Adriana Barbosa

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Adriana Barbosa
Adriana Barbosa
Nome completo Adriana Barbosa
Pseudônimo(s) Adriana Feira Preta
Nascimento
São Paulo, SP, Brasil
Nacionalidade brasileira
Etnia afro-brasileira
Ocupação

Adriana Barbosa, tornou-se uma das principais potências afro-brasileiras ao fundar a Feira Preta [1], o maior evento de cultura negra da América Latina, que busca não só exaltar essa cultura, como também o empreendedorismo realizado por essa grande parcela da população.

Foi através de aprendizados familiares e da autoaceitação, que ela não só fundou a Feira Preta, como também, o PretaHub ,em 2019, um conjunto de seis iniciativas voltadas para o empoderamento da população preta no mercado de trabalho. Adriana foi indicada como um dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo (Most Influential People of African Descent, MIPAD), junto com Tais Araújo e Lázaro Ramos em 2017. O MIPAD é um projeto global que apoia a Década Internacional dos Povos de Ascendência Africana (proclamada pela resolução 68/237 da Assembleia Geral das Nações Unidas e a ser observada de 2015 a 2024).

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Infância e juventude[editar | editar código-fonte]

Descendente de nigerianos, ganenses, togoleses, beninenses e indígenas, Adriana é um dos seis filhos de Ana Regina Barbosa e nasceu em São Paulo, no ano de 1978, em uma família matriarcal e de classe baixa. Sua avó, Naidê Luiza, era empregada doméstica e sua bisavó, Maria Luiza, cozinhava salgados e marmitas para complementar a renda da família.[2][3] Com elas, Adriana aprendeu, por volta dos seus doze anos, o que chamou de “sevirologia”, ou seja, trabalhar e empreender com o que for necessário para conseguir sobreviver.[4] Aprendeu também, informalmente, noções e estratégias de marketing ao ajudar sua bisavó, vendendo os quitutes e marmitex que ela cozinhava na vizinhança da Zona Sul de São Paulo.[5]

Adriana, quando criança, fazia parte da única família negra no bairro em que morava na Saúde. Ao adentrar a juventude, o processo de autoidentificação como mulher preta foi doloroso. Por isso, no início dos anos 2000, passou a buscar locais nos quais se sentisse compreendida e em que pudesse aprender mais sobre sua própria cultura. Ela relatou que começou a se encontrar dentro do movimento através de diversas formas de entretenimento produzidas por negros, como filmes e músicas, e das reuniões da militância.[4]
Em 2002, ela frequentava casas de música black na Vila Madalena e, junto com Deise, uma amiga que conheceu nestas baladas, começou a empreender em feiras de rua. Enquanto sua amiga vendia pastéis, ela gerenciava o Brechó da Troca, que consistia em araras de roupas e mesas onde os acessórios eram expostos. Em uma destas feiras, chamada Arraiá da Vila (Vila Madalena), ocorreu um arrastão criminoso, razão pela qual elas perderam muita mercadoria na qual haviam investido dinheiro. Quando voltavam para casa, a ideia de criar uma feira que refletisse a sua identidade e a riqueza da cultura negra surgiu. Foi assim que nasceu o conceito da Feira Preta.[6]


Diferenciação entre profissional e pessoa[editar | editar código-fonte]


Após dois anos tocando a Feira Preta, Adriana se encontrou com dívidas e cogitou desistir do projeto. No entanto, uma oportunidade se apresentou. Ela recebeu um e-mail da ONG Artemisia, uma das mais importantes organizações a trazer a visão de negócios sociais de impacto para o Brasil. A ONG estava recrutando jovens empreendedores com uma visão de negócio social para ajudar a desenvolver suas ideias e dar um aporte financeiro de 40.000 reais para o vencedor. A Feira Preta se sobressaiu e ganhou o processo seletivo que durou dois anos.
Neste período, Adriana aprendeu a separar a vida pessoal da profissional.[4] Ela relatou entender a importância desta separação, pois desde a primeira edição do evento diversas marcas deixavam bem claro que não queriam se associar a um evento que levava o nome Feira Preta, pois, segundo essas empresas, eram levantadas questões de conflito racial. A não autoaceitação impactou por muito tempo as negociações que Adriana realizava. Posteriormente, ela desenvolveu um quadro depressivo derivado de seus traumas e de uma grande dívida adquirida por conta da Feira, precisando de tratamento médico através de terapia.[7]


