Alice Lawrence Oram

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Alice Lawrence Oram
Alice Lawrence Oram
Nascimento 1864
Morte 1948
Ocupação tradutora, jornalista

Alice Lawrence Oram (1864 – 1948) foi uma jornalista e tradutora britânica radicada em Portugal. Como jornalista, deu a notícia da revolução de 5 de outubro de 1910, que derrubou a monarquia portuguesa, no exterior.

Vida pregressa[editar | editar código-fonte]

Alice Lawrence Oram nasceu em 1864 na capital portuguesa de Lisboa. Seus pais, William Oram e Jane Lawrence, eram os proprietários do Lawrence's Hotel em Sintra, supostamente o hotel mais antigo que ainda está em funcionamento na Península Ibérica. O hotel ficou famoso por ser o local onde, em 1809, Lord Byron escreveu parte de sua obra A Peregrinação de Childe Harold. Também apareceu em romances do escritor português José Maria de Eça de Queirós, como sendo o lugar para ficar quando os lisboetas visitavam a cidade vizinha, Sintra. Desde muito jovem, Alice foi conhecendo muitos dos escritores e artistas portugueses que visitavam o hotel.[1][2]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Alice se tornou correspondente de uma grande variedade de agências de notícias e jornais estrangeiros, como a Associated Press, Reuters e o British Daily Mail, muitas vezes usando o pseudônimo de Célia Roma, com o qual assinava contos e poemas que apareciam em vários jornais e revistas. Para o Daily Mail, preparou uma reportagem sobre a revolução republicana de 5 de outubro de 1910, em Portugal, que foi a primeira notícia do acontecimento a ser divulgada no estrangeiro. Curiosamente, ela andou por Lisboa sob tiros para obter todos os detalhes da história.[3][4]

Alice tinha uma casa em Lisboa perto do Palácio dos Duques de Palmela, o que lhe dava uma posição privilegiada para assistir aos movimentos da elite lisboeta, antes da Revolução, e às manifestações realizadas no vizinho Largo do Rato, após o acontecimento. Em 1912, ela foi presa por suposta participação em uma conspiração para restaurar a monarquia. Sua prisão atraiu cobertura internacional, inclusive no New York Times. O período após a derrubada da monarquia foi de grande instabilidade política e social, marcado por motins, ataques e explosões diárias. Este ambiente levou muitas pessoas a serem presas por suspeita de participação em movimentos pró-monarquistas ou contra-revolucionários, muitas vezes com poucas evidências. Alice foi acusada de promover encontros políticos visando a restauração da monarquia. Esteve brevemente detida na prisão feminina do Aljube, no centro de Lisboa, sendo muitas vezes libertada e depois detida novamente. O seu julgamento decorreu conjuntamente com o de outra mulher, Constança Teles da Gama, acusada de alimentar tropas leais à monarquia que estavam, segundo ela, detidas em condições de fome. O julgamento, que se tornou uma cause célèbre em Lisboa, rapidamente fracassou. Oram admitiu abertamente ter estado em contato com monarquistas, mas explicou que isso era necessário para seu trabalho como jornalista. As buscas em sua casa em Lisboa e na casa de seus pais em Sintra não revelaram nada que a incriminasse.[5][6]

Em maio de 1916, Oram acompanhou Virgínia Quaresma, a primeira portuguesa a ser jornalista profissional e uma notável feminista e lésbica, numa viagem de submarino, que incluiu um mergulho. A viagem, no NRP Espadarte (Swordfish), o primeiro submarino moderno da marinha portuguesa, teria sido a primeira viagem de mulheres repórteres em um submarino, pelo menos em Portugal.[7] Perto do fim da vida, esteve envolvida com a primeira agência de notícias de Portugal, a Lusitânia . A agência foi criada por Luís Caldeira Lupi que queria criar uma agência de notícias que conectasse todo o mundo de língua portuguesa.[8]

Alice Lawrence Oram morreu em Sintra, em 1948. Antes de morrer, naturalizou-se portuguesa.

Publicações[editar | editar código-fonte]

Alice traduziu várias obras para o português, incluindo Oliver Twist de Charles Dickens, e obras de Gabriele D'Annunzio, e Freeman Wills Crofts . Ela também traduziu para o inglês O Livro das Crianças de António Botto, uma coleção de contos infantis best-seller que seria oficialmente aprovada como leitura escolar na Irlanda.[4][9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Leite, Jose Augusto. «Lawrence's Hotel». Restos de Coleccao: Blogspot. Consultado em 25 de maio de 2021 
  2. «Alice Oram: inglesa de Sintra, cidadã do mundo» (PDF). Jornal de Sintra 17 July 2020. Consultado em 26 de maio de 2021 
  3. «Alice Oram: inglesa de Sintra, cidadã do mundo» (PDF). Jornal de Sintra 17 Julho 2020. Consultado em 26 de maio de 2021 
  4. a b «ORAM, Alice Lawrence, 1862-1948». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 26 de maio de 2021 
  5. Vargas, Cristiana. «A condessa de Cascais e a jornalista inglesa encontraram-se na cadeia». O sal da história. Consultado em 26 de maio de 2021 
  6. «Cronica Occidental» (PDF). Occidente. 35 (1210). 10 de agosto de 1912. Consultado em 26 de maio de 2021 
  7. «Alice Oram: inglesa de Sintra, cidadã do mundo» (PDF). Jornal de Sintra 17 Julho 2020. Consultado em 26 de maio de 2021 
  8. «Lusitânia. Esta é a história da primeira agência noticiosa portuguesa». Expresso. Consultado em 26 de maio de 2021 
  9. BOTTO, António; Lawrence Oram, Alice (trans.) (1936). «The Children's Book». Google Books. Consultado em 26 de maio de 2021 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Wilton Fonseca. Da Monarquia ao Estado Novo: Agências Noticiosas em Portugal . Perfil Criativo – Edições. 2019. ISBN 9789895451760