Álvaro de Ataíde

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Álvaro de Ataíde
Senhor da Castanheira, Povos e Cheleiros
Álvaro de Ataíde
Armas do chefe da linhagem dos Ataídes (Livro do Armeiro-mor, de 1509)
Consorte de Leonor de Melo (1.º casamento)

Violante de Távora (2.º casamento)

Nascimento c. 1420 ?
Morte 1505 (85 anos)
Pai D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1.º Conde de Atouguia
Mãe D. Guiomar de Castro
Ocupação Fidalgo, Diplomata, Militar
Filho(s) Pedro de Ataíde (1.º casamento)

António de Ataíde, 1.º Conde da Castanheira (2.º casamento)

Religião Católica

Álvaro de Ataíde (c. 1420 - 1505), senhor da Castanheira, Povos e Cheleiros, foi um fidalgo e diplomata português do século XV e um dos participantes na conspiração do duque de Viseu contra D. João II.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filho do 1.º conde de Atouguia, D. Álvaro Gonçalves de Ataíde e de D. Guiomar de Castro.

Desconhece-se a data exata do seu nascimento mas, tendo os pais casado em 1412 e sendo ele o quarto filho,[1] é muito provável que tenha nascido antes de 1420.

Casou em 1455 com D. Leonor de Melo (ou de Noronha), filha de D. Pedro de Melo (f. em 24.08.1478[2]), senhor da Castanheira, que ascenderia ao título de conde da Atalaia em 21.12.1466. Por este casamento obteve D. Álvaro um importante dote, que investiu em terras, rendas e negócios[1], e viria mais tarde a suceder na casa do sogro.

Militar e diplomata[editar | editar código-fonte]

Iniciou a sua carreira militar ao serviço do rei D. Afonso V, participando em 1457 na conquista de Alcácer-Ceguer e depois na expedição a Tânger em 1461.[1]

Em 3 de Junho de 1475 foi enviado em missão a França, tendo recebido plenos poderes para tratar de uma aliança com o rei Luís XI. O tratado de "Liga ofensiva" com Luís XI foi assinado a 8 de Setembro e no dia 23 do mesmo mês foi também assinada uma confirmação dos tratados anteriores - de 1408, 1435 e 1455 - entre os dois países[3]. Porém, em termos práticos, a França acabou por não se juntar a Portugal na guerra contra Castela (o plano consistia em usar como pretexto para a entrada na guerra a disputa pelo condado do Rossilhão), como era desejo de D. Afonso V[1].

Senhor da Castanheira[editar | editar código-fonte]

Após o falecimento do sogro, D. Álvaro obteve de D. Afonso V um alvará de 23.08.1480 que lhe prometia as terras de D. Pedro de Melo, seguido de uma carta de 09.03.1481 em que sua mulher foi habilitada a suceder na casa do pai como se fosse filho primogênito, no caso de o verdadeiro primogênito vir a ser considerado inábil (o que realmente sucedeu). Dessa forma, D. Álvaro e sua mulher se tornaram senhores da Castanheira, Povos e Cheleiros, que eram senhorios do falecido conde da Atalaia, originalmente doados a Gonçalo Vasques de Melo, seu avô paterno.[2]

Conjura contra D. João II[editar | editar código-fonte]

D. Álvaro de Ataíde - juntamente com seu filho Pedro - foi um dos cérebros da conspiração do duque de Viseu contra D. João II, por oposição à política de controle do poder da nobreza seguida pelo monarca. Há várias versões sobre o seu envolvimento na conjura, uma delas dando-o como o elemento que mantinha informados os Reis Católicos sobre os planos dos conspiradores[1]. Segundo o cronista Garcia de Resende, o próprio D. João II reconheceria mais tarde a influência de D. Álvaro na conjura, tendo afirmado que ele era[4]

"muy principal sempre nos tais dias, levava os Reys pelas rédeas, e era tão sabedor, cortesão, gracioso, que ele por si fazia festa".

