Controvérsia sobre a assistência da CIA a Al-Qaeda

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Existem alegações de que o governo dos Estados Unidos e, em especial a Agência Central de Inteligência (CIA), são responsáveis por permitir a criação dos "árabes afegãos", e em particular a al-Qaeda de Osama bin Laden.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Em meados de 1979, o mesmo tempo que ocorria a "implantação soviética" no Afeganistão, os Estados Unidos começaram a dar várias centenas de milhões de dólares por ano em ajuda aos insurgentes afegãos, os mujahideen afegãos que combatiam o governo marxista e o Exército soviético na Operação Ciclone. Junto com os mujahideen afegãos nativos vieram voluntários muçulmanos de outros países, popularmente conhecidos como "árabes afegãos". O mais famoso dos árabes afegãos foi Osama bin Laden, conhecido na época como um saudita milionário que doou o seu próprio dinheiro e ajudou milhões de outros árabes ricos do Golfo.

Enquanto a guerra se aproximava do fim, Bin Laden organizou a al-Qaeda para levar a jihad armada em outros locais, principalmente contra os Estados Unidos - o país que ajudou a financiar os mujahideens contra os soviéticos.

Alegações[editar | editar código-fonte]

Em um artigo da BBC de 2004, intitulado "Al-Qaeda's origins and links", a BBC escreveu:

Durante a jihad anti-soviética, Bin Laden e seus combatentes receberam financiamento americano e saudita. Alguns analistas acreditam que o próprio Bin Laden teve treinamento de segurança da CIA.[1]

Robin Cook, Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido de 1997-2001, que acreditava que a CIA havia fornecido armas aos mujahideens árabes, incluindo Osama bin Laden, escreveu: "Bin Laden foi, porém, produto de um erro de cálculo monumental por agências de segurança ocidentais. Ao longo os anos 80 ele foi armado pela CIA e financiado pelos sauditas para a jihad contra a ocupação russa do Afeganistão". Sua fonte para isso não é clara.[2]

Em conversa com o ex-Secretário de Defesa britânico Michael Portillo, a duas vezes primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto, disse que Osama bin Laden era inicialmente pró-americano.[3] O príncipe Bandar bin Sultan da Arábia Saudita, também declarou que bin Laden uma vez agradeceu a ajuda dos Estados Unidos no Afeganistão, no programa de Larry King, da CNN.[4]

O ex-tradutor do FBI e denunciante Sibel Edmonds, entrevistado por Brad Friedman no The Mike Malloy Show em Junho de 2009, declarou: "Tenho informações sobre as coisas que o nosso governo tem mentido para nós sobre isso. Eu sei. Por exemplo, para afirmar que, desde a queda da União Soviética, nós cessamos todo o nosso íntimo relacionamento com Bin Laden e o Talibã - essas coisas podem ser provadas como mentiras, muito facilmente, com base na informação classificada no meu caso, porque temos efetuado relação muito íntima com essas pessoas, e que envolve a Ásia Central, todo o caminho até o 11 de Setembro."[5] Sibel Edmonds, que foi demitido da agência pela divulgação de informações sensíveis, afirmou que os Estados Unidos estavam em termos íntimos com o Talibã e a Al-Qaeda, usando-os para novas metas determinadas na Ásia Central.[6]

Alguns afirmam que os ataques da Al-Qaeda aos EUA são um "blowback", ou uma consequência imprevista da ajuda americana para os mujahideen. Em resposta, o governo norte-americano, os agentes de inteligência americanos e paquistaneses envolvidos na operação, e pelo menos um jornalista (Peter Bergen) negaram esta teoria. Eles afirmam que o auxílio foi concedido pelo governo do Paquistão, que passou a mujahideens afegãos e não a estrangeiros, e que não houve contato entre os "árabes afegãos" (mujahideens estrangeiros) e a CIA ou outros oficiais norte-americanos, e que muito menos armaram, treinaram ou doutrinaram os "árabes afegãos". Os Estados Unidos alegam que todos os fundos foram para os nativos rebeldes afegãos e negam que os fundos seriam usados para abastecer Osama bin Laden ou mujahideens estrangeiros. Estima-se que 35 mil muçulmanos estrangeiros de 43 países participaram na guerra.[7][8][9]

