Abya Yala

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Território americano a que se refere a denominação Abya Yala.

Abya Yala ou Abiayala[1] é uma denominação histórica do continente americano na língua kuna, que significa "terra em plena maturidade" ou "terra de sangue vital".[2] No século XXI, o termo passou a ser utilizado por diferentes organizações e comunidades indígenas de todo o continente para substituir a designação eurocêntrica "América". Nesse sentido contemporâneo, o termo é utilizado como símbolo de identidade cultural e de respeito à natureza deste território. O uso do termo integra iniciativas de descolonização do pensamento e da História da América e faz parte da construção político-identitária dos movimentos indígenas do tempo presente.[3][4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

É um nome que vem da cosmogonia da população guna,[1] grupo indígena que vive na região de Guna Yala (San Blas), no Panamá, para se referir à sua parte do continente americano onde viviam desde antes da chegada e invasão de Cristóvão Colombo e de europeus.[2] Dentro da cosmogonia guna, "Abya Yala" é o estágio final da evolução e formação da "Mãe Terra".[1] Etimologicamente, "Abya Yala" vem das palavras "Abe" (sangue) e "Yala" (espaço, território).[5]

História do termo[editar | editar código-fonte]

Desfile de população indígena com a bandeira Wiphala, que se relaciona com a ideia de Abya Yala.

O termo "Abya Yala" é usado ideologicamente para indicar apoio às populações indígenas e como um primeiro passo, através da renomeação do continente, para a descolonização epistêmica e o estabelecimento de autonomias indígenas seguindo o exemplo da Revolução Guna de 1925.[5]

O termo foi sugerido pelo ativista indígena boliviano e líder do Movimento Indígena Tupak Katari, Constantino Lima Chávez, conhecido como "Takir Mamani", após a Primeira Conferência Internacional de Povos Indígenas realizada na Colúmbia Britânica, Canadá, em 1975.[6] Em sua viagem de volta à Bolívia, Constantino chegou ao Panamá para visitar os indígenas guna; percebendo que não existe um nome de origem indígena que designe o continente americano como um todo. Constantino decide então que o termo "Abya Yala", que ouve de uma sayla ("repositório de conhecimento") de 76 anos,[7] poderia servir como alternativa para designar o continente americano:[6]

Não me lembro a data exata, mas foi em 1968 quando o wiphala apareceu, reapareceu. Não é mentira que se não tivermos sucesso então vamos inventá-la. O mesmo é verdade para o continente Abya Yala, se não conseguirmos o nome, vamos inventá-lo, vamos batizá-lo, e vamos dar o nome ao nosso continente, porque o nome daquele criminoso, Américo Vespúcio, não pode continuar neste continente.

Para Constantino, “colocar nomes estrangeiros em nossas cidades, vilas e continentes equivale a submeter nossa identidade à vontade de nossos invasores e seus herdeiros”.[8] Em vista disso, Constantino pediu, em reuniões e conferências internacionais,[9] aos povos e organizações indígenas que usassem o termo "Abya Yala" ao invés de "América". Em 1976, o missionário católico italiano Juan Bottaso Boetti fundou "Ediciones Abya Yala" na cidade de Quito, Equador, e se tornou o principal propagador do termo dando-lhe um significado mais continental.[6] Desde a década de 1980, o termo "Abya Yala" foi adotado mais gradualmente por ativistas, escritores e organizações.[1] O termo, usado no sentido político, foi usado pela primeira vez na II Cúpula Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas de Abya Yala, realizada em Quito em 2004.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Revista-Transas (17 de dezembro de 2018). «De América Latina a Abiayala. Hacia una Indigeneidad Global.». Revista Transas (em espanhol). Consultado em 24 de abril de 2021 
  2. a b Miguelángel López-Hernández (2004). Encuentros en los senderos de Abya Yala. [S.l.]: Editorial Abya Yala. ISBN 978-9978-22-363-5. Consultado em 11 de Maio de 2013 
  3. Lisboa, Armando de Melo. «De América a Abya Yala - Semiótica da descolonização». Revista de Educação Pública 
  4. Lisboa, Armando de Melo (2 de julho de 2014). «De América a Abya Yala - Semiótica da descolonização». Revista de Educação Pública (53/2): 501–531. ISSN 2238-2097. doi:10.29286/rep.v23i53/2.1751. Consultado em 3 de novembro de 2022 
  5. a b de León Inawinapi, Cebaldo. «Abia Yala». ALICE Dictionary. Consultado em 24 de abril de 2021 
  6. a b c «Constantino Lima Chávez 1933». www.filosofia.org. Consultado em 24 de abril de 2021 
  7. Portugal Mollinedo, Pedro; Macusaya Cruz, Carlos. «El indianismo katarista. Una mirada crítica» (PDF) 
  8. «About Abya Yala». abyayala.nativeweb.org. Consultado em 24 de abril de 2021 
  9. Oporto Ordóñez, Luis. «Constantino Lima Chávez, líder indianista aymara» (PDF) 
  10. Porto-Gonçalves, Carlos Walter. «Abya Yala — Enciclopédia Latinoamericana». latinoamericana.wiki.br. Consultado em 24 de abril de 2021