Carreira[editar | editar código-fonte]

Comunicação[editar | editar código-fonte]


Depois que Adriana deixou de trabalhar com sua bisavó, ela teve uma série de empregos na área de Comunicação. Começou, aos 16 anos, na área de promoção da rádio Gazeta, passou pela na Jovem Pan e, depois, trabalhou em produção de TV na gravadora Trama, até ficar desempregada em 2002.[8]

Feira Preta[editar | editar código-fonte]

2002 - 1° Edição Feira Preta[editar | editar código-fonte]


Adriana e Deise idealizaram a Feira e começaram a buscar patrocínio para o evento. A Uniliver, na mesma época, lançou pela primeira vez um produto segmentado para o público negro, o sabonete Lux Pérola Negra. As duas amigas entraram em contato com a Unilever insistentemente até falarem com alguém que pudesse ajudá-las. Conseguiram, desta forma, um patrocínio de 3.500 reais.[6]
A primeira edição da Feira (gratuita) foi um sucesso, com localidade na Praça Benedito Calixto, 40 expositores e um público de 5 mil pessoas. A estratégia de comunicação para esse primeiro evento foi a distribuição de flyers e o famoso marketing boca a boca.[4]

2003 - 2° edição Feira Preta[editar | editar código-fonte]


Os moradores da região da Praça Benedito Calixto não aprovaram que o evento acontecesse ali e entregaram uma petição para a subprefeitura de Pinheiros, pedindo que houvesse uma mudança de local da Feira. Adriana tentou reagir a situação, mas não obteve sucesso e teve que procurar uma outra locação. Conseguiu, então, que a segunda edição do evento (gratuito) fosse realizada no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo.
A comunicação das datas e da programação foi transmitida pela TV Cultura e por uma rádio de circulação no interior de São Paulo e a segunda edição acabou também sendo um sucesso, com público de 14 mil pessoas.[9]

2004 - 3° edição Feira Preta, 40 mil em dívidas[editar | editar código-fonte]


Por conta de uma chuva muito forte que afetou a última edição da feira, Adriana decidiu realizar o evento em um local coberto. O único que comportava o público esperado era a Academia Brasileira de Circo. Embora o número de pessoas pagantes que compareceram tenha sido 10.000, a equipe da Feira Preta saiu com uma dívida de 40.000 reais.
Nesse momento de dificuldade, Adriana recebeu um convite da ONG Artemisia para participar de um processo de estudo e autoconhecimento, cujo ganhador receberia uma quantia de 40 mil reais.[9]

2013 - 2017 - Erros e Acertos[editar | editar código-fonte]


Adriana engravidou em 2013, tornando-se mãe de uma menina.[10] Neste período, a Feira já era autossustentável, mas Adriana não tinha lucros próprios e realizava trabalhos de freelancer para se sustentar. Como sua filha agora era a prioridade, ela começou a trabalhar como Coordenadora de Investimento Social na Fundação Via Varejo, um lugar estável, no qual ocupou um ótimo cargo de liderança.
No entanto, ela contou que não se sentia realizada, por isso pediu demissão em 2016 e focou na edição de 15 anos da Feira Preta.
A edição anterior do evento teve um público de apenas 5 mil pessoas.[4] A 15° edição, então, teve uma taxa de participação ainda menor, de 4 mil pessoas, e o abandono de dois patrocinadores. As consequências dessa queda de público na vida de Adriana foram duras: dívida de 200 mil reais, quadro depressivo, insônia, mudança de casa para um local menor e a retirada de sua filha da escola. Esse contexto seguiu até junho de 2017, quando ela começou a se “reerguer”.
Ela passou a se conectar e conversar com diversas pessoas, escutando outros empreendedores. Em setembro do mesmo ano, ela foi reconhecida como um dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo pelo MIPAD.[11] Porém, Adriana não tinha condições financeiras de viajar até Nova Iorque, onde aconteceu um jantar com todos os indicados e o ex-presidente Barack Obama. No entanto, Theo Van der Loo, CEO da Bayer, com quem Adriana já tinha contato, se ofereceu para pagar sua viagem e hospedagem.[4]
Adriana relatou que, ao voltar de Nova Iorque, se sentiu revigorada. Começou, então, a redesenhar a Feira Preta com um time de cerca de 20 voluntários e com o apoio da prefeitura de São Paulo. Todo o esforço dedicado gerou frutos: a 16° edição, que aconteceu em 2017, reuniu mais de 25 mil pessoas, contando com participações de pessoas dos EUA e de Moçambique.[4]