Embora não haja nenhuma evidência de que a CIA apoiou diretamente os talibãs ou a Al Qaeda, alguma base de apoio militar do Taliban foi fornecida quando, no início de 1980, a CIA e o ISI (serviço de inteligência do Paquistão) forneceu armamentos para os afegãos resistirem à invasão soviética do Afeganistão; o ISI ajudou no processo de recolha de muçulmanos radicais de todo o mundo para lutar contra os soviéticos.[10] Osama Bin Laden foi um dos atores-chave na organização dos campos de treinamento para os voluntários muçulmanos estrangeiros. Os EUA forneceram fundos e armas para o Afeganistão, e "em 1987, 65.000 toneladas de armas e munições norte-americanas em um ano estavam entrando na guerra."[11]

Al-Qaeda na Líbia e na Síria[editar | editar código-fonte]

Novas denúncias surgidas afirmam que os Estados Unidos e a OTAN têm consciente ou inconscientemente vindo a apoiar filiados da Al-Qaeda durante a Guerra Civil Líbia e a atual Guerra Civil Síria.[12] Os filiados da Al-Qaeda são responsáveis por 12 mil combatentes na Síria e uma afiliada, a Frente al-Nusra, é parte da coalizão islâmica que é responsável por 59-75% dos rebeldes na Síria e planeja uma transição política para a lei sharia pós-Assad.[13][14] A Turquia, membro da OTAN, tem listado a Frente Al-Nusra como uma organização terrorista.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Al-Qaeda's origins and links, BBC News, July 20, 2004
  2. Cook, Robin (8 de julho de 2005). «The struggle against terrorism cannot be won by military means». London: Guardian Unlimited 
  3. Benazir Bhutto, "Dinner with Portillo", BBC Four
  4. America's New War: Responding to Terrorism CNN Larry King Live. October 1, 2001.
    On CNN's Larry King program he said:
    - Bandar bin Sultan: This is ironic. In the mid-'80s, if you remember, we and the United - Saudi Arabia and the United States were supporting the Mujahideen to liberate Afghanistan from the Soviets. He [Osama bin Laden] came to thank me for my efforts to bring the Americans, our friends, to help us against the atheists, he said the communists. Isn't it ironic?
    - Larry King: How ironic. In other words, he came to thank you for helping bring America to help him.
    - Bandar bin Sultan: Right.
  5. Brad Friedman. «Guest Hosting 'Mike Malloy Show' (Wednesday)». The Brad Blog 
  6. US on 'intimate' terms with extremists in Central Asia - Press TV
  7. «1986-1992: CIA and British Recruit and Train Militants Worldwide to Help Fight Afghan War». Cooperative Research History Commons 
  8. «CIA worked with Pak to create Taliban» (em inglês). India Abroad News Service. 3 de Junho de 2001. 1 páginas 
  9. «CIA bin Laden». Outubro de 2001 
  10. Fitchett, Joseph (26 de setembro de 2001). «What About the Taliban's Stingers?». The International Herald Tribune 
  11. Rashid, Ahmad (2010). Taliban, Militant Islam, Oil and Fundamentalism in Central Asia 2ª ed. New Haven: Yale University Press. ISBN 978-0-300-16368-1 
  12. «'US is OK with Al-Qaeda in Syria, Libya – Egypt's Islamists won't be problem either'». Russia Today 
  13. «Largest Syrian rebel groups form Islamic alliance, in possible blow to U.S. influence». Washington Post. 25 de setembro de 2013 
  14. Kelley, Michael (19 de setembro de 2013). «A full extremist-to-moderate spectrum of the 100,000 Syrian rebels». Business Insider 
  15. Hurriyet Daily News , 3 June 2014, Turkey lists al-Nusra Front as terrorist organization