Saltar para o conteúdo

Sé de Selêucia-Ctesifonte

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Arquidiocese de Selêucia-Ctesifonte
Archieparchia
Sé de Selêucia-Ctesifonte
Ruínas da antiga cidade e Sé Episcopal de Selêucia-Ctesifonte (Arco de Ctesifonte)
Localização
País Pérsia
Território Assuristão
Arquieparquia Metropolita Selêucia-Ctesifonte
Eparquias Sufragâneas Cascar
Hirta
Zabe (Anumania)
Bete Daraia
Dascarta d'Malca
Perisapora (Ambar)
Carme
Tirã
Xena d'Bete Ramã
Uquebara
Bete Darom (Radã)
Cácer e Narauã
Nifre, Nilo e anumania
Bete Uazique
Estatísticas
Informação
Denominação Igreja do Oriente
Rito Siríaco oriental
Criação da Eparquia século III
Elevação a Arquieparquia século V
Governo da Arquidiocese
Arquieparca Hnanishoʿ II (último, mudou a cátedra patriarcal para Bagdá)
Jurisdição Arquidiocese
Contatos

A Sé de Selêucia-Ctesifonte ou Província Patriarcal de Selêucia-Ctesifonte era uma antiga metropolitana da Igreja do Oriente, atestada desde o século III. Foi a sé dos patriarcas da Igreja Persa, até a transferência para Baguedade (cidade localizada cerca de 30 quilômetros ao norte) no século VIII. Nos textos siríacos, a cidade dupla era normalmente indicada com o nome de Selêucia-Ctesifonte ou como Mahoze ("capitais"), Mahoza Rabba ("a grande capital") ou "Medinata de Bete Aramaia" (“As cidades de Assuristão”). Após a conquista árabe, as cidades são muitas vezes referidas pelo nome árabe de Almadaim, "as duas cidades". A metrópole consistia em várias dioceses na região de Assuristão, entre Baçorá e Quircuque, que foram colocadas sob a supervisão direta do patriarca no Sínodo de Iabe-Alaa I em 420.[1][2][3]

Sé sufragânea do Patriarcado de Antioquia, a diocese de Selêucia-Ctesifonte, na época capital do Império Sassânida, tinha igual dignidade com as demais dioceses localizadas na Mesopotâmia.[4] A tradição reconhece em Mar Mari, um discípulo de Tadeu de Edessa, um dos Setenta discípulos de Jesus, fundador da primeira comunidade cristã em Ctesifonte. Depois de fundar a diocese de Cascar, a primeira diocese da Mesopotâmia, fundou a Igreja em Coque, um subúrbio de Ctesifonte.[5][6]

Segundo dados históricos, no entanto, a fundação da diocese de Selêucia-Ctesifonte é relativamente tardia (século III), devido à hostilidade do governo sassânida a uma presença cristã manifesta na capital do império parta. As referências aos bispos de Selêucia-Ctesifonte no período parta são claramente anacrônicas, e muitos dos primeiros bispos do Império Sassânida também carecem de autenticidade histórica. A fundação ocorreu da seguinte forma: no ano de 280 cerca de dois bispos do Patriarcado de Antioquia, visitando a Mesopotâmia, consagraram Papa bar Agai como bispo de Selêucia-Ctesifonte.[7][2] Papa bar Agai foi o primeiro arcebispo historicamente certo da cidade. Em um Sínodo celebrado na capital, no início do século IV, Papa bar Agai conseguiu impor a supremacia da sé episcopal de Selêucia-Ctesifonte às outras dioceses do império.[4][8]

O Segundo Concílio Ecumênico do cristianismo, realizado em Constantinopla em 381, confirmou a autoridade do Patriarca de Antioquia sobre as dioceses localizadas nos territórios do Império Sassânida (cânon II).[8]

Elevação à sé metropolitana

[editar | editar código-fonte]

