Alice Rey Colaço

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Alice Rey Colaço
Alice Rey Colaço
Nascimento 11 de julho de 1890
Lisboa
Morte 13 de junho de 1978
Lisboa
Nacionalidade Portuguesa
Cidadania Portugal
Progenitores
Parentesco António Menano (cunhado)
Jorge Colaço (primo)
Branca de Gonta Colaço (prima)
Ana de Gonta Colaço (prima)
Tomás Ribeiro Colaço (primo)
Mariana Rey Monteiro (sobrinha)
Cônjuge Horácio Paulo Menano
Filho(a)(s) Horácio Paulo Rey Colaço Menano (1925-2013)
Cecília Rey Colaço Menano (1926-2014)
Manuel Rey Colaço Menano (1928-2004)
Isabel Rey Colaço Menano (1932-1986)
Irmão(ã)(s) Jeanne Schmidt Lafourcade Rey Colaço de Castro Freire (1888-1957)
Maria Adalgisa Schmidt Lafourcade Rey Colaço (1893-1970)
Amélia Schmidt Lafourcade Rey Colaço Robles Monteiro (1898-1990)
Ocupação pintora, ilustradora, cantora lírica, cenógrafa e figurinista

Alice Rey Colaço (Lisboa, 11 de Julho de 1890Lisboa, 13 de Junho de 1978) foi uma pintora, ilustradora modernista, cantora lírica, cenógrafa e figurinista portuguesa.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros Anos[editar | editar código-fonte]

Alice Schmidt Lafourcade Rey Colaço nasceu na casa de sua família, na Rua da Lapa, nº 70, em Lisboa, no dia 11 de julho de 1890, sendo filha do pianista e compositor Alexandre Rey Colaço e de Alice Schmidt Constant Lafourcade, filha do cônsul alemão em Valparaíso, Chile, Hermann G. Schmidt e da francesa Marie Alice Constant Lafourcade.[3] Era a segunda das quatro filhas do casal, sendo irmã das pianistas Jeanne e Maria Rey Colaço e da actriz Amélia Rey Colaço. Era tia da actriz Mariana Rey Monteiro, sendo ainda familiar do pintor e ceramista Jorge Colaço, casado com a poetisa Branca de Gonta Colaço e pai da escultora Ana de Gonta Colaço e do escritor Tomás Ribeiro Colaço. Sendo membro de umas das famílias mais cultas e respeitadas da burguesia lisboeta, este factor fez com que Alice e as suas irmãs tivessem uma forte educação artística e cultural, participando frequentemente em saraus, recitais, peças de teatro e espectáculos de dança desde tenra idade, surgindo assim a sua inclinação artística.[4][5]

Formação e Carreira Artística[editar | editar código-fonte]

Retrato da família Rey Colaço (da esquerda para a direita: Maria Rey Colaço, Alice Lafourcade, Amélia Rey Colaço, Alexandre Rey Colaço, Jeanne Rey Colaço e Alice Rey Colaço)

Apesar de se desconhecer o ano exacto, muito cedo foi discípula de Columbano Bordalo Pinheiro, pintor naturalista e realista de grande renome com quem a família convivia frequentemente, e de Carlos Reis, mestre do rei D. Carlos I e da rainha D. Amélia, prosseguindo os seus estudos artísticos em Paris e em Berlim.[6]

De regresso a Portugal, no ano de 1913, Alice Rey Colaço começou a expor o seu trabalho e realizou a sua primeira exposição no Salão da Ilustração Portuguesa, em parceria com a sua amiga e artista Mily Possoz. As duas pintoras realizaram nos anos seguintes várias exposições juntas, nomeadamente na II Exposição dos Modernistas, no Porto, em 1916,[7] e no Salão Bobone, em 1919.[8][9] As obras que apresentou demonstravam já a sua predilecção por motivos e figuras populares como varinas e vendedoras de fruta, aprofundando os temas da vida do quotidiano na sua exposição individual realizada em 1922.[10]

Dotada também para a música, frequentou o Conservatório Nacional de Música, ao lado das irmãs Jeanne e Maria Rey Colaço,[11][12] e apresentou-se em 1916 como cantora de canto lírico na Sala do Automóvel Club, acompanhada ao piano pelo seu pai, Alexandre Rey Colaço, onde cantou lieder de Beethoven.[13] Em abril de 1917, voltou a actuar, dessa vez no Grémio Literário de Lisboa, onde cantou temas de Schubert e Debussy.[14]

