis, um parasita anteriormente não considerado como um potencial patógeno em humanos ou animais domésticos, foi descoberto como sendo patogénico para os humanos, sendo transportado e transmitido pelos ratos.[51]

As populações de R. norvegicus são por vezes erroneamente consideradas como o principal reservatório da peste bubônica, a provável causa da Peste Negra da Idade Média europeia. Contudo, a bactéria responsável por esta doença, Yersinia pestis, está em geral presente apenas em algumas espécies de roedores e é geralmente transmitida zoonoticamente pela pulga-do-rato (Xenopsylla cheopis, o vector primário da peste bubónica, e Nosopsyllus fasciatus, um vector menor). As espécie de roedores cujas populações presentemente mais frequentemente agem como reservatório incluem as espécies dos géneros Spermophilus (esquilos-terrestes) e Neotoma (ratos do campo). Contudo, as ratazanas da espécie R. norvegicus podem adoecer com a peste, e através das pulgas transmiti-la, tal como várias espécies de mamíferos não roedores, incluindo cães, gatos e humanos.[52] O portador original das pulgas infectadas com a peste que se julga ter sido a causa da Peste Negra foi o rato-negro (Rattus rattus), e tem sido defendida a tese que a redução nas populações de R. rattus causada pela introdução na Europa de R. norvegicus levou a uma redução na prevalência de peste bubónica entre as populações europeias.[53] Contudo essa teoria tem vindo a ser abandonada, pois as datas dessas alterações na população de ratos não parecem coincidir com o aumento e decréscimo dos surtos de peste.[54]

Utilização em cativeiro

[editar | editar código-fonte]
Usos em investigação científica
Ver artigo principal: Rato de laboratório

A criação seletiva de ratos albinos resgatados de entre os ratos que eram criados em alguns países do noroeste europeu, nomeadamente na Grã-Bretanha, para serem utilizados numa forma de desporto sangrento, agora proscrito, conhecido por iscagem (rat-baiting) produziu as raças de ratos albinos actualmente conhecidas como ratos de laboratório.[55] Como ocorre com variedades semelhantes de murganhos, estes ratos são frequentemente utilizados em experimentação biológica, farmacológica, médica e psicológica e em outras actividades de investigação científica, e constituem um importante organismo modelo. A sua utilização é particularmente atractiva porque atingem rapidamente para a maturidade sexual, reproduzindo-se facilmente, e são fáceis de manter e de reproduzir em cativeiro. Quando os biólogos modernos se referem a "ratos" no contexto da experimentação, quase sempre aludem à espécie Rattus norvegicus.

Animais de estimação
Ver artigo principal: Rato de estimação

Espécimes de raças especialmente seleccionadas de R. norvegicus são mantidos como animais de estimação em muitas partes do mundo. A Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos são apenas alguns dos países em que se formaram associações destinadas à promoção destes ratos como animais de companhia, com uma natureza semelhante ao American Kennel Club, as quais estabelecem normas e estalões para reconhecimento das raças, organizam eventos, incluindo exposições e competições, e promovem a posse responsável destes animais de companhia.

Os muitos tipos e raças diferentes de ratos domesticados incluem grandes variações na coloração e nos padrões de pelagem, bem como no tipo de pelo, tais como as variedades 'Hairless' ou 'Rex'. Mais recentemente foram desenvolvidas variações no tamanho do corpo e na estrutura corporal, incluindo variedades anãs e ratos sem cauda.

Ratos para fins económicos
Ver artigo principal: Rato de trabalho

Ratos da espécie R. norvegicus são utilizados como animais de trabalho, treinados para desempenhar tarefas que vão desde a detecção de resíduo de explosivos a usos terapêuticos e como animal amestrado em espectáculos circenses e outros. Os ratos são também uma importante fonte de proteína em algumas comunidades asiáticas, sendo criados para fins alimentares.