Quando D. João II matou o duque de Viseu, abortando assim a conjura, D. Álvaro de Ataíde estava em Santarém e conseguiu de seguida fugir para Castela, mas seu filho D. Pedro foi preso quando tentava escapar de Setúbal, onde se encontrava. Quer D. Pedro, quer o pai foram condenados à morte (e confisco de bens) por sentenças de 09.09.1484[5] e 09.08.1485[6], sendo a primeira sentença capital executada na pessoa de D. Pedro de Ataíde, que foi degolado em Setúbal. A segunda nunca foi aplicada devido à fuga do réu.[2]

D. João II, que "ainda que quisesse mal a alguém não lhe tirava a sua honra, se a tinha, nem deixava de dizer algumas boas partes, se as nele havia"[7], não se inibiria de mencionar, bem depois de liquidada a conjura, as qualidades de cortesão do foragido Álvaro de Ataíde, dizendo que "não se pode negar que, sem Dom Álvaro, Lisboa não presta para nada".[8]

Regresso a Portugal[editar | editar código-fonte]

D. Manuel I ascendeu ao trono em 1495 e, logo por ocasião da reunião das cortes de Montemor-o-Novo, poucas semanas depois do falecimento de D. João II, decidiu chamar D. Álvaro de volta ao reino e restituir-lhe os bens confiscados. D. Leonor de Melo não tinha acompanhado o marido no exílio e faleceu no ano do seu regresso a Portugal.[2]

Apesar da sua já avançada idade, D. Álvaro voltou a casar, desta vez com D. Violante de Távora, filha de Pedro de Sousa, senhor do Prado. Desse casamento nasceu um filho, D. António de Ataíde, futuro conde da Castanheira.

D. Álvaro de Ataíde foi também poeta e escreveu várias trovas, publicadas no famoso cancioneiro de Garcia de Resende.

Faleceu em 1505, sendo sepultado no claustro do convento de Tomar.[2]

Descendência[editar | editar código-fonte]

Do seu 1.º casamento em 1455 com D. Leonor de Melo, filha do conde da Atalaia, D. Pedro de Melo e de D. Maria de Noronha, teve um filho:

  • D. Pedro de Ataíde (?, c. 1456 - Setúbal, 1485), casou com D. Filipa de Abreu, filha de Gonçalo Vaz de Castelo Branco, 1.º senhor de Vila Nova de Portimão e de Brites Valente, com geração.

Do seu 2.º casamento com D. Violante de Távora (c. 1470 - 03.07.1555), filha de Pedro de Sousa, 1.º senhor do Prado e de Maria Pinheiro (irmã do bispo do Funchal, D. Diogo Pinheiro Lobo), teve um filho:

  • D. António de Ataíde (1500 - 1563), 1.º conde da Castanheira; casou com D. Ana de Távora, filha do 4.º senhor do Mogadouro, com geração.

Fora do casamento[3] teve também um filho:

  • D. Álvaro de Ataíde, casado com Helena de Castro, com geração.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e Campos, Nuno Luís de Vila-Santa Braga (2017). A Casa de Atouguia, os Últimos Avis e o Império. Dinâmicas entrecruzadas na carreira de D. Luís de Ataíde (1516-1581). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. pp. 58 – 61. Consultado em 1 de outubro de 2019 
  2. a b c d e Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra - Livro Primeiro. Coimbra: Livraria da Universidade. pp. 417 – 421. Consultado em 30 de setembro de 2019 
  3. a b Lima, Douglas Mota Xavier de (2016). A diplomacia portuguesa no reinado de D. Afonso V (1448-1481. Niterói: Universidade Federal Fluminense. pp. 297 – 298. Consultado em 30 de setembro de 2019 
  4. Resende, Garcia de (1973). Crónica de D. João II e Miscelânea. Lisboa: Edição fac-similada com prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão, INCM. pp. 87 – 88 
  5. «Sentença contra D. Pedro de Ataíde pela qual foi condenado a ser degolado pela culpa que lhe fora atribuída na conspiração contra D. João II - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 29 de janeiro de 2020 
  6. «Sentença contra D. Álvaro de Ataíde condenando-o à morte por estar implicado na conspiração contra D. João II - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 29 de janeiro de 2020 
  7. Resende, Garcia de (2007). Vida e Feitos d'El-Rey Dom João Segundo. Coimbra: Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra. pp. 88 – 89 
  8. Resende, op. cit., (2007), p. 88, linhas 2835 - 2840.