A partir de 1918 dedicou-se sobretudo à ilustração, onde demonstrou a sua preferência por temas ligados à natureza e aos costumes ou tradições populares, comprovados pelas inúmeras ilustrações que realizou em vários postais e revistas, como a Ilustração Portuguesa ou ABC: revista portuguesa,[15] assim como para livros de vários autores e dramaturgos, tais como "João Pateta" (1922)[16] de Adolfo Coelho, "Os Lobos: tragédia rústica em três partes" (1919)[17] de Francisco Lage e João Correia d'Oliveira ou "Contos e Lendas da nossa Terra" (1924)[18] e "Terra portuguesa" (1926) de Maria da Luz Sobral, entre outros. Nessas obras, as figuras que desenhou apresentavam corpos esbeltos, caras alegres sem contornos e as roupas sem texturas, o que colocou Alice Rey Colaço na vanguarda da geração modernista em Portugal. As características etnográficas e sociais que estão presentes na sua obra, levaram a que a série de postais por ela criada fosse apropriada pelo Estado Novo nas suas campanhas de propaganda, nomeadamente pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI) e o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN).

Livro de cantigas e partituras "Pirolito que bate que bate - danças de roda e cantigas populares" (1905), com ilustrações de Jorge Colaço, harmonias de Alice Rey Colaço e prólogo de Branca de Gonta Colaço.

Simultaneamente, começou a trabalhar como figurinista e cenógrafa, integrando um grupo de artistas inovadores que introduziram uma nova estética teatral em Portugal. Neste âmbito, colaborou com José Leitão de Barros, Maria Adelaide de Lima Cruz, Jorge Barradas e Milly Possoz, e fez parte das equipas técnicas das peças de teatro "Sonho de Uma Noite de Agosto" (1919),[19] protagonizado pela sua irmã Amélia Rey Colaço, "Zilda" de Alfredo Cortez (1921)[20][21] ou ainda "Os Cegos" de Francisco Lage e João Correia d'Oliveira (1923). Multifacetada, colaborou ainda no cinema português, tendo realizado o grafismo dos intertítulos do filme mudo "Os Lobos" (1923), realizado por Rino Lupi.[22]

Casamento[editar | editar código-fonte]

No ano de 1924, Alice Rey Colaço casou com Horácio Paulo Menano, médico, naturalista e professor universitário, irmão do compositor e intérprete da canção de Coimbra António Menano. Teve quatro filhos do seu casamento, Horácio (1925), Cecília (1926), Manuel (1928) e Isabel (1932). Nesse mesmo ano, Alice cessou a sua actividade como artista plástica, dedicando-se exclusivamente à família e à sua carreira no canto lírico.[23]

Fim de Vida[editar | editar código-fonte]

Faleceu em Lisboa, a 13 de Junho de 1978, com 85 anos de idade. Encontra-se sepultada no Cemitério dos Prazeres.

Exposições[editar | editar código-fonte]

Breve selecção de obras[editar | editar código-fonte]

Ilustrações[editar | editar código-fonte]

Figurinista e Cenógrafa[editar | editar código-fonte]