[editar | editar código-fonte]
  • Ratzilla — em 2014, uma ratazana da espécie R. norvegicus excepcionalmente grande, com um comprimento corporal de 40 cm excluindo a cauda e com um peso de 1 kg, foi capturada numa residência de Estocolmo e foi apelidada de Ratzilla, gerando uma história que se tornou viral nas redes sociais.[56][57]
  1. «IUCN red list Rattus norvegicus». Lista Vermelha da IUCN. Consultado em 8 de fevereiro de 2023 
  2. «Ratazana». Michaelis On-Line. Consultado em 7 de novembro de 2016 
  3. «Definição ou significado de ratazana no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 7 de novembro de 2016 
  4. Fragaszy, Dorothy Munkenbeck; Perry, Susan (2003). The Biology of Traditions: Models and Evidence. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 165. ISBN 0-521-81597-5 
  5. «Pest info- Rodents». BASF- The Chemical Company. Consultado em 14 de janeiro de 2014. Arquivado do original em 26 de dezembro de 2014 
  6. Clark, B. R.; Price, E. O. (1981). «Sexual maturation and fecundity of wild and domestic Norway rats (Rattus norvegicus)». Journal of Reproduction and Fertility. 63 (1): 215–220. doi:10.1530/jrf.0.0630215 
  7. Leslie, P. H., Perry, J. S., Watson, J. S., & ELTON, C. (February 1946). The Determination of the Median Body‐Weight at which Female Rats reach Maturity. In Proceedings of the Zoological Society of London (Vol. 115, No. 3‐4, pp. 473–488). Blackwell Publishing Ltd.
  8. Hanson, Anne (14 de março de 2007). «What Do Rats See?». Rat Behavior and Biology. ratbehavior.org. Consultado em 1 de dezembro de 2019 
  9. Donaldson, Henry Herbert. (1915) The Rat. pp. 13.
  10. Friends' Intelligencer. (1858) Volume 14. William W. Moore, publisher. pp. 398.
  11. Chambers, William and Robert Chambers. (1850) Chambers's Edinburgh Journal. pp. 132.
  12. Dickens, Charles. (1888) All the Year Round. New Series. Volume XLII, Number 1018. pp. 517.
  13. Miles, Alfred Henry. (1895) Natural History. Dodd, Mead & Company. pp. 227
  14. Cornish, Charles John. (1908) The Standard Library of Natural History. The University Society, Inc. Volume 1, Chapter 9. pp. 159
  15. «Rats Capable Of Reflecting On Mental Processes». Science Daily – sourced from university of Georgia. 9 de março de 2007. Consultado em 2 de agosto de 2007 
  16. Smith, J. David; Beran, M. J.; Couchman, J. J.; Coutinho, M. V. C. (2008). «The Comparative Study of Metacognition: Sharper Paradigms, Safer Inferences» (PDF). Psychonomic Bulletin & Review. 15 (4): 679–691. doi:10.3758/pbr.15.4.679. Consultado em 21 de fevereiro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 17 de setembro de 2013 
  17. Tate, G.H.H. (1936). «Some muridae of the Indo-Australian region». Bulletin of the American Museum of Natural History. 72: 501–728. hdl:2246/834 
  18. Silver, J. (1941). «The house rat». Wildlife Circ. 6: 1–18 
  19. Southern, H.N. (1964). The Handbook of the British Mammals. Oxford: Blackwell Scientific 
  20. Yoshida, T.H. (1980). Cytogenetics of the Black Rat: Karyotype Evolution and Species Differentiation. [S.l.]: University of Tokyo Press. ISBN 0-8391-4131-9 
  21. a b Freye, H.A., and Thenius, E. (1968) Die Nagetiere. Grzimeks Tierleben. (B. Grzimek, ed.) Volume 11. Kindler, Zurich. pp. 204–211.
  22. a b Suckow et al. (2006) The Laboratory Rat, 2nd ed. Academic Press. pp. 74. ISBN 0-12-074903-3.
  23. a b Amori, G. & Cristaldi, M. (1999). Mitchell-Jones, Anthony J., ed. The Atlas of European Mammals. London: Academic Press. pp. 278–279. ISBN 0-85661-130-1 
  24. Nowak, Robert M. (1999) Walker's Mammals of the World. JHU Press. pp. 1521. ISBN 0-8018-5789-9.
  25. Teisha Rowland. "Ancient Origins of Pet Rats" Arquivado em 24 de setembro de 2015, no Wayback Machine., Santa Barbara Independent, 4 December 2009.
  26. a b «New Yorkers vs. the Rat». Consultado em 15 de março de 2008 
  27. Sullivan, Robert (2003). Rats: observations on the history and habitat of the city's most unwanted inhabitants. New York: Bloomsbury. ISBN 1-58234-385-3 
  28. Spanton, Tim (4 de fevereiro de 2008). «Britain plagued by 80 m rats». The Sun. London. Consultado em 15 de março de 2008 
  29. Handwerk, Brian (31 de março de 2003). «Canada Province Rat-Free for 50 Years». National Geographic News. National Geographic Society. Consultado em 30 de novembro de 2007 
  30. «beehive.govt.nz – Campbell Island conservation sanctuary rat free». beehive.govt.nz 
  31. Perrow, Martin and A. J. Davy. (2002) Handbook of Ecological Restoration. Cambridge University Press. pp. 362–363. ISBN 0-521-79128-6.
