Ambulância postal

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interior de uma ambulância postal inglesa

As ambulâncias postais consistem em veículos ferroviários especializados, que foram utilizados na recolha, processamento e distribuição de correio, ao longo dos caminhos de ferro.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Ambulância postal utilizada na rede ferroviária do Vouga, em Portugal.
Compartimento de ambulância postal, no interior de uma carruagem na Linha do Vouga.

Em Portugal, o correio era recolhido nas estações e apeadeiros, em malas próprias das estações postais, e nas caixas de correio de última hora, existentes nas estações, e por vezes nas próprias ambulâncias; este sistema era muito utilizado pelas populações, uma vez que a correspondência era aceite até à chegada do comboio, enquanto que as repartições dos correios encerravam ao final da tarde.[1] O correio era processado a bordo dos veículos, tendo cada um carimbos próprios.[1][2] Utilizavam pessoal próprio, afecto aos serviços dos correios.[1] Os primeiras ambulâncias postais em Portugal foram oito carruagens especiais, adquiridas em Hamburgo.[3] Também existiram ambulâncias postais de via estreita, destacando-se um veículo construído pela Linke-Hofmann em 1928, de quatro eixos, da Série D, e que veio para Portugal como parte das compensações alemãs da Primeira Guerra Mundial.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Origens[editar | editar código-fonte]

O transporte de correio por via ferroviária remonta a 1838, no Reino Unido, tendo os primeiros comboios correio naquele país começado em 1840.[1] Em 1844, este tipo de comboios também começou a ser utilizado em França,[1] e em 1855, entraram ao serviço as primeiras ambulâncias postais, no Reino Unido, denominadas de Travelling post office.[1] Em 1877, este sistema também foi introduzido nos Estados Unidos da América.[1]

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Introdução ao serviço[editar | editar código-fonte]

Ambulâncias postais em Portugal[3]
AmbulânciaInícioSupressão
Leste18661896
Minho18781882
Beira Alta1882
Minho I e II18821972
Minho III e IV18821882
Norte I e II18821972
Norte III e IV18821972
Douro I e II1882
Leste I e II18821972
Douro III e IV18821892
Sul I e II18821946
Leste III e IV18821883
Oeste18881973
Sul III e IV18901892
Beira Baixa18961972
Corgo19101972
Tua19101969
Alentejo19111972
Vouga19281972
Fafe e Sabor19321972
Legenda:
I = Serviço ascendente
II = serviço descendente
III e IV = ambos asc. e desc., com dup. de ambulâncias

Antes da introdução dos caminhos de ferro em Portugal, o correio era transportado principalmente por via rodoviária, através do sistema de mala-posta, que utilizava carruagens puxadas por cavalos, com postos de muda ao longo dos percursos, tendo sido igualmente utilizado o transporte fluvial, com serviços de barcos a vapor que ligavam Lisboa ao Porto, Carregado, Barreiro, Cacilhas, e Montijo.[4] O caminho de ferro teve uma grande importância no desenvolvimento dos correios em Portugal, uma vez que veio trazer uma maior facilidade de transporte, e uma redução nos custos, o que tornou este meio de comunicação mais acessível às populações.[4] Inicialmente, era levado junto com as outras cargas, mas em 1864 foi introduzido o sistema dos comboios postais, ligando Lisboa ao Porto e a Badajoz, utilizando pessoal da Direcção de Correios de Lisboa.[1] As primeiras ambulâncias postais em Portugal entraram ao serviço em 1 de Dezembro de 1866,[2] ligando Lisboa a Madrid, após a abertura da ligação ferroviária entre as capitais ibéricas, embora este serviço tenha suspenso logo em 12 de Dezembro de 1869, devido à falta de financiamento.[3] Apesar da sua suspensão, considerou-se que este esquema foi eficaz, pois permitiu consideráveis reduções no transporte do correio, pelo que se começou a expandir, principalmente após uma reforma de 1882.[1][3] Este serviço encontrou-se sempre ao serviço até ao seu encerramento, em 1972.[1] Em Maio de 1875, foram introduzidas as ambulâncias postais na Linha do Norte, e, em 1876 nos serviços para Espanha, apenas passando pela Linha do Leste.[3] Em Janeiro de 1878, começaram a servir as Linhas do Leste e do Minho, e, em Março do mesmo ano, a Linha do Sul.[3] O transporte postal era realizado inicialmente em comboios correios, que paravam em quase todas as estações e apeadeiros, para recolha e entrega de correio.[1] Estes serviços também transportavam passageiros, sendo bastante populares devido aos horários tardios em que operavam, permitindo dormir durante a viagem, e aos reduzidos preços.[1] Quase todos os comboios correios possuíam ambulâncias postais.[1]

Também existiram sistemas de transporte de correio por via ferroviária nas antigas colónias portuguesas, que foram de grande importância.[5]

Declínio e fim dos serviços[editar | editar código-fonte]

Conforme o progresso dos outros meios de transporte, o serviço das ambulâncias postais foi sendo reduzido.[3] A partir de 1928, começou a ser utilizado o sistema de conduções, no qual o transporte e processamento de correio passou a ser realizado em compartimentos especiais das carruagens, que também dispunham de carimbos próprios,[1] esquema que foi aplicado principalmente nas linhas de menor movimento.[3] As primeiras ambulâncias postais rodoviárias começaram a ser utilizadas em 1953, e foram criadas centrais de processamento do correio, semi-automatizadas.[5] Nas grandes estações, como as do Barreiro, Porto, Rossio, Santa Apolónia, Terreiro do Paço, foram estabelecidos departamentos dos correios, e em 1963 instalaram-se centros repartidores de correios em vários pontos do país.[3] Em 1972, o serviço das ambulâncias postais ferroviárias foi extinto, tendo sido substituído pelo transporte de malas fechadas[5] nos comboios Expressos Postais.[3] Estes serviços foram encerrados em 1989, tendo a última viagem sido realizada em 11 de Fevereiro de 1990, para Coimbra.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n MARTINS et al, 1996:51
  2. a b c d REIS et al, 2006:74
  3. a b c d e f g h i j MARTINS et al, 1996:54
  4. a b MARTINS et al, 1996:50
  5. a b c MARTINS et al, 1996:53

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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