Abrigo de Santa Elina

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Abrigo de Santa Elina
Abrigo de Santa Elina
Parede do Sítio Arqueológico de Santa Elina
Localização atual
Abrigo de Santa Elina está localizado em: Brasil
Abrigo de Santa Elina
Santa Elina em Brasil
Coordenadas 15° 27' 28" S 56° 47' 33" O
País  Brasil
Estado Mato Grosso
Município Jangada
Cordilheira Serra das Araras
Altitude 400 m
Dados históricos
Datação 27000 AP
11.000 a 2.000 AP
Notas
Escavações 1984-2004
Arqueólogos Águeda Vilhena Vialou
Denis Vialou
Notas artefato de pedra
pinturas rupestres

O Abrigo de Santa Elina é um sítio arqueológico rochoso, localizado na Serra das Araras, município de Jangada (Mato Grosso), a 82 km de Cuiabá, e considerado o segundo mais antigo do Brasil pela presença de vestígios humanos, indicando ocupações humanas de até 27.000 anos AP.[1]

História[editar | editar código-fonte]

As escavações foram realizadas entre 1984 e 2004, coordenadas pelo arqueólogo francês Denis Vialou e a arqueóloga brasileira Águeda Vilhena Vialou, do Museu Nacional de História Natural da França.[2] Elas foram realizadas em duas áreas contíguas de 80 m², com profundidade máxima de 3,5 m, a partir da qual foi registrada a extensão total de três unidades estratigráficas.[3]

De acordo com as datações das sequências estratigráficas, este abrigo rochoso foi ocupado pela primeira vez no Pleistoceno há 27.000 anos e, posteriormente, durante o Holoceno, aconteceram ocupações sucessivas, datadas entre 11.000 e 2.000 anos antes do presente.[3]

Devido à sua localização, o Abrigo de Santa Elina funcionou para as populações que o ocuparam como um refúgio natural em meio a cadeia de montanhas.[2]

A descoberta do sítio arqueológico contribuiu para uma mudança de paradigma quanto a cronologia da chegada dos homens nas Américas, uma vez que soma-se a outros vestígios de ocupação humana no continente sul-americano, como o Parque Nacional Serra da Capivara, que remontam a milhares de anos anteriores aos encontrados nas escavações da Cultura Clóvis na América da Norte, que era considerado anteriormente o vestígio mais antigo da presença humana nas Américas.[2]

Vestígios[editar | editar código-fonte]

Embora não tenham sido encontradas ossadas de Homo sapiens no sítio arqueológico, uma série de vestígios indiretos indicam a presença humana milenar no local.[2]

Foram encontrados abundantes ossos de preguiça-gigante, do gênero Glossotherium, sendo que um deles teve a datação estimada mais antiga, de cerca de 27 mil anos. Duas osteodermas modificadas, provavelmente ornamentos, que sugerem a relação dinâmica entre caçador e animal, inclusive adornos feitos com os ossos das preguiças-gigante[2][4].

Os adornos encontrados, feitos também com vestígios vegetais, foram estojos penianos, braçadeiras, diferentes modelos de adornos peitorais, colares e tembetás, ornamentos labiais, contas e pingentes.[4]

Pintura rupestre em parede rochosa do Abrigo de Santa Elina
Pintura rupestre em parede rochosa do Abrigo de Santa Elina
Pintura rupestre em parede rochosa no Abrigo de Santa Elina

As pinturas rupestres e o uso intenso pelos habitantes de pigmentos minerais, principalmente vermelhos, e de vegetais como madeira, fibras e folhas, caracterizam as ocupações posteriores.[4] São cerca de mil pinturas rupestres, que estão em sua maioria localizadas essencialmente na altura de uma pessoa, desde o solo atual até 2 metros de altura, embora algumas estejam a até 4 metros de altura. Elas são representações que correspondem às mais frequentes no mundo, como as geométricas e abstratas, além de animais e humanos em estilo figurativo. As representações figurativas humanas indicam grupos familiares, cenas de caça, bem como os ornamentos e cortes de cabelo utilizados pelas representações masculinas.[2][4]

Foram encontrados também artefatos líticos, feitos de calcário local, duros e fáceis de trabalhar, muito presentes em todas as ocupações.[4] Os fragmentos de pedra exibem marcas da manipulação artificial humana com auxílio de ferramentas, como serrilhados, retoques e riscos.[2]

Sedimentos vegetais bem conservados também foram encontrados, especialmente nas ocupações mais recentes, de até 6.000 anos atrás, como carvões, madeiras, macro-restos vegetais, fibras e artefatos de fibras vegetais, identificadas como caules de lianas lenhosas do gênero Aristolochia, conhecidas como papo-de-peru ou milhome, e frequentemente usadas por diferentes sociedades humanas ao redor do mundo como plantas medicinais, repelentes ou amuletos de proteção, de modo que os ocupantes do local possivelmente atribuíam a essa planta alguns desses usos.[5]

Restos de fogueira também foram encontrados e, os provenientes das escavações mais profundas, também foram datados e atingiram os vestígios mais antigos, de cerca de 27 mil anos.[2]

Parte do material obtido no sítio arqueológico foi transportado do local e está guardado no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), contando com 4 mil peças líticas e 200 ossos de preguiças-gigantes.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Jangada – Sítio Arqueológico Santa Elina | ipatrimônio». 15 de abril de 2022. Consultado em 9 de outubro de 2023 
  2. a b c d e f g h i «Homo sapiens no centro da América do Sul». revistapesquisa.fapesp.br. Consultado em 18 de outubro de 2023 
  3. a b Vialou, Denis; Mohammed Benabdelhadi; James Feathers; Michel Fontugne e Agueda Vilhena Vialou (2017). «Peopling South America's centre: The late Pleistocene site of Santa Elina». 91 (358). Antiquity. pp. 865–884 
  4. a b c d e Vialou, Agueda Vilhena; Vialou, Denis (26 de agosto de 2019). «Manifestações simbólicas em Santa Elina, Mato Grosso, Brasil: representações rupestres, objetos e adornos desde o Pleistoceno ao Holoceno recente». Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas: 343–366. ISSN 1981-8122. doi:10.1590/1981.81222019000200006. Consultado em 10 de outubro de 2023 
  5. Ceccantini, Gregório; Gussella, Luciana (2001). «OS NOVELOS DE FIBRAS DO ABRIGO RUPESTRE SANTA ELINA (JANGADA, MT, BRASIL): ANATOMIA VEGETAL E PALEOETNOBOTÄNICA» (PDF). Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia. 11: 189-200. Consultado em 19 de Outubro de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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