  32. «Rattus norvegicus (mammal) – Details of this species in Alberta». Global Invasive Species Database. Consultado em 18 de outubro de 2014 
  33. «Rat Control in Alberta». Government of Alberta – Department of Agriculture and Rural Development. Consultado em 18 de outubro de 2014 
  34. «The History of Rat Control In Alberta». Government of Alberta – Department of Agriculture and Rural Development. Consultado em 18 de outubro de 2014 
  35. Atkinson, I.A.E. (1973). «Spread of the Ship Rat (Rattus r. rattus L.) in New Zealand». Journal of the Royal Society of New Zealand. 2 (3): 457–472. doi:10.1080/03036758.1973.10421869 
  36. «NZ routs island rats». BBC News. 26 de maio de 2003. Consultado em 2 de agosto de 2007 
  37. Bourne, John (1 de outubro de 2002). «The History of Rat Control In Alberta». Agriculture and Food. Alberta Department of Agriculture. Consultado em 1 de dezembro de 2007 
  38. Holbrook AM, Pereira JA, Labiris R, McDonald H, Douketis JD, Crowther M, Wells PS (maio de 2005). «Systematic overview of warfarin and its drug and food interactions». Arch. Intern. Med. 165 (10): 1095–106. PMID 15911722. doi:10.1001/archinte.165.10.1095 
  39. J. Bourne, P. Merril (28 de novembro de 2011). «Rat Control in Alberta». The Canadian Encyclopedia. Consultado em 30 de março de 2014 
  40. Barb Glen (2 de outubro de 2012). «Alberta eradicates rat infestation near Medicine Hat». The Western Producer. Consultado em 29 de março de 2014 
  41. Rose Sanchez (6 de fevereiro de 2014). «Alberta maintains its rat-free status for another year». Prairie Post. Consultado em 29 de março de 2014. Arquivado do original em 22 de junho de 2017 
  42. Alberta Agriculture and Rural Development (8 de janeiro de 2002). «Agricultural Pests Act and Regulation». Government of Alberta. Consultado em 30 de março de 2014 
  43. «Rat Control in Saskatchewan». Saskatchewan Agriculture, Food and Rural Revitalization. 1 de outubro de 2003. Consultado em 1 de dezembro de 2007. Arquivado do original (PDF) em 31 de maio de 2013 
  44. Meerburg BG, Singleton GR, Kijlstra A (2009). «Rodent-borne diseases and their risks for public health». Crit Rev Microbiol. 35 (3): 221–70. PMID 19548807. doi:10.1080/10408410902989837 
  45. Webster, JP; Lloyd, G; Macdonald, DW. (1995). «Q fever (Coxiella burnetii) reservoir in wild brown rat (Rattus norvegicus) populations in the UK.». Parasitology. 110: 31–55. doi:10.1017/S0031182000081014 
  46. Dubeya, J. P.; Frenkel, J. K. (1998). «Toxoplasmosis of rats: a review, with considerations of their value as an animal model and their possible role in epidemiology». Veterinary Parasitology. 77 (1): 1–32. PMID 9652380. doi:10.1016/S0304-4017(97)00227-6 
  47. Berdoy, M; Webster, JP; MacDonald, DW (2000). «Fatal attraction in rats infected with Toxoplasma gondii.» (PDF). Proceedings of the Royal Society B. 267 (1452): 1591–1594. JSTOR 2665707. PMC 1690701Acessível livremente. PMID 11007336. doi:10.1098/rspb.2000.1182 [ligação inativa]
  48. Samuel et al. (2001) Parasitic Diseases of Wild Mammals. Blackwell Publishing. pp. 380–393. ISBN 0-8138-2978-X.
  49. Leiby, D. A.; Duffy, C. H.; Darwin Murrell, K.; Schad, G. A. (1990). «Trichinella spiralis in an Agricultural Ecosystem: Transmission in the Rat Population». The Journal of Parasitology. 76 (3): 360–364. JSTOR 3282667. doi:10.2307/3282667 
  50. Stojcevic, D; Zivicnjak, T; Marinculic, A; Marucci, G; Andelko, G; Brstilo, M; Pavo, L; Pozio, E (2004). «The Epidemiological Investigation of Trichinella Infection in Brown Rats (Rattus norvegicus) and Domestic Pigs in Croatia Suggests That Rats are not a Reservoir at the Farm Level». Journal of Parasitology. 90 (3): 666–670. PMID 15270124. doi:10.1645/GE-158R 
  51. Ranque, S; Faugère, B; Pozio, E; La Rosa, G; Tamburrini, A; Pellissier, JF; Brouqui, P (2000). «Trichinella pseudospiralis outbreak in France.» (PDF). Emerging Infectious Diseases. 6 (5): 543–547. PMC 2627956Acessível livremente. PMID 10998388. doi:10.3201/eid0605.000517 
  52. «Merck Veterinary Manual». Consultado em 11 de janeiro de 2010. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  53. See e.g.,
  54. See e.g.:
  55. Baker, Henry J.; Lindsey, J. Russel; Weisbroth, Steven H. (1979). The laboratory rat: volume I – biology and diseases. Orlando, FL: Academic Press 
  56. «Giant rat: Swedes agog at 'Ratzilla' in Stockholm». BBC News 
  57. «Swedes catch 40 cm 'rat from hell' in their kitchen». thelocal.se 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Rattus norvegicus
Wikispecies
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Rattus norvegicus
Informação geral
Rattus norvegicus — genoma e uso como organismo modelo