Durante o século V, através de um longo e delicado processo, a diocese de Selêucia-Ctesifonte tornou-se a sé metropolitana da Província de Assuristão. Em 410, no Concílio de Selêucia-Ctesifonte, presidido por Mar Isaque, arcebispo de Selêucia-Ctesifonte, foi reconhecido como "Grande Metropolita e Chefe de todos os Bispos"; além disso, o concílio organizou pela primeira vez a Igreja do Oriente em províncias eclesiásticas. Naquela ocasião, as dioceses de Assuristão permaneceram independentes. Apesar disso, foi reconhecido um vínculo especial entre a diocese de Seleucia-Ctesifonte e a de Cascar.[7][9] Mar Isaque foi o primeiro a ser oficialmente denominado Católico. Nas décadas seguintes, os católicos adotaram o título adicional de patriarca, que acabou se tornando a designação mais conhecida.[4]

No sínodo convocado por Mar Iabe-Alaa I em 420, as sioceses de Assuristão foram submetidas à autoridade direta do "Grande Metropolita". Outros atos sinodais redigidos durante o século V falam da existência de uma "Província do Patriarca", também conhecida como "Grande Eparquia".[3] Em 424, a Igreja do Oriente, reunida em concílio, sancionou sua própria independência e autonomia doutrinária. A separação definitiva do Patriarcado de Antioquia ocorreu no Concílio de Selêucia-Ctesifonte em 486.[7][8]

Posteriormente, essa autoridade metropolitana dos bispos de Selêucia-Ctesifonte sobre a diocese de Assuristão não parece mais ter sido questionada. Segundo Elias de Damasco, que escreveu no final do século VIII, Selêucia-Ctesifonte teve, ao longo de sua história, treze dioceses sufragâneas: Cascar, Tirã, Dair Hasquel, Hirta, Ambar (Perisapora), Alcim (Xena d. Bete Ramã), Uquebara, Arradã, Nifre, Alcasra, Ba Daraia e Ba Cusaia (Bete Daraie), Abedaci (Naargur) e Albuazique (Conixabur ou Bete Uazique).[10]

O patriarca Henanixo I (773-80) transferiu a sé patriarcal para Baguedade, que se tornou a nova capital do Califado Abássida. No entanto, os patriarcas sempre mantiveram o título de Bispos de Selêucia-Ctesifonte.[7]

Referências

  1. Wilmshurst, David (2011). The Martyred Church: A History of the Church of the East (em inglês). [S.l.]: East & West Publishing Limited 
  2. a b J. Labourt. Le christianisme dans l'empire perse. [S.l.: s.n.] 
  3. a b Quien (O.P.), Michel Le (1740). Oriens christianus: in quatuor patriarchatus digestus : quo exhibentur ecclesiae, patriarchae caeterique praesules totius orientis (em latim). [S.l.]: ex Typographia Regia 
  4. a b c Wigram, William Ainger (1910). An Introduction to the History of the Assyrian Church Or the Church of the Sassanid Persian Empire, 100-640 A.D. (em inglês). [S.l.]: Society for promoting Christian knowledge 
  5. Harrak, Amir (2005). The Acts of Mār Mārī the Apostle (em inglês). [S.l.]: BRILL 
  6. E.J. Brill's First Encyclopaedia of Islam 1913-1936 (em inglês). [S.l.]: BRILL. 1987 
  7. a b c d Vacant, Alfred; Mangenot, E. (Eugène); Amann, Emile (1899). Dictionnaire de théologie catholique : contenant l'exposé des doctrines de la théologie catholique, leurs preuves et leur histoire. Internet Archive. [S.l.]: Paris : Letouzey et Ané 
  8. a b c https://ia800704.us.archive.org/4/items/ChabotSynodiconOrientale/chabot%20synodicon%20orientale.pdf
  9. Yarshater, Ehsan; Fisher, W. B.; Gershevitch, Ilya (1983). The Cambridge History of Iran (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press 
  10. Wilmshurst, David (2000). The Ecclesiastical Organisation of the Church of the East, 1318-1913 (em inglês). [S.l.]: Peeters Publishers