Lançamento do livro “Preta Potência”[editar | editar código-fonte]


No mesmo ano em que a Feira Preta completou vinte anos, 2021, e teve como tema “Existe um Futuro Preto”, Adriana lançou seu primeiro livro pela editora HarperCollins: “Preta potência: Como a resistência e a ancestralidade me ajudaram a criar o maior evento de cultura negra da América Latina”. A obra, que foi escrita por Adriana e mais três mulheres, retrata as lutas travadas diariamente ao longo dos séculos pelo povo negro brasileiro. A obra foi escrita a quatro mãos em um processo que durou cerca de um ano. Foi uma decisão realizar a escrita do livro em grupo, pois ele traz o conceito da coletividade das questões raciais e do empreendedorismo. E, assim, o livro traz os marcos conquistados pelos movimentos negros pela luta dos direitos civis e como a feira preta está inserida dentro deste contexto.[12]

PretaHub[editar | editar código-fonte]


O PretaHub é uma plataforma que, de acordo com seu site, é “o resultado de dezoito anos de atividades do Instituto Feira Preta no trabalho de mapeamento, capacitação técnica e criativa, aceleradora e incubadora do empreendedorismo negro no Brasil”. Foi criada em 2019, ganhando um espaço físico em 2020 chamado Casa PretaHub.[13]
A Casa, que está localizada na região central da cidade de São Paulo, reúne salas de reunião, estúdios de gravação, livraria, galeria e outros serviços para ajudar gratuitamente empresas a criar e desenvolver produtos e serviços que valorizem a matriz africana.[14]

Afrolab[editar | editar código-fonte]


Um dos pontos que sempre aparecia na organização da Feira Preta era o diferente nível de conhecimento que os expositores tinham sobre empreendedorismo. Então, a equipe da Feira, liderada por Adriana, criou o Afrolab, um programa cujo objetivo é ensinar aos empreendedores noções de negócio para que possam se desenvolver e aproveitar o máximo possível de seu trabalho e de eventos como a Feira Preta.[15]

AfroHub[editar | editar código-fonte]


O AfroHub, que também é uma das iniciativas da PretaHub, tem como objetivo mostrar para empreendedores negros como utilizar de forma estratégica a internet e as redes sociais para o crescimento de seu negócio.

Fundo Éditodos[editar | editar código-fonte]


O ÉdiTodos é um fundo social utilizado para investimentos em programas já existentes e que impactam positivamente a vida de famílias de baixa renda. O fundo reúne doze entidades, entre ONGs, aceleradoras e empresas sociais, e é consequência de trabalhos realizados pela Força Tarefa de Finanças Sociais. Essa força tarefa é liderada pelo Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), uma organização que fomenta essas iniciativas. As doações realizadas ao fundo são gerenciadas pela SITAWI Finanças do Bem, uma organização social de interesse público (OSCIP) que busca desenvolver soluções financeiras de impacto social.

Conversando a gente se aprende[editar | editar código-fonte]


A iniciativa promove diálogos que sensibilizam e promovem a diversidade da cultura racial em ambientes de trabalho como instituições privadas, públicas e marcas em geral. O objetivo é conseguir fazer com que as organizações e seus colaboradores entendam como utilizar da autoliderança, da corresponsabilidade, do diálogo e de ações práticas para construir um ambiente de trabalho que entenda, respeite e apoie questões raciais.
A iniciativa teve como parceira a Mandacaru Consultoria, produtora de eventos culturais e corporativos e já realizou essas conversas em empresas como Google, Netflix, Facebook e Bloomberg.