Legado e Homenagens[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Dix, Steffen (5 de julho de 2017). Portuguese Modernisms: Multiple Perspectives in Literature and the Visual Arts (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  2. Tannock, Michael (1978). Portuguese 20th Century Artists: A Biographical Dictionary (em inglês). [S.l.]: Phillimore 
  3. Sinopsis estadística de la República de Chile (em espanhol). [S.l.]: Soc. Impr. y Litografía Universo. 1890 
  4. Gomes, Adelino. «Entrevista de Adelino Gomes: A actriz que tinha um conservatório em casa» 
  5. Samara, Maria Alice (2007). Operárias e burguesas: as mulheres no tempo da República. [S.l.]: A Esfera dos Livros 
  6. França, José Augusto (1974). A arte em Portugal no século XX. [S.l.]: Livraria Bertrand 
  7. Smith, Francis (1969). Le Portugal dans l'oeuvre de Francis Smith: Centre culturel portugais de la Fondation Calouste Gulbenkian, Paris, [23 janvier-22 février 1969 (em francês). [S.l.]: Centre culturel portugais de la Fondation Calouste Gulbenkian, 51, Av. d'Iéna 
  8. Mily Possoz, Alice Rey Colaço: pintura, ilustração e desenho (em inglês). [S.l.: s.n.] 1919 
  9. Atlantida. [S.l.: s.n.] 1919 
  10. «Trajes populares portugueses na ilustração de Alice Rey Colaço». Com Jeito e Arte. 22 de julho de 2015 
  11. Revista do Conservatório Nacional de Música. [S.l.]: Conservatório Nacional de Música. 1920 
  12. Contemporanea. [S.l.]: Libanio da Silva. 1923 
  13. Vieira, Afonso Lopes (1916). O canto coral e o Orfeon de Condeixa: conferencia realizada no concerto do Orfeon, no Teatro da Republica, em Lisboa. [S.l.]: Editora Lda. 
  14. Department, New York Public Library Reference; Division, New York Public Library Music (1964). Dictionary Catalog of the Music Collection (em inglês). [S.l.]: G. K. Hall 
  15. ABC: revista Portuguesa actualdades. [S.l.: s.n.] 1922 
  16. Coelho, Adolfo (21 de julho de 2020). Obras etnográficas (I): Festas, costumes e outros materiais para uma Etnologia de Portugal. [S.l.]: Etnográfica Press 
  17. Lage, Francisco (1923). Os lobos: tragédia rústica em três actos. [S.l.]: Companhia Portuguesa Editora 
  18. Sobral, Maria da Luz (1924). Contos e lendas da nossa terra (para crianças). [S.l.]: Indust. Gráfica 
  19. A Companhia Rey Colaço Robles Monteiro (1921-1974). [S.l.]: Leya. 1989 
  20. Cortez, Alfredo (1921). Zilda: peça em 4 actos. Illus. de D. Alice Rey Colaço, D. Milly Possoz, Jorge Barradas. [S.l.]: Companhia Portugueza Editôra 
  21. Fadda, Sebastiana (9 de fevereiro de 2018). Alfredo Cortez. [S.l.]: INCM 
  22. Bérnard da Costa, João (17 de abril de 2020). «Os Lobos (1924)» (PDF). Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema 
  23. VIEIRA, Sofia SOUSA (1 de agosto de 2012). Estudio de la actividad musical compositiva y crítica de Francine Benoit (em espanhol). [S.l.]: Ediciones Universidad de Salamanca 
  24. «A Galeria das Artes». ric.slhi.pt. Atlântida - Revista de Ideias e Cultura. 15 de dezembro de 1916. Consultado em 23 de maio de 2020 
  25. «Pintura, Ilustração e Desenho; Milly Possoz e Alice Rey Colaço». ric.slhi.pt. Atlântida - Revista de Ideias e Cultura. 1919. Consultado em 23 de maio de 2020 
  26. «16ª Exposição de Pintura, Escultura e Arquitectura da Sociedade Nacional de Belas Artes». ric.slhi.pt. Atlântida - Revista de Ideias e Cultura. 1 de junho de 2019. Consultado em 23 de maio de 2020 
  27. Lage, Francisco; Joaquim Correia d'Oliveira (1920). Os Lobos. Porto: Companhia Portugueza Editora 
  28. «Biblioteca Nacional de Portugal» 
  29. «Biblioteca Nacional de Portugal» 
  30. Sobral, Maria da Luz; Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1935). Contos de lendas da nossa terra para crianças. Porto: Civilização 
  31. Azevedo, Maria Paula de (1926). Terra portuguesa. Lisboa: Imp. Libanio da Silva 
  32. «Amélia Rey Colaço - Alice Rey Colaço» 
  33. «"A casa da boneca" - desenho - Alice Rey Colaço» 
  34. Cortês, Alfredo (1021). Zilda. Porto: Companhia Portugueza 
  35. Barros, Júlia Leitão de (2009). Amélia Rey Colaço: Fotobiografias Século XX. Lisboa: Círculo dos Leitores. ISBN 978-972-42-4397-9 
  36. Leitão, Joaquim (1926). Os cegos. Porto: Companhia Portuguesa Editora 
  37. SANTOS, VÍTOR PAVÃO DOS (2015). O Veneno do Teatro - conversas com Amélia Rey Colaço. Lisboa: Bertrand Editora. p. 14. ISBN 9789722530392