Festival Pretas Potências[editar | editar código-fonte]


O Festival Pretas Potências, segundo o site, nasceu para exaltar a força criativa e inovadora da comunidade negra.
A primeira edição do evento aconteceu no dia 13 de maio de 2018, em referência a abolição da escravidão. Essa data vem sendo ressignificada pelos movimentos negros como o dia da abolição inconclusa, pela falta de medidas que ajudassem a integração social das pessoas que foram escravizadas.

Prêmios e Indicações[editar | editar código-fonte]


Ano Prêmio
2017 Nova Iorque - 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo (Most Influential People of African Descent, o MIPAD).[16]
2019 Ganhadora do Troféu Grão do Empreendedor Social, realizado pelo jornal Folha de S. Paulo.[17]
2019 Prêmio CLAUDIA, categoria Empreendedorismo e Negócios.[18]
2020 Prêmio Sim à Igualdade Racial pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), que presta homenagem a instituições e personalidades que atuam pela equidade étnico-racial no país.[19]
2020 Reconhecida como a primeira mulher negra entre os Inovadores Sociais do Mundo no Ano, pelo Fórum Econômico Mundial.[20]


Referências

  1. https://feirapreta.com/ Consultado no dia 5 de novembro de 2021
  2. https://www.uol.com.br/tilt/reportagens-especiais/ancestralidade-adriana-barbosa.htm  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  3. https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/09/adriana-barbosa/ Entrevista concedida ao projeto WikiAfro no dia 12 de novembro de 2021
  4. a b c d e f g Day1 | Adriana Barbosa: na escassez, se reinventar https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/day1-adriana-barbosa-na-escassez-se-reinventar/ Consultado no dia 4 de novembro de 2021
  5. RODRIGO BERTOLLOTO, 17 de agosto de 2020 https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/adriana-barbosa-fala-sobre-empreendedorismo-criatividade-e-diversidade/#page2 Consultado no dia 4 de Novembro de 2021
  6. a b FERNANDA FROZZA, 27 de fevereiro de 2019 https://revistaglamour.globo.com/Na-Real/noticia/2019/02/criadora-da-feira-preta-adriana-barbosa-esta-entre-os-51-negros-mais-influentes-do-mundo.html Consultado no dia 5 de Novembro de 2021
  7. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro no dia https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/09/adriana-barbosa/
  8. RODRIGO BERTOLLOTO, 17 de agosto de 2020 https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/adriana-barbosa-fala-sobre-empreendedorismo-criatividade-e-diversidade/#page2 Consultado no dia 4 de Novembro de 2021
  9. a b EQUIPE MULHER NO BRASIL, setembro de 2021 https://mulhernobrasil.com.br/musa-do-dia/adriana-barbosa/ Consultado no dia 5 de novembro de 2021
  10. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro no dia 12 de novembro de 2021 https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/09/adriana-barbosa/
  11. https://www.mipad.org/classof2017 Consultado no dia 6 de Novembro
  12. Entrevista concedida ao projeto Wikiafro no dia 12 de novembro de 2021 https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/09/adriana-barbosa/
  13. https://casapretahub.com.br/
  14. ANA LAURA STACHEWSKI, 4 de outubro de2020 https://revistapegn.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2020/09/por-dentro-da-casa-pretahub-novo-espaco-de-criacao-digital-para-afroempreendedores.html Consultado no dia 6 de novembro de 2021
  15. Entrevista concedida ao projeto WikiAfro no dia 12 de novembro https://wikiafro.espm.edu.br/2021/12/09/adriana-barbosa/
  16. https://pretahub.com/album/casa-da-preta/ Consultado no dia 4 de Novembro
  17. https://www.mipad.org/classof2017 Consultado no dia 4 de Novembro
  18. LAURA CASTANHO, 5 de novembro de 2019 https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2019/11/fundadora-da-feira-preta-vence-o-trofeu-grao-do-empreendedor-social-2019.shtml Consultado no dia 6 de Novembro
  19. https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2019/11/fundadora-da-feira-preta-vence-o-trofeu-grao-do-empreendedor-social-2019.shtml Consultado no dia 6 de Novembro
  20. https://effie.com.br/jurados/2021/adriana-barbosa/ Consultado no dia 11 de novembro de 2